quarta-feira, julho 25, 2007
O Casamento Gay
Recebi por email o link para um blog na internet onde uma menina, num tópico qualquer sobre a comunidade gay, escreve uma grande quantidade de parágrafos onde simplesmente ela destrói, ridiculariza e paternaliza todo o modo gay de estar e ser.
O texto está muito bem construído e com um forte senso lógico e racional sobre os inúmeros ítens relacionados ao assunto. Fiquei atônito com tanta ignorância, mas mais ainda, preocupado que aquilo fosse lido por pessoas confusas ou pouco esclarecidas sobre o tema.
Entre as diversas colocações, ela fez menção à curta duração de tempo entre as relações gay e então, foi-me inevitável questionar a razão, pois não pude deixar de concordar com ela.
Durante alguns dias permaneci com este assunto em minha cabeça e era tomado por assaltos repentinos, enquanto conduzia para o trabalho ou quando estava indo para o cinema… Enfim, aquilo ocupou-me por completo, como se de fato eu tivesse sido posto em “cheque” frente a uma verdade irrefutável, eu, que vivo e mantenho uma relação gay já a quase sete anos.
Neste processo, lembrei-me do partner holandês de uma amigo meu. Nós estávamos de vizita na casa deles em Amsterdam e eles estavam visivelmente atravessando uma fase difícil. Depois do jantar, quando já estávamos de volta à sala de estar, o companheiro de meu amigo perguntou-me a quanto tempo eu estava ‘casado’, ao que eu lhe respondi serem dois anos e meio, como era na altura. Ele então disse-me que se tínhamos passado dos dois, chegaríamos aos cinco mas que nunca passaríamos dos seis. Eu levei um susto e ao mesmo tempo que não queria olhar para meu amigo, tentava processar aquela informação. Era-me difícil não pensar que eles estavam prestes a completar seis anos de casamento, já legalmente possível na Holanda naquele ano. De fato, alguns meses depois ele separaram-se.
Vasculhei minha memória, a vida de meus amigos, procurei por exemplos de casais homossexuais que estivessem juntos a… Algum tempo e infelizmente surgiu um número tão pequeno, quase insignificante, como resultado.
O que estaria errado? Dois leões numa mesma floresta podem mesmo causar um desequilíbrio insustentável no reino?
Seria um desequilíbrio de tarefas ou de posturas em nossas vidas que acabavam por culminar com o total fracasso de nossas relações? Quero dizer, é inevitável surgir confusos jogos psicológicos de ‘identidades’ assumidas sobre comportamentos entendidos como condição, totalmente reclinados sobre os arquétipos da vida a dois, onde a falta da figura do sexo oposto pode surgir ‘travestida’ na forma de compensação. Mas isso poderia ser uma resposta?
Num relacionamento comum temos uma esposa atuando como sua mãe, como sua tia atuava e um esposo atuando como seu pai ou mesmo sua mãe fazia, logo o drama das identidades não parece constituir a causa.
Olho para trás e tento reconhecer, entender onde minhas relações falharam, por que elas não viraram um decanato comigo. Eu fui muito apaixonado por todas as pessoas com que me relacionei, o amor esteve sempre presente em minha vida. Em alguns casos, ele desvaneceu-se, mas daí não chegamos a conclusão nenhuma, apenas apercebi-me depois de algum tempo que aquela não era uma pessoa com quem gostaria de estar, como acontece com qualquer outra pessoa comum.
Entretanto, sinto que o que vem associado ao dito ‘fracasso’ em consolidar uma relação duradoura, é uma incapacidade de se comprometer, um ‘quê’ de irresponsabilidade, como se não déssemos o devido valor ao código moral que vêm sendo vivido de forma intensa pelos últimos séculos.
Mas a instituição do casamento, esta a qual se confere a fama de longa duração, pelo grupo mais comum, está repleta de uma tradição inconsistente, de obsoletismo e para muitos, é simplesmente o próximo passo lógico a se seguir.
Sabemos que na década de 80 houve um estouro do número de mulheres com idade superior aos 40 anos que se viram abandonadas por seus maridos, sem profissão, envelhecidas e rejeitadas pela e na sociedade. A submissão da mulher ou melhor, a submissão feminina praticada na nossa cultura, para mim, é a causa dos longos relacionamentos.
Meus pais estão casados a mais de 40 anos. Meu pai apaixonou-se pela beleza de minha mãe e ela, bem, quem cada um tem suas razões, o fato é que baseados neste amor, no carinho que sentiam um pelo outro, juraram a Deus serem companheiros até que a morte os separassem.
Era uma outra época, onde existia uma moral quase que universal. Eles simplesmente sabiam que tinham que fazer aquilo funcionar. Crescessem eles como pessoa para onde fosse, deveriam permanecer um ao lado do outro. Não se falava do ego, das necessidades do indivíduo ou de traumas. As mulheres tinham um desempenho definido e esperado, bem como os homens. Mesmo com o passar do tempo, com elas conquistando o entremeio social, acabaram por acumular funções: Profissional, mãe e dona de casa.
Lá pela década de oitenta, quando surgiram aqueles programas dedicados à mulher, onde se falava que afinal elas podiam ter orgasmos sem culpa, a psicologia deu um grande salto popular. O ocidente estava se acostumando a viver, por fim, sem ditaduras e a noção do ‘eu’ começou a ganhar proporções.
Nos últimos vinte anos as pessoas vem exercendo o direito de se afastarem daqueles que lhes maltratam ou prejudicam. Procuram de forma exigente na escolha do parceiro e mesmo o juramento a Deus, já não obriga mais duas pessoas a terem que se aturar uma a outra o resto da vida.
Olhando para toda esta conjectura histórico-sócio-cultural do casamento heterossexual, fica mais claro perceber que um relacionamento gay é algo muito contemporâneo e logo, sem tradições, sem histiória, sem um guia.
Lembro-me que já no final da década de 80, antes de se entrar num bar gay, dáva-se uma olhadinha à volta, com receio que algum colega de trabalho, algum vizinho pudesse estar passando. Entrávamos para um lugar fechado, como se fôssemos membros de um clube secreto, para praticarmos algo ilícito e em público, usávamos anacronismos e códigos para podermos combinar eventuais encontros nestes futuros mesmos locais, para que as pessoas comuns à volta não percebessem o nome do estabelecimento. Os cristãos deveriam se identificar com este movimento…
Mas ainda hoje, nesta década na qual vivemos, existem centenas de pessoas vivendo o amor de forma escondida, como se tivessem duas vidas, uma social, com familiares e outra entre quatro paredes, com a alguém que sequer tem uma denominação legal; um amante, um caso, o que mesmo?
Mas se pelas passadas décadas andamos vivendo com nosso ‘primo’ ao invés de nosso parceiro, como se ajeitavam, se ajeitam, as questões legais de direito e patrimônio? Casal gay nenhum nunca viveu seguro, nunca teve cunhado ou madrinha oficial de casamento. Não têm filhos juntos ou sequer podiam adotar.
Num mundo assim, quase virtual, parece-me que apenas as emoções, a paixão, o amor podem ser as únicas causas para manter duas pessoas juntas. Hoje, algumas sociedades já legalizaram estas relações e reconhecem seus direitos, mais ainda há um longo caminho por se percorrer, pois a integração social não se dá da noite para o dia, com a homologação de uma lei.
Não existe, ainda, uma cultura, uma educação ou uma tradição gay. Existe um grande grupo de pessoas educadas e formadas para se juntarem a outras do sexo oposto, lutando bravamente para se adaptarem, abrindo caminhos, tentando ser felizes, escrevendo a história.
A verdade é que não há o que nos prenda. A inconsistência emocional com a qual se procura um ‘amor’, hoje, não é diferente entre um homem e uma mulher, gay ou não. Em geral, as pessoas estão preocupadas se seus orgasmos serão atingidos com sucesso, mas isso também seria um outro assunto.
Para mim, afinal, não é a igualdade do sexos que condena as relações, aliás, a compatibilidade entre eles é enorme, mental e fisicamente. As relações são difíceis para todos nestes dias, para aqueles que seguem as tradições e para aqueles que as tentam criá-la.
Dedico este texto a todas as pessoas que estejam conseguindo manter o seu relacionamento, seja ele da natureza que for.
Uma boa semana a todos.
Eduardo divério.
Recebi por email o link para um blog na internet onde uma menina, num tópico qualquer sobre a comunidade gay, escreve uma grande quantidade de parágrafos onde simplesmente ela destrói, ridiculariza e paternaliza todo o modo gay de estar e ser.
O texto está muito bem construído e com um forte senso lógico e racional sobre os inúmeros ítens relacionados ao assunto. Fiquei atônito com tanta ignorância, mas mais ainda, preocupado que aquilo fosse lido por pessoas confusas ou pouco esclarecidas sobre o tema.
Entre as diversas colocações, ela fez menção à curta duração de tempo entre as relações gay e então, foi-me inevitável questionar a razão, pois não pude deixar de concordar com ela.
Durante alguns dias permaneci com este assunto em minha cabeça e era tomado por assaltos repentinos, enquanto conduzia para o trabalho ou quando estava indo para o cinema… Enfim, aquilo ocupou-me por completo, como se de fato eu tivesse sido posto em “cheque” frente a uma verdade irrefutável, eu, que vivo e mantenho uma relação gay já a quase sete anos.
Neste processo, lembrei-me do partner holandês de uma amigo meu. Nós estávamos de vizita na casa deles em Amsterdam e eles estavam visivelmente atravessando uma fase difícil. Depois do jantar, quando já estávamos de volta à sala de estar, o companheiro de meu amigo perguntou-me a quanto tempo eu estava ‘casado’, ao que eu lhe respondi serem dois anos e meio, como era na altura. Ele então disse-me que se tínhamos passado dos dois, chegaríamos aos cinco mas que nunca passaríamos dos seis. Eu levei um susto e ao mesmo tempo que não queria olhar para meu amigo, tentava processar aquela informação. Era-me difícil não pensar que eles estavam prestes a completar seis anos de casamento, já legalmente possível na Holanda naquele ano. De fato, alguns meses depois ele separaram-se.
Vasculhei minha memória, a vida de meus amigos, procurei por exemplos de casais homossexuais que estivessem juntos a… Algum tempo e infelizmente surgiu um número tão pequeno, quase insignificante, como resultado.
O que estaria errado? Dois leões numa mesma floresta podem mesmo causar um desequilíbrio insustentável no reino?
Seria um desequilíbrio de tarefas ou de posturas em nossas vidas que acabavam por culminar com o total fracasso de nossas relações? Quero dizer, é inevitável surgir confusos jogos psicológicos de ‘identidades’ assumidas sobre comportamentos entendidos como condição, totalmente reclinados sobre os arquétipos da vida a dois, onde a falta da figura do sexo oposto pode surgir ‘travestida’ na forma de compensação. Mas isso poderia ser uma resposta?
Num relacionamento comum temos uma esposa atuando como sua mãe, como sua tia atuava e um esposo atuando como seu pai ou mesmo sua mãe fazia, logo o drama das identidades não parece constituir a causa.
Olho para trás e tento reconhecer, entender onde minhas relações falharam, por que elas não viraram um decanato comigo. Eu fui muito apaixonado por todas as pessoas com que me relacionei, o amor esteve sempre presente em minha vida. Em alguns casos, ele desvaneceu-se, mas daí não chegamos a conclusão nenhuma, apenas apercebi-me depois de algum tempo que aquela não era uma pessoa com quem gostaria de estar, como acontece com qualquer outra pessoa comum.
Entretanto, sinto que o que vem associado ao dito ‘fracasso’ em consolidar uma relação duradoura, é uma incapacidade de se comprometer, um ‘quê’ de irresponsabilidade, como se não déssemos o devido valor ao código moral que vêm sendo vivido de forma intensa pelos últimos séculos.
Mas a instituição do casamento, esta a qual se confere a fama de longa duração, pelo grupo mais comum, está repleta de uma tradição inconsistente, de obsoletismo e para muitos, é simplesmente o próximo passo lógico a se seguir.
Sabemos que na década de 80 houve um estouro do número de mulheres com idade superior aos 40 anos que se viram abandonadas por seus maridos, sem profissão, envelhecidas e rejeitadas pela e na sociedade. A submissão da mulher ou melhor, a submissão feminina praticada na nossa cultura, para mim, é a causa dos longos relacionamentos.
Meus pais estão casados a mais de 40 anos. Meu pai apaixonou-se pela beleza de minha mãe e ela, bem, quem cada um tem suas razões, o fato é que baseados neste amor, no carinho que sentiam um pelo outro, juraram a Deus serem companheiros até que a morte os separassem.
Era uma outra época, onde existia uma moral quase que universal. Eles simplesmente sabiam que tinham que fazer aquilo funcionar. Crescessem eles como pessoa para onde fosse, deveriam permanecer um ao lado do outro. Não se falava do ego, das necessidades do indivíduo ou de traumas. As mulheres tinham um desempenho definido e esperado, bem como os homens. Mesmo com o passar do tempo, com elas conquistando o entremeio social, acabaram por acumular funções: Profissional, mãe e dona de casa.
Lá pela década de oitenta, quando surgiram aqueles programas dedicados à mulher, onde se falava que afinal elas podiam ter orgasmos sem culpa, a psicologia deu um grande salto popular. O ocidente estava se acostumando a viver, por fim, sem ditaduras e a noção do ‘eu’ começou a ganhar proporções.
Nos últimos vinte anos as pessoas vem exercendo o direito de se afastarem daqueles que lhes maltratam ou prejudicam. Procuram de forma exigente na escolha do parceiro e mesmo o juramento a Deus, já não obriga mais duas pessoas a terem que se aturar uma a outra o resto da vida.
Olhando para toda esta conjectura histórico-sócio-cultural do casamento heterossexual, fica mais claro perceber que um relacionamento gay é algo muito contemporâneo e logo, sem tradições, sem histiória, sem um guia.
Lembro-me que já no final da década de 80, antes de se entrar num bar gay, dáva-se uma olhadinha à volta, com receio que algum colega de trabalho, algum vizinho pudesse estar passando. Entrávamos para um lugar fechado, como se fôssemos membros de um clube secreto, para praticarmos algo ilícito e em público, usávamos anacronismos e códigos para podermos combinar eventuais encontros nestes futuros mesmos locais, para que as pessoas comuns à volta não percebessem o nome do estabelecimento. Os cristãos deveriam se identificar com este movimento…
Mas ainda hoje, nesta década na qual vivemos, existem centenas de pessoas vivendo o amor de forma escondida, como se tivessem duas vidas, uma social, com familiares e outra entre quatro paredes, com a alguém que sequer tem uma denominação legal; um amante, um caso, o que mesmo?
Mas se pelas passadas décadas andamos vivendo com nosso ‘primo’ ao invés de nosso parceiro, como se ajeitavam, se ajeitam, as questões legais de direito e patrimônio? Casal gay nenhum nunca viveu seguro, nunca teve cunhado ou madrinha oficial de casamento. Não têm filhos juntos ou sequer podiam adotar.
Num mundo assim, quase virtual, parece-me que apenas as emoções, a paixão, o amor podem ser as únicas causas para manter duas pessoas juntas. Hoje, algumas sociedades já legalizaram estas relações e reconhecem seus direitos, mais ainda há um longo caminho por se percorrer, pois a integração social não se dá da noite para o dia, com a homologação de uma lei.
Não existe, ainda, uma cultura, uma educação ou uma tradição gay. Existe um grande grupo de pessoas educadas e formadas para se juntarem a outras do sexo oposto, lutando bravamente para se adaptarem, abrindo caminhos, tentando ser felizes, escrevendo a história.
A verdade é que não há o que nos prenda. A inconsistência emocional com a qual se procura um ‘amor’, hoje, não é diferente entre um homem e uma mulher, gay ou não. Em geral, as pessoas estão preocupadas se seus orgasmos serão atingidos com sucesso, mas isso também seria um outro assunto.
Para mim, afinal, não é a igualdade do sexos que condena as relações, aliás, a compatibilidade entre eles é enorme, mental e fisicamente. As relações são difíceis para todos nestes dias, para aqueles que seguem as tradições e para aqueles que as tentam criá-la.
Dedico este texto a todas as pessoas que estejam conseguindo manter o seu relacionamento, seja ele da natureza que for.
Uma boa semana a todos.
Eduardo divério.