quinta-feira, agosto 30, 2007
Quem puxa aos seus não desegera(va)!
Quando eu era criança, lembro-me de ouvir casos de primos de meus pais, tios, ou mesmo pessoas relacionadas à família por amizade, que tinham seus pais, já velhos, em asilos ou lares de idosos.
Na minha imaginação, logo ao ter descoberto para quê serviam aqueles lugares, ocorriam-me cenas sinistras, ao mesmo tempo que pensava, tão novo como 6 ou 7 anos: Mas por que alguém faria isso com seus próprios progenitores? Não foram eles que cuidaram deste ‘alguém’ até o dia em que este se casou? (Razão pela qual se saía da casa dos pais).
A transição já havia começado. Há 30 anos, algumas pessoas não sabiam, ou não podiam, lidar com a velhice de seus pais e estes eram colocados num ‘lar’, com as falsas desculpas que lá teriam pessoas da mesma idade com quem passar os dias. Pessoas cheias de manias, sem terem tido qualquer laço afetivo durante vida, com quem passariam a dividir um espaço e longe de qualquer memória física de sua existência.
Hoje, tenho amigos com filhos na casa dos vinte e alguns anos que parecem ter a seguinte política: ‘Não pedi para nascer, vocês têm o dever legal de me sustentarem’! Não têm o menor sentido de gratidão ou de percepção em relação à roda da vida. Às vezes, dá-me mesmo a impressão que são indiferentes aos pais, como que para puni-los por terem trazido-os à vida, um lugar que não lhes parece justo ou adequado.
Contudo, foram crianças que cresceram num ambiente com muito mais escolhas, com muito mais liberdade e acima de tudo, com muito mais direitos do que no meu tempo, e mais ainda, do que dos meus pais. Mas então não era suposto se sentirem mais ajustadas, quiçá gratas? Bem, é um fato que os ‘Baixinhos da Xuxa’ hoje sofrem de síndrome de pânico enquanto que a minha geração sofria de stress.
Passa-se algo de muito errado na forma como fomos educados e como temos educado nossos filhos. A mim, houve uma altura, tive a sensação da vida ser-me injusta, inadequada, mas talvez, por não ter tido muito incentivo ao exercício da ‘liberdade’, acabei por desenvolver um caráter forte, magoado, é verdade, mas firme, que manteve-me à luz da retidão, justiça e gratidão; o que acabou por ajudar-me a erguer o queixo e fazer por mim.
Terá sido então um maior poder de escolha que enfraqueceu o carácter de nossos filhos ou aqueles que são mais novos do que nós? Mas se foi, isso explicaria a forma como lidam com a realidade, mas não explica a tal sensação de inadaptabilidade.
Vejo jovens em meio de seus cursos universitários, com vícios, vida sexual ativa e muita atitude, vivendo com seus pais, usufruindo da comodidade desta relação. Porém, sentem-se invadidos pelos pensamentos paternos, sentem-se pressionados a dar um rumo as suas vidas e depois, alívio em os ter deixado para trás.
Parecem não saber o que querem ao mesmo tempo que sentem ter imenso tempo para descobri-lo. Pesam no orçamento de seus pais, mas não fazem a menor ideia de como isso se reflete na família. O cansaço e o desânimo são sempre mais fortes e poderosos do que qualquer outra vontade consciente de ação.
Acredito que muito antes de se chegar a uma idade em que se precise cogitar um ‘lar’ para os pais deles, já haverá tido uma separação, um isolamento ideológico e uma total falta de compromisso, de responsabilidade, deixando aquele pai, aquela mãe, entregues ao resultado da própria administração de suas vidas.
Claro que isso tudo soa ter muita pertinência. Afinal, cada indivíduo deve ser responsável pelas consequências que advém de sua decisões, sua escolhas. Um indivíduo chegar a fase adulta e continuar a se sentir provocado, ameaçado, pressionado por velhos hábitos, frases ou comportamentos adjacentes aos seus pais, só indica que ele ainda não se libertou, que ele ainda não se assumiu como adulto, que ainda não entendeu o que é ser adulto e aí então, eu encontro a razão pela qual poderiam deixar um pai ou uma mãe, esperando a morte, no meio de um monte de desconhecidos, na mesma situação.
As pessoas têm crescido com um visão tão distorcida de liberdade, direitos e amor que o desespero em ser felizes, ou não sofrer, acaba por ser mais forte do que os próprios laços inconscientes que unem os entes de uma família núcleo. Uma forte egodistonia afasta-os por completo de valores que poderiam ser guias, luzes numa caminhada muitas vezes por alamedas escuras.
Isso tudo é muito triste.
Dedico o texto desta semana a todos os que são filhos e àqueles que ainda são responsáveis pela educação dos seus. Via de regra, a velhice faz parte da vida…
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério
Quando eu era criança, lembro-me de ouvir casos de primos de meus pais, tios, ou mesmo pessoas relacionadas à família por amizade, que tinham seus pais, já velhos, em asilos ou lares de idosos.
Na minha imaginação, logo ao ter descoberto para quê serviam aqueles lugares, ocorriam-me cenas sinistras, ao mesmo tempo que pensava, tão novo como 6 ou 7 anos: Mas por que alguém faria isso com seus próprios progenitores? Não foram eles que cuidaram deste ‘alguém’ até o dia em que este se casou? (Razão pela qual se saía da casa dos pais).
A transição já havia começado. Há 30 anos, algumas pessoas não sabiam, ou não podiam, lidar com a velhice de seus pais e estes eram colocados num ‘lar’, com as falsas desculpas que lá teriam pessoas da mesma idade com quem passar os dias. Pessoas cheias de manias, sem terem tido qualquer laço afetivo durante vida, com quem passariam a dividir um espaço e longe de qualquer memória física de sua existência.
Hoje, tenho amigos com filhos na casa dos vinte e alguns anos que parecem ter a seguinte política: ‘Não pedi para nascer, vocês têm o dever legal de me sustentarem’! Não têm o menor sentido de gratidão ou de percepção em relação à roda da vida. Às vezes, dá-me mesmo a impressão que são indiferentes aos pais, como que para puni-los por terem trazido-os à vida, um lugar que não lhes parece justo ou adequado.
Contudo, foram crianças que cresceram num ambiente com muito mais escolhas, com muito mais liberdade e acima de tudo, com muito mais direitos do que no meu tempo, e mais ainda, do que dos meus pais. Mas então não era suposto se sentirem mais ajustadas, quiçá gratas? Bem, é um fato que os ‘Baixinhos da Xuxa’ hoje sofrem de síndrome de pânico enquanto que a minha geração sofria de stress.
Passa-se algo de muito errado na forma como fomos educados e como temos educado nossos filhos. A mim, houve uma altura, tive a sensação da vida ser-me injusta, inadequada, mas talvez, por não ter tido muito incentivo ao exercício da ‘liberdade’, acabei por desenvolver um caráter forte, magoado, é verdade, mas firme, que manteve-me à luz da retidão, justiça e gratidão; o que acabou por ajudar-me a erguer o queixo e fazer por mim.
Terá sido então um maior poder de escolha que enfraqueceu o carácter de nossos filhos ou aqueles que são mais novos do que nós? Mas se foi, isso explicaria a forma como lidam com a realidade, mas não explica a tal sensação de inadaptabilidade.
Vejo jovens em meio de seus cursos universitários, com vícios, vida sexual ativa e muita atitude, vivendo com seus pais, usufruindo da comodidade desta relação. Porém, sentem-se invadidos pelos pensamentos paternos, sentem-se pressionados a dar um rumo as suas vidas e depois, alívio em os ter deixado para trás.
Parecem não saber o que querem ao mesmo tempo que sentem ter imenso tempo para descobri-lo. Pesam no orçamento de seus pais, mas não fazem a menor ideia de como isso se reflete na família. O cansaço e o desânimo são sempre mais fortes e poderosos do que qualquer outra vontade consciente de ação.
Acredito que muito antes de se chegar a uma idade em que se precise cogitar um ‘lar’ para os pais deles, já haverá tido uma separação, um isolamento ideológico e uma total falta de compromisso, de responsabilidade, deixando aquele pai, aquela mãe, entregues ao resultado da própria administração de suas vidas.
Claro que isso tudo soa ter muita pertinência. Afinal, cada indivíduo deve ser responsável pelas consequências que advém de sua decisões, sua escolhas. Um indivíduo chegar a fase adulta e continuar a se sentir provocado, ameaçado, pressionado por velhos hábitos, frases ou comportamentos adjacentes aos seus pais, só indica que ele ainda não se libertou, que ele ainda não se assumiu como adulto, que ainda não entendeu o que é ser adulto e aí então, eu encontro a razão pela qual poderiam deixar um pai ou uma mãe, esperando a morte, no meio de um monte de desconhecidos, na mesma situação.
As pessoas têm crescido com um visão tão distorcida de liberdade, direitos e amor que o desespero em ser felizes, ou não sofrer, acaba por ser mais forte do que os próprios laços inconscientes que unem os entes de uma família núcleo. Uma forte egodistonia afasta-os por completo de valores que poderiam ser guias, luzes numa caminhada muitas vezes por alamedas escuras.
Isso tudo é muito triste.
Dedico o texto desta semana a todos os que são filhos e àqueles que ainda são responsáveis pela educação dos seus. Via de regra, a velhice faz parte da vida…
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério