sexta-feira, setembro 26, 2008
Via de regra, eu sou da opinião que mãe é aquela que a tudo acaba por aceitar. Pode até não compreender muito bem porquê seu filho está seguindo este ou aquele caminho, mas ela permaneci ali, como uma rocha.
Apesar das novas gerações encontrarem hoje sociedades muito mais tolerantes do que há 10 anos em relação a homossexualidade, ser ‘G’ay continua sendo algo que requer muito do emocional, da psiquê de uma pessoa, a qual a única opção que ela tem é aceitar sua condição.
Contudo, com toda a absorção que o predicado deste ‘modo de vida’ acarreta, como vive, como sentem as pessoas, os familiares, diretamente ligados a este elemento?
Viver é complicado. Passamos o dia driblando comentários e julgamentos, palavras soltas que nos entram pelos ouvidos e que se associam a lembranças silenciosas de nossa mente e isso, mexe no nosso equilíbrio e nem sempre de forma que a razão se aperceba.
Parece-me importante entender que parte do trabalho de uma mãe, em aceitar que seu filho sé gay, é reconhecer que a mudança nela é mais do que necessária.
Imaginemos uma mãe que sonhou com um casamento heterossexual para seu filho, com uma noiva de branco e com filhos no seguimento disso. Se ela não mudar, reformular a consciência daquilo que pode esperar do seu real filho (e não daquele que só existia como imagem), ela estará sempre sentindo frustração.
Outra situação é quando uma mãe aceita a condição do filho apenas por amor, ou medo, por não poder lutar contra a decisão deste que pode se afastar para sempre na guerra do ser feliz. Esta mãe acabará sempre por pensar no filho com pesar, com pena, como se este fosse um errante na vida e este sentimento, gera desequilíbrio interno e de novo, frustração.
Lembrem-se que a frustração impede uma pessoa de viver o presente com plenitude, impede-a de ter maravilhosas novas experiências, de abrir-se para o desconhecido, de realizar minutos de pura energia, vida e amor. A aceitação não deve ser a simulação de permissão, deve ser um sentimento, uma sintonia, deve ser interna, de forma que o mundo do filho e o da mãe permutem, encontrem intersecções de boas realizações.
Uma mãe, em conversas com outras pessoas, deve estar segura, preparada, informada e amadurecida que a sua realidade não é comum. Ela não pode querer se igualar a mães que não tiveram um porquê se dedicar ao assunto. Ser mãe de um rapaz gay não é comum! Comentários absurdos surgirão, frases de pleno julgamento e reprovação magoarão sua sensibilidade se ela não estiver atenta a quem ela é, a quem ela passou a ser, ou seja, mãe de um gay.
A mãe de um filho gay deve se aperceber que também ela pertence a um grupo de minoria, não comum, e que por isso, deve trabalhar o assunto.
É preciso entender que o canal ‘mãe de um gay’ é apenas umas das vias de contacto entre o mundo externo e interno de uma mãe. Ora, o universo psicológico deste ser humano ainda comunica-se com o meio por mais outros canais, como o de ‘mulher heterossexual’, ‘indivíduo profissional’, ‘esposa’ e mais as massarocas da infância de cada um que se encontram por resolver!
Enfim, tanto quanto o filho teve e tem que se reajustar a sua realidade, também a mãe o deve fazer e isso só trará parceria, a continuação saudável de convívio entre mãe e filho, um com a vida do outro. Não é fácil, mas é a vida.
Claro que o texto acima adapta-se para um pai e para uma lésbica, nas possíveis combinações.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
quarta-feira, setembro 10, 2008
Inteligência Profissional.
Semana passada, cheio de expectativas, eu fui a uma consulta de medicina quântica, onde uma senhora Russa ligar-me-ia a uma máquina com um software americano libertando frequências elétricas de forma a cartografar os diversos órgãos do corpo.
Chegando lá, a Russa era uma nativa, mais nova do que eu, e a tal máquina, afinal, parecia um modem ADSL.
Mas até aí, tudo bem. Numa pequena sala, sentei-me numa cadeira um pouco melhor do que aquelas de ferro, com patrocínios da Pepsi ou da Brahma, em frente a uma mesinha também de ferro, daquela que se pode dobra e depois guardamos entre o fogão e a geladeira, assim, por cima de uma massaroca de fios; fios do laptop, fios do ‘modem’, enfim.
A ‘Russa’ deixou-me ali cerca de 20, 30 minutos talvez, com uns fones de ouvidos a descarregarem as tais ondas elétricas e saiu da sala para não interferir no meu campo magnético. Meu braço esquerdo rapidamente começou a formigar e passei a sentir uma pressão na altura do meu osso esterno.
Quando a cartografia terminou, ela entrou e perguntou-me como eu estava, ao que respondi estar com uma pressão no peito e um formigamento no braço esquerdo. Ela disse-me que isso era ansiedade. (?)
Olha para o laptop daqui, olha para o laptop dali, comentou meu rim, falou de meu pâncreas, fez algumas perguntas sobre medicamentos e então disse-me que eu não poderia beber wiskye e vodka, ao que lhe respondi não existir nenhum problema, pois sequer gosto destas bebidas, e que na verdade, de álcool, apenas bebo vinho. Mas ela insistiu no lembrete referente a estas duas bebidas.
Depois mencionou uma intolerância de meu organismo à lactose e o quanto a cafeína estava corroendo minhas mucosas internas do aparelho digestivo. Sempre escrevendo, ela começou a narrar a receita para um ‘batido’ a qual eu poderia fazer pelas manhãs. Tentei-lhe buscar alternativas, pois não como em casa, mas não rolou.
Sem que eu tenha lhe dito o que lanchava ao longo do dia ou sequer o que eu jantava, ela disse-me que a minha alimentação tinha que mudar e que o batido era a solução!
Bem, ao ler a receita da querida, estranhei encontrar lá, escrito, a menção a não tomar wiskye e vodka, pois eu já lhe tinha dito que não as bebo. Terá ela me achado com cara de ‘bebum’? Seguindo em minha leitura, ela aconselhava-me a cortar com a lactose e todos os seus derivados, ou seja, do iogurte, passando pelo queijo e acabando no sorvete (pobre de mim). Dois dias depois, lendo a bula de um composto de minerais que ela me receitou para auxiliar o rim, qual não foi minha surpresa em encontrar lá, o quê? Lactose!
Sinto-me como um número de série. Ela analisou meus resultados, comparou com alguns padrões, encontrou em qual grupo eu me encaixava e procurou numa tabela uma receita respectiva, como se eu não tivesse um nome e um sobrenome.
Tive a oportunidade de consultar com um outro médico, anos atrás, mais velho, viajado e dedicado. Nesta altura, pude perceber que ele usava sua profissão de forma inteligente, cruzando e confrontando informações, percebendo que cada perfil tem as suas particularidades e que, qualquer pessoa que esteja procurando um médico, como é óbvio, é por que quer melhorar, recuperar, curar algum sintoma e isso tudo tem um impacto piscológico e cada um reage de forma distinta a resultados e fórmulas.
Questiono-me se ela saberá que o composto que me receitou tem lactose. Quando perguntei como funcionava a máquina, faltavam-lhe palavras, como se fosse uma estudante de liceu a apresentar um trabalho.
Claro, que com esta minha antipatia pela pessoa crescendo em minha mente, 75,00 euros depois, comecei a lembrar no cenário todo. Na tal sala, no fundo de uma herbanária, onde estavam ainda duas marquesas, uma mais alta do que a outra. Eu, estava sentado praticamente no meio da sala e ela teve mesmo que se encolher para passar atrás de mim, quando deixou-me lá a fazer o exame. Ou seja, a tal sala deve ser da drenagem linfática às Segundas, da massagem às Terças, da acupunctura às Quartas…
Depois, dado o tempo do exame, ela poderia ter uma poltrona confortável, meia luz, um sonzinho ambiental, enfim.
Bom. Estou fazendo o tratamento recomendado, cortando o que precisava e o que não tinha como, enfim, e daqui a algumas semanas comentarei se valeu a pena ou não.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.