quarta-feira, dezembro 26, 2012
Fim do Mundo
Tenho andado à espera que este ano acabe, pois
sinto-me sugado e desejoso destas marcas temporais que simbolizam recomeços,
novas chances. Mas como hoje, 21-12-2012, é supostamente o fim do mundo,
resolvi escrever o último texto deste ano sobre algo que envolve ‘fim’.
Há meses já, ando mergulhado num silêncio
analítico sobre eventos que se impuseram em minha vida. Eu cresci a ouvir que
‘cristal quando trinca, não se recupera’. Claro que o dito é uma referência
análoga a sentimentos, a relações que devido a problemas, traições e/ou
desapontamentos, já não podem mais voltar a ser como eram.
Sentia-me assim também, muitas vezes sucumbi a
esta interpretação. Contudo, um pouco cansado da política ‘sim ou sopas’ ou ‘8
ou 80’, e devido a uma grande dicotomia emocional, aí sim, numa sopa de
sensações e sentimentos, encontrei um patamar de meio-termo e confesso, gosto
de como ando a sentir-me.
Quando começamos a encher balões para uma
festa de aniversário, fazemo-lo repleto de cuidados, com receio que ele estore
em nossa cara. Mas à medida que vamos a enche-los, vamos sentindo-nos mais
confiantes e até mais estimulados em estar a produzir balões cada vez maiores.
Eventualmente, o primeiro balão estoura. A matéria de propriedade elástica
atingiu seu limite de expansão e rebentou. Mas ainda há meio saco de balões por
encher e voltamos a tarefa e daí, ou dali, de novo com cuidado, seguimos a
enche-los.
Acho que há relações assim, onde o decorrer do
desenvolvimento da mesma é tão delicioso, tão recompensador, tão estimulante e
confortante, que dá-nos aquela sensação de querer mais, ir mais além e de
continuar a explorar aquele ‘Império de Sentidos’. Entretanto, porque cada
indivíduo porta em si um micro universo, eventualmente, atingem-se os limites
de expansão.
Traição, desapontamento, decepção e outros,
são sentimentos que via-de-regra têm uma forma de se viver, talvez, estática, pouco
volátil. Acredito que se pense pouco sobre estes estados e menos ainda quando
estamos a vive-los. Ignoramos nossos processos, a trajectória composta por
várias fases e acabamos por nos fixar apenas nos eventos que fizeram o ‘cristal
trincar’.
E aqui surgiu minha revelação. Á semelhança do
que voltamos a fazer com os balões, temos sempre a hipótese, a possibilidade, a
decisão, de se querer voltar a se relacionar na fase anterior, na plataforma
que se vivia antes do passo à frente que conduziu a ruptura. É como se houvesse uma grande fogueira a arder
no centro desta relação, ao mesmo tempo que nos aproximámos dela cada vez mais, mais a relação se desenvolve. Eventualmente, o calor torna-se insuportável e
até queima. E então, talvez, apenas seja necessário dar alguns passos para
trás, de volta a área de conforto.
Talvez não seja a relação a se romper - o acto de
encher um balão - mas o balão em si. Talvez o que se rompe, seja aquele gosto
pela espectativa sensacional do que se adquiria ao se expandir mais e mais. Porém, o que até ali fora conquistado deveria sempre ser considerado e nunca
desvalorizado pelos eventos passados ao redor ‘da fogueira’.
Acredito haver uma confusão em relação ao que verdadeiramente
esperamos e valorizamos de uma relação, ou melhor, em reconhecer até onde
podemos ir. Ao descobrirmos o seu limite, a área onde deixou de haver uma
intersecção concisa e gratificante, ao invés de deixarmo-nos estar, a esta
beira, começamos a questionar confiança e conforto, sem perceber que no fundo,
estamos ressacando pela falta do factor estímulo de descoberta, pela sensação
de parceria infalível e companheirismo único.
Isso tudo para dizer que, no dia em que uns
esperam pelo fim do planeta, enquanto outros alegam que haverá apenas uma transformação no
modo de vida (pondo fim à mesma em algo), que de facto há festas que poderiam
continuar, mesmo com muito menos balões do que se planeou de início. Que
podemos achar e permanecer em conforto no regresso à fases anteriores, distante
o suficiente ‘da fogueira’.
Dedico este texto a todas as pessoas que estão
em processo de finalização de algo, que possam ultrapassar más sensações e
recuperar, salvar, o que de verdade importa e faz bem, pelo bem, no
relaciona-se com alguém.
Boas festas a todos.
Eduardo Divério.