quinta-feira, abril 04, 2013

 

Mitos Psico-urbanos.



Desde miúdo que eu sempre escutei os mais diversos comentários, alguns verdadeiramente absurdos, em relação à funcionalidade da psicologia ou mesmo ao trabalho de um psicólogo. Um misto de preconceito adicionado com incorrecto conhecimento, exponenciado por muito ‘achismo’ (o fenómeno do achar, pensar que, dedução rápida).

Mesmo antes de falar da Psicologia, existe a grande e comum confusão que muitas pessoas fazem entre ela e a Psiquiatria. Psicologia é o estudo do comportamento humano, de como o meio impacta contra nossa sensibilidade, como o compreendemos e vice-versa. Psiquiatria, por sua vez, é uma especialização da medicina, é orgânica, actuando sobre doenças do cérebro e de fundo neurológico que, claro, afectam o comportamento.
Nas décadas de 80 e 90, era muito comum Psiquiatras fazerem pós-graduação em áreas da psicologia e talvez daí tenha nascido esta grande confusão. Psiquiatras podem prescrever receituário para medicamentos e psicólogos não.

Seguindo então para a Psicologia temos os seguintes mitos clássicos:

Todo o psicólogo tem um consultório e atende pessoas.

Um psicólogo terá estudado psicologia geral, clínica, forense, mas ele não é necessariamente um psicoterapeuta, a não ser que tenha tido formação para isso. A completa formação de um, tem a ver com a duração de seu curso, com o tipo do seu curso e o local onde fez. Há profissionais dedicados à pesquisa e estudos sociais, organizacionais e até de gestão.

Todo o psicoterapeuta é um seguidor de Freud.

A base mais comum encontrada entre os psicoterapeutas é a psicanálise, de facto desenvolvida por Freud. Contudo, ao longo dos últimos mais de100 anos, diferentes metodologias e técnicas surgiram e algumas não se baseam em psicanálise. 
Existem, por exemplo, Lacanianos, Comportamentalistas, Humanistas, Gestauterapeutas, terapia Dinâmica e outras mais. Freud foi um admirável e visionário homem que teve um profundo impacto na história da humanidade, quando suas análises fizeram-lhe perceber que a saúde do ser humano estava para além do orgânico tratável pela medicina que se praticava. Terá publicado em 1900 a sua mais conhecida e controversa obra, ‘A Interpretação dos Sonhos’ (outro pequeno mito, que psicoterapeutas descodificam sonhos).

Porque a psicologia é dinâmica, pois o ser humano evolui, muito mudou de lá para cá. Na verdade, existe inúmeras publicações de estudos laboratoriais de universaidades Americanas e Europeias que afirmam que ‘A Interpretação dos Sonhos’ de Freud não é verificável e que conclusivamente, mesmo com toda a tecnologia e conhecimento que temos hoje, ainda não se sabe o que são os sonhos e para que servem.
Também é de se considerar que Freud terá crescido, vivido e desenvolvido seu trabalho no coração de uma Europa Vitoriana, puritana, onde as mulheres tinham uma colocação diferente na sociedade, onde a homossexualidade era crime e Darwin era a celebridade mais mediática da altura. Contudo, a evolução para o tempo contemporâneo fez o modelo familiar de Freud caducar, expirar. Mais ou menos como a igreja Católica ser contra o uso da camisinha, do divórcio...
Hoje em dia, apesar de ainda existir profissionais calcando suas avaliações sobre receitas Freudianas, tem surgido novos curriculus e novas formações em universidades.

Quem faz terapia é ‘maluquinho’ ou ‘tontinho’.

Este é talvez o maior preconceito associado à psicoterapia, como se a pessoa sofresse de algum descontrole.  
Lidar com dor, perdas e angústias, pode ser muito traumático e definir ou redefinir todo o nosso comportamento. Quantas pessoas depois de uma desilusão amorosa, afirmam, juram de pés juntos, que isso ou aquilo nunca mais voltarão a fazer? Ou seja, por causa de um ‘camelo’, abrem mão de características, de comportamentos que lhe faziam bem, mas que, por não ter fucnioanado com um/a, mudam ou abdicam daquilo, privando-se da sorte de a próxima pessoa ser capaz de reconhecer tais virtudes.
O corpo humano é muito perfeitinho; regenera-se de cortes e infecções, provoca o desmaio em caso de dor aguda e, entre enlouquecer ou cometer suicidio, desenvolve processos de negação, sublimação, perda de memória... Contudo, nestes estados, apesar de seguirmos funcionais, afastamo-nos de nossa natureza, afastamo-nos daquilo que nos faz felizes e todo nosso futuro pode passar a estar condenado a ser um barco à deriva.
Mas é de se notar que as linhas mais perto da psicanálise pura, tratam o indivíduo por ‘paciente’ enquanto as Humanistas preferem o termo ‘cliente’. Os psicanalistas trabalham com o conceito de ‘cura’ e daí advém a tratarem as pessoas por pacientes ou doentes.

Psicoterapia, de forma geral, qualquer método, reavalia como nos comportamos frente a isso ou aquilo, mas pela consciência e valores do hoje. Ou seja, por exemplo, quando eu era criança, minha mãe tinha uma mala que ganhara de suas colegas de trabalho pela ocasião de seu casamento. Para mim, era uma mala velha, mas enorme, pois eu e meu irmão mais velho cabíamos dentro dela confortavelmente. Já adulto, precisando de um ‘baú’ para começar a armazenar algumas memórias, lembrei-me que seria muito legal se esse baú fosse aquela mala enorme, decerto em desuso. Porém, para meu espanto, quando minha mãe tirou-a do fundo de uma arrecadação, eu recusava-me a crer que fosse a mesma, pois achei-a tão pequena e sequer a cor era a mesma de minhas lembranças! Ou seja, a lembrança de uma criança seguiu intacta na transformação para o adulto que ainda vivia certo que a mala era enorme, afinal, apenas aos olhos de uma criança.
Ou seja, a psicoterapia funciona como uma peneira pela qual submetemos memórias de sensibilidade, lembranças e sentimentos, revistos agora sob o ponto de vista do actual adulto.  

Psicoterapeutas resolvem seus problemas e dão solução para suas dificuldades.

Quando escuto isso, chego mesmo a notar a sinceridade nos olhos da pessoa.
Gente, pasicoteraia é um processo, é uma jornada individual guiada por um profissional. Este, segue fazendo avaliações clínicas e detendo-se em entre-linhas, em coisas não ditas de forma activa, em padrões de comportamento identificados, e quando muito, tem o poder de deter ou conduzir a pessoa a se focar mais ou menos num determinado ponto. Contudo, a resolução do mesmo está a total encargo do empenho e comprensão de quem segue a jornada.
Cada pessoa tem sua religião, seus valores culturais, ou mesmo apenas familiares, e em terapia ela apenas aprende a identifica-los, prioriza-los, adequa-los ao seu mundo pela a sensibilidade da sua idade atual. Não há um ‘certo’ ou um ‘errado’, a pessoa aprende a ser livre e estar em paz com sua liberdade, qualquer que seja o assunto. Identifica valores e comportamentos adquiridos no percurso de sua vida que na verdade não são compatíveis com sua natureza, com aquilo que ela precisa para ser feliz e ela é quem decide o que fazer com isso tudo.

Bem, espero que isso ajude uns e outros a compreenderem melhor o assunto ou pelo menos estimulá-los a usarem o google para saberem mais.

Quem acompanha meu blog sabe que sempre fui um apoiante de psicoterapia e não conheço investimento melhor para se aplicar a si mesmo do que este.

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?