quarta-feira, fevereiro 11, 2015

 

Redes sociais causam mesmo um mau impacto?


Para todo o lado que eu me vire, há um comentário, uma reportagem, um posting ou um filminho no Facebook, evidenciando o quanto as pessoas têm deixado de interagir com outras com mais proximidade, física e emocional. E é mesmo difícil olhar a nossa volta e não perceber este efeito, pois que, de fato, as pessoas parecem dedicar mais atenção aos seus smartphones do que aos seus amigos, ali, juntos deles.

Contudo, será este comportamento uma consequência do uso abusivo das redes sociais ou este uso apenas tornou evidente algo que antes não era notório? Há mais de 20 anos quando eu mudei para Europa, eu passei a trabalhar em lancherias, servindo mesas. As manhãs de Sábado sempre me chamaram mais a atenção; casais passavam horas juntos a uma mesa enquanto simultaneamente faziam seu desjejum e devoram o jornal semanal. Curiosamente, não se via ou ouvia nenhum tipo de interação entre eles. Mas isso se repetia noutros dias, com outros tipos de relacionamentos, onde livros, palavras cruzadas, revistas e por vezes, nada parecia mais interessante do que a companhia dos demais à mesa.

Eu acredito que existe a construção muito forte de uma ideia social a qual vende a noção exagerada  que relacionamentos são uma constante troca, onde uns complementam os outros, e que nesta constante permuta existe uma compensação, a qual acaba por nos prover um total enriquecimento. Mas isso também sugere-me ser um bocado claustrofóbico.  Eu consigo ver todos os benefícios que advém disso, como também consigo encontrar material suficiente para argumentos justificativos ou de cobrança em relação a agendas pessoais.

O ponto para mim é o seguinte: Há tanta gente presa aos seus smartphones quanto há em bares, discotecas, shoppings centres e praças que continuam lotadas de gente interagindo umas com as outras. Quem gosta de festa, gosta de festa e jamais trocaria uma função ao vivo pela emissão de um show visto numa tela minúscula! Quem curte um bom papo não se aguenta apenas vivendo pelo WhatsApp! Entretanto, vamos pensar naquelas pessoas que nunca foram muito populares, naquelas pessoas altamente tímidas, naquelas que iam ao cinema e voltavam para um livro em casa sem nunca terem tido a oportunidade de dizer alguém como se sentiam!  Para estes grupos, as redes sociais trouxeram-lhes vida, amigos, ideias, possibilidades, lições, estímulos e muito mais.

Existe aí fora uma turma de gente rasa, pseudo intelectuais que apenas enxergam o comum e que adoram se promover pelo óbvio. É claro que as redes sociais por via da tecnologia impactaram em nossas vidas, e claro que há prós e contras. Mas andam por aí a se preocuparem com os grupos que são exatamente aqueles que não precisam de preocupação! O exagero do uso vem pela própria facilidade, mas isso não é indicativo de perda de qualidade de vida!

Por outro lado, para mim isso é apenas mais uma extensão desta onda retrógrada de comportamento saudosista que anda por aí, onde as pessoas fazem discursos comparativos sobre como os infantes da década de 80 viviam e ao quê sobreviveram em comparação aos do presente. Sempre com uma conotação cínica ou irónica, insinuando que o nosso conhecimento adquirido através de observação e pesquisa não é nada mais do que um mero preciosismo. Adoram narrar como aquelas crianças transformaram-se em adultos ‘normais’ hoje, apesar de não terem tido o conforto e as normativas de segurança do presente.

Nós hoje somos cerca de sete bilhões de pessoas no planeta com uma longa história para contar. Mas olha só: nós temos laboratórios navegando pelo espaço indo tão longe como Saturno e ainda pousamos outro num cometa em movimento. Isso é evidência que o nosso conhecimento pode nos levar a lugares melhores. Esta constante olhada que se insiste em dar ao passado é um atraso para a sociedade e um desrespeito com a nossa própria trajetória evolutiva. É o mesmo tipo de princípio por detrás de outras linhas de pensamentos que castram a liberdade dos seres humanos, que punem as pessoas que são diferentes e que aprisionam aqueles que ousaram questionar ou mostrar outros caminhos.

Como sugestão, tente pensar e refletir mais sobre aquilo que pretende partilhar pelas redes sociais. Preconceito, ignorância, fundamentalismo e abuso são amigos em sua própria rede social, estão conectados e conectam assuntos que parecem não ter relação um com o outro numa primeira instância.  

Desejo a todos uma excelente semana de interações sociais.


Eduardo Divério.

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