domingo, maio 23, 2021
Linxamento Digital
Eu faço parte de
uma grupo no Facebook chamado “LGBTQI + Resistência pela Democracia!”. Há
tempos que eu já venho observando algo que devido à frequencia com que ocorre, fez-me concluir
e acreditar que o grupo havia sido “infiltrado” por elementos anti-LGBTQI. Mas honestamente, todas
as vezes que me ocorreu de comentar sobre isso num suspeito posting, sobre sua natureza no mínimo ambígua, eu desitia. Com total falta de evidências,
sentia que não teria argumentos claros e que não interessaria a ninguém.
Depois, porque a “invasão” é uma realidade constante e não há muito o que se
possa fazer para impedi-la. O usuário do grupo é que precisa ter uma mente crítica e um olhar esperto.
Como as regras de moderação não são claras, se existentes, qualquer membro pode postar o que quiser.
Os postings podem ter tido origem nas mais diversas fontes, porém são publicados nesse
grupo com o intuído de alertar, demonstrar e até discutir algum tema ou
situação. É, sem dúvida, um grupo de extrema utilidade. Contudo, o infiltrado, é mestre em atuar como um lobo em pele de
cordeiro.
O elemento vai lá e posta um
vídeo ao qual ele dá a descrição tão simples quanto “esse absurdo
tem que acabar”. Ai o vídeo em questão mostra indivíduos claramente de esquerda
numa manifestção onde os ânimos se alteram num enfrentamento entre manifestantes
e seguranças locais que tentam impedir a manifestação. Em deccorrência
do confronto, alguns danos locais são causados e eis então que
chega a brigada militar metendo bala de borracha e lançando gás nos
manifestantes, terminando e disperçando assim com o agrupamento.
Numa primeira instância, considerando a natureza política do grupo, a descrição dada ao vídeo parece ressonar adequadamente com o tipo de tratamento que os manifestantes receberam da brigada militar, ou seja, esse exagero é um absurdo e deve parar. Mas inegavelmente, a descrição é potencialmente ambígua e se mudarmos a nossa base epstemológica, podemos também entender que o vídeo sugere que o que precisa acabar, na verdade, são as manifestações esquerdistas em si! Esta é a mensagem subliminar, o aviso que o manifestante de esquerda merece e vai ter porrada! O vídeo reinforça a ideia que o controle militar faz-se necessário para se manter uma suposta ordem, ao mesmo tempo que estimula a insegurança e o medo de forma não consciente nas pessoas em relação à participarem de manifestções, sassilentanto os riscos de um eventual embate com quem tem claramente mais poder bélico.
Notem que desconhecemos a intenção da pessoa que fez o vídeo. Ela pode ser um repórter neutro que estava simplesmente no local certo e na horal certa e regsitrou um evento. Ela pode ser uma pessoa de esquerda que sentiu que a cobra ia fumar e resolveu registrar o evento para mais tarde mostrar a excessiva violência usada (uma vez ser comum) ou ainda, ela pode ser de direita e quis regsitrar o que ela acha que deveria sempre acontecer quando um bando de "comunista" se junta. Logo, a natureza do vídeo em si é ambíbua e suas interpretações tem válidos propósitos.
Bem, o grupo vinha
cobrindo com tenacidade o desenvolvimento da investigação de uma série de
assissinatos em Curitiba que involviam jovens homossexuais que usavam apps de
encontros. Estes crimes já haviam sido interligados e atribuídos à crimes em
série. Durantes dias, os mais variados tipos de mensagens sobre este assunto foram
publicados no grupo. Mensagens informativas, apelativas, enfim, o assunto
parecia ter sido bem explorado em termos de alerta, perido e possível homofobia. Para se ter uma ideia do nível da cobertura,
lembrem-se que estou na Inglaterra, que só olho a minha time line umas duas ou
três vezes por dia, mas que mesmo assim, eu estava bem à par do caso todo em
Curitiba e da quantidade de vezes que o grupo deu-lhe cobertura. Aí, um membro do grupo resolve postar uma matéria com o nome e a foto
do suspeito que apesar de ter sido fornecidos pela polícia, podia ter sido escrita por uma
pessoa anti-LGBTQI. A manchete da tal matéria dizia algo como: “Foi identificado
o suspeito que usava app de encontros e matou três jovens homossexuais”.
Aí, eu li aquilo
(com esta ideia de infiltrados latente na cabeça e que o assunto tem sido bem exposto) e uma avalanche intuitiva de pensamentos
tomaram à força o controle do meu lóbulo-frontal do cérebro e uma série de
alertas amarelos começaram a piscar na minha mente. Porra, tem sido pauta da
comunidade LGBTQ, nos últimos 30 anos, tentar quebrar essa ideia esteriotipada que
todo gay é um tarado sexual promíscuo. A tal manchete, profunda como um pires, evidencia
exatamente um comportamento promíscuo que por sua vez, pôs as vida desses
rapazes em risco, o que sugere, às mentes mais restritas, que “eles estavam
pedindo”, que é o que se diz das meninas estupradas que vestem mini-saia.
De seguida
ocorreu-me uma série de outras manchetes alternativas que poderiam ser mais úteis,
que potencialmente provocariam um efeito reflexívo em quem lesse, como por exemplo: “Polícia
identifica supeito de assassinatos em série que usava app de encontros”. Esta opção é efetiva e neutra, e convida todo o tipo de pessoa a ler a
reportagem onde então estariam os detalhes que ligam os assassinatos à
comuninade LGBTQ. Ainda: “Comunidade LGBTQ volta a viver com insegurança – identificada
a identidade do suspeito de assassiatos em série em Curitiba”. Note que a
colocação do verbo “voltar” dá a imediata idéia de histórico de sofrimento, de abuso, e ainda, a mensagem redireciona o foco dos crimes, que são rapazes gays, para qualquer membro LGBTQ, o que dá um senso de unidade à comunidade que são as coisas que se precisa reinforçar numa sociedade homofóbica. Bem,
por fim, pilhado com a leviandade a qual meu cérebro focou-se, ainda concluí que aquela manchete
era uma “sobremesa” para um grupo de extrema direita ou mesmo religioso. Isso
então fez-me pensar que aquela manchete, no nosso grupo, para o nosso grupo, depois
de toda a merda que temos comido, não fazia sentido e que precisávamos ser mais
atentos com o como falavam de nós!
Aí, completamente
enxarcado em adrenalida e pronto para dar uma palestra no TED se fosse preciso,
eu vou lá e escrevo: “Só não entendo por que a frase não acabou no jovens”. Aí
meus amigos, começaram as reações e o mau-cheiro só foi subindo e tomando conta.
O primeiro comentáro foi super tranquilo e uma vez que, numa caixa de cometário
não cabe introdução, desenvolvimento, reflexão epstemológica e conclusão, veio
lá uma boa-alma que escolheu acreditar que eu era um nabo, ele era educado entretanto, e começou a explicar-me sobre as abelhas e as
flores. Na tentiva de não parecer condesendente com ele como eu senti que ele parecia
comigo (apesar do meu comentário poder ter sido traquilamente escrito por um Troll,
é verdade!) eu respondi de volta tentando indicar o meu background nas
entrelinhas e foi aí que eu me atolei na merda até o pescoço!
Gente, todos os tipos
de personalidades já sugeridas na história da psicologia contemporânea, mais
algumas que aparentemente desconhecemos, manifestaram-se em sentenças curtas,
algumas até difíceis de se interpretar, com foco seletivo em apenas parte do
que tinha escrito e quando eu vi, tinha gente discurssando sobre o desserviço
que eu fazia contra a homofobia e tinha gente dizendo que eu devia me informar
melhor, pois haviam evidências forênsicas que levavam à identificação do supeito
e tal e coisa... As mensagens multiplicavam-se verticalmente, vertinosamente e desordenadamente, mas de tal forma que eu já não sabia a qual comentário aquela resposta dizia respeito
e no meio disso tudo, ainda tinha um povo me xingando, mas assim, xingamento profis,
gente que tu notas que se dedica a como escrever um monte sem dizer
rigorosamente nada, mas ofendendo como gente grande. Meus diplomas chegaram a dar
uma despencada na parede a cada adjetivo agressivo que me davam, a cada
predicado chulo o qual me era atribuido. Mas foi uma avalanche de baixaria, uma
bagunça, como se o infiltardo da história fosse eu! Tem um comentário que eu lembro bem,
começava assim: “Meu querido amigo ignorante”, gente, pelos pensamentos de Darwin, eu
poderia escrever uma dissertação de 1500 palavras só à partir da combinação destas
quatro palavras e da motivação a suas escolhas!
Enfim, precisei
fazer turn-off das notificações para poder voltar a ter controle do meu dia, mas
estava todo cagado e esfolado! Porque assim, a pessoa é estudada mas não é pecilotérmica,
né? Minha pressão foi a 15, parecia que quanto mais eu tentava explicar
ou extender os comentários, mais gasolina eu jogava no fogo. Sabe aquela galera
que fica à volta de uma briga e parece que entra em transe e sem saber
exatamente quem está apanhando e porque, eles querem é ver porrada? Era isso, era tanta gente a escrever tanta coisas disassociada, numa
mutilação constante e generalizada da lìngua Portuguesa que... Barbaridade! Foi uma chacina!
E é isso. Vou conter-me em comentar ou analisar qualquer outra característica ou efeito deste
evento, pois afinal, o importante já foi dito e não importa o que eu escreva, a
interpretação será de quem lê.
Uma boa semana
para todos.