domingo, julho 30, 2006
Made in Brazil
Estou a caminho de fechar meu 15º ano fora do Brasil. Ao longo deste tempo, foram inúmeras as dificuldades a ultrapassar, pois os cenários para um estrangeiro imigrante são sempre atribulados. Mas isso todo mundo sabe ou suspeita. Estar longe da pátria é algo muito doloroso, tanto, que parece que muitas pessoas cedem a esta dor, a esta pressão e vêem-se corrompidas, com sua moral totalmente alterada.
Se navegarmos pela Internet, encontraremos toneladas de textos a contemplarem um Brasil próspero, cheio de características únicas e positivas e muitas comparações positivas a países de primeiro mundo. Acho que estas visões são fundamentais para a “auto-estima” do país, de certo. Todo o cidadão sente orgulho e alegria em saber que seu país se destaca nisso ou naquilo. A copa do mundo que o diga.
Portanto, não cabe a mim ignorar este louvável lado do Brasil e dos brasileiros. Contudo, existem mais situações que compõe nossa imagem, nossa integridade como uma nação.
Os brasileiros e as brasileiras que vivem na Europa, por exemplo, enfrentam muitos preconceitos e submetem-se a condições de trabalho, e de meio em geral, que lhes torna a vida muito difícil. Mas isso tudo faz parte do jogo. Trocar de país, legalizar-se, ver suas habilitações reconhecidas, aprender a língua e competir com os “nativos” é uma tarefa árdua, mas não deveria constituir nenhuma novidade para quem assumiu este plano.
Mas será por todas estas dificuldades que num gingar de anca, com um certo jeitinho conhecido, as pessoas parecem passar a viver alter-egos? Neste momento, um brasileiro estando num bar, a noite, pode ser o suficiente para alguém vir lhe perguntar se ele é “garoto de programa”.
De Lisboa a Praga, de Praga a Londres e de volta a Lisboa os brasileiros dominam as artes do comércio do corpo. Juízo a parte, o que realmente chama a atenção, é a notória quantidade, dominante, de brasileiros nesta área. Matematicamente entende-se que para uma pessoa ganhar duas horas de trabalho, ela gastará, pelo menos, duas a mais de locomoção. Assim, estas quatro horas renderam em média, em Londres, £10,00. Desnecessário é dizer o quanto alguém faria com estas mesmos quatro horas se estivesse no comércio do corpo.
Mas o dinheiro justifica mesmo esta vida? Notem, não estou me referindo a uma pessoa que passou a comercializar o seu corpo, afinal é um negócio que precisa quem o sustente. O que quero aqui chamar a atenção é como um grupo de pessoas, que jamais fariam isso em seus países, permitem-se rapidamente, ver nessa área, suas vidas facilitadas. Não só, quando comentam do que vivem, parece existir, subentendido, um orgulho malandro, como se o dinheiro fácil a que têm acesso é devido as sua capacidade de enxergar “uma mina”, de usufruir da fraqueza alheia, ou seja, até os clientes são desrespeitados!
Estou confuso. Se no Brasil, mulheres que dançam e tiram a roupa e homens héteros que fazem o mesmo em clubes gay são a escória da sociedade, como podem estes frutos terem vindo da mesma flor?
Não acredito que estas decisões sejam o resultado sofrido, conflituoso e até corajoso em apelar por uma medida drástica de sobrevivência. Não!
Já faz muito tempo que os brasileiros que por cá chegam, com segundo grau completo, parecem nada ter aprendido! Não sabem entrar ou sair dos lugares e falar corretamente para eles parece ser algo antiquado e cafona. Pessoas totalmente despreparadas, sem a mínima noção de cultura geral, geográfica, histórica ou política.
Definitivamente cultura, língua, conhecimentos em geral, no Brasil, vêm encurtando na mesma proporcionalidade que as pernas das calças têm diminuído. Parece-me meio óbvio que estamos aqui a falar de um grave problema de formação!
Brasileiros de novas gerações, sem o menor constrangimento, revelam viver na Inglaterra com identificações falsas de outros países da União Europeia. Negociam vistos e dívidas das formas mais i-e-amorais possíveis!
Não falta trabalho na Europa, seja na área que for. Mas a maioria que para cá veio, sequer permite-se aprender ou absorver o conhecimento de uma outra cultura. Apenas o juntar dinheiro para voltar para o Brasil, “por cima”, é que conta. Dar-se bem é a ordem do dia. De todos os dias, e no mais amplo sentido da palavra “ilegal”, estas pessoas seguem vivendo.
A educação e a formação de um caráter, não só é o que de melhor uma pai pode deixar para um filho, mas como é um dever!
“Algo de muito errado tem se passado no reino da Dinamarca”, parece existir uma predisposição para que o indivíduo “se dê bem”, não importando os meios, não importando o próximo. Pensem bem, na facilidade com as pessoas atravessam um oceano e modificam-se.
Educadores, formadores, psicólogos, sociólogos, pais!! Por que nos abandonaram?
Que a administração deste país é… O que é, nós já sabemos, há mais de 20 anos! Mas o que houve conosco? Com as nossas sociedades? A nossa língua, a melhor – senão única – herança de jeito deixada pelos colonizadores é diariamente negligenciada e ignorada num consciente exercício subversivo; as pessoas deixam as escolas e por alguma estranha razão, parecem de nada lembrar; o trato e o respeito entre as pessoas é lastimável e isso tudo, ao meu ver, não é sinal de progresso e muito menos de prosperidade.
Que existem causas plausíveis que evolvam estrutura e economia, aceita-se, mas nada anula o livre arbítrio. A nossa nação, da qual “um filho teu não foge a luta” , tem assistido passivamente a formação defeituosa de indivíduos que, apesar de continuarem portando uma noção de “certo e errado” , nada mais é do que protocolo, pois suas decisões serão feitas sobre obscuras razões, tórpidas justificativas, mas como muita determinação.
Terá sido a conquista da democracia a última causa pela qual esta nação lutou? É o governo? A globalização? O indivíduo?
Estou triste. Não só por honrar anos de escola e estudo e poder ter, automaticamente, o predicado de prostitudo, apenas por estar andando na rua a noite, mas por olhar a minha gente a eles não reconhecer
Tenham um boa semana.
Eduardo Divério.
Estou a caminho de fechar meu 15º ano fora do Brasil. Ao longo deste tempo, foram inúmeras as dificuldades a ultrapassar, pois os cenários para um estrangeiro imigrante são sempre atribulados. Mas isso todo mundo sabe ou suspeita. Estar longe da pátria é algo muito doloroso, tanto, que parece que muitas pessoas cedem a esta dor, a esta pressão e vêem-se corrompidas, com sua moral totalmente alterada.
Se navegarmos pela Internet, encontraremos toneladas de textos a contemplarem um Brasil próspero, cheio de características únicas e positivas e muitas comparações positivas a países de primeiro mundo. Acho que estas visões são fundamentais para a “auto-estima” do país, de certo. Todo o cidadão sente orgulho e alegria em saber que seu país se destaca nisso ou naquilo. A copa do mundo que o diga.
Portanto, não cabe a mim ignorar este louvável lado do Brasil e dos brasileiros. Contudo, existem mais situações que compõe nossa imagem, nossa integridade como uma nação.
Os brasileiros e as brasileiras que vivem na Europa, por exemplo, enfrentam muitos preconceitos e submetem-se a condições de trabalho, e de meio em geral, que lhes torna a vida muito difícil. Mas isso tudo faz parte do jogo. Trocar de país, legalizar-se, ver suas habilitações reconhecidas, aprender a língua e competir com os “nativos” é uma tarefa árdua, mas não deveria constituir nenhuma novidade para quem assumiu este plano.
Mas será por todas estas dificuldades que num gingar de anca, com um certo jeitinho conhecido, as pessoas parecem passar a viver alter-egos? Neste momento, um brasileiro estando num bar, a noite, pode ser o suficiente para alguém vir lhe perguntar se ele é “garoto de programa”.
De Lisboa a Praga, de Praga a Londres e de volta a Lisboa os brasileiros dominam as artes do comércio do corpo. Juízo a parte, o que realmente chama a atenção, é a notória quantidade, dominante, de brasileiros nesta área. Matematicamente entende-se que para uma pessoa ganhar duas horas de trabalho, ela gastará, pelo menos, duas a mais de locomoção. Assim, estas quatro horas renderam em média, em Londres, £10,00. Desnecessário é dizer o quanto alguém faria com estas mesmos quatro horas se estivesse no comércio do corpo.
Mas o dinheiro justifica mesmo esta vida? Notem, não estou me referindo a uma pessoa que passou a comercializar o seu corpo, afinal é um negócio que precisa quem o sustente. O que quero aqui chamar a atenção é como um grupo de pessoas, que jamais fariam isso em seus países, permitem-se rapidamente, ver nessa área, suas vidas facilitadas. Não só, quando comentam do que vivem, parece existir, subentendido, um orgulho malandro, como se o dinheiro fácil a que têm acesso é devido as sua capacidade de enxergar “uma mina”, de usufruir da fraqueza alheia, ou seja, até os clientes são desrespeitados!
Estou confuso. Se no Brasil, mulheres que dançam e tiram a roupa e homens héteros que fazem o mesmo em clubes gay são a escória da sociedade, como podem estes frutos terem vindo da mesma flor?
Não acredito que estas decisões sejam o resultado sofrido, conflituoso e até corajoso em apelar por uma medida drástica de sobrevivência. Não!
Já faz muito tempo que os brasileiros que por cá chegam, com segundo grau completo, parecem nada ter aprendido! Não sabem entrar ou sair dos lugares e falar corretamente para eles parece ser algo antiquado e cafona. Pessoas totalmente despreparadas, sem a mínima noção de cultura geral, geográfica, histórica ou política.
Definitivamente cultura, língua, conhecimentos em geral, no Brasil, vêm encurtando na mesma proporcionalidade que as pernas das calças têm diminuído. Parece-me meio óbvio que estamos aqui a falar de um grave problema de formação!
Brasileiros de novas gerações, sem o menor constrangimento, revelam viver na Inglaterra com identificações falsas de outros países da União Europeia. Negociam vistos e dívidas das formas mais i-e-amorais possíveis!
Não falta trabalho na Europa, seja na área que for. Mas a maioria que para cá veio, sequer permite-se aprender ou absorver o conhecimento de uma outra cultura. Apenas o juntar dinheiro para voltar para o Brasil, “por cima”, é que conta. Dar-se bem é a ordem do dia. De todos os dias, e no mais amplo sentido da palavra “ilegal”, estas pessoas seguem vivendo.
A educação e a formação de um caráter, não só é o que de melhor uma pai pode deixar para um filho, mas como é um dever!
“Algo de muito errado tem se passado no reino da Dinamarca”, parece existir uma predisposição para que o indivíduo “se dê bem”, não importando os meios, não importando o próximo. Pensem bem, na facilidade com as pessoas atravessam um oceano e modificam-se.
Educadores, formadores, psicólogos, sociólogos, pais!! Por que nos abandonaram?
Que a administração deste país é… O que é, nós já sabemos, há mais de 20 anos! Mas o que houve conosco? Com as nossas sociedades? A nossa língua, a melhor – senão única – herança de jeito deixada pelos colonizadores é diariamente negligenciada e ignorada num consciente exercício subversivo; as pessoas deixam as escolas e por alguma estranha razão, parecem de nada lembrar; o trato e o respeito entre as pessoas é lastimável e isso tudo, ao meu ver, não é sinal de progresso e muito menos de prosperidade.
Que existem causas plausíveis que evolvam estrutura e economia, aceita-se, mas nada anula o livre arbítrio. A nossa nação, da qual “um filho teu não foge a luta” , tem assistido passivamente a formação defeituosa de indivíduos que, apesar de continuarem portando uma noção de “certo e errado” , nada mais é do que protocolo, pois suas decisões serão feitas sobre obscuras razões, tórpidas justificativas, mas como muita determinação.
Terá sido a conquista da democracia a última causa pela qual esta nação lutou? É o governo? A globalização? O indivíduo?
Estou triste. Não só por honrar anos de escola e estudo e poder ter, automaticamente, o predicado de prostitudo, apenas por estar andando na rua a noite, mas por olhar a minha gente a eles não reconhecer
Tenham um boa semana.
Eduardo Divério.