domingo, agosto 13, 2006

 
A Beatiful Mind

O cérebro humano tem a capacidade autónoma e matemática de calcular trajetórias e distâncias. Durante um jogo de golf, o jogador precisa apenas focar a bandeira que indica o buraco no chão e seu cérebro, calculará a trajetória, força e velocidade com que deve ser enviada. Num jogo de bilhar, uma olhada é o suficiente para que a massa cinzenta calcule ângulos, tangentes, distâncias e encaçape as bolas.

Mas o planeta está recheado de mal jogadores de bilhar e ainda mais de golf. Huh, afinal o elevado expoente desta faculdade não é para todos, mas de certo, todos a tem em um certo grau. Mas que grau é este? Como medi-lo? Ele é educável? Digo-vos que sim.

Somos quase 6 bilhões de pessoas no globo, circulando de um lado para o outro, mas em alguns centros, evidenciam-se mais algumas características do que outras. Refiro-me aqui a forma aleatória, descomprometida e perdida com que as pessoas andam pelos espaços públicos.

Enquanto as pessoas estão se locomovendo a nossa frente, em zig-zag ou alterando subitamente sua rota retilínea rumo ao norte para o nordeste, tudo bem, elas não têm olhos na nuca. Mas o que se passa quando uma pessoa vem numa trajetória perpendicular a sua, com amplo e claro campo de visão, onde o embate é iminente e certo e a pessoa não pára, abranda ou desvia?

Ao meu ver, se ambas as trajetórias colidirão no ponto ‘x’, ambos os “objetos” em movimento, ou devem reduzir sua velocidade, ou provocar um desvio que evite o choque, quanto mais não seja, darem um sinal que indique quem irá fazer o que. Mas e quando passamos a vida a reduzir nossa velocidade, desviando e até parando por muitas vezes, sem ter tido um sinal que o “objeto”, em suposta rota de colisão, parece sequer ter se preocupado?

Isso é sério!! Andarão estas pessoas absortas em seus pensamentos e por isso não estão com atenção por onde seguem, iludidas por um espaço aberto, ou o grau de cálculo de distâncias destas pessoas é mesmo deficiente?

Não é um ou outro caso, são mesmo muitos! É na rua, é no trabalho, nas escadas de um prédio, enfim, eu diria na cultura.

Imagine que você está seguindo por um corredor onde tem um grupo de três pessoas no caminho, uma pequena reunião de motivo irrelevante agora. Ninguém se mexe! Não há espaço para passar, elas estão num lugar menos próprio possível, mas elas não se mexem!
Neste mesmo exemplo, ainda podemos achar a variante em que uma delas, exatamente no momento em que você vai tentar passar, resolve voltar para sua sala e atravessa-se a sua frente.

Outro dia, eu vinha descendo a rua que leva a minha casa. A minha frente, uns dois metros, estava um pai de mão com seu filho, pequeno. O menino era bastante inquieto, olhava para todos os lados, inclusive para trás, e segurava algo. Nós três aproximamo-nos então do final da calçada, prestes a atravessar a rua onde dois carros estacionados reduziram em o local de passagem. Os cálculos foram feitos, a passagem é possível, viável e segura paras os três, mas o diabo do menino pula a minha frente, deixando a mão de seu pai.

E ainda acham que a causa número um de acidentes nas estradas é a velocidade…

Esta alienação é crescente. As pessoas param no caixa automático, ou na máquina de venda de tickets do metrô e parecem entrar num profundo estado de meditação. Mas se estas pessoas estão em total inércia e ainda sim estão no caminho das outras, então não é meramente a “calculadora” que anda com defeito, eu diria se tratar do mais clássico caso do homem das sociedades de grande centro contemporâneas: Egodistonia!

Nada conta e ninguém é mais importante do que cumprir minha missão, seja lá o que isso significa ao mundo, desde que signifique algo para mim: “Eu já estava neste caminho, em sua frente, cheguei primeiro… Se quiser, que desvies”; “é a minha vez de levantar dinheiro, e conferir meu extrato, e pedir mais um talão de cheques, e por saldo no telefone e voltar a conferir o extrato”; “se quiser passar, que se vire, eu não tenho pressa e já esperei muito também”.

Nossos filhos não têm sido educados a estimularem a “calculadora”, a darem a vez às pessoas, a segurarem uma porta para outras passarem, a juntar algo de alguém que tenha caído, situarem-se em locais públicos e respeitar locais públicos. Parecem sempre estarem na sala de estar de suas casas.

Isso cansa! (E lembrei-me agora do Luís…).

As pessoas não enxergam este “looping” repetitivo de reafirmação de comportamentos que deterioram nosso dia-a-dia, nossa existência e relacionamento com outro ser humano. Isolados em nós mesmos, somos alvo fácil de outros pequenos “loopings” neuróticos e paranóicos que nos afastam de uma felicidade mais constante, ou pelo menos, sem estorvar o caminho de ninguém!

Deixo-vos com uma pequena estória que me foi contada quando eu tinha onze anos de idade:

Um pupilo vira-se para seu mestre e pergunta-lhe qual seria a principal diferença entre o céu e o inferno. O mestre então o conduz por um corredor onde existem duas portas. Ao abrir a primeira, o mestre avisa ser o inferno e lá dentro, sentados a uma longa mesa, um ao lado do outro, homens que, apesar de terem a sua frente um prato quente de sopa expeça, estavam muito, muito magros, fracos e desnutridos. Então o rapaz notou que cada um tinha um braço amarrado atrás de sua própria cadeira e o outro, com uma longa colher de pau também amarrada, impossibilitando assim que pudessem dobrar-lo para levar o alimento à boca ou mesmo a colher ao prato. Eles deixam esta sala e o mestre leva-o até a outra. Num cenário semelhante, o céu era composto por homens que estavam amarrados exatamente da mesma forma que os do inferno, à mesa e com comida a sua frente. Mas estes, estavam fortes, saudáveis e viçosos, pois levavam o braço com a colher amarrada, à sopa da pessoa que lhes estavam a esquerda e davam de comer aos que estavam a sua direita, fechando um ciclo onde todos se alimentavam.

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

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