domingo, dezembro 03, 2006
Desesperar em Lisboa
Lisboa é, para mim, uma das mais belas capitais da Europa. Sua localização junto ao rio Tejo, sua arquitetura e principalmente seu clima, fazem dela um lugar onde se deseja viver. Mas por que então os lisboetas andam de cara tão amarrada, triste ou zangados publicamente?
Vejamos: Quando cheguei aqui, há 15 anos, tive a impressão de haver muito mais grávidas e muito mais deficientes fiscos a circularem pelas ruas do que estava acostumado. Até que um amigo chamou-me a atenção às devidas proporções. Quero dizer, 15% extraído de um bolo de 160 milhões e espalhados numa extensão de 8 milhões de km é diferente de 15% extraído de 10 milhões, onde um 1/3 deste total vive em Lisboa!
Então agora imaginem esta diversidade concentrada pelas vias e espaços públicos. Sob um perfeito e homogênio céu azul, envoltas num úmido e sútil cheiro a mofo, exalado do interior dos prédios mais antigos, as pessoas circulam desgovernadamente, como se não tivessem se moldado em íntegra à tecnologia que lhes rodeia.
As escadas rolantes dos grandes centros comerciais e das estações de metrô, vêm-se em total desalinhamento, impossibilitadas de existir um fluxo móvel pelo lado esquerdo. Nas plataformas dos trens ou do metropolitano, as pessoas que estão dentro dos vagões, têm que empurrarem, desviarem, suplicarem para poderem sair, tendo que lutar com o contra-fluxo das pessoas amontoadas a frente da porta, que ainda não abriu.
Por sua vez, quando finalmente o último “soldado” conseguiu deixar o vagão, a “tropa” que vinha atrás da “infantaria” luta agora contra o tempo, antes que o sinal de fecho das portas toque e eles fiquem na plataforma e tudo, porque os que entraram, simplesmente pararam onde lhes convinham ou mexem-se na velocidade que lhes convém.
Um delicioso aroma de castanhas a assarem paira no ar e o cair de folhas amarelas, como se fosse uma chuva, regalam nossos sentidos, mas devemos estar alertas, principalmente ao atravessarmos uma rua, mesmo que se esteja sobre uma passadeira! Motoristas, vorazes por velocidade, conduzem pelas avenidas e ruas de um centro urbano como se não existissem pedestres. Sobem calçadas, obstruem passagens e buzinam. Deus, como buzinam! Cada motorista sente ter uma noção, uma percepção visual mais aguçada que os outros, pois mal um sinal muda de vermelho para verde, a “ sinfonia” começa.
Funcionários de lojas e cafés, de qualquer nacionalidade, mesmo em zonas turísticas, parecem ter um álibi secreto, algum tipo de imunidade diplomática que os permitem nos ignorarem, fazem que não nos vêm ou nos ouvem! Se iniciarmos uma conversa interrogativa, exigindo uma consciência de quem precisa de quem ali, nos tratam como se tivessem andado na escola conosco.
O frio corre pelas ruas e as pessoas correm dos estacionamentos, das estações de transportes para o interior dos estabelecimentos, seja a trabalhão ou seja a lazer, mas independentemente que a pessoa que segue atrás esteja apenas a poucos metros, o indivíduo que ía a frente e abriu a porta para passar, simplesmente a larga, despreocupado com os demais. Mas existe um porque prático para isso, pois a pessoa que resolve segurar a porta para que o de trás entre, corre o risco de passar longos minutos ali, segurando a porta para uma mar de pessoas que não estenderão seus braços para segurarem a porta e um dar a vez a outro.
Mas ouvimos as pessoas reclamarem, percebemos existir uma consciência pública da vida no caos, vejo as pessoas sentirem-se vitimadas pelo sistema e no fim, torna-se numa guerra pessoal, entre o indivíduo e o sistema público.
Será por este desgaste, esta invisível corrosão do sobreviver dia-a-dia à Lisboa, a razão pela qual as pessoas andam tão sisudas por aqui? Andamos nós a respirar um ar viciado onde a energia reciclada de cada corpo parece não escoar e cria uma grande massa estática sobre nossas cabeças?
É triste. Sinto que falar destas coisas é como chover no molhado.
Dedico este texto aos bravos soldados de Lisboa. Que sejam perseverantes nesta guerra e possam sentir alento no exercício de dar o exemplo e transformar Lisboa numa cidade mais leve e feliz para se viver.
Uma boa semana todos.
Eduardo Divério.
Lisboa é, para mim, uma das mais belas capitais da Europa. Sua localização junto ao rio Tejo, sua arquitetura e principalmente seu clima, fazem dela um lugar onde se deseja viver. Mas por que então os lisboetas andam de cara tão amarrada, triste ou zangados publicamente?
Vejamos: Quando cheguei aqui, há 15 anos, tive a impressão de haver muito mais grávidas e muito mais deficientes fiscos a circularem pelas ruas do que estava acostumado. Até que um amigo chamou-me a atenção às devidas proporções. Quero dizer, 15% extraído de um bolo de 160 milhões e espalhados numa extensão de 8 milhões de km é diferente de 15% extraído de 10 milhões, onde um 1/3 deste total vive em Lisboa!
Então agora imaginem esta diversidade concentrada pelas vias e espaços públicos. Sob um perfeito e homogênio céu azul, envoltas num úmido e sútil cheiro a mofo, exalado do interior dos prédios mais antigos, as pessoas circulam desgovernadamente, como se não tivessem se moldado em íntegra à tecnologia que lhes rodeia.
As escadas rolantes dos grandes centros comerciais e das estações de metrô, vêm-se em total desalinhamento, impossibilitadas de existir um fluxo móvel pelo lado esquerdo. Nas plataformas dos trens ou do metropolitano, as pessoas que estão dentro dos vagões, têm que empurrarem, desviarem, suplicarem para poderem sair, tendo que lutar com o contra-fluxo das pessoas amontoadas a frente da porta, que ainda não abriu.
Por sua vez, quando finalmente o último “soldado” conseguiu deixar o vagão, a “tropa” que vinha atrás da “infantaria” luta agora contra o tempo, antes que o sinal de fecho das portas toque e eles fiquem na plataforma e tudo, porque os que entraram, simplesmente pararam onde lhes convinham ou mexem-se na velocidade que lhes convém.
Um delicioso aroma de castanhas a assarem paira no ar e o cair de folhas amarelas, como se fosse uma chuva, regalam nossos sentidos, mas devemos estar alertas, principalmente ao atravessarmos uma rua, mesmo que se esteja sobre uma passadeira! Motoristas, vorazes por velocidade, conduzem pelas avenidas e ruas de um centro urbano como se não existissem pedestres. Sobem calçadas, obstruem passagens e buzinam. Deus, como buzinam! Cada motorista sente ter uma noção, uma percepção visual mais aguçada que os outros, pois mal um sinal muda de vermelho para verde, a “ sinfonia” começa.
Funcionários de lojas e cafés, de qualquer nacionalidade, mesmo em zonas turísticas, parecem ter um álibi secreto, algum tipo de imunidade diplomática que os permitem nos ignorarem, fazem que não nos vêm ou nos ouvem! Se iniciarmos uma conversa interrogativa, exigindo uma consciência de quem precisa de quem ali, nos tratam como se tivessem andado na escola conosco.
O frio corre pelas ruas e as pessoas correm dos estacionamentos, das estações de transportes para o interior dos estabelecimentos, seja a trabalhão ou seja a lazer, mas independentemente que a pessoa que segue atrás esteja apenas a poucos metros, o indivíduo que ía a frente e abriu a porta para passar, simplesmente a larga, despreocupado com os demais. Mas existe um porque prático para isso, pois a pessoa que resolve segurar a porta para que o de trás entre, corre o risco de passar longos minutos ali, segurando a porta para uma mar de pessoas que não estenderão seus braços para segurarem a porta e um dar a vez a outro.
Mas ouvimos as pessoas reclamarem, percebemos existir uma consciência pública da vida no caos, vejo as pessoas sentirem-se vitimadas pelo sistema e no fim, torna-se numa guerra pessoal, entre o indivíduo e o sistema público.
Será por este desgaste, esta invisível corrosão do sobreviver dia-a-dia à Lisboa, a razão pela qual as pessoas andam tão sisudas por aqui? Andamos nós a respirar um ar viciado onde a energia reciclada de cada corpo parece não escoar e cria uma grande massa estática sobre nossas cabeças?
É triste. Sinto que falar destas coisas é como chover no molhado.
Dedico este texto aos bravos soldados de Lisboa. Que sejam perseverantes nesta guerra e possam sentir alento no exercício de dar o exemplo e transformar Lisboa numa cidade mais leve e feliz para se viver.
Uma boa semana todos.
Eduardo Divério.
Comments:
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Oi lindoooooooo!
adorei este texto! com certeza vc esta ajudando a melhorar os "ares" de Lisboa! com seu charme e alegria!
bjs
e FelizAnoNovo!
elis
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adorei este texto! com certeza vc esta ajudando a melhorar os "ares" de Lisboa! com seu charme e alegria!
bjs
e FelizAnoNovo!
elis
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