segunda-feira, janeiro 15, 2007

 
Evitando o Inevitável

Enquanto nos jornais da Suécia se discute a necessidade, ou não, de se ter os acentos dos transportes públicos revestidos com matéria hipoalergênica, em consideração aos contribuintes que sofrem de alergias, nesta zona mais setentrional da Europa, os portugueses partem para mais um plebiscito sobre o aborto, o terceiro em pelo menos dez anos.

Contudo, tanto a campanha a favor como a contra, vista pelos cartazes partidários por toda a cidade, têm como frase chave “ SIM AO ABORTO” ou “NÃO AO ABORTO”. Na minha opinião este plebiscito já começa mal pela sua própria denominação, que implicitamente, condiciona o voto a uma idéia, a um ato e não a um direito. Nós portugueses, deveríamos estar indo votar pelo “DIREITO, pela legalização ao aborto” , por que de fato, eu mesmo, sou contra o acto, contudo, acredito e direi “sim” à legislação que o legaliza, porque o aborto em si, será sempre uma decisão de fórum pessoal.

Dezenas de mulheres morrem ou ficam com sequelas irreversíveis todos os anos, devido as formas a que recorrem a este procedimento, caindo nas mãos de pessoas com falsas credenciais. Vai longe o tempo em que uma garota que engravidasse tinha que casar para salvar sua reputação. Vai longe no tempo, a vergonha de se ser mãe solteira ou uma mulher divorciada. O aborto existe, está entre nós e por várias e diferentes razões do que apenas um método anticonceptivo.

Empiricamente, pois não tenho números ou estatísticas reais que me dêm suporte, eu ouso em dizer que estas mesmas pessoas tradicionias, que votam contra o aborto, acabam por fazer parte das causas do porque ele existe. Dezenas e dezenas de mulhreres preferem correr o risco nas mãos de um açogueiro, do que enfrentarem uma suposta vergonha, o julgamento da família e claro, o seu próprio. Uma pessoa que se sente assim é porque pensa assim, foi formada, educada assim.

Coincidentemente, uma pesquisa realizada acerca de duas ou três semanas atrás, revelou que 70% dos portugueses são contra a adoção de crianças por casais gay e não só! São contra as leis que regularizam as uniões conjugais entre pessoas do mesmo sexo.

Pois eu proponho que um outro plebiscito seja feito. Que todas as pessoas, que pertençam a um grupo onde lei nenhuma as assiste, tenham redução nas cargas fiscais e impostos! Como pode, uma pessoa não poder casar com outra, ou adotar uma criança que precisa de um lar ou ainda ser proibida de não querer trazer uma criança ao mundo, e ainda ter que contribuir com subsídios para os filhos dos outros?

O lado latino do planeta TEM que entender que todas a s pessoas têm direitos, pelo simples fato de existirem! Fantoches arcaicos de sociedades atrasadas que não enxergam ou entendem que legislar não é apenas o que um grupo de pessoas acha certo ou não! Legislar é respeitar a diferença e dar a devida deferência ao indivíduo.

Portugal está ficando confinado as suas fronteiras, pois o resto da Europa rende-se aos direitos dos cidadãos contribuintes e fazendo parte da comunidade, em breve não terá escolha. Porém, isso não mudará a mentalidade do povo que julga ter o direito de vetar o direito dos outros.

Lado infame este de nossa cultura que nos impossibilita a liberdade de indivíduo. Pois afirmo que as mudanças começam pelo indivíduo, pela forma como pensa e se pronuncia junta a outros. É curioso saber que acerca de cem anos, pessoas eram presas e condenadas à morte por homossexualidade na Inglaterra e que hoje, não só têm o direito legal a se casarem e adotar crianças, como são aceitas na sociedade, de um modo geral.

Os latinos, que nunca tiveram uma pena específica, muito menos de morte contra a homossexualidade, continuam permitindo o exercício do preconceito e da diferença pejorativa das sexualidades enquanto usufruem do dinheiro arrecadado destas pessoas pelos impostos, ao mesmo tempo que exige sua boa conduta civil na sociedade.

Mas é inevitável. Cedo ou tarde, e sem plebiscito, surgirão as leis que regulam estes absurdos. É histórico, é vergonhoso e latino.

Deixo aqui meu apelo. Para aqueles que pertencem a um grupo desfavorecido, que se façam ouvir, mesmo que sejam só entre aqueles com quem têm confiança, pois estes levaram novas idéias aos deles de confiança, formando uma corrente. Para aqueles que se sentem menos afetados, pensem em seus amigos, ou nos filhos dos seus amigos que crescem, ou nos seus próprios filhos e amigos destes.

Lembrem-se que ao longo da história, centenas de judeus foram mortos, centenas de negros foram escravizados, centenas de mulheres foram mutiladas, centenas de mulheres foram tratadas como raça inferior, centenas de crianças foram sexualmente abusadas, centenas de pessoas que lutavam pelos direitos e pela liberdade de outros foram mortas e acima de tudo, lembrem-se que tudo ao que você hoje usufrui e tem acesso, tem o direito, tem uma mancha de sangue de todos esses mencionados e muitos outros.

Uma boa semana a todos.

Eduardo Divério.

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