domingo, janeiro 07, 2007
O Mito a volta da Pornografia
O termo “Pornografia” surgiu na época Vitoriana, quando arqueólogos escavavam em Pormpéia e figuras de pênis foram encontradas nas calçadas, indicando o caminho para os prostíbulos. Não só, enormes gravuras pelas paredes, representavam diversas posições, explícitas, de atos sexuais. A palavra é de origem grega: πόρνη (pórne), "prostituta", γραφή (grafé), representação.
Também da Grécia Antiga eu fui buscar um conhecido mito para ajudar-me da dar apoio a minha visão dos fatos:
Existe mais de uma versão sobre a origem de Hephaestus, o deus grego ferreiro ou do fogo. Há quem diga que Hera, esposa de Zeus, numa violenta crise de ciúmes do marido, por este ter criado a deusa Athena, deu a luz de forma independente a Hephaestus. Contudo, ele era tão pouco belo e perfeito, que Hera, envergonhada, o atirou do alto do Olimpo. Outros, dizem que Zeus, foribundo com Hera, por esta ter atentado contra a vida de Hércules, suspendeu-a ao alto com sua força, ao que o filho, Hephaestus, correu em seu auxílio. Zeus enfurecido, teria atirado-o do alto do Olimpo. Nas duas versões ele rola monte abaixo durante um dia, fraturando ossos e deformando sua carne.
Pois é numa alusão aos ocorridos acima, onde encontro incríveis semelhanças no desabrochar do “mito” da pornografia. Apesar de o conceito de pornografia não ter nenhuma área de intersecção com o de mitologia, pretendo expressar aqui alguns pensamentos lógicos onde acredito estar a origem do mito, como refiro-me.
Se, e apenas se, postularmos que o sexo é a representação do amor entre duas pessoas e que só deveria ser consumado por reflexo a este sentimento, realmente então, a idéia lasciva de pessoas tendo coito com outras, sem nenhuma afinidade que não seja atracão, e apenas por prazer, não pode ser bem vista ou sequer aceita, quanto mais apreciada de forma consumível.
Mas sendo ela mal vista ou sequer aceita, como se explica a alta atividade do seu exercício?
Existe um verdadeiro mercado lá fora. Conseguimos encontrar material remoto a invenção da máquina fotográfica, mas na verdade, ao redor do mundo, encontram-se imagens pornográficas que somam mais de 2000 anos.
Na idade contemporânea, vieram as revistas, os filmes, as ligações telefônicas e finalmente, a Internet. Esta, com tudo o que os ítens anteriores ofereciam e mais os chats, web câmeras e microfones, onde ninguém precisa se identificar. Milhões de pessoas navegam diariamente entre sites gratuitos e pagos consumindo as mais diversas formas de produto.
Contudo, os americanos forçam o mundo em acreditar, pelas suas séries televisivas, filmes e estudos, que a pornografia, associada a personalidade humana, se traduz em vício, numa deficiência de formação moral do indivíduo, sendo usada como indícios e pistas de um perfil obscuro. E aqui está o mito, como refiro-me! Postular isso é postular que sexo só se pode fazer com amor e água benta! É assumir toda uma carga religiosa, um credo sobre um assunto tabu nas nossas sociedades pelas últimas dezenas de anos.
Textos espalhados pela Bíblia condenam os atos sexuais e chama de repulsivo ao comportamento das pessoas que “reduzem” outro ser humano a um “objeto” de prazer – apesar de eu achar que este “objeto” também está usufruindo deste prazer (ou será o ‘prazer’ o problema?) É fato também que na indústria cinematográfica, a figura da mulher, surge como um objecto biológico anatomicamente desenhado para dar prazer ao homem, cedendo ao mais sórdido capricho. De novo, um “objeto”.
Entretanto, ceder a este argumento parece-me um exagero. Primeiro porque é difícil ajuizar esta visão sem lembrar da história precária do desenvolvimento interativo da mulher nas sociedades. Depois, é meio óbvio e esperado que a indústria magnifique certos fetiches e comportamentos, afinal, eles não são uma instituição de caridade. Mas por fim, o que as mulheres que consomem pornografia acham disso?
A César o que é de César!
Consigo ver que uma pessoa que só viva o sexo num universo pornográfico, tem problemas em se ligar emocionalmente a outra pessoa, em confiar, em se dar e trocar e isso é sério, provoca infelicidade. Mas a pornografia nestes cenários, para mim, é um canal, uma consequência. Eliminar a pornografia, seria a resposta para este indivíduo passar a ter relacionamentos emocionais saudáveis?
Claro que não! Estamos rodeados de pessoas que não conseguem ter uma vida social ativa porque sentem uma imensa obrigação em trabalhar, como se não pudessem se permitir arranjar um momento onde fossem obrigadas a olhar para as consequências de suas decisões, encará-las e assumi-las. Outras, apesar de terem condições, fecham-se em casa, longe de amigos, não suportando as impressões do mundo externo, sendo menos doloroso resguardar-se. Todos nós precisamos de canais por onde libertar a pressão, o resíduo dos processos individuais para não enlouquecermos ou cortar os pulsos!
É um canal que assusta porque mexe com instintos não racíveis, porque vai contra idéias que insistem ser um “certo”, porque vai contra credos e porque dá imenso prazer e isso, por si só, já é um pecado! Também porque é um canal que pode conduzir uma pessoa a um universo de real degradação, sim, mas para mim, ainda é apenas um canal.
Enxergo predicados a mais atachados ao seu conceito, um mártir, que paga pelos erros de outros e não os causados por ela. Os ínumeros ideias incompatíveis com a própria psiquê humana que existem ao redor do amor, romance, sexo e relações, despejam os restos de suas equações sobre este assunto, como quando se tem uma conta genérica de “Custos” num livro de contabilidade, onde descrição nenhuma pode ser feita e onde tudo o que descrição nenhuma pode ter sido achada, é inserido.
E eis o mito! Como se fosse a “filha” da união conflituosa do Sexo com o Amor. Estas duas “divindades”, capazes de feitos mágicos e de poderes que só os deuses podem ter sobre os humanos, na inconsistência evidente da natureza de sua relação, gerou este Deus menor, imperfeito, feio, com o poder de destruir, talvez. Um Deus que ninguém, reza por, mas que todos acendem um vela à.
Dedico este texto a todos aqueles que têm um fita VHS, um DVD ou uma revista no fundo de última gaveta, atrás de uma fila de livros, por debaixo do colchão, enfim, em qualquer lugar que tenha feito a pessoa que lá a pôs, ter se sentido menos digna a ponto de fazê-lo.
Uma boa semana para todos e um Feliz 2007
Eduardo Divério.
O termo “Pornografia” surgiu na época Vitoriana, quando arqueólogos escavavam em Pormpéia e figuras de pênis foram encontradas nas calçadas, indicando o caminho para os prostíbulos. Não só, enormes gravuras pelas paredes, representavam diversas posições, explícitas, de atos sexuais. A palavra é de origem grega: πόρνη (pórne), "prostituta", γραφή (grafé), representação.
Também da Grécia Antiga eu fui buscar um conhecido mito para ajudar-me da dar apoio a minha visão dos fatos:
Existe mais de uma versão sobre a origem de Hephaestus, o deus grego ferreiro ou do fogo. Há quem diga que Hera, esposa de Zeus, numa violenta crise de ciúmes do marido, por este ter criado a deusa Athena, deu a luz de forma independente a Hephaestus. Contudo, ele era tão pouco belo e perfeito, que Hera, envergonhada, o atirou do alto do Olimpo. Outros, dizem que Zeus, foribundo com Hera, por esta ter atentado contra a vida de Hércules, suspendeu-a ao alto com sua força, ao que o filho, Hephaestus, correu em seu auxílio. Zeus enfurecido, teria atirado-o do alto do Olimpo. Nas duas versões ele rola monte abaixo durante um dia, fraturando ossos e deformando sua carne.
Pois é numa alusão aos ocorridos acima, onde encontro incríveis semelhanças no desabrochar do “mito” da pornografia. Apesar de o conceito de pornografia não ter nenhuma área de intersecção com o de mitologia, pretendo expressar aqui alguns pensamentos lógicos onde acredito estar a origem do mito, como refiro-me.
Se, e apenas se, postularmos que o sexo é a representação do amor entre duas pessoas e que só deveria ser consumado por reflexo a este sentimento, realmente então, a idéia lasciva de pessoas tendo coito com outras, sem nenhuma afinidade que não seja atracão, e apenas por prazer, não pode ser bem vista ou sequer aceita, quanto mais apreciada de forma consumível.
Mas sendo ela mal vista ou sequer aceita, como se explica a alta atividade do seu exercício?
Existe um verdadeiro mercado lá fora. Conseguimos encontrar material remoto a invenção da máquina fotográfica, mas na verdade, ao redor do mundo, encontram-se imagens pornográficas que somam mais de 2000 anos.
Na idade contemporânea, vieram as revistas, os filmes, as ligações telefônicas e finalmente, a Internet. Esta, com tudo o que os ítens anteriores ofereciam e mais os chats, web câmeras e microfones, onde ninguém precisa se identificar. Milhões de pessoas navegam diariamente entre sites gratuitos e pagos consumindo as mais diversas formas de produto.
Contudo, os americanos forçam o mundo em acreditar, pelas suas séries televisivas, filmes e estudos, que a pornografia, associada a personalidade humana, se traduz em vício, numa deficiência de formação moral do indivíduo, sendo usada como indícios e pistas de um perfil obscuro. E aqui está o mito, como refiro-me! Postular isso é postular que sexo só se pode fazer com amor e água benta! É assumir toda uma carga religiosa, um credo sobre um assunto tabu nas nossas sociedades pelas últimas dezenas de anos.
Textos espalhados pela Bíblia condenam os atos sexuais e chama de repulsivo ao comportamento das pessoas que “reduzem” outro ser humano a um “objeto” de prazer – apesar de eu achar que este “objeto” também está usufruindo deste prazer (ou será o ‘prazer’ o problema?) É fato também que na indústria cinematográfica, a figura da mulher, surge como um objecto biológico anatomicamente desenhado para dar prazer ao homem, cedendo ao mais sórdido capricho. De novo, um “objeto”.
Entretanto, ceder a este argumento parece-me um exagero. Primeiro porque é difícil ajuizar esta visão sem lembrar da história precária do desenvolvimento interativo da mulher nas sociedades. Depois, é meio óbvio e esperado que a indústria magnifique certos fetiches e comportamentos, afinal, eles não são uma instituição de caridade. Mas por fim, o que as mulheres que consomem pornografia acham disso?
A César o que é de César!
Consigo ver que uma pessoa que só viva o sexo num universo pornográfico, tem problemas em se ligar emocionalmente a outra pessoa, em confiar, em se dar e trocar e isso é sério, provoca infelicidade. Mas a pornografia nestes cenários, para mim, é um canal, uma consequência. Eliminar a pornografia, seria a resposta para este indivíduo passar a ter relacionamentos emocionais saudáveis?
Claro que não! Estamos rodeados de pessoas que não conseguem ter uma vida social ativa porque sentem uma imensa obrigação em trabalhar, como se não pudessem se permitir arranjar um momento onde fossem obrigadas a olhar para as consequências de suas decisões, encará-las e assumi-las. Outras, apesar de terem condições, fecham-se em casa, longe de amigos, não suportando as impressões do mundo externo, sendo menos doloroso resguardar-se. Todos nós precisamos de canais por onde libertar a pressão, o resíduo dos processos individuais para não enlouquecermos ou cortar os pulsos!
É um canal que assusta porque mexe com instintos não racíveis, porque vai contra idéias que insistem ser um “certo”, porque vai contra credos e porque dá imenso prazer e isso, por si só, já é um pecado! Também porque é um canal que pode conduzir uma pessoa a um universo de real degradação, sim, mas para mim, ainda é apenas um canal.
Enxergo predicados a mais atachados ao seu conceito, um mártir, que paga pelos erros de outros e não os causados por ela. Os ínumeros ideias incompatíveis com a própria psiquê humana que existem ao redor do amor, romance, sexo e relações, despejam os restos de suas equações sobre este assunto, como quando se tem uma conta genérica de “Custos” num livro de contabilidade, onde descrição nenhuma pode ser feita e onde tudo o que descrição nenhuma pode ter sido achada, é inserido.
E eis o mito! Como se fosse a “filha” da união conflituosa do Sexo com o Amor. Estas duas “divindades”, capazes de feitos mágicos e de poderes que só os deuses podem ter sobre os humanos, na inconsistência evidente da natureza de sua relação, gerou este Deus menor, imperfeito, feio, com o poder de destruir, talvez. Um Deus que ninguém, reza por, mas que todos acendem um vela à.
Dedico este texto a todos aqueles que têm um fita VHS, um DVD ou uma revista no fundo de última gaveta, atrás de uma fila de livros, por debaixo do colchão, enfim, em qualquer lugar que tenha feito a pessoa que lá a pôs, ter se sentido menos digna a ponto de fazê-lo.
Uma boa semana para todos e um Feliz 2007
Eduardo Divério.