terça-feira, fevereiro 06, 2007
Home sweet home - e seus contrastes
Estive em casa, ou pelo menos onde foi minha casa pelos primeiros vinte anos de minha vida. O fato de ser minha cidade natal, faculta-me este sentimento e depois, eu sou mesmo apaixonado por Porto Alegre.
Encontrei a cidade mais arborizada do Brasil, mergulhada nas tecnologias de ponta do mercado internacional e mesmo com as pessoas sem formação, para executar suas tarefas, achei-as muito adaptadas a esta tecnologia.
O velho contraste da simpatia e facilidade pessoal de se resolver coisas, contra a má formação em executar estas mesmas coisas. Quando eu queria fazer uma compra com cartão de crédito, era sempre a mesma polémica: Se à vista ou a prestação. Quando eu dizia que meu cartão não divide, tendo que ser à vista, então ou a pessoa teimava na tentativa de me provar que poderia fazer parcelas ou, ela queria tratar a compra como um débito. Depois vinha a situação do cartão ter ou não chip, o que na visão do comerciante estava diretamente associado a assinar ou digitar uma senha, só isso.
Novas avenidas ligando norte ao sul da cidade, lojas com etiquetas e estilos europeus em suas montras, esplanadas e paletes de museus. Tudo requintadamente muito bem concebido mas, sem mudar por onde andemos, as pessoas nos olham. Mas eu quero dizer, olham e olham e não desviam seu olhar e continuam nos olhando! Se um poste, uma sombra ou mesmo a trajetória de uma outra pessoa surgir entre você e a pessoa que está (ainda) lhe olhando, ela vai desviar, manobrar seu pescoço numa perícia olímpica, para continuar lhe olhando (eu poderia especular dezenas de linha sobre o que pode passar pela cabeça desta gente).
Bem, talvez seja mesmo difícil, ou impossível, andar pelas suas ruas de forma objetiva, sem se importar com quem passa, pois é quase uma graça andarmos cem metros que seja, sem sermos interpelados por um pedinte, um engraxate, um vendedor ambulante, um voluntário pedindo dinheiro para alguma fundação, alguém querendo a lata de coca-cola que está na nossa mão, enfim.
Mas não sei se será por esta constante interação com o meio, a razão pela qual a cidade berço da abolição da escravatura e da primeira legalização de união homossexual do país, repleta de locais GLS e com uma enorme população de trans(sufixos mis), tem este vício de “dar/roubar atenção”, quero dizer, existe um estranho exercício por detrás disso, algo que não acompanha ou sequer cabe no desenvolvimento de Porto Alegre.
Num país onde os homens que participam do Big Brother são convidados a pousar nus, com seus membros eretos, para revistas de público gay e chamar alguém de ‘viado’ ou ‘negão’ é crime, o que falta para as pessoas aprenderem a olhar apenas para seus próprios assuntos?
Mas tudo bem. Esta cidade com essência portuguesa (uma série de coisas acabam de fazer mais sentido…), cheia de histórias bonitas, banhada pelo rio - que é um lago - Guaíba, rodeada de recantos e lugares naturais por todos os lados, onde sempre tem um chimarrão a nossa espera, que está mais alegre do que nunca, com ou sem gente indiscreta a volta, continua dona de meu coração e albergando a maioria das pessoas que mais amo neste planeta e isso não deve ser só coincidência.
Obrigado Porto Alegre por me ter recebido nestas férias, mas meu povo, vão cuidar do próprio ‘rabo’!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Estive em casa, ou pelo menos onde foi minha casa pelos primeiros vinte anos de minha vida. O fato de ser minha cidade natal, faculta-me este sentimento e depois, eu sou mesmo apaixonado por Porto Alegre.
Encontrei a cidade mais arborizada do Brasil, mergulhada nas tecnologias de ponta do mercado internacional e mesmo com as pessoas sem formação, para executar suas tarefas, achei-as muito adaptadas a esta tecnologia.
O velho contraste da simpatia e facilidade pessoal de se resolver coisas, contra a má formação em executar estas mesmas coisas. Quando eu queria fazer uma compra com cartão de crédito, era sempre a mesma polémica: Se à vista ou a prestação. Quando eu dizia que meu cartão não divide, tendo que ser à vista, então ou a pessoa teimava na tentativa de me provar que poderia fazer parcelas ou, ela queria tratar a compra como um débito. Depois vinha a situação do cartão ter ou não chip, o que na visão do comerciante estava diretamente associado a assinar ou digitar uma senha, só isso.
Novas avenidas ligando norte ao sul da cidade, lojas com etiquetas e estilos europeus em suas montras, esplanadas e paletes de museus. Tudo requintadamente muito bem concebido mas, sem mudar por onde andemos, as pessoas nos olham. Mas eu quero dizer, olham e olham e não desviam seu olhar e continuam nos olhando! Se um poste, uma sombra ou mesmo a trajetória de uma outra pessoa surgir entre você e a pessoa que está (ainda) lhe olhando, ela vai desviar, manobrar seu pescoço numa perícia olímpica, para continuar lhe olhando (eu poderia especular dezenas de linha sobre o que pode passar pela cabeça desta gente).
Bem, talvez seja mesmo difícil, ou impossível, andar pelas suas ruas de forma objetiva, sem se importar com quem passa, pois é quase uma graça andarmos cem metros que seja, sem sermos interpelados por um pedinte, um engraxate, um vendedor ambulante, um voluntário pedindo dinheiro para alguma fundação, alguém querendo a lata de coca-cola que está na nossa mão, enfim.
Mas não sei se será por esta constante interação com o meio, a razão pela qual a cidade berço da abolição da escravatura e da primeira legalização de união homossexual do país, repleta de locais GLS e com uma enorme população de trans(sufixos mis), tem este vício de “dar/roubar atenção”, quero dizer, existe um estranho exercício por detrás disso, algo que não acompanha ou sequer cabe no desenvolvimento de Porto Alegre.
Num país onde os homens que participam do Big Brother são convidados a pousar nus, com seus membros eretos, para revistas de público gay e chamar alguém de ‘viado’ ou ‘negão’ é crime, o que falta para as pessoas aprenderem a olhar apenas para seus próprios assuntos?
Mas tudo bem. Esta cidade com essência portuguesa (uma série de coisas acabam de fazer mais sentido…), cheia de histórias bonitas, banhada pelo rio - que é um lago - Guaíba, rodeada de recantos e lugares naturais por todos os lados, onde sempre tem um chimarrão a nossa espera, que está mais alegre do que nunca, com ou sem gente indiscreta a volta, continua dona de meu coração e albergando a maioria das pessoas que mais amo neste planeta e isso não deve ser só coincidência.
Obrigado Porto Alegre por me ter recebido nestas férias, mas meu povo, vão cuidar do próprio ‘rabo’!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.