terça-feira, outubro 23, 2007

 
A Fábula da Morte de um Irmão.

Adão, no auge do exercício de sua natureza humana, sozinho e já aborrecido, insatisfeito com tanta beleza e harmonia a sua volta, desejava muito que algo de excitante acontecesse em sua vida. Depois de tanta lamentação e com menos uma costela, Eva surgiu-lhe à vida para adoçá-la, mudando o significado de toda a existência e dando um novo sentido ao relacionar-se.

Isso até durou um bocado, mas apenas até Eva sentir que Adão não lhe dava toda a atenção que ela achava merecer e depois porque o papo da serpente, afinal, era bem mais interessante. Adão apercebeu-se que Eva andava estranha, mais calma e satisfeita, então um dia resolveu segui-la. Bem, num flagrante inesperado, ele acabou por se envolver num menage-à-trois com Eva e a serpente.

A serpente, vividíssima, fartou-se logo daquela relação, bateu asas e voou, deixando o casal mergulhado num tédio insuportável. Pior, Adão morria de saudades da serpente enquanto que Eva… Bem, Eva já estava noutra!.
Adão tomado por uma terrível depressão, acabou por perder o seu emprego e foram despejados do condomínio Éden, onde viviam, por falta de pagamento.

Eva passou a assumir as tarefas de casa. Lavava, passava e cozinhava enquanto Adão arranjou um trabalho longe e ficava fora de casa de sol a sol, assim, não precisaria encarar Eva e lembrar o quão calma e bela era sua vida antes daquela união. Entretanto, como nem só de pão vive o homem, Eva engravidou e tiveram seu primeiro filho.

Abel já estava grandinho quando Eva voltou a engravidar e nasceu Caim.. Contudo, já envelhecida e desgastada pelo trabalho doméstico, sentia-se muito frustrada com sua vida. Não só por carregar imensa culpa em ter sido responsável em apresentar a serpente a Adão, e consequentemente isso ter mudado toda a sua vida, mas como também Adão parecia nada interessado em sua família, como se ela fosse a razão do porquê ele perdera acesso a todo aquele mundo que conhecera.

Infeliz e sentindo-se muito sozinha, Eva chantageava emocionalmente os meninos de forma que eles sempre estivessem por perto, para que ela se sentisse menos abandonada. Abel, cedendo aos caprichos de sua mãe, com medo que ela morresse, sumisse na vida ou o deixasse, tornou-se num dedicado filho que a tudo fazia para vê-la bem.

Adão, cego de frustração, não suportava saber que Eva, depois de tudo o que lhes causara, voltava achar alento na companhia do filho. Assim, acabou por se afastar por completo da família. Caim, nem tão talentoso assim, numa total falta de atenção, aos poucos, dia após dia, invejava os dotes de seu irmão, a atenção que ele recebia, a desenvoltura dele e sem que percebesse, fora se transformando num ser inseguro, amargo e cruel.

Desesperado por querer ser amado, e num jogo de poder que ele mesmo não tinha consciência, passou a culpar o irmão pelo fato de se sentir menos privilegiado e ainda menos amado por sua mãe e ter perdido seu pai. Tinha ataques de fúria e acessos de raiva e acabou por desenvolver pânico. Viajou pela mítica e mística África, toda, a procura de respostas e de alguma paz para seu espírito, mas como cidade nenhuma nunca lhe agradava, voltou para casa.

Mas Caim não permitiria que as coisas continuassem assim. Usando seu charme de caçula, reconquistou seu pai e recorrendo à frágil e assustada figura, doente, atraiu sua mãe e até voltou a aproximou-se de Abel, como um verdadeiro amigo.

Não suportando o fato de não conseguir se equiparar com seu objeto de desejo, Caim convenceu Abel que precisava de ajuda numa tarefa e quando estavam finalmente bem longe de casa, Caim atacou de forma fatal o irmão.

Caim ficou tão desorientado que jamais conseguiu achar o caminho de volta para casa. Mergulhou numa profunda solidão e saudade de seu irmão e foi só assim, então, que percebeu a ‘cagada’ que tinha feito. O arrependimento chegou-lhe tarde, o irmão já estava morto e Caim seria eternamente lembrado por sua inveja e fraqueza।

Moral da históaria: Matar um irmão nunca é uma solução.

FIM.

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

Comments:
Cara, tô besta!
hoe, ainda hoje, mesmo hoje, este assunto fez parte da minha vida!
Grande coincidência, depois te conto.
Beijo
Gláucia
 
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