terça-feira, novembro 27, 2007
Natural? Natural é comer! E olha a ‘cáca’ em que acaba!
Houve uma época em que eu realmente acreditava que fazia parte da sábia natureza, o ciclo do nascer, ser filho, crescer, casar, ter um filho, ser pai, envelhecer e finalmente ter compreendido tudo. Como do nascer e crescer eu passaria, provavelmente, para o envelhecer, ‘o finalmente compreender tudo’ não seria naturalmente atingido. Assim, também acreditei que precisava fazer algo então.
Durante algum tempo até pensei em adoptar uma criança. Sentia que queria ser pai, que queria deixar um seguimento meu, passar para alguém aquilo que haviam passado a mim ou o que eu havia aprendido ao longo de meu curso pela vida. Contudo, a espera de um momento oportuno, ou por puro impedimento inconsciente, o tempo foi passando.
Confesso que, hoje, me sinto muito aliviado, realizado por não ter sido pai. Sim, tão realizado quanto me sinto com as conquistas que definem meu perfil. Disse isso outro dia de uma forma meio pública sem perceber que isso causaria um choque colectivo. Não só, algumas pessoas passaram a olhar-me com aquele ar de: ‘Que Deus o perdoe por pensar tanta bobagem’, ‘Tão giro, mas tão perdido’. E eu? De sobrancelha esquerda erguida!
Hoje, na minha idade, depois de ter acompanhado a infância de muitos dos filhos daqueles que me rodeiam, ou rodeavam, mais a análise de minha própria infância, somado ao meu entendimento do ser humano no terceiro milénio, acho que as pessoas deveriam fazer psicotécnicos para saber se podem ou não serem pais.
É verdade que eu tenho amigos que fazem esta experiência toda parecer uma brincadeira. Contudo, olhando à volta, não acho que eles sejam a maioria: Aqueles que programaram e desejaram uma gravidez, mas acabam por transformar a criança no centro de seu universo e esquecem-se que são indivíduos, e como tal, que deveriam continuar a ter realizações próprias e mais, que estão criando um futuro individualista; outros, que engravidaram por acidente, podem sofrer de uma negligência paternal que projectará esta criança num universo sem preparo ou cuidado nenhum para coisa alguma.
Amo minha vida. Metade de minhas conquistas não teriam sido possíveis se eu fosse responsável por alguém. São bem mais de 15 anos de economia apertada, de preocupação, de teimosia, de acordos e conversas, de esperança, medo, responsabilidade aos quais eu prefiro dedicar a mim. Uns olham para isso como egoísmo, imaturidade de minha parte. Eu, apenas sinto não me caber esta tarefa.
Vejam bem, se por se ter uma vida boa e ganhar bem, todos fossem ser médicos ou advogados, quem seria funcionário público? Quem seria padeiro, carteiro, lixeiro, relojoeiro, comerciante? Por que, sendo eu um ser humano, devo ser pai para ser completo, feliz? Acho que existem aquelas pessoas que são pais e que cumprem esta tarefa muito bem e há outras que não. Ponto.
Porque eu, como filho, pergunto: Mas quem disse que eu queria, quero, ser o seguimento de alguém? Se não pedi para nascer, quem disse que o que meu pai achava ter para me ensinar, interessa a minha sensibilidade, à forma como EU afecto e sou afectado pelo meio? Mas meu ouvido é penico para ficar recebendo informação que outros acham ser importante e que a mim não diz nada?
Estou certo que se tivesse sido pai, durante aquele tempo que muito o quis, seria um pai amoroso e dedicado. Acho que acabaria por ser um bom pai, mas também é-me certo, que lá pelos meus cinquenta, sessenta anos, eu seria daqueles que diria – ou que só pensaria: ‘Eu amo meus filhos, muito. Mas se não os tivesse tido…’
Bom, eu acho que seria um bom pai no final, mas de novo, pondo-me na óptica de filho, talvez, eu fosse um ditador! Claro que dentro de um contexto, situação por situação, minutos por minutos que tenham levado cada experiência, eu poderia me ilibar de tudo. Justificar minhas responsabilidades, acções e reacções. Mas ao fim de vinte anos, para meu filho, tudo isso teria se diluído e se misturado num único mar de opressão. Estranhas e incompatíveis sensações de amor e ódio coabitariam na nossa relação. Eu, com as razões e a experiência de uma vida que me levaram a tais actos. Ele, sem garantia que um dia venha compreender esta relação.
É claro que esta pessoa sobreviveria a infância e reteria muitos dos valores passados por mim, mas quais seriam os ajustes que ele/ela precisaria fazer para se adaptar ao mundo real e actual dela? Carrego em mim a certeza que os meus valores são trazidos do berço, ao mesmo tempo que metade do que fiz na vida não era compatível com a minha psique e sim, com a idéia do que meus pais acreditavam ser o correto.
Eu sofreria muito, numa relação na qual não poderia acabar, pedir um tempo ou me divorciar. Ter um filho é amar incondicionalmente, é não se decepcionar com suas escolhas, é compreender suas fraquezas, é aceitar o que ele ama, é respeitar a formação de um indivíduo sensível que será um adulto um dia, livre, independente das vontades e concelhos de um pai ou de uma mãe.
O que eu tenho para ensinar, ou o que eu desejo passar a frente de minhas experiências estão nos meus livros, nos meus textos. Hoje sei que ser pai não teria, naturalmente, feito-me entender minha infância ou o comportamento de meus pais ou suas escolhas.
A mente de um humano comum, sendo eles a maioria no planeta, está forrada de tradicionalismos, regionalismos, religiosidade, de uma cultura que comanda sua vida, que moldam suas regras, mas que nada têm a ver com o funcionamento da psique.
Eu vivo uma sexualidade diferente daquela esperada na minha infância, vivo num continente diferente daquele que nasci, onde fui criado e onde está toda minha família, adquiri uma outra nacionalidade e expresso-me numa outra língua daquela a que fui alfabetizado. Não me parece que não ser pai, não seja natural neste contexto.
Meu contributo não será pela minha semente natural, mas por tudo aquilo que eu tenha, naturalmente, me permitido executar naturalmente. Finalmente.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Houve uma época em que eu realmente acreditava que fazia parte da sábia natureza, o ciclo do nascer, ser filho, crescer, casar, ter um filho, ser pai, envelhecer e finalmente ter compreendido tudo. Como do nascer e crescer eu passaria, provavelmente, para o envelhecer, ‘o finalmente compreender tudo’ não seria naturalmente atingido. Assim, também acreditei que precisava fazer algo então.
Durante algum tempo até pensei em adoptar uma criança. Sentia que queria ser pai, que queria deixar um seguimento meu, passar para alguém aquilo que haviam passado a mim ou o que eu havia aprendido ao longo de meu curso pela vida. Contudo, a espera de um momento oportuno, ou por puro impedimento inconsciente, o tempo foi passando.
Confesso que, hoje, me sinto muito aliviado, realizado por não ter sido pai. Sim, tão realizado quanto me sinto com as conquistas que definem meu perfil. Disse isso outro dia de uma forma meio pública sem perceber que isso causaria um choque colectivo. Não só, algumas pessoas passaram a olhar-me com aquele ar de: ‘Que Deus o perdoe por pensar tanta bobagem’, ‘Tão giro, mas tão perdido’. E eu? De sobrancelha esquerda erguida!
Hoje, na minha idade, depois de ter acompanhado a infância de muitos dos filhos daqueles que me rodeiam, ou rodeavam, mais a análise de minha própria infância, somado ao meu entendimento do ser humano no terceiro milénio, acho que as pessoas deveriam fazer psicotécnicos para saber se podem ou não serem pais.
É verdade que eu tenho amigos que fazem esta experiência toda parecer uma brincadeira. Contudo, olhando à volta, não acho que eles sejam a maioria: Aqueles que programaram e desejaram uma gravidez, mas acabam por transformar a criança no centro de seu universo e esquecem-se que são indivíduos, e como tal, que deveriam continuar a ter realizações próprias e mais, que estão criando um futuro individualista; outros, que engravidaram por acidente, podem sofrer de uma negligência paternal que projectará esta criança num universo sem preparo ou cuidado nenhum para coisa alguma.
Amo minha vida. Metade de minhas conquistas não teriam sido possíveis se eu fosse responsável por alguém. São bem mais de 15 anos de economia apertada, de preocupação, de teimosia, de acordos e conversas, de esperança, medo, responsabilidade aos quais eu prefiro dedicar a mim. Uns olham para isso como egoísmo, imaturidade de minha parte. Eu, apenas sinto não me caber esta tarefa.
Vejam bem, se por se ter uma vida boa e ganhar bem, todos fossem ser médicos ou advogados, quem seria funcionário público? Quem seria padeiro, carteiro, lixeiro, relojoeiro, comerciante? Por que, sendo eu um ser humano, devo ser pai para ser completo, feliz? Acho que existem aquelas pessoas que são pais e que cumprem esta tarefa muito bem e há outras que não. Ponto.
Porque eu, como filho, pergunto: Mas quem disse que eu queria, quero, ser o seguimento de alguém? Se não pedi para nascer, quem disse que o que meu pai achava ter para me ensinar, interessa a minha sensibilidade, à forma como EU afecto e sou afectado pelo meio? Mas meu ouvido é penico para ficar recebendo informação que outros acham ser importante e que a mim não diz nada?
Estou certo que se tivesse sido pai, durante aquele tempo que muito o quis, seria um pai amoroso e dedicado. Acho que acabaria por ser um bom pai, mas também é-me certo, que lá pelos meus cinquenta, sessenta anos, eu seria daqueles que diria – ou que só pensaria: ‘Eu amo meus filhos, muito. Mas se não os tivesse tido…’
Bom, eu acho que seria um bom pai no final, mas de novo, pondo-me na óptica de filho, talvez, eu fosse um ditador! Claro que dentro de um contexto, situação por situação, minutos por minutos que tenham levado cada experiência, eu poderia me ilibar de tudo. Justificar minhas responsabilidades, acções e reacções. Mas ao fim de vinte anos, para meu filho, tudo isso teria se diluído e se misturado num único mar de opressão. Estranhas e incompatíveis sensações de amor e ódio coabitariam na nossa relação. Eu, com as razões e a experiência de uma vida que me levaram a tais actos. Ele, sem garantia que um dia venha compreender esta relação.
É claro que esta pessoa sobreviveria a infância e reteria muitos dos valores passados por mim, mas quais seriam os ajustes que ele/ela precisaria fazer para se adaptar ao mundo real e actual dela? Carrego em mim a certeza que os meus valores são trazidos do berço, ao mesmo tempo que metade do que fiz na vida não era compatível com a minha psique e sim, com a idéia do que meus pais acreditavam ser o correto.
Eu sofreria muito, numa relação na qual não poderia acabar, pedir um tempo ou me divorciar. Ter um filho é amar incondicionalmente, é não se decepcionar com suas escolhas, é compreender suas fraquezas, é aceitar o que ele ama, é respeitar a formação de um indivíduo sensível que será um adulto um dia, livre, independente das vontades e concelhos de um pai ou de uma mãe.
O que eu tenho para ensinar, ou o que eu desejo passar a frente de minhas experiências estão nos meus livros, nos meus textos. Hoje sei que ser pai não teria, naturalmente, feito-me entender minha infância ou o comportamento de meus pais ou suas escolhas.
A mente de um humano comum, sendo eles a maioria no planeta, está forrada de tradicionalismos, regionalismos, religiosidade, de uma cultura que comanda sua vida, que moldam suas regras, mas que nada têm a ver com o funcionamento da psique.
Eu vivo uma sexualidade diferente daquela esperada na minha infância, vivo num continente diferente daquele que nasci, onde fui criado e onde está toda minha família, adquiri uma outra nacionalidade e expresso-me numa outra língua daquela a que fui alfabetizado. Não me parece que não ser pai, não seja natural neste contexto.
Meu contributo não será pela minha semente natural, mas por tudo aquilo que eu tenha, naturalmente, me permitido executar naturalmente. Finalmente.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.