terça-feira, novembro 06, 2007

 
Telhado de Vidro

Algumas semanas atrás saiu a notícia do tão esperado acordo ortográfico entre os países de língua Portuguesa. Eu, ando pelos cabelos com as histórias das diferenças entre os países e suas culturas.

Contudo, não vejo que a língua de Camões esteja por estar em harmonia novamente, aliás, da língua dos ‘Camões’ é que eu queria alguma espécie de acordo, de balanço em relação as perturbadoras comparações e críticas que fazem às culturas alheias, como a brasileira, por exemplo.

Primeiro porque é um povo que em sua maioria nem a Espanha conhece. Veja bem, não tem muito por onde se possa correr; 300 km para cá ou 300 km para lá e ou estamos mergulhados no oceano Atlântico ou estamos no meio de nostros hermanos!

Depois, porque as pessoas que têm voz pertencem na verdade a um grupo tão pequeno, mas tão pequeno, que quase não são identificáveis. Na verdade, acho que sequer existe um corpo, uma entidade física real a qual poderia gerar um colectivo. Apenas uma idéia, uma tradição.

Num país com dez milhões de pessoas onde 40% delas são semianalfabetos, e ou com idade superior a 60 anos, sendo a concentração populacional de 1/3 deste todo na grande Lisboa, o que representa o eco do resto deste país, quase virtual?

Ontem, num autocarro, ouvi a conversa de duas senhoras que quase me levou às lágrimas e tive mesmo que me conter para não oferecer ajudar aquelas duas mulheres, mães de alguém. Uma falava da miséria de sua vida - a palavra usada por ela foi mesmo esta, miséria - do quão difícil é viver com o salário que recebe, que mal dá para os seus remédios contra o colesterol. Daí, a conversa seguiu por um desfile entre supermercados e feirinhas que oferecem promoções e descontos. A limitação, a pobreza escorria-lhe pela boca em forma de palavras.

A nem uma hora de Lisboa, ainda se pode encontrar vilas onde as pessoas têm que ir à ‘bica’ central para buscar água! Sim, para beber, lavar roupa ou louça, tomar banho e fazer o comer. Pelo país, mesmo nas zonas históricas de Lisboa, existem casas que não lembram barracos ou sequer estão amontoadas num morro acima e até têm um certo chame do antigo. Contudo, estão podres, corroídas pelos longos anos sem manutenção, prestes a cair.

Existem doze milhões de Portugueses a viverem fora de Portugal. Só em Paris, existem mais lusos do que na cidade do Porto. Como pode estes doze milhões não serem considerados filhos da mesma nação? Aliás, por que são eles constantemente usados, pelos seus próprios patrícios, como exemplos de pessoas sem cultura e mau gosto que apenas voltam à casa para exibirem dinheiro e uma nova língua?

Convém sempre lembrar, orgulhosa nação, que os portugueses que foram para o Brasil, foram muito bem recebidos, com total integração social. E que ironicamente é lá, na sua grande maioria, onde estão todos estáveis financeiramente. Sim, porque na Inglaterra, por exemplo, ao cruzarmos a M6 de Londres à Manchester, deparamo-nos com cidadãos portugueses a limparem as casas de banho e a servirem às mesas. Em Luxemburgo, são conhecidos como empregados domésticos e na Suiça e na França, como catadores de laranjas e morangos.

Sim, o Brasil publica livros técnicos com termos regionais e estrangeirismos. Mas é uma nação com mais de 160 milhões de pessoas e por isso com um mercado justificado para se poder fazê-lo. Lidera os mercados da publicidade, telenovelas e propagandas a nível mundial. Tem das melhores clínicas médicas do planeta com profissionais reconhecidos nas melhores universidades do globo e o mundo das artes e da música, do desporto e das ciências está transbordando de renomes e prestígio.

Isso, não foi para enaltecer o Brasil, mas para comparar as pessoas que o fazem assim com esta fatia cega que vive diluída entre o terço de portugueses a viverem em Lisboa. Existem 6 milhões de brasileiros vivendo na Europa. Vamos admitir que sejam mais dez milhões pelo redor do globo. Isso daria apenas 10% de emigrantes. Portugal ultrapassa os 50%!

A cultura, a nação brasileira vem sendo julgada, rotulada e desmoralizada por Portugal, pelo comportamento de apenas alegados 10% de seu todo. Mas mais triste ainda é perceber que Portugal parece negar mais de 50% da sua própria gente…

É verdade que o Brasil passa por dificuldades administrativas, que sofre com corrupção e violência, mas não se esqueça, você, que fala a mesma língua com um sotaque diferente, que, Portugal tem uma união europeia por trás há mais de vinte anos e ainda sim, seus resultados são vergonhosamente atrasados em relação aos países que largaram juntos em condições semelhantes.

Meu objectivo aqui não é desmoralizar ninguém e muito menos querer por lenha na fogueira, mas alertar para que tenham cuidado com seus próprios ‘telhados’ em relação aos dos outros a quem andam ‘a atirar pedras’.

Viva a negação, o orgulho e o subsídio europeu!

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

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