terça-feira, dezembro 11, 2007

 
Ensaios Capitais – O Orgulho.

Orgulho – do Germ. Ûrgoli (s. m.): Exagerado conceito que alguém faz de si próprio; sentimento elevado da sua dignidade pessoal; soberba; pundonor; brio; vaidade; empáfia; aquilo de que alguém pode orgulhar-se.
O orgulho é um sentimento encarado por mim como uma força motriz. Bem, não é a toa que mesmo depois de, pelo menos, três revisões à lista de pecados mais pesados, ele se manteve em primeiro lugar. Não só, o demônio associado a ele é não mais que o próprio Lúficer, o alegado anjo caído, da ordem dos Querubins (ligados a adoração de Deus).

É um sentimento estranho, que nos confere sensações de poder, de autoridade, sem que sequer tenhamos tido alguma participação ao mérito em questão. Por exemplo, nacionalidade. Não interessa o tamanho da lista de agravos associados à imagem de nosso país, simplesmente temos ‘orgulho’ dele. Brigamos em sua defesa, enaltecemos suas características positivas de forma a fazê-lo brilhar sempre mais. Mas veja bem: O que fizemos nós, exatamente, para termos nascido com ‘esta’ nacionalidade? Se somos a consequência misturada da união de uns XX com XY, onde raio eu atuei de forma a interferir, contribuir com algo que já existia no meu nascimento?

Ser bonito, alto, inteligente, ter um cabelo liso, ter um avô que foi barão, um rei na história de nosso país que foi soberano e justo, uma irmã que é juíza, uma seleção nacional de futebol que tenha sido penta-campeã, enfim. É legítimo sentir orgulho do que nos é inato e não do que nos foi adquirido por mérito?

Se consideramos o universo de arquétipos de Jung, eu diria que sim. Natural, é de certeza. Mas o que quero aqui relevar é como esta força, esta sensação pode conduzir um indivíduo por caminhos de convicções sem que tenha existido um exercício, uma fase empírica que propicie um equilíbrio consciente. O orgulho, para mim, é um dos pais do preconceito. Lembrei-me agora dos textos ‘Sociedade Imperialista’ e ‘Telhado de Vidro’.

Contudo, a partir dos últimos vinte, vinte e cinco anos do segundo milênio, a psicologia encarregou-se de dar uma renovada na sua visão. Em terapia, um indivíduo passava a permitir se descobrir, se aceitar e então, sentir-se realizado com características inatas e, principalmente, com tantas outras consequentes de seus atos e juízos. Esta realização passou a ser encarada também com um nível de orgulho, como uma sensação positiva e construtiva de valorização.

Não que eu não seja a favor da mutação, da evolução de um língua e de seus conceitos, mas chamemos estas auto valorizações de ‘realizações’ e deixemos o ‘orgulho’ com seu conceito original. Não temos nós, nos deixado julgar situações e pessoas de forma soberana por causa desta sensação de se ser um diferente melhor? Sei lá! Àqueles que vivem numa vila, num país mais pobre, com uma etnia distinta e pouco comum, mais pobre, mais rico…

Ter nascido caucaziano no sul da América do Sul, mas numa família com direito a um passaporte Europeu, me faz uma pessoa melhor do que um cafuzo que precisa de visto para fazer turismo fora do Brasil? Privilegiado faz-me de certeza, mas melhor… Obviamente que não.

É-me difícil não recordar daquelas mensagens aborrecidas, em arquivos de extensão PPS que nos entopem as caixas eletrônicas de email sobre o quão lindo é o sol e o mar e o quão agradecidos deveríamos ser por podermos desfrutá-los, sabem? Crenças e religiões à parte, numa visão quase que meramente lógica, não vos parece básico que o ser humano deveria ter consciência de seus privilégios e sentir-se grato e favorecido ao invés de nos sentirmos superiores? Não é a isso que chamamos humildade? Coincidência não é que a humildade diz-se ser exatamente a virtude que se contrapõe ao orgulho.

Mas deixe estar que a humildade do ser humilde também tem muito que se diga e já é uma outra conversa!

Bem, com muita satisfação e com um humilde desejo, espero que todos tenham uma boa semana.

Eduardo Divério.

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