quarta-feira, abril 09, 2008
Ameaça Verde Amarela
O acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa tem acendido algumas polémicas por aqui, entre os lusitanos. Mas na minha opinião, o pior, tem sido a saliência de alguns desagravos.
Apesar de o acordo envolver os países africanos, Brasil e Portugal, os portugueses não se calam com o receio de passarem a falar ‘brasilés’, o que quer que este termo que li hoje num jornal signifique.
É um fato que a indústria editorial no Brasil é de muita força, mas estamos a falar de um país com 200 milhões de habitantes! Mal desta nação se não pudesse gerir suas próprias necessidades literárias. Mesmo assim, na antiga corte, as edições académicas brasileiras não são muito bem vistas e nem é por duvidarem de seu profissionalismo, mas sim, por causa da cultura ortográfica, da permissividade na escrita que o brasileiro acolheu, dos estrangeirismos.
O Brasil foi um país de imigrantes e na verdade, não é uma herança tão remota assim. Japoneses, alemães, italianos, poloneses e muitos outros tiveram de aprender a falar o português e como é óbvio, toda esta interação cultural não poderia ter existido sem deixar marcas. Com isso tudo o Brasil passou a ser extremamente tolerante em relação a língua, pois o mais importante é expressar-se, entender-se. Mas eu suponho que este lado ‘espiritual’, humanista do Brasil, não seja compreensível para todos.
Em dimensão o Brasil é o quinto maior país do planeta. Vinte e sete estados com duas das três linhas imaginárias que atravessam o planeta. Tem todas as estações climatéricas com suas mais diversas combinações: neve, chuva, seca… O único país que fala português nas Américas com um enorme impacto no mercado mundial de publicidade e entretenimento televisivo, que dizer, dá licensa!
Quando esta história de acordo começou, eu sentia-me totalmente a favor, mesmo porquê, parecía-me o próximo passo lógico num mundo de globalização, sob o manto de uma ameaça chinesa. Contudo, dada a resistência lusitana, hoje vejo o quão inocente eu fui.
Os portugueses têm uma expressão que diz: ‘Esse tem a mania que é…’. Que é usada para reportar a constatação de um comportamento que não é muito bem visto, aceito ou que causa um certo transtorno, incômodo. Pois bem, pois os portugueses têm a mania que o Palácio da Ajuda ainda abriga alguma dinastia real e que de fato têm alguma nobreza, soberania, sobre aqueles que um dia foram suas colônias.
É difícil passar um mês sem que leiamos nos periódicos diários, resultados de pesquisas européiaa onde Portugal surge na cauda da lista. Hoje, por exemplo, saiu a notícia do povo português ser o que tem a pior higiene oral da comunidade européia. A pouco tempo, foi a bomba da revelação que em cada cinco crianças portuguesas, uma está em risco de pobreza.
As listas de pesquisas são mais que muitas!
O que me parece aqui é que Portugal vira-se para os países de língua portuguesa quase que como desforra por ser a chacota da Europa. Um país com um semi-analfabetismo massivo, com profissionais mau formados e uma geração apolítica, compreendida, hoje, na faixa etária dos 20 aos 35 anos que desconhece a realidade da identidade do próprio país! Que consome cultura e conhecimento académico de forma estática, sem transformá-lo em alavanca para uma elevação humana maior, apenas para o uso da comparação de nobreza individual. Vale-se pelo o que se sabe, mas de um conhecimento efémero. Chega a ser incômodo perceber a angústia ‘cega e muda’ de um lusitano que se engana, com as mil desculpas que seguem a seguir, com o visível transtorno e auto-depreciação pelo deslize, pela ‘imperfeição’.
Pois eu acho que este acordo ortográfico deveria ser suspenso! Os brasileiros, bem como os demais países, deveriam permitir a evolução da língua portuguesa dentro das respectivas culturas de forma que chegassem a um ponto no futuro onde seriam obrigados a mudar o nome da língua e os portugueses que ficassem presos nos seus ‘actos’e ‘factos’, nas lembranças chorosas do que foi sua literatura, cantadas numa falecida voz de fado.
Estou farto do ar de ofendidos, dos comentários pejorativos a minha cultura raiz! Um país que só fala do orgulho de suas ex-colônias em discursos políticos de festivais comemorativos!
Raios, pá!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério
O acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa tem acendido algumas polémicas por aqui, entre os lusitanos. Mas na minha opinião, o pior, tem sido a saliência de alguns desagravos.
Apesar de o acordo envolver os países africanos, Brasil e Portugal, os portugueses não se calam com o receio de passarem a falar ‘brasilés’, o que quer que este termo que li hoje num jornal signifique.
É um fato que a indústria editorial no Brasil é de muita força, mas estamos a falar de um país com 200 milhões de habitantes! Mal desta nação se não pudesse gerir suas próprias necessidades literárias. Mesmo assim, na antiga corte, as edições académicas brasileiras não são muito bem vistas e nem é por duvidarem de seu profissionalismo, mas sim, por causa da cultura ortográfica, da permissividade na escrita que o brasileiro acolheu, dos estrangeirismos.
O Brasil foi um país de imigrantes e na verdade, não é uma herança tão remota assim. Japoneses, alemães, italianos, poloneses e muitos outros tiveram de aprender a falar o português e como é óbvio, toda esta interação cultural não poderia ter existido sem deixar marcas. Com isso tudo o Brasil passou a ser extremamente tolerante em relação a língua, pois o mais importante é expressar-se, entender-se. Mas eu suponho que este lado ‘espiritual’, humanista do Brasil, não seja compreensível para todos.
Em dimensão o Brasil é o quinto maior país do planeta. Vinte e sete estados com duas das três linhas imaginárias que atravessam o planeta. Tem todas as estações climatéricas com suas mais diversas combinações: neve, chuva, seca… O único país que fala português nas Américas com um enorme impacto no mercado mundial de publicidade e entretenimento televisivo, que dizer, dá licensa!
Quando esta história de acordo começou, eu sentia-me totalmente a favor, mesmo porquê, parecía-me o próximo passo lógico num mundo de globalização, sob o manto de uma ameaça chinesa. Contudo, dada a resistência lusitana, hoje vejo o quão inocente eu fui.
Os portugueses têm uma expressão que diz: ‘Esse tem a mania que é…’. Que é usada para reportar a constatação de um comportamento que não é muito bem visto, aceito ou que causa um certo transtorno, incômodo. Pois bem, pois os portugueses têm a mania que o Palácio da Ajuda ainda abriga alguma dinastia real e que de fato têm alguma nobreza, soberania, sobre aqueles que um dia foram suas colônias.
É difícil passar um mês sem que leiamos nos periódicos diários, resultados de pesquisas européiaa onde Portugal surge na cauda da lista. Hoje, por exemplo, saiu a notícia do povo português ser o que tem a pior higiene oral da comunidade européia. A pouco tempo, foi a bomba da revelação que em cada cinco crianças portuguesas, uma está em risco de pobreza.
As listas de pesquisas são mais que muitas!
O que me parece aqui é que Portugal vira-se para os países de língua portuguesa quase que como desforra por ser a chacota da Europa. Um país com um semi-analfabetismo massivo, com profissionais mau formados e uma geração apolítica, compreendida, hoje, na faixa etária dos 20 aos 35 anos que desconhece a realidade da identidade do próprio país! Que consome cultura e conhecimento académico de forma estática, sem transformá-lo em alavanca para uma elevação humana maior, apenas para o uso da comparação de nobreza individual. Vale-se pelo o que se sabe, mas de um conhecimento efémero. Chega a ser incômodo perceber a angústia ‘cega e muda’ de um lusitano que se engana, com as mil desculpas que seguem a seguir, com o visível transtorno e auto-depreciação pelo deslize, pela ‘imperfeição’.
Pois eu acho que este acordo ortográfico deveria ser suspenso! Os brasileiros, bem como os demais países, deveriam permitir a evolução da língua portuguesa dentro das respectivas culturas de forma que chegassem a um ponto no futuro onde seriam obrigados a mudar o nome da língua e os portugueses que ficassem presos nos seus ‘actos’e ‘factos’, nas lembranças chorosas do que foi sua literatura, cantadas numa falecida voz de fado.
Estou farto do ar de ofendidos, dos comentários pejorativos a minha cultura raiz! Um país que só fala do orgulho de suas ex-colônias em discursos políticos de festivais comemorativos!
Raios, pá!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério