sexta-feira, julho 25, 2008

 
Sexo e Sexualidade

Estes temas, nos tempos de hoje, são como a ejaculação e o orgasmo masculino. Apesar de serem eventos separados, que ocorrem com um sincronismo afinado, podem acontecer independentes um do outro. Mas pouca gente sabe ou entende disso…

Acredito que não aja nenhum outro tema associado à natureza humana tão confuso, tanto quanto negligenciado, como sexo e sexualidade. E esta minha afirmação relaciona-se, claro, ao meio comum, pois que de fato, não falta nas bibliotecas e pela Internet material de pesquisa sobre estes assuntos.

Não há nada de mais conflituoso, desgastante, do que termos que nos ajustar num grupo, num padrão de comportamento social de forma a sermos aceitos ou simplesmente nos sentirmos bem. A questão aqui, parece-me, ser a falta de dissertação sobre o tema, de abertura e aceitação, de forma que muitos mais e variados padrões fossem postulados e entendidos.

Irascivelmente, ser uma pessoa heterossexual é não poder sentir estímulos que advenham de outra pessoa do mesmo sexo. Mas o toque ou a pressão de uma língua em nossa pele afinal tem gênero? É diferente conforme a quem pertence? Hum… A idéia de certo é, o ato físico não. Um toque há sempre de ser o encontro entre duas partículas, já uma idéia há sempre de ser… como um corte de cabelo.

Acredito que mesmo quando alguém está em paz com a sua sexualidade mas eventualmente é assaltado por estímulos sexuais que conceitualmente não correspondem a ela, possa surgir rejeição, vergonha e infelicidade.

Uma pessoa heterossexual – comum – que responda a um estímulo homossexual, ou seja, que tenha se excitado, se atraído ou despertado alguma curiosidade por algo deste universo, acaba por se auto julgar e condena-se no tribunal de sua própria mente. Os promotores e o grande júri deste caso acabam por ser a própria cultura, a própria formação; uma idéia.

De forma não consciente, esta pessoa pode desenvolver um sentimento negativo por este universo, por lhe ter feito réu num julgamento e então, a eliminação da causa deste transtorno é pôr-se contra a ‘tentação’, banir o que espoleta o estímulo. Um tipo clássico de homofobia. Outro seria basicamente de fundo religioso.

Mas não deixar ocorrer o ato (sexo), resguardou mesmo a imaculada concepção da natureza (sexualidade), da idéia de natureza, deste ser?

O homem está limitado demais para aceitar que sexo é apenas uma das vias por onde se expressa, se vive a sexualidade. Sexo pode se fazer sozinho (o que no fundo constitui o ato mais básico de homossexualidade) ou com companhia. Daí, pode então ser um ato de natureza homossexual ou heterossexual. Ainda, pode se ter um ato homossexual entre heterossexuais ou com um de cada grupo, ou tudo ao contrário.

Mas anos e miscelâneas de culturas nos fazem negar e até mesmo rejeitar que esta possa ser a simples complexidade entre o sexo, sexualidade e o ser humano.

Muitas das sociedades orientais aceitam a bigamia, causando uma certa revolta no mundo ocidental. As sociedades do Oriente-Médio condenam a homossexualidade bem como, de forma geral, o mundo ocidental o rejeita. Contudo, é ainda onde se encontra maior tolerância. A mulher, em mais de metade do globo, é um ser inferior e sem direitos, ou com muito poucos.

Mas tudo está resguardado sob a respectiva idéia, sob a respectiva cultura ou religião. Pensar? Para quê? E correr o risco de ofender alguma entidade divina ou algum grupo terrorista?

Para aqueles que não entendem os estímulos, os atos em si, pensem no que move as pessoas. Não tentem entender a natureza química e crua do assunto, seja ele qual for. Divague pelo básico, desenvolva e amplie seus pensamentos…
O porquê poderia uma pessoa agir daquela forma, arriscando tanto, expondo-se tanto.
O porquê poderia uma pessoa ser diferente, a diferente, dentre um grupo. O que ela ganha? Pelo o quê ela luta? Não seria mais fácil para ela ser igual ao resto? E então por que ela não é?
O porquê de mesmo algo sendo tão errado ou não natural ainda possa se querer ser vivido por tantas pessoas, possa ser razão de luta para tanta gente.

Se você acha que pensar, entender e aceitar é obra do diabo, exorcize esta idéia medieval e absurda de sua mente. Se fazer o mal fosse obra do demónio, teremos que admitir que nossos países foram transformados em sucursais do inferno pelos nossos políticos!

Reveja a história do mundo. A história da mulher nas sociedades, dos negros, dos judeus, dos egípcios, dos gregos e reflitam sobre aceitação.

Via de regra as pessoas só se envolvem com um assunto quando o assunto se envolve com ela primeiro, de uma forma ou de outra… e tudo poderia ser diferente.

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

quarta-feira, julho 16, 2008

 
Mutantes

No olho, fazendo parte da estrutura da retina, estão dois tipos de células receptoras chamadas de cones e bastonetes. Estas últimas, mais sensíveis a luz, contêm apenas um tipo de pigmento sendo assim responsável pela visão preto e branco. Já os cones, até onde se sabe, contêm três tipos de pigmentos (verde, vermelho e azul) e a ausência de um ou mais destes pigmentos acarreta em disfunções como a acromotopsia, onde o indivíduo apenas enxerga em preto e branco, como os cães; e o daltonismo, que é a presença de apenas dois destes pigmentos, impossibilitando o contraste correcto que define a cor.

Mas se o químico John Dalton apenas deu ao mundo parte deste conhecimento no século XVIII, como era encarada uma pessoa que sofresse de daltonismo até então?
Imagino quantas pessoas passaram por dementes, ou quantas outras não terão sofrido um castigo divino ou mesmo o toque do diabo. Ou então, imaginem quantas mulheres epiléticas podem ter sido jogadas à fogueira, acusadas de possessão demoníaca, ainda um século mais cedo.

No ponto da evolução humana em que nos encontramos, oficialmente, nossa mente lê o meio, reconhece-o visualmente, apenas considerando aquilo que está em 3 dimensões: Largura, comprimento e altura. Mas e aquilo ao que a mente não entende, aquilo ao que olho não enxerga, é tão simples quanto se afirmar: ‘Não existe!’?

Se a geometria euclidiana era o entrave da revolução física e foi preciso chegarmos ao século XX para que uma quarta e uma quinta dimensão fossem consideradas (na verdade consideram-se 10 ou 11 já), parece-me então, que estas posturas de determinação, de postulação do que é normal, natural ou não, hoje, são por demais inconsistentes, sem nenhuma consideração por qualquer referência histórica humana.

Tenho amigas que enxergam espíritos ao nosso redor. Tenho um amigo que capta fragmentos, sensações de pensamentos de pessoas a sua volta. Conheço quem seja afetado pelos estados emocionais de quem está ao seu redor. Estranho?
Não serão eles o equivalente aos daltônicos antes do século XVIII?

Notem: Temos a narrativa presenciada de aproximadamente 50 mil pessoas que estavam num mesmo lugar, ao mesmo tempo, quando, alegadamente, o sol teria girado sobre si mesmo na Cova de Iria, em Fátima, no dia 13 de Outubro de 1917.

Mesmo tendo sido um alegado fenómeno pontual, sem réplicas, milhões de pessoas desde então escolheram acreditar, postular que o evento se trata de um milagre, de uma intervenção divina.

Em paralelo, temos outros milhões de pessoas que diariamente, réplicas atrás de réplicas, afirmam, conduzem, provocam ou sentem manifestações as quais, talvez, não podem efetivamente ser evidenciadas, cabendo a nós, à semelhança do alegado efeito do sol em 1917, acreditar ou não. Via de regra, estas pessoas acabam por ter sua sanidade mental questionada.

O ser humano, como o vejo, se tem revelado tendencioso, limitado e oportunista nos seus julgamentos. O que o afasta da idéia de uma evolução espiritual promovida por uma religião, a geometria euclidiana contemporânea no caminho do real conhecimento da natureza do universo e, principalmente, da humana.

Pensem nisso.

Uma boa semana para todos. Amém.

Eduardo Divério.

segunda-feira, julho 07, 2008

 
A Vida dos Outros

O universo da língua inglesa tem uma expressão que é ‘in her/his shoes’ que basicamente significa nos colocarmos na posição da outra pessoa e tentar entender uma situação sob o prisma dela.

Quantas vezes ouvimos os relatos de pessoas, sobre o quão difícil é suportar uma situação, ou conviver num local ou com um grupo, quando a impressão que temos é extatamente oposta a esta?

A maioria dos brasileiros que conheço em Inglaterra têm uma visão bem adversa a minha em relação aquela cultura, aquele povo. Então pus-me a pensar porque faria eu parte de uma minoria em que, estando fora de casa, sinto-me tão a vontade, em viver num lugar onde pessoas provenientes do mesmo país que eu não o sentem assim.

Então observei que via de regra, as pessoas que não se adaptaram à cultura inglesa constituíam dois grupos: As que tinham migrado direto do Brasil para lá e ou aqueles que aguerridamente vivem em guetos, como se nunca tivessem migrado para lá.

Depois, conjecturei que eu já estava vivendo na Europa por mais de doze anos quando me mudei para lá. E mudei-me para lá atraído pelas possibilidades de mudar alguns cenários em minha vida, o que consegui com sucesso. Mas ‘colocando-me nos sapatos dos outros’ admito que seja um brutal choque de culturas, de ritmos, enfim, de formação. Um contraste muito grande para se suportar assim, de uma semana para outra. Contudo, quando escuto queixas e comentários aos quais não concordo, sequer consigo me por em defesa de minha visão, pois vejo, enxergo nos olhos da pessoa o peso real da dor narrada.

Momentaneamente em Lisboa, eu é que me sinto ‘fora dos meus sapatos’ e um contínuo e diário trabalho emocional é levado a cabo por mim de forma a não sucumbir numa longa depressão. Mas o trabalho ainda se torna mais difícil quando nos sentimos sozinhos a fazê-lo.

É claro que as pessoas que por aqui vivem, lá tem seus esquemas e estruturas de ‘sobrevivência’ e entendo que o que elas menos precisam, seja de alguém a lhes fazer saltar à vista defeitos ou dificuldades que possam comprometer a paz desta estrutura. Ninguém gosta que se fale mal da sua nacionalidade, na sua cidade natal, da escola por onde se andou por mais de dez anos.

Depois também é um fato assimilado por mim que o meio, como o sinto, apenas existe em minha mente. Que por mais preciso, coerente ou realista que seja a observação de um comportamento, de como ele me afeta, só a mim o faz, e também a pessoas que tenham uma estrutura emocional parecida com a minha.

Por isso o que me cansa um bocado é extamente esta falta de noção nos outros, esta falta de simpatia das pessoas em perceber que um ponto de vista é, como o próprio nome indica, uma perspectiva, a angulatura de um assunto e não a sua definição de forma absoluta.

As pessoas reagem de imediato, como que num instinto maternal, para proteger sua cria, quando sentem-se diferidas nas palavras de outro. Se digo que em Lisboa não acho um lugar onde eu sinta-me bem atendido, automaticamente acabei de desvalidar o juízo de alguém que não se importa, ou não é afetado, pelo mal trato do comércio português.

Se digo que não gosto de música ‘axé’ e estranho, achando de mal gosto, que um grupo musical possa se chamar ‘calcinha preta’, estou de novo, automaticamente, desmerecendo o gosto de alguém e sendo ‘snobe’. Mesmo com a pessoa sabendo que vivo fora do Brasil por mais de 16 anos e estas referências não têm o menor registro na minha vida.

Mas dá licença?

Primeiro: As pessoas deveriam ser mais seguras e avisadas de suas decisões, escolhas e gostos e assumirem-se em relação a eles, sem se sentirem diminuídas por quem não compartilha a mesma opinião.

Segundo: As pessoas poderiam se aperceber mais das diversidades de pessoas sem privilégios que coexistem em nossas sociedades e que pagam impostos na mesma!

Como se espera, por exemplo, que um casal heterossexual e um homossexual sintam o meio da mesma forma, quando um tem todos os direitos e o outro vive na total irregularidade, legal e moral?

Como se espera que uma pessoa que vive presa num corpo com um sexo diferente aquele ao qual ela sente ser, possa se sentir à vontade, sequer para discutir esta situação?

Como se espera que alguém que precise de um aborto, que um soro-positivo, um hermafrodita, um pensador, possa se sentir confortável num meio tão uniformemente padronizado, fechado, linear e sufocante?

Se você tem o privilégio ter viver numa sociedade onde você sente-se confortável, sinta-se agradecido. Inclusive, use este conhecimento como atenuante para lhe confortar em alguma outra situação mais difícil para si. Mas acima de tudo, aprenda a desenvolver simpatia por aqueles que, sem escolha, ou com pouco recurso para tal, necessitam continuar a interagir, dia após dia, com um meio talhado para o comum, por um meio que espera e imoralmente conspira pela formação do comum.

A diversidade é a característica maior da raça humana. Se você ainda não conseguiu entender isso, experimente imaginar uma lei revogando o que de mais precioso você possui. Assustou-se? Agora estenda esse pensamento ao seu próximo.

Uma boa semana a todos.

Eduardo Divério.

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