quarta-feira, setembro 10, 2008
Inteligência Profissional.
Semana passada, cheio de expectativas, eu fui a uma consulta de medicina quântica, onde uma senhora Russa ligar-me-ia a uma máquina com um software americano libertando frequências elétricas de forma a cartografar os diversos órgãos do corpo.
Chegando lá, a Russa era uma nativa, mais nova do que eu, e a tal máquina, afinal, parecia um modem ADSL.
Mas até aí, tudo bem. Numa pequena sala, sentei-me numa cadeira um pouco melhor do que aquelas de ferro, com patrocínios da Pepsi ou da Brahma, em frente a uma mesinha também de ferro, daquela que se pode dobra e depois guardamos entre o fogão e a geladeira, assim, por cima de uma massaroca de fios; fios do laptop, fios do ‘modem’, enfim.
A ‘Russa’ deixou-me ali cerca de 20, 30 minutos talvez, com uns fones de ouvidos a descarregarem as tais ondas elétricas e saiu da sala para não interferir no meu campo magnético. Meu braço esquerdo rapidamente começou a formigar e passei a sentir uma pressão na altura do meu osso esterno.
Quando a cartografia terminou, ela entrou e perguntou-me como eu estava, ao que respondi estar com uma pressão no peito e um formigamento no braço esquerdo. Ela disse-me que isso era ansiedade. (?)
Olha para o laptop daqui, olha para o laptop dali, comentou meu rim, falou de meu pâncreas, fez algumas perguntas sobre medicamentos e então disse-me que eu não poderia beber wiskye e vodka, ao que lhe respondi não existir nenhum problema, pois sequer gosto destas bebidas, e que na verdade, de álcool, apenas bebo vinho. Mas ela insistiu no lembrete referente a estas duas bebidas.
Depois mencionou uma intolerância de meu organismo à lactose e o quanto a cafeína estava corroendo minhas mucosas internas do aparelho digestivo. Sempre escrevendo, ela começou a narrar a receita para um ‘batido’ a qual eu poderia fazer pelas manhãs. Tentei-lhe buscar alternativas, pois não como em casa, mas não rolou.
Sem que eu tenha lhe dito o que lanchava ao longo do dia ou sequer o que eu jantava, ela disse-me que a minha alimentação tinha que mudar e que o batido era a solução!
Bem, ao ler a receita da querida, estranhei encontrar lá, escrito, a menção a não tomar wiskye e vodka, pois eu já lhe tinha dito que não as bebo. Terá ela me achado com cara de ‘bebum’? Seguindo em minha leitura, ela aconselhava-me a cortar com a lactose e todos os seus derivados, ou seja, do iogurte, passando pelo queijo e acabando no sorvete (pobre de mim). Dois dias depois, lendo a bula de um composto de minerais que ela me receitou para auxiliar o rim, qual não foi minha surpresa em encontrar lá, o quê? Lactose!
Sinto-me como um número de série. Ela analisou meus resultados, comparou com alguns padrões, encontrou em qual grupo eu me encaixava e procurou numa tabela uma receita respectiva, como se eu não tivesse um nome e um sobrenome.
Tive a oportunidade de consultar com um outro médico, anos atrás, mais velho, viajado e dedicado. Nesta altura, pude perceber que ele usava sua profissão de forma inteligente, cruzando e confrontando informações, percebendo que cada perfil tem as suas particularidades e que, qualquer pessoa que esteja procurando um médico, como é óbvio, é por que quer melhorar, recuperar, curar algum sintoma e isso tudo tem um impacto piscológico e cada um reage de forma distinta a resultados e fórmulas.
Questiono-me se ela saberá que o composto que me receitou tem lactose. Quando perguntei como funcionava a máquina, faltavam-lhe palavras, como se fosse uma estudante de liceu a apresentar um trabalho.
Claro, que com esta minha antipatia pela pessoa crescendo em minha mente, 75,00 euros depois, comecei a lembrar no cenário todo. Na tal sala, no fundo de uma herbanária, onde estavam ainda duas marquesas, uma mais alta do que a outra. Eu, estava sentado praticamente no meio da sala e ela teve mesmo que se encolher para passar atrás de mim, quando deixou-me lá a fazer o exame. Ou seja, a tal sala deve ser da drenagem linfática às Segundas, da massagem às Terças, da acupunctura às Quartas…
Depois, dado o tempo do exame, ela poderia ter uma poltrona confortável, meia luz, um sonzinho ambiental, enfim.
Bom. Estou fazendo o tratamento recomendado, cortando o que precisava e o que não tinha como, enfim, e daqui a algumas semanas comentarei se valeu a pena ou não.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Em todo o caso, se queres saber se és mesmo intolerante à lactose há testes para determinar isso que consistem em mais do que fazer-te ouvir estática durante 20 minutos.
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