quarta-feira, janeiro 14, 2009

 

Paulo Coelho

Circula pela internet um texto subscrito por Paulo Coelho, onde ele sente-se o próprio Arnaldo Jabor, acabando por dar um show de preconceito, machismo e sexismo, tangendo a estupidez, pois sendo ele uma das figuras públicas mais mediáticas na representação da cultura linguística e literária brasileira no exterior, a França que não me deixa mentir, apenas um ato de estupidez, de ignorância poderia tê-lo deixado publicar aquilo.

Tê-lo escrito, ainda vá que não vá, mas enquanto o corrigia, alterava expressões e substituía palavras, não se ter apercebido das barbaridades que ali havia legado… nem sei.

O texto claramente vem da boa - mas egodistônica – intenção de fazer uma ode a beleza feminina, ao corpo da mulher. Pena, foi ele não ter conseguido fazer isso sem ter esculaxado com uma meia-dúzia e ter exposto um lado no mínimo, politicamente incorreto.

O texto, que talvez na década de 80 teria sua graça, está abarrotado de afirmações categóricas não só de mau gosto, mas de uma total falta de base, de noção do homem heterossexual contemporâneo. Aliás, de qualquer sexualidade que se possa associar a um homem.

Logo no segundo parágrafado, o pobre afirma que a mulher magra, do tipo passarela, não contém beleza ou atrativo, pois são um produto dos estilistas de moda, que são TODOS gays e que odeiam as mulheres porque competir com elas. Wow! Não, não, deixem-me gritar mais uma vez: Wow!

Senhor Paulo Coelho, deixe-me que lhe diga que no mundo real, globalizado, que no presente, existem toneladas de homens heterossexuais trabalhando na moda e para moda, e veja você, que o trabalho deles nem precisa de tradução para ser aceito pelo mundo. Deixe-me alertá-lo já existir mulheres trabalhando na construção civil, como motoristas de transportes públicos, juízas, homens cabeleireiros e bailarinos e toda esta gente exercendo o sexo heteogênio.

Ser gay é ter preferência em relacionar-se com uma pessoa do mesmo sexo, mais ainda, é estar de bem e seguro de sua anatomia orgânica, com seu corpo, seu sexo. Afirmo-lhe que todas estas pessoas são funcionalmente capazes de cometer atos sexuais de natureza heterossexual, sem ódio, sem transtorno, apenas sem que seja o que lhes mais atrai.

Afirmar que todo estilista é gay porque odeia uma mulher por competir com ela é entender que ele queria ser como ela, sem nunca poder chegar-lhe aos pés (desculpe por ele Roberta Close), ter uma vagina, vestir um Channel e saltos altos, ah? A é, já existe um termo psico-clínico e de fórum social que denomina as pessoas com estas características. Ah? Foi mal colocado e você só queria ser engraçadinho? Mas como é mesmo que você vende tanto o que escreve?

Mais abaixo no texto, a pessoa afirma que todo o homem casado com uma mulher do tipo modelo, cedo ou tarde pula a cerca atrás de uma mulher com mais curvas. Será que o noivo da Gisele concorda com isso? Gente! A Gisele… fala sério!

O texto só revela a triste limitação no universo mental, cultural e emocional deste autor que não se furta de revirar e reviver preconceitos, idéias mortas e ultrapassadas das quais muitos de nós se envergonha.

Seu texto deve ser traduzido para Francês, Inglês, Checo, a fim de TODAS as pessoas poderem enxergar a besta a quem dão poder.

Sr. Paulo Coelho, por favor, não ouses voltar a tentar falar em nome das pessoas do sexo masculino, eu diria de qualquer sexo, com as afirmações inadequadas, irresponsáveis, retrógradas e infelizes que lhe são de costume. Reservo-lhe, claro, o direito de ser um tumpiniquim disfarçado de celebridade, mas passe a usar as conjugações na primeira pessoa, é menos embaraçoso para o resto da nação, para aqueles que andam lutando contra o preconceito feminino, sexual, racial… Entenda com responsabilidade o cartaz que fazes ao país e fique quietinho quando lhe faltar os assuntos de fadas e duendes.

Shame on you.

Eduardo Divério.


segunda-feira, janeiro 05, 2009

 
Público

Público relativo, ou pertencente ou destinado ao povo, à coletividade: opinião pública; bem-estar público; movimento público.

Lembro-me de nos tempos de escola, recebermos educação em como nos comportar em determinados lugares. Havia os Concertos para a Juventude na OSPA e íamos em turma, levados pela escola, mas não antes de recebermos orientação de como entrar, sair, se locomover e, mais importante, como permanecer lá durante o evento.

Minha mãe, apenas com um olhar, impedia-nos, a mim e a meus irmãos, de andar correndo por entre as mesas num restaurante e não nos deixava falar alto, aliás, de preferência era bom que não falássemos em público, pois ninguém deveria participar de nossos assuntos, assim como ninguém deveria ser obrigado a fazer sua viagem ouvindo os nossos assuntos, de interesse apenas para nós.

Contudo, nem duas décadas deste período havia passado e começou-se a ouvir rompantes afirmações sobre o direito de fazer o que se quer em público, como se as pessoas estivessem desenvolvendo uma estranha sociedade, como se adquirissem ações que as fizessem donas de um tempo e espaço, simplesmente por estarem ali.

Pois este movimento cresceu e hoje deparamo-nos com um caótico cenário onde estar num espaço público, com o público, é submeter-se as mais diversas provas e ofensas possíveis.

As pessoas são capazes de fazer uma viagem inteira, dentro de um ônibus, barco ou trem, a rodar a lista inteira de toques possíveis de seus celulares, a escolha de um que lhes agrade, como se estivessem sozinhas em seus quartos. Conversam em voz alta como se estivessem na sala de suas casas; falam ao telefone por longo períodos sem se importarem que outros ouçam. Tomam lugar nos transportes público e ocupam os lugares adjacentes com suas sacolas, bolsas e até seus pés, na expectativa de manter longe delas outras pessoas que possam se aproximar, imaginem vocês, daquele espaço PÚBLICO!! E se pedirmos licença, elas ainda rolam os olhos, bufam ou torcem a boca, porque estamos desacomodando a dita beldade!

Gente, espaço público, por ser de todos, exige ao indivíduo manter um elevado grau de ‘low profile’, de forma que se respeite o espaço do outro. Alguma vez, depois de um longo dia de trabalho, eu quero ouvir a música R&B de alguém? Que está de fone nos ouvidos, ainda por cima, mas num volume ridículo??

É de uma total falta de civismo e fragiliza de mais os laços sociais e o caráter da identidade local de um povo. Ninguém tem o direito de impor a sua presença, os seus gostos, as suas preferências aos outros, mais ainda se lhes são estranhos.

Este comportamento exercita raiva nos outros, cansaço, desânimo, mau exemplo aos menores e não dignifica em nada a qualidade de vida de um indivíduo. Sermos ecológicos, pensarmos na natureza, não é apenas separar plástico de latão, mas também olhar para nós, seres humanos, peças integrantes de uma única realidade, maior.

Então que 2009 seja um ano onde passemos a ajudar a natureza, nossa natureza, externa e interna e a comum, para que aí sim, se reflita a verdadeira qualidade individual. Num espaço público ou não.

Os meus melhores votos de felicidade a todos para o ano novo.

Eduardo Divério.

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