domingo, julho 11, 2010

 
Eu tenho uma amiga doente e não sabia

Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Bem, eu sabia que ela não andava bem, mas aquele misto de optimismo ‘isso já passa’, somado a uma dose de presunção ‘não deve ser nada grave’, aliado a uma pitada de egoísmo ‘também tenho os meus problemas’, não me deixaram perceber a real gravidade do cenário.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Ela é uma pessoa que sempre, sempre tem alguma coisa construtiva, positiva, com amor e com preocupação para dizer, aos outros, para os outros. Ela está sempre disponível para dar suporte e cruzar oceanos se for preciso, literalmente.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Ela já estava adoentada quando todas as noites passava horas ao telefone comigo durante o meu processo de separação. Antes disso, ela é, ou ela está, na fonte de energia e sabedoria de onde me alimentei para alongar, amenizar, continuar, inúmeras jornadas em minha vida.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque não tive a sensibilidade de perceber que uma pessoa adoentada não poder ter um comportamento ‘normal’, logo jamais eu poderia, passivamente, esperar por notícias, por iniciativa dela, uma pessoa adoentada!

Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque ando demasiado precocupado com minha existência. Porque sinto-me sozinho ou mal amparado quando gozo de saúde e estabilidade fianceira, quando tenho um emprego e mais amigos que fazem-me companhia e enchem-me de alegria.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque preferi acreditar que seu silêncio era uma fase, talvez um capricho. Porque preferi acreditar que lhe estava dando espaço ao mesmo tempo que alimentava uma infantil sensação de abandono por parte dela.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque ando a dar atenção ao futuro, ao que não existe, enquanto poderia estar dando assistência, enquanto poderia estar amando de forma presente. Mil vezes disse-lhe que a amava. Mil planos fizemos para sempre achar uma forma de estarmos juntos e eu não sabia que ela está doente.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia e sequer sou homem de fé! Não oro ou acendo velas, não tenho crença religiosa e nem uma mantra sei balbuciar, mas Eli, Javé, Ra, Zeus, Júpter, Thor, Dagda, Shiva, Oxalá, seu pai Ogun e minha Mãe Iemanjá, socorrei-me! Não pela vergonha que sinto, não pelo remorsso que me devora, pela tristeza que deslisa por nossas vidas, pela falta da plenitude desta mulher que a todos toca.

Eu tenho uma amiga doente e não sabia e o medo de perdê-la, faz dos problemas no meu mundo algo ínfimo, relembra que minha existência é efêmera e salienta para onde devo focar minhas energias.

Repousa e recupera-te. Amo-te e meu pensamento está aí, afaga-te o rosto e toca-te nas fontes, como se fosse minha mão. Segura-te! És guerreira, és forte e és Gaúcha! Olha pro nosso Guaíba, vejo-o agora, na minha memória, com gosto de mate amargo. Isso é um plano.

Melhora minha amiga, minha alma.

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

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