sexta-feira, outubro 21, 2011
Casamento
Eu não sei ao
certo o que se passa com casamentos, com o dia em si, a cerimónia, a festa, mas
é um facto que as pessoas emocionam-se, choram e festejam estas celebrações das
mais diversas formas. Na língua inglesa, o evento é tão especial que tem mesmo
uma palavra específica que o conceitua.
Bem, eu tenho a
minha visão, já que eu mesmo já passei por dois. Apesar de terem sido com a
mesma pessoa e num intervalo de 10 anos, foram momentos únicos e de muita
alegria.
A primeira
cerimónia foi de cunho moral. Não que eu tivesse querendo evitar um redondo
‘não’ em ter levado meu cônjuge para o ‘altar’ sem lhe ter comunicado ao que iria.
Era nosso aniversário de namoro de um ano. Saímos para jantar e depois de um
pequeno desvio surpresa, de 50 Km, chegamos num local que nos é muito especial,
onde na verdade, meses antes, eu havia sido pedido em casamento.
Lá, no interior
das ruínas de uma mãe-d’água, iluminados apenas pela luz de uma vela (o factor
religioso da cerimónia, uma vez que a vela era benta), trocamos nossos votos e
pusemos uma aliança, um no dedo do outro.
As surpresas
continuaram quando chegamos em casa e nossos amigos haviam preparado uma
pequena celebração. Houve bolo com bonequinhos no topo, corte da primeira fatia
com os dois segurando a espátula, foto de braços entrelaçados com taças de
champanhe e muita champanhe. Fomos fazer sexo dois dias depois, tamanha ressaca.
O casamento legal, dez anos depois, foi um desastre burocrático e a cerimónia foi meio perneta. O juiz, coitado,
tremia mais que vara verde, não conseguia pronunciar o nome de um dos noivos,
insistia em repetir a idade dos nubentes a cada 3 minutos e não deu espaço para
troca de alianças. Contudo, encerrou o ofício com um pequeno e bonito discurso politicamente
correcto que lhe salvou a figura.
Na verdade, era
suposto ter sido uma cerimónia muito íntima, apenas com os nubentes, claro, e
suas duas testemunhas. Literalmente, numa virada de noite, cerca de 15 pessoas
atenderam ao repentino anúncio e fez-se a comemoração.
É uma energia
peculiar. É um momento genuíno de amor, de esperança. É o desejo de duas
pessoas em querer planear suas vidas juntas, ou continuá-las. São as expressões
sinceras de afeição, de confiança. Existe um certo orgulho envolvido, um ‘Q’ de
conquista e acho que também rola uma pontinha de alívio. Sentimos um punhado de
medo com o compromisso assumido em público mas somos o centro do rendez-vous e o assunto do final de
semana. Basicamente, nos sentimos muito felizes.
E não sei
explicar, mas não é só o nosso estado civil que muda para sempre, no papel, pois
não importa o que acontecer, nesta encarnação, você jamais voltará a ser
solteiro de novo (não com a mesma identidade pelo menos…). Tem algo mais, uma
sensação a mais - deferência. Bem,
também é verdade que nos tornamos aptos ao divórcio, a viuvez, aos crimes de
bigamia e adultério.
Não importa o que
vem depois ou quanto tempo dure. Eu acho que casamentos, intoxicavelmente
repletos de romantismo – mas de bom-gosto, pelo amor de Deus! Porque aquela
gente que chega de helicóptero quando no seu dia-a-dia o mais perto que elas
chegam de hélices é o cooler do seu
computador, não dá para querer – e de ritos tradicionais nos enchem de amor, de
vontade de amar, de dar e trocar o que há de melhor em nós e deveriam ser
repetidos várias vezes na vida!
Não é vital nem necessário,
tange os níveis do ridículo em termos de custos e sequer nos dá garantia
emocional alguma mas é, ou deveria ser, uma afirmação; um gesto, uma simbologia,
uma celebração de felicidade do amor entre duas pessoas. Para sempre enquanto
dure.
‘I do’ desejo uma
boa semana para todos.
Eduardo Diverio.
segunda-feira, outubro 10, 2011
Meia-noite em Nova Iorque
Para mim, segue-se
sempre um breve suspiro quando o táxi adentra Manhattan e começamos a
identificar aquelas ‘míticas’ formas dos prédios urbanos mais conhecidos do
planeta contra o céu, sob o luar, completamente iluminados e luminosos.
A abundância do Deco regala-me os olhos e tudo gira em
torno do apenas estar em Nova Iorque, nas suas ruas numeradas, pelos seus
blocos de distância equivalente, pelos seus restaurantes e distritos, sem que
se tenha de facto algo agendado, uma razão para lá se estar. Nem mesmo para
turismo.
Um final de
semana em Nova Iorque é como eu gostaria que fossem todos os meus finais de
semana! Cruzar um bairro cheio de charme para um brunch num dinner cheio
de personalidade; encontrar inesperadamente uma feira de arte, artesanato,
livros ou comida pelas ruas e se perder no horário; pegar um cineminha de fim
de tarde num teatro de rua; jantar num restaurante de iluminação trabalhada, com
uma louça original e ementas criativas; tomar um cocktail num bar badalado; passar a tarde no Central Park; descobrir prédios com arquitetura e detalhes memorávelmente
únicos e andar muito de táxi, para cima e para baixo!
É um contexto, um
conjunto de coisas que, na verdade, poderiam ser feitas em qualquer cidade, em
qualquer final de semana, mas sem o Empire
States ou o Chrysler Building à
volta, sem a Brooklyn Bridge ou a
Biblioteca Pública, sem a Park Avenue ou o Central
Park, sem China Town e West Village – fala sério! – sem
cachorro quente por 2 dólares pelas esquinas e sem Art Deco!! De quê jeito?
A cidade se
transforma, vai se transformando ao longo do dia, ao longo da noite. Uma legião
de turistas dá lugar a um mar de trabalhadores deixando seus ofícios a caminho
de casa, de um bar ou de um restaurante. Pequenas lancherias transformam-se em night clubs e há música vindo de todos
os lados. Buzinas e sirenes também. É um rítimo, uma energia.
Claro, está cheia
de coisas estranhas, de gente mal-educada e existe uma estranha onda
escatológica subversiva que nos oprime e nos leva ao choque quando menos
esperamos – lembranças para esquecer – mas ainda assim, só Nova Iorque.
É um caso, é
paixonite mesmo, é querer estar lá, não sair de lá, viver lá.
I love New York!
Uma boa semana
para todos.
Eduardo Diverio