terça-feira, fevereiro 07, 2012
Bola de Cristal Queimada
Ultimamente ando pensativo, avaliando, em como a ‘atenção’
pode ser uma coisa profundamente construtiva bem como, na sua ausência,
profundamente cancerígena, como água que se infiltra, lentamente sem se
denunciar, mas causando danos futuros que companhia de seguro nenhuma quer se
dar por vencida!
Bem, na verdade, isso tudo começou durante um processo de se
dar o ombro, ou seja: um casal de amigos, atravessando algumas dificuldades,
abriu seu coração individualmente a mim. Quando eu finalmente terminei de ouvir a segunda pessoa, sentia-me como
Salomão, em frente de duas pessoas cobertas de razões, cheias de certezas e
aparentemente, sem se poder isolar algo
por onde se pudesse começar um trabalho.
Apesar de poder questionar a qualidade de comuniação deles,
certamente não poderia apontar uma falta da mesma, pois eles até conversavam bem
no interesse de resolver as coisas. Mas então, onde estava, o que era aquilo
que deixava duas pessoas sentindo-se lesadas e cansadas?
Então ocorreu-me de voltar às lembranças da narrative do
mais queixoso, onde argumentava não ter a atenção devida. Depois, aos argumentos de ‘defesa’ da outra
pessoa, onde parecia-me evidente haver nele espaço/tempo para dar atenção.
Bem, durante o meu processo analítico e associativo,
recordei-me de uma consulta médica alternativa que fiz há alguns anos, onde o médico
perguntou-m se eu era diabético. Ao responder-lhe que não, de seguida
perguntou-me se alguém na família era e contei-lhe de minha avó. Bem, ele então
disse-me que, segundo os índices aplicados, eu já era diabético. De acordo com
sua teoria, os examses da medacina tradicional medem a quantidade de insulina no
sangue, mas nunca a sua qualidade… Ora, todos nós sabemos o que óleo sujo causa
ao motor do nosso carro, certo?
Voltando ao casal então, não só ficou-me claro o que era como
ainda tive um pequeno choque em perceber o quão… comum é esse comportamento
enganoso ao nosso redor.
Apercebi-me que o ‘arguído’, afinal, pensava muito no seu
cônjuge, preocupava-se muito com seu cônjuge e que ainda lamentava muito que
seu cônjuge não reconhecesse tamanho empenho. De facto, várias vezes esta
pessoa parava sua vida para pensar na de outra, por longas horas sentia-se
angustiado, preocupado com a outra pessoa, ou seja, era consumido por atenção dada
mas num processo totalmente interno .
Ora, quiséramos nós ter um bola de cristal, mas a verdade é
que o ser humano não lê intenções, pensamentos ou preocupações. O ser humano só
ouve verbalizações e só percebe ações, gestos.
Eu acho que esse tipo de comportamento mudo impera entre
nós! Na nossa casa, no escritório e na sala de aula!
Uma pessoa desassistida, sem o factor ‘atenção’,
sente-se desmotivada em manter, nutrir, esperar, criar o que quer que seja. ‘Atenção’
não só é um gesto consciente de maturidade como revela consideração,
agradecimento, noção, apreciação e dedicação de um para com outro.
Claro que poderíamos abordar aqui o esteriotipo da ‘criança
mimada’ e o da ‘mãe híper-protetora’ mas vamos nos focar, digamos, em cenários
com maior equilíbrio…
Gente, o vaso saninátio que voce usa todos os dias, o
lavatório onde voce escova seus dentes, não são auto-limpantes! Eles não
aparecem limpos por magia! O filtro da água não se enche sozinho, os cinzeiros
não se esvaziam por nenhum processo físico autômato! Acredite, existe muito pó
circulando na sua casa, mesmo sem se depositar sobre a mobília… Os panos da
louça e as tolhas de se enxugar não cheiram a limpo devido a algum tratamento
químico de auto-preservação!
Ponha a mão na consciência, pessoa; agradeça, retribua,
mencione, gratifique, dê o valor e principalmnete, mais valioso do que isso
tudo, se voce tem mais de 10 anos, alivie a carga de tarefas de quem cuida de
voce. Aspirar a casa é inevitável, mas é muito mais cansativo quando se tem que
juntar, arredar ou mover os tênis, os livros, a bola, o laptop, a revista, a
almofada, os chinelos…
Se o seu cônjuge queixa-se de solidão, por mais que seja as suas
execssivas horas de trabalho que pagam por todo o conforto de voces, não lhe dê
algo, dê-lhe companhia. Um dia, uma tarde, uma noite, um longo jantar, aquela
peça de teatro desejada, aquele passeio pelo campo ou pela praia, aquele xamego
no sofa, aquela sessão de sexo lenta e longa… ai!
Não ocupe sua cabeça, seus neurônios e seu tempo, para dar só
o que voce pode e nem, nunca, aquilo que voce acha que deveria servir. Isso é
um erro crasso e ofensivo! Quando vamos oferecer uma prenda de anos, não
escolhemos o presente pelo nosso gosto e sim pela noção que temos do gosto do
aniversariante. Isso é dar. Dar ou fazer alguma coisa por alguém só nos pode
dar a satisfação em ter propiciado tal efeito, senão não vale à pena dar ou
fazer nada…
Esforce-se para dar o que vai eliminar este câncer de sua
vida. Exija de voce, escute, perceba, surpreenda-se a si mesmo e explore os seus
limites. Afinal, não existe uma arma apontada para a sua cabeça lhe forçando a
continuar a viver com esta pessoa, logo, é de sua vontade estar onde e com quem
tens acordado ao lado, ou ao redor. A
não ser que sejas menor idade…
Em contrapartida, perceba os limites e os esforços daquele
que mal gerencia o dar ‘atenção’. Nada na vida é um botão onde se liga e se
desliga e sempre há uma conplexidade emocional muito grande envolvida no
relacionar-se com outra pessoa. Saiba reconhecer uma evolução, mesmo que
pequena. Ache estímulo e motivação nas tentativas da outra pessoa em dar o que se
pede, mesmo que ela ainda não tenha entendido.
Onde ou o que quer que precises, de ou como, atenção, deve
ser claro; seja por escrito, verbalizado ou encenado. Se atenção para você é ser adivinhado, procure
se relacionar com um tarólogo, um vidente, enfim… Voce é responsável por tornar
claro o que está lhe faltando nesta relação de troca de sentimentos. Tanto
quanto lhe é um dever escutar, com ouvidos de ouvir o que está faltando a sua
parceria.
Qualquer que seja o tempo investido na imagem, na situação
ou noutra pessoa, não constitui atenção! Não se confuda com isso. Preocupar-se
e pensar em alguém deve causar a… manifestação de atenção. Não impute as horas
gastas de um projecto na folha de gerenciamento de outro! Muito feio e
conviniente…
Estou certo que este texto vai chamar a atenção de muita
gente.
Uma atenciosa semana para todos.
Eduardo Divério.