domingo, fevereiro 19, 2012
Eis o Mistério da Fé…
Esta semana um amigo do passado lamentou o facto de eu ter
pedido minha fé em Deus. É verdade que fui baptizado na fé Católica e que ainda fiz
minha confirmação quando tinha 17 anos, idade em que conheci o referido amigo. De
volta a este tempo, meus laços com a religião eram apertadíssimos e eu, um
temente servo do amor do Deus Católico. Mais irónico ainda é que, fôra eu quem
reaproximou este amigo à Deus, à fé.
Mais de vinte anos depois, não há em mim a menor sombra daquele
jovem, o que é de se notar, pois quem me segue pode, confortalvemente, encontrar
nos meus textos, resquícios da minha criança pelos meus textos. Freud e Yung à
parte, onde então terá se ‘perdido’ da religião o meu ‘eu’ adulto?
Religião deveria ser uma referência, um guião, para um
comportamento espiritual altivo e que estreita a relação com o divino. Contudo,
num planeta que figura 7 bilhões de pessoas, mas que continua enfrentando
sérios problemas de ‘saúde’, povoado de sociedades consumistas e de valores
superficiais e repleto de comunidades egodistónicas, não me parece que as
orações e novenas, de sempre, tenham sido por uma raça melhor, por um mundo melhor, e sim,
para uma vida melhor, mas de forma individual.
Estatísticamente, as pessoas tornam-se mais religiosas,
desenvolvem mais ‘fé’, à medida que a
idade avança, ou em outras palavras, quando apercebem-se que o místico,
misterioso, fim está a se aproximar e então, começa-se um plano 'pensão celestial' ou a investida numa apólice que assegure o incerto do outro lado, numas de: ‘
não acredito em bruxas mas que elas existem, existem’.
Quando eu penso que, por exemplo, antes de 2000 anos de
Cristianismo, o vasto império Romano espalhou sua doutrina durante séculos por
longas partes da terra entre o Atlântico e o Pacífico e que antes deles, por
mais de 3000 anos, no Egipto, pais ensinaram filhos através de gerações e
gerações a venerarem seus reis como
deuses, penso: 3000 mil anos são muitos anos, caramba! E são pelo menos
1000 anos extras a mais do que o Catolicismo… E por todo este tempo, legados e
sociedades formaram-se e viveram sob estes valores.
De uma forma muito, mas muito mais dedicada à religião do
que nós nos dedicamos hoje em dia, eles o fizeram, e hoje, alguns de seus
deuses podem ser vistos aqui no British Museum e não só, a eles estudamos no
colégio, junto com Álgebra e Geografia e ainda chamamos o contexto de mitogia.
De alguma forma, tornou-se óbvio para mim que no futuro, quando
o eixo da terra tiver girado novamente e toda a arquitetura urbana da civilização
do primeiro mundo actual estiver sob o gelo, que algures nas Caraíbas, estarão
ensinando a mitologia Católica e o seu importante impacto no desenvolvimento sócio-econômico-politíco
da nossa realidade de hoje.
Ao olhar para história da evolução humana, da invenção da
roda, da descoberta do fogo à viagem histórica da nave Casini à Saturno, entre
tempestades e cataclismas, entre pragas e doenças inexplicáveis, como teríamos
sobrevivido sem um deus? Notável para mim é que, quase 6000 anos depois da
invenção da escrita, quando ainda existe na maior nação populacional do
planeta, deuses com cabeça de elefante, que ainda não tenhamos aprendido,
entendido o raio dos desígnios de Deus e sequer, firmado nossa fé. Aliás, a
herança mais Italiana que poderia existir no Catolicismo, de ainda hoje, é se
ter a indiscreção de gozar um pouco de pecado. Não vá faltar assunto para a
confissão…
Sempre penso que quando minha mãe estudou química, na década
de 50, uma meia dúzia de metais e gazes ainda não haviam sido descobertos. Aliás, nem precisamos recuar tanto no tempo assim!
A tabela periódica na qual eu estudei na década de 80, era mais curta em elementos
do que a meu sobrinho estuda hoje. O que
seriam então estas matérias, estes cheiros não classificados a quem, desavisadamente,
os encontrassem?
Para além de tudo, eu tive contacto com magia e esoterismo,
li muito sobre espiritismo, algo sobre budismo e não me façam falar do Judaísmo.
Sou filho de Iemanjá e nos meus bons tempos, pratiquei cartomancia, no baralho Inglês!
Eu acredito que o mundo da materia e da energia retém
milhões de segredos e chaves que ainda não vimos, achamos ou entendemos. A
física quântica, em relação à matemática, ainda é um embrião, em termos de
idade. De alguma forma, eu entrei em paz com o facto que vivo numa época, numa
era, onde estamos , como sempre estaremos, circundados pelos limites da nossa
evolução. E que a nossa volta, o senso comum, grupos ou sociedades inteiras,
encontram em hipóteses, em possíveis explicações, em teorias, o conforto que
precisam, como outrora nossos antepasssados precisaram para ultrapassar a
devastação, por exemplo, de um El Ninho ou de uma peste.
Ao mesmo tempo, depois de olhar para nossa história, para
nossa trajectória, e também por ter assistido toneladas de National Geographic
channel, apercebo-me que somos a única raça
que se desligou da sua natureza biológica, do planeta e do cosmos! Nós
insistimos em continuar a viver à cerca de vulcões e por sobre falhas sísmicas,
quando sabemos que uma hora a coisa vai ficar mesmo feia! Ah vai, vai! Nós somos a única raça homotérmica
que teima em viver imerso no gelo ou no meio de um deserto!
Todos os anos, centenas e centenas de deiferentes espécies
cruzam o planeta fugindo do frio, atrás de alimento e à procura de sexo, vá lá,
procriação. São portadores orgânico-naturais de radares, sonares, linhas
sensorias, termostatos e tudo bem… Se um humano diz ter tido um pressentimento, receitam-lhe Prozac e sugere-se então, não dar muito mais conversa ao elemento, afinal,
vocês sabem como são estas pessoas que sofrem de esquizofrenia! Halooo?
Veja bem: o quão mais saudável seria se você tivesse as manhãs
livres. Curtir um sol, vitamin D, e um céu azul com seu filho, com sua esposa,
depois de terem tomado o café da manhã juntos, a principal refeição do dia. Aí, almoçavam juntos e então, começar-se-ia a rotina. Sair para o trabalho e para o colégio. Á
noite, ao invés de estarem a engordar em frente a TV fazendo nada, chegariam em casa, tomariam um banho e cama!
Para aproveitar a luz do dia na manhã seguinte!
Nós simplesmente somos vítimas da nossa própria trajectória
evolutiva enquanto decisões e organização social, estrutural, das necessidades
de se gegir uma vida sob as mais estúpidas regras e crenças dos últmos 5000
anos. Convenhamos, um deuszinho vem bem a calhar!
E como então, eu vivo num mundo em que 98% da população
acredita num Deus? Bem, ter descoberto ser gay, em plena ditatura, no sul da América
do Sul, deu-me imensa práctica em coexistir ‘disfarçado’ (LOL). Mas eu não tenho nenhuma tendência Tudor em querer fundar minha própria crença. Não me importo e não me incomodo com as
crenças alheias e não só, tenho um profundo respeito e senso de compreensão da
necessidade, do benefício deste ou destes movimentos religiosos.
Eu tenho um fascínio pela natureza humana, pelo
comportamento humano e sinto-me tão parte de um sistema como as águas e os
ventos que formaram o Grand Canyion. A
alegria em estar vivo, a certeza das milhões de oportunidades que estão pela
frente, geram-me expectativa, dão-me esperança e nutrem-me a alma.
Não me importo com ‘mistérios’ que não podemos explicar mas também não os rejeito
se podemos senti-los. Há cada tempo que passa, o ser humano parece reforçar sua
longividade, com isso, mais e mais dos procedimentos da psiquê humana vão se
revelando, pondo teorias abaixo e confirmando outras.
Por fim, quando olho para minha falta de fé, vejo em contra-partida, como eu me comporto na vida, com a vida, e com os outros e aí, ainda ouso em dizer
que vivo mais como um Cristão do que muitos que fazem o sinal da cruz entre a
testa e o peito. Sinto-me uma pessoa de espírito activo e alma vibrante. Apesar
de na área da paixão, uma estranha versão de mim ainda precisar de alguma ‘intervenção
divina’, não lamentem por mim, por favor. Eu estou bem.
Uma boa semana à todos.
Eduardo Divério