quarta-feira, março 21, 2012

 

Desgaste mau Intencionado


Fui chamado à atenção algumas vezes, por pessoas diferentes, e isso chegou mesmo vir à tona em processo psicoterápico, que tenho uma tendência a desculpar as pessoas, a ilibá-las da consciência da razão de seus atos e logo, de suas consequências.

Isso mexeu com muita coisa e inclusive, foi posto à prova em mim, um alegado receio onde eu pudesse estar a exercitar um mecanismo  de autodefesa, onde eu, ao mostrar-me complacente, para não perder a ‘simpatia’ da pessoa, revelaria na verdade, o mais profundo receio à rejeição.

Era fato que a rejeição era assunto recorrente e por isso, preocupante. Contudo, anos de análise e pesquisa do meu ‘eu’, deixaram-me saber que afinal, não se tratava de um esquema anti rejeição, mas de múltiplos processos pelo fundo.

Hoje, aos quarenta anos, entrando em paz com a minha natural sensibilidade, posso traçar com segurança alguns desenvolvimentos.  Eu nasci curioso, eu cresci precisando saber o que havia por detrás das portas e dentro das caixas, querendo saber como as coisas funcionavam.  Curiosamente, características do meu  signo Gêmeos.  Também não conseguia mentir ou melhor, não conseguia não dizer o que não era verdade. Isso num regime militar e católico, deu um bocado o que falar...

E então lembro-me das centenas de vezes que fora castigado por ter feito algo errado que no entanto,  revelava-se tão surpresa para mim, aquele acidente, do que era o ato para minha mãe, pois eu tinha intencionado fazê-lo bem. As intenções de uma criança, expressas pelo mundo adulto, podem ser comparadas com o desafio a um pintor profissional em  reproduzir a Moraliza, com tinta guash e à chuva.

Tenho esta memória viva em mim, a sensação, a certeza  que se iria fazer ‘bem’ e no fim, acabar tudo ‘mau’.  E daqui desenvolvi esta máxima comigo: Assim como todos são inocentes até que provem o contrário, também acredito que as intenções das pessoas são a verdade, o como tudo poderia ter acabado.

Contudo, toda ação tem sua reação. Todo o ato gera uma consequência e bem intencionada ou não, o resultado de um feito refletir-se-á na vida de muitos, por vezes, por muito tempo. E todos querem justiça, todos querem que o mau em suas vidas seja reparado e nada melhor do que detonar com aquele que o causou.

Mas ainda, pela idade em que me  encontro de novo, também sei que água mole me pedra dura, tanto bate até que fura. Ou seja, há situações, que mesmo reconhecendo as intenções e os limites de um ser, nos levam a exaustão. E aqui, como eu entendo, não se trata de negligenciar as intenções num julgamento, mas falo de desgaste. Como o de uma engrenagem de um relógio que o fará atrasar. O desgaste, o cansaço, expõe-nos à outras lutas, a outros sentimentos e estes acabam por exigir uma atitude mais firme, mas pelo mau que adveio daí, não por deixar de acreditar nas boas intenções.

Eu continuo ‘perdoando aqueles  que me ofendem’, pois acredito que haja uma falha na comunicação entre o ‘servidor’ que gera as intenções e os ‘servidores’ que recebem o sinal. É claro, há casos de pura mesquinhez, mesmo de mau carácter, mas ouso em dizer que suas intenções revelam-se claras e coerentes com seus atos.

Em resumo, a velha história do buscar se conhecer, do buscar se compreender e acima de tudo, compreender o meio, mover o foco para fora de nós também. Afinar a execução de nossos atos com a as nossas intenções. Equilíbrio.

Cabe bem lembrar que o inferno está cheio de gente bem intencionada...

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério.

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