segunda-feira, março 12, 2012
Negação
Negação
nome feminino
1.
ato ou efeito de afirmar que algo não é verdadeiro ou não existe
2. recusa; rejeição
3. o que contradiz ou é contrário a algo
4. incapacidade; inaptidão
5. falta; carência
6. mecanismo de defesa descrito
por Freud para descrever o processo mental através do qual uma pessoa se recusa
a perceber aspectos desagradáveis da realidade interna negando a existência
deles
Há níveis e intensidades de negação. Pode ser um processo tão sério como qaulquer outra
disfunção clínica, como a cegueira por exemplo, pois ela limita e condiciona a real
percepção do objecto como tal. Faz com que um individuo, literalmente, siga
pela vida a viver uma versão dela.
A negação pode surgir quando não queremos aceitar que algo está
nos acontecendo. Quando queremos ou desejamos algo que vai contra os nossos
valores ou educação. Quando continuamos querendo ou desejando algo que já
provou nos fazer mal. Mas acima de tudo, decorre da inaptabilidade, da falta do
exercício de enfrentar as situações, de se responsabiizar pelas próprias acções, do retardamento do abandono dos moldes
de comportamento da infância e latência onde sempre havia alguém para prover, a
mesma pessoa, quiça, que ainda se possa estar querendo evitar desiludi-la, procrastinando
o encontro com sua natureza adulta.
Mas é facto que ocorre com muita mais frequência do que possamos
perceber e quando em processos rápidos e
curtos, funcionam como atalhos, ajudam-nos
a ultrapassar melhor uma saudade, uma vontade ou aquele cafageste, sem que
precisemos lembrar ou lamentar, focar ou reviver, alguma memória emocional.
Contudo, apesar de causar alívio e evitar trasntornos, mesmo
provendo suporte para uma estrutura psíquica que sugere equilíbrio, acaba por ter
o efeito narcótico, ou seja, modula, altera, melhora, incrementa, distorce,
muda a realidade em si, de forma a ser
mais gerível, mais suportável e dito isso, imagino, todos entendem onde quero chegar.
Uma mãe pode perceber que seu filho adolescente não gosta de
jogar futebol, tem rigoroso cuidado com o que veste, um selecto gosto pelas artes e que na privacidade
do seu quarto, executa as coreografias completas de Madonna e Lady Gaga,
enquanto dubla os seus últimos três CDs, inteiros, e acreditar que ele não é
gay. Apenas sensível ou artístico.
Por mais que esta pobre alma esteja evitando a loucura, o
inferno ou a cadeia, ela está vivendo uma mentira. Ao se deparar com a
derradeira decepção que seu filho não terá a vida que ela aspirava, ela passa a
acreditar que é tudo um estilo, apenas diferente, e que nada mudou. Mas vá lá... todos também sabem que neste
cenário, um dia depois do outro, uma performance a seguir a outra, não lhe dará
muita chance para permancer em negação... eheheheh.
Quem sofre de negação, ou melhor, que está vivendo um
processo de negação, tem uma estrutura racional com tanta lógica e tão
desenvolvida à sua volta, de forma a suportar os porquês, que a tudo consegue
justificar. Este individuo acredita tando nestas justificaticas, que emocionalmente
coaduna com elas, sentido-se incompreendido, injustiçado, e até irritado quando
contrariado ou confrontado.
Como na velha fábula do rei nu. Aquela em que o querido de
sangue azul acreditou que lhe tinham feito uma roupa com um tecido tão
especial, tão rico, que causava o efeito de ser invensível. Cheio de orgulho (e
negação), o rei desfilou por entre seus subditos com a tal roupa invisível...
peladinho...
E aqui chegamos num ponto que esperava.
Processos internos são um ‘saco’. A pessoa tem que ter um insight, sofrer uma epífani, executar uma cartarse ou ter um amigo
bocudo de forma a se perceber de seu esquema mental. E há mais regras de ética
e de poiliticamente-correcto corroborando para deixar as pessoas imersas no seu
‘Matrix’ do que o contrário.
E aqui eu rediireciono meu texto para aqueles que convivem
com indivíduos em negação, pois que, cedo ou tarde, fazendo-se a contabilidade
ou só a se prestar a atenção nos indícios, as pessoas apercebem-se que afinal o ’rei está nu’!!
Nossas relações de amizade ou de romance, são construídas à
base de confiança. Conviver com uma pessoa é acreditar naquilo que ela conta,
descreve e sente. Uma pessoa em negação, vai conduzir seu amigo, ou parceiro, a
acreditar numa versão de um tópico do seu carácter. Vai afirmar que este ou
aquele assunto é visto ‘assim’ e sentido ‘assado’ e sobre isso acordos
firmar-se-ão.
Agora, imgine que eventualmente,
a pessoa em negação (re)adquiriu condições de eliminar este processo trazendo a
verdade à tona. Muito provável que aquele que convivia com ela, sentir-se-á
traído, usado ou trapaceado, pois que este fundamentou sua confiança, fez
planos para a intersecção de suas vidas, acreditando nos descritos ‘assim’ e ‘assados’.
Pior ainda será se aquele que convivia com ela, já tivesse se
apercebido que o ‘rei ía nu’ mas que por amor, compaixão ou simplesmente porque
entre dois não existe demogracia, passivamente tenha escolhido saudar a ‘nova
roupa’ a criar plolêmica. O quão mais
doloroso é então passar por isso?
Compreender um processo de negação pode atenuar a compreensão
de uma crise ou salvar um relacionamento. Mas melhor do que se ter algo que
possa precisar de resgate, é tentar reconhcer as ‘pendências’ com coragem e
abertura, buscar o discernimento, de forma a se evitar acidentes.
Mas de novo, falar para pessoas que vivem processos de
negação é como querer escalar um muro muito, mesmo muito alto... não se chega
ao topo ou se passa para o outro lado.
Uma semana para todos.
Eduardo Divério.