domingo, abril 22, 2012
‘Rules of Endearment’
Lembro-me
quando ouvia as pessoas dizerem que não escolhemos a pessoa por quem nos
apaixonamos, que é algo que simplesmente acontece, assim, sem controle. Eu pensava: ‘Sei... incontrolável? Estranho é
ninguém se apaixonar por aquele anão africano banguela ou pela aquela gordinha
dentuça ou por aquele magrelo narigudo...’.
Outro dia,
eu estava lendo uma reportagem sobre um longo estudo científico aplicado sobre
um largo grupo de pessoas, onde se concluiu que o estado de paixão dura de dois
à três anos, tempo suficiente para estas duas pessoas se familiarizarem com
suas qualidades, de forma a terem o que as suportem contra suas
incompatibilidades e, então, viver daí num sentimento mais estável: o amor.
Mas então o
que faz duas pessoas se apaixonarem? Pela internet, eu encontrei diversas
teorias em diversos... credos.
Há quem
acredite em destino; que duas almas, ainda na câmara celestial, são
predestinadas uma a outra. Acho que isso era algo difícil de comprovar até a
geração da minha mãe, mais ou menos, onde casavam-se jovens e morria-se juntos,
por uma promessa. Mas no curso da minha vida, foram tantas as vezes que eu vivi
uma paixão e que escutei ‘eu te amo’ que só se eu tivesse entrado na fila para
o parceiro predestinado diversas vezes, explicaria!
Bem, aí
também eu li qualquer coisa sobre resgate. Uma confusão de ‘promiscuidade’ e incesto astral, onde eu poderia, hoje,
estar vivendo o sexo com quem já foi minha mãe, ou pai, ou sogra, ou filha,
enfim. Um enredo tipo novela Australiana, que nunca tem fim... Mas se voltamos
para resolver e resgatar coisas com pessoas que já vivemos em outras vidas, eu
então devo ter ficado muitos, mas muitos anos sem reencarnar e foi acumulando
gente com quem tenho coisas a resolver, pois afinal, foram tantas as vezes que
eu vivi uma paixão e que escutei ‘eu te amo’...
Parte do
estudo acima referido, mencionava que o beijo é um fator determinante e
importante no ‘apaixonar-se’, pois transmite e recebe, na saliva, hormônios e
feromônas que alertam nosso cérebro ao quão organicamente compatível esta
pessoa é conosco. Quanto mais química equivalente, mais intensa se torna a
paixão. Mas aqui requer que exista um contato entre estas duas pessoas. Eu tive
a chance de comprovar esta teoria in
locuo. Muitas vezes.
Mas ainda
acho que não é tudo. Atração não se dá apenas por compatibilidade química, mas
também física. Referindo-me num sentido mais acadêmico, falo de vibração de
moléculas, campos magnéticos, cargas positivas e negativas, enfim. E num sentido mais comum, e complementar, nos
atraímos por aquilo que achamos belo (e a noção de beleza é aquele papo da
bunda, não é? Cada um tem a sua...).
Eis o mapa,
a fórmula do ‘cupido descontrolado’: atração pelo belo + física + química =
paixão. Mas existe algo na matemática chamado comutatividade: a ordem das parcelas não altera a soma. Logo,
duas das variáveis acima podem ser nulas e ainda termos resultado.
Mas
definitivamente, a sensação de magia, de transcendente, de inexplicável e de
total descontrole, vem de um resultado onde todas as parcelas têm um valor e a
intensidade, corresponderá na combinação do quão alto é cada um.
Mas se este ‘feitiço’ todo dura de dois à três
anos, como isso se transforma em amor?
Desde o dia
um deste encontro, bem, talvez não do dia um exatamente, mas desde o início
desta união, começamos a lidar com os conflitos de comportamento um do outro.
Comportamentos são geridos por valores, conceitos e condutas e ‘aí que a porca
torce o rabo’.
O que fazer
quando a fórmula é mágica mas com o passar dos meses a pessoa revela-se um
‘nabo’?
Neste tema,
e daqui em diante, sinto que quanto mais entendo, mais difícil ficar tomar
decisões! Literalmente! É uma lista tão grande de probabilidades, uma
combinação tão vasta, de uma gama tão heterogenia de tópicos que requer um
livro! Não cabe num blog, ou poderia começar a dissertar em fascículos!
Sejamos
breves então. Uma coisa eu sei por certo: presença de vício, violência – física
ou verbal - falta de idoneidade, falta de respeito, falta de ternura e preguiça,
são como concreto, uma mistura de areia, cimento, brita e água que pode
desfazer-se em pó, mas nunca voltar ao estado original. Por isso, falamos aqui
de aceitação absoluta e pura. Eu, estou fora!
Inseguranças,
medos, covardia, fraqueza, excesso de racionalidade e excesso de emocional, têm
um caráter que, apesar de provavelmente ser vitalício, contém em seus
predicados o fator, a possibilidade, do transitório. Podem ser estados de uma
idade, um nível de maturidade que tem possibilidades de evolução. De novo, requer aceitação, ao que se refere ao
tempo de cada um, e mais a compreensão, a disposição, saber o quanto nos afeta conviver com as
dificuldades alheias. Eu acho que isso é
normal e vem no pacote. Difícil entretanto, pois consome, desgasta e acho que a ‘mágica’ tem
que ter sido muito boa e com ausência total dos itens do parágrafo anterior...
mas acho que vale à pena investir.
Mas tenho
amigos mais exigentes. Quando a ‘magia’
começa a expirar, a transição para o amor é-lhes um assunto tão sério, que demanda
educação acadêmica, cultura geral, bons modos sociais e até uma boa localização
geográfica da morada da pessoa na cidade, pois tudo isso pode causar
desequilíbrio e inquietação na relação.
Para mim,
particularmente, resume-se em aconchego. Se no término da ‘magia’ ficar
aconchego, e este permanecer, amar é inevitável. Para conversas filosóficas e
esportes radicais, eu tenho meus amigos! Mas eu sei que sou um salmão nadando
contra a corrente aqui. Eu rompi com as ideias do romantismo, porque acho que
um gap superior a cem anos parece-me
uma distância considerável de nós e não vivemos mais como outrora viveram os
Victorianos. Os moldes e a estrutura da nossa sociedade, versos individuo, evoluíram.
Como nós procuramos as relações é que não.
Depois,
porque acho que amor é um sentimento que tem seu predicado meio distorcido
quando enquadrado numa relação amorosa. Nós amamos nossos pais e filhos, irmãos
e alguns amigos e também nosso companheiro(a). Nossas ligações psicológicas com
estas ‘entidades’ é que são distintas.
Se eliminarmos os elementos da fórmula, um companheiro a quem amamos pode
perfeitamente virar um amigo a quem amamos, como um irmão.
Mas a
verdade é que por mais que se definam e compreendam os mecanismos orgânicos que
nos movem, não existe receita, conselho, teoria ou reza braba que revele o
segredo de uma boa e longa relação. Eu vejo cada relação entre duas pessoas
como as digitais dos dedos de um indivíduo, únicas! Os fatores que se
combinaram ali, o que se investiu, empenhou, abriu-se mão ou o que se ganhou é algo
que só faz sentido naquele ‘ecossistema’ de dois indivíduos que se amam.
Por isso,
meu leitor, é esquecer quem ficou para trás, não usar ‘defunto’ como
referência, permitir-se e se jogar de cabeça!
Uma amorosa
semana a todos.
Eduardo
Divério.