sexta-feira, junho 15, 2012

 

Amor, Lealdade e Compromisso



Enquanto o rei George V da Inglaterra encaminhava-se para sua morte, fraco de longa doença, o príncipe de Gales, Edward Albert Christian George Andrew Patrick David, herdeiro imediato do trono britânico, estava escandalizando o mundo com o seu caso amoroso com Wallis Simpson, uma senhora casada e já divorciada uma vez. 
Edward subiu ao trono. Willis divorciou-se pela segunda e o desposou. Devido à pressões de ordem sócio-política, mais política, Edward VIII decide por abdicar do trono e parte com sua esposa em exílio para a  França, dando origem a mais famosa história de amor do século XX.

Durante o exílio, cartas foram trocadas entre a Duquesa de Windsor e sua melhor amiga, onde ela expressava o quão cárcere sentia-se com todo o condicionamento gerado pela abdicação do rei e pelo senso de obrigatoriedade que passou a carregar em sua alma. Diz-se, alegadamente, que ela comentava que depois do que ele fizera, ela não teria outra escolha senão ficar com ele para sempre.

Estas alegações deixam claro que a história mais romântica do século XX, afinal, sustenta um conto de amor apenas quando narrada pela versão de sangue azul, pois que, quando vista pelo ângulo yankee, surge uma conotação que embora também fale de abdicação, acaba por não se calcar tanto no amor, mas mais em lealdade e compromisso.

Claro que estamos falando do ano de 1936, onde nem a segunda grande guerra ainda havia mudado a face da Europa. Uma época onde mulheres ainda preocupavam-se em zelar por sua reputação. Uma época em que pessoas sérias casavam-se para a vida. Uma época em que Freud e Jung ainda chamavam a psicologia de ‘movimento’ e faziam lobby para angariar simpatizantes.

Mas o século XXI revela uma mentalidade mais complexa, mais incoerentemente confusa onde ainda encontramos pessoas em ‘movimentos’ pelos valores do século XX, mas mais ainda, pessoas vivendo em total mistura de valores dos dois séculos. Sejam eles compatíveis ou não.

Mas num tempo onde a maioria das pessoas acredita que o casamento deve ser para sempre, mas que caso não dê certo, o divórcio é mais do que bem-vindo, o que exatamente significa lealdade e compromisso?

Eu acredito que vivemos numa época onde nos permitimos questionar sentimentos e ouvir sensações. Sou um militante da psicoterapia, pois acredito que a primeira fase adulta de uma pessoa está repleta de grilhões emocionais, de culpa, de obrigações, de memórias de emoções vividas, que nos afastam da nossa real sensibilidade, do nosso ‘eu’ livre. Por isso, postulo que toda a pessoa que cresce, que amadurece, desfar-se-á, provavelmente, de valores, de conceitos que lhe foram passados como educação, mas que de efeito, sentido algum alguma vez tiveram para esta pessoa.

Em 1936 não existia a noção deste nível de crescimento psicológico e acredito que a segunda fase adulta de uma pessoa fosse baseada em resignação.

Lealdade e compromisso continuam sendo partes fundamentais do sucesso de uma relação; alimento eu diria. Lealdade e compromisso tem uma escala ampla de responsabilidades, de efeitos e bases, mas que só se formaram, só tem sentido em existir, neste século, pela proposta de duas pessoas que se juntaram. Suas funções é manter este amor vivo, é manter esta relação sempre o mais próximo possível da proposta original.
Uma vez ter havido deficiência em mantê-la, de qualquer parte, forçar uma lealdade ou socorrer-se do compromisso seria aprisionar uma alma. Teimosia...

As pessoas mudam. As pessoas descobrem-se. As pessoas compreendem-se.  As pessoas atingem uma idade onde vislumbram novas metas, novos sonhos e novos limites. Contudo, e inevitavelmente, isso é um processo constante, vitalício e intemporal. Gostemos nós disso ou não.

Amor, mesmo amizade, é algo que podemos sentir vindo de outra pessoa. Lealdade e compromisso são algo que apenas podemos observar, e isso, é porque ocorre numa esfera a nível individual, que só pode afetar uma outra pessoa pelo sentimento que as liga.  

Uma pessoa leal é uma pessoa que vai a ‘guerra’ e luta com lealdade, com afinco, com devoção, para manter uma proposta original, para defender suas fraquezas, para manter uma chama acesa! Uma pessoa leal usa de todas as armas disponíveis e esmera-se pelo seu compromisso.
Mas a verdade é que nem todas as guerras são ganhas e todos sabem o quanto, eventualmente, uma guerra empobrece um estado e debilita a identidade de uma nação. Porém, isso não desqualifica o brio de um ‘soldado’.

O compromisso já tem aquele cunho mais jurídico, um predicado que descreve uma certa obrigatoriedade... 

Eu realmente acredito que estas três ‘entidades’ podem, ainda, neste século, criar lindas histórias de amor, mas também, podem ainda encobrir e aprisionar outras tantas mais confusas ou menos esclarecidas...

Desejo de coração que o amor seja inspiração para sua lealdade com a qual se luta por um compromisso.

Uma boa semana para todos.

Eduardo Divério. 

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