quarta-feira, junho 06, 2012
Os Problemas dos Outros
Eu realmente
acredito que existe uma tendência a se ajuizar a intensidade, a densidade dos
problemas daqueles que nos rodeiam. Eu até diria que não se tende a achar, ao
menos com frequência, que os nossos problemas sejam mais sérios ou maiores do quê os dos outros, num
senso egodistônico, mas diria que se tende a subvalorizar o que as outras
pessoas estão passando como problema. A não ser que seja câncer, morte por
acidente, coisas bem genericamente dramáticas, onde facilmente qualquer um
consegue projetar e se identificar com a tragédia.
As pessoas
estão em estágios diferentes de suas vidas, em idades diferentes, e isso por si
só, provoca uma interação forçosa de nós com estas coisas adversas que sequer
precisamos. Com isso quero dizer que lidamos com pessoas ‘chave’ na nossa vida
na base diária e estas pessoas são familiares, colegas, chefes, professores e
todos com idades, credos, sexualidades, times de futebol e partidos políticos
diferentes e isso vem-nos à força. Não podemos escolher as áreas das vidas das
pessoas com as quais queremos ou não nos relacionar, pois estas são um todo de
partes.
E aqui
surge o truque. Temos o poder de nos desligar, de dar menos atenção àquilo que
pouco nos interessa. Contudo, com isso, parte fundamental desta pessoa de convívio
diário se perde e nesta perda também se vai nossa chance de perceber o porquê
esta pessoa lida com ‘isso’ ou ’aquilo’
daquele jeito, ou por que 'aquilo’ lhe afeta tanto quando, talvez, para nós ‘isso’
sequer faz sentido.
Uma avó que
vive longe de seus netos e que anda aflita pelas lojas, à procura de presentes
para uma visita a eles, há muito esperada, sem ter ideia do que comprar, não é
menos sério ou menos angustiante do que um adolescente que se sente preso, sem
liberdade na casa de seus pais, mas que ao mesmo tempo, não quer perder o
conforto, num amplo sentido da palavra, que lá conhece e sente. E nenhum destes dois
exemplos é menos sério do que, por exemplo, a crise de um quarentão enfrentando
um divórcio ao fim de quinze anos de casamento.
As pessoas
estão em pontos diferentes em seus ‘planos de vida’ e são afetadas de forma
diferente pelas dificuldades que surgem e no fundo, estão todos lutando para
ser feliz, para alcançarem seus sonhos.
Não tenho a
pretensão de sugerir o exercício deste tipo de percepção, este tipo de análise.
Acho que isso transformaria a vida em algo ainda mais complicado, mais denso do
que já é para cada um, com cada um daquilo que este um sente como problema. Mas
acho que vez por outra, ser lembrado disso, desses mecanismos humanos da
psicologia, onde defesas se transformam em ataques, nos ajuda a dar uma
calibrada, uma amenizada e até uma parada em processos desnecessários que mais
nos envenenam do quê, na verdade, procuram algum tipo de bem par nós. Entre nós e aqueles com quem lidamos na base
diária.
Talvez não
julgar tanto, ou simplesmente reconhecer a legitimidade da dor alheia, seja o
suficiente.
Olhar o
problema de outros, pelos nossos olhos, pelo nosso entendimento, é como ver um
filme do Jean-Luc Godard ou David Lynch e ousar dizer que o entendeu, depois de
só se ter visto uma vez! É como fazer uma... piada estúpida.
Uma boa
semana para todos.
Eduardo
Divério.