sábado, julho 07, 2012

 

Responsabilidade



Minha mãe ensinou-me desde pequeno a cumprir horários, honrar compromissos e assumir as consequências de meus atos.  Esta noção, com maior ou menor amplitude de concordância, é bastante comum e acredito que todos têm a percepção do quão responsável são em suas tarefas, no trabalho, na escola, enfim.

Contudo, também acredito, pela minha observação, que este conceito tem andado desligado da real profundidade do papel que desempenha em coisas menos palpáveis, mais subjetivas, mas ainda completamente ligada as nossas decisões.

Decidir é um ato de conhecimento, de entendimento, de contato com o que se quer versos o que se pode, é raciocinar (relevando as emoções na equação, como é óbvio) e exige inteligência, sapiência e acima de tudo, coragem.

Mas quando decidimos por fazer um atalho, por ignorar um assunto, negar uma situação, procrastinar outra, esperar que algo se dissolva por si, que alguém se vá, que alguém chegue, e os reflexos destes eventos geram acontecimentos inesperados num futuro, conseguimos aceitar, discernir, assumir a responsabilidade como nossa de tamanha complicação?

Olho para as pessoas em sofrimento, rebeladas com o desfecho de determinadas ocorrências e vejo-as completamente alienadas da responsabilidade de terem sido elas mesmas quem as conduziram até ali, ou que elas mesmas colocaram-se em provável rota de colisão com um seguimento de sua vida. Chama-me a atenção como frequentemente as pessoas sentem-se injustiçadas pela Vida, traídas pelo destino, quando na verdade, em muitos dos casos, elas estão apenas colhendo o que plantaram.

Acidentes, cataclismos e doenças à parte, quando somos pegos de ‘calças na mão’ e o transtorno toma as rédeas de nossa vida, estaremos nós sofrendo por não sabermos decidir ou porque não temos responsabilidade em assumir as consequências de nossas decisões?

Eu gosto de pensar que um homem não deve ser avaliado pelo seu erro, mas por como ele tenta contornar, desfazer ou corrigir este mesmo erro.  É um fato que muitas vezes não temos estrutura psicológica para tomar uma decisão, que às vezes não temos conhecimento suficiente de nós mesmos ou da subjetividade da questão e ainda, muitas vezes, são nossos próprios conceitos e valores que estavam defasados ou enganados. Logo, parte do que compõe a chave da resolução dos ‘problemas’ é a responsabilidade.

Assumir que nos engamos num julgamento; assumir que preferimos deixar as coisas rolarem ao invés de se ter tomado controle delas; assumir que por descaso, vaidade, presunção, esperança, medo ou burrice nos permitimos ali chegar e isso remove aquela carga esotérica de conspiração do cosmos contra nós. Isso nos dá um chão para firmarmos os pés e entender que esta é a hora de corrigir e contornar, quiçá.

Pessoas confusas que não buscam alinhamento de ideias, esclarecimento, conhecimento, que modulam suas vidas numa rotina que as impede de viver de forma plena, que as impedem de estar em movimento, quando são confrontadas com as inevitáveis situações de transtorno, muitas vezes recorrentes, muitas vezes parecidíssimas com algo que já sofreram antes, têm a tendência em reforçar suas decisões baseadas nos mesmos velhos conceitos e valores sem se aperceberem que são eles a fonte deste ciclo vicioso. Isso é irresponsabilidade. No pior dos casos, apenas estupidez.

Não podemos nos exigir um modo de vida Kantiano (por mais que eu simpatize com ele) e devemos ‘pegar leve’ conosco, afinal, qualquer fino material rompe-se com pressão. Mas talvez não devêssemos deixar acumular tantas coisas. Talvez se fizéssemos uma ‘faxina’ mental mais seguida, estaríamos mais prumados para tomar decisões com menos leviandade e logo, diminuir os conflitos futuros e aqui, responsabilidade e decisão estariam de mãos dadas.

O que quer que funcione para você ter uma vida mais equilibrada e com menos percalços. De qualquer forma, é só um pensamento...

Que sejam responsáveis por ter uma boa semana.

Eduardo Divério.


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