domingo, janeiro 17, 2021

 

Dívida histórica para dummies.

 

De forma sussinta, pessoa jurídica é uma entidade formada por indivíduos e reconhecida pelo Estado como detentora de direitos e deveres, ou seja, uma empresa. Tem CPF próprio, conta bancária, um corpo físico como prédios ou outras locações, financia eventos e projectos, mas sua gestão é feita por pessoas físicas que compõe a admnistração mas e que são na vaerdade, empregados desta mesma empresa.

Em 1993 uma grande e poderosa empresa Americana na Califórnia foi denunciada pelo mal gerenciamento do uso e descarte de materias químicos que acabaram por contaminar o solo e as águas. Em consequência disso, dezenas de famílias naquela área passaram a lidar com doenças crónicas e mesmo com a morte de entes próximos. Este evento foi imortalizado pelo cinema no filme Erin Brockovich. A empresa foi condenada pela a justiça a pagar indemnizações às famílias e a mudar os métodos de uso dos produtos químicos para garantir a segurança de suas áreas.

Mas quem exactamente foi responsabilizado? A empresa ou os seus dirigentes? A empresa. Na verdade, talvez, quem estivesse à frente das decisões como CEO na época do envenenamento já não fosse mais o mesmo CEO pela altura da decisão da justiça. Talvez os próprios membros do conselho directivo também não fossem mais os mesmos. Independente de quais pessoas físicas estavam no comando desta empresa no momento da sentença judicial, a empresa teve de assumir a  responsabiidade sobre as consequências dos seus actos no passado. Note, o futuro de dezenas de pessoas e mesmo sua hereditariedade ficou comprometida; foram-lhes tirada a habilidade de levar uma vida no mesmo curso, com os mesmos recursos, de quem não foi afectado pelo tal envenenamento.

Mas uma indemnização financeira, a condeção carcerária de um assassino ou um pedido de desculpas resolvem o assunto em defenitivo e tudo volta ao normal? Claro que não. Se a pessoa que atropelou e matou seu filho porque estava bêbada ao volante de um carro for presa e a mando da justiça lhe pagar um milhão de compensação, ainda assim isso não anula a dor da perda, o trauma diário de ter que seguir sua vida depois de sentir que a mesma se foi junto com a morte de seu filho, ainda que no conforto material que um milhão pode prover. O nascer do sol, o Natal, festas de aniversários, casamentos, nunca mais serão gozados da mesma forma por este pai, até o dia de sua morte. Porque esta perda e tudo o se deixou de viver por causa dela, não pode ser compensada ou resgatada. Da mesma forma, o condutor culpado também, até o dia de sua morte, estará em dívida com este pai de algo que jamais se reestabelecerá, da mesma forma que a empresa Californiana terá sempre uma dívida com aqueles que sua má gerencia afectou. Uma dívida que não pode ser paga pela própria impossibilidade inerente a sua natureza. Uma dívida histórica.

Então, em termos práticos; é o século XXI responsável pela escravidão negra no século XVII? Claro que não, mas da mesma forma que a adminstração no corrente  comando da empresa Americana que envenou o solo (estando eles ou não envolvidos na origem no problema) foi a que teve de se retratar, também o século XXI. Contudo, sendo o século XXI uma espécie de pessoa jurídica, cabe ao seus empregados correntes fazê-lo.  Por que? Porque a forma como a humanidade era observada no século XVII causou danos irreversíveis e irrecuperáveis para diferentes grupos étnicos. Aos Afro-desencendentes, foram atribuídos predicados e adjetivos que moldaram e deformaram a forma como as futuras gerações os tratariam.  Toda a pessoa de aparência originariamente Africana hoje, sofreu e ainda sofre pela falta de recursos e habilidades que lhes foram negados ou retirados por exercício de repetição decorrente dessa péssima percepção da nossa evolução num ponto da história.

Nenhuma dívida precreve enquanto ainda existir alguém sendo cobrado pelo débito.

Os Britãnicos de modo geral têm uma forma empatética e cautelosa de lidar com memórias do imperialismo e isso passa uma mensagem de respeito, de consciência, de suporte, de garantia aos seus actuais compatriotas. Quase uma promessa.

Na psicoterapia, não importa a abordagem escolhida, no fim, fatalmente tudo recaí sobre a irrefutável necessidade se assurmirmos a nossa responsabilidade no problema, qualquer que seja ele. Mesmo uma criança dominada por uma mãe, apesar da mãe ser o adulto e detentora do poder, o adulto outrora crainça precisa se resposanilizar pelas decisões, conscientes ou não, de ter sucumbido, concordado ou compactuado psicologicamente à pressão. Onde as abordagens se diferenciam é que algumas acreditam que o reconhecimento ou o arrependimento da mãe hão de gerar um sentimento de compensação e quiça,  eliminar a impressão do impossível, do não importa o que se faça perde-se na mesma.  

 

Eduardo Saldanha Diverio.

    

 


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