segunda-feira, julho 23, 2012

 

Psicologia Inteligente



Quando Coco Chanel subiu cerca de 10 cm a bainha das saias, ela causou furor no mundo da moda. Não tanto pelo aspecto  artístico, mas pelo efeito social que criara, pois era arrojado, quase corajoso para uma mulher, mostrar os tornozelos pela década de 20 do século passado.

Mas o que se dizia de uma mulher que se permitisse se exibir assim publicamente?

Quando eu era criança, roupa íntima não era suposto ser vista. Nunca. Logo, em contrapartida a esta regra, concluía-se, com alguma segurança, que as pessoas que revelavam suas peças interiores, ou mesmo apenas parte delas, eram pessoas de moral questionável, ‘sexualizadas’, que trabalhavam o erotismo na sua imagem. E claro que por ter uma sugestão sexual, mais uma lista de outros adjetivos eram aplicados a estas pessoas.

Mas hoje roupa íntima tem grife e até é acessório do vestuário e mostrá-la, já não tem mais nenhuma conotação de desejo sexual, de erotismo. Quiçá, sensualidade, quando de bom gosto. Óbvio que qualquer adolescente que tenha crescido vendo os adultos pela rua, TV e eventos sociais usando deste recurso, encara-o como normal, como ‘feijão com arroz’ e não só, ainda acha estranho quando se comenta que há 20 anos apenas uma prostituta se vestiria assim. Referências...

O que temos é uma miscelânea de gerações, mais ou menos flexíveis com o que aprenderam, mais ou menos tradicionais quanto a conceitos e sugestões, mas a tendência matemática desta evolução é de se encarar o fato com a mesma normalidade que se encara uma blusa.

Note, não estou ignorando o fato de que há formas e formas de se revelar a roupa interior e este comportamento sim, poderá ainda estar sucessível a antigos julgamentos de comportamento sexual.

Quando eu estava entrando na fase adulta, era feio comentar se praticávamos sexo oral. Na verdade, era um autêntico tabu e só mesmo com os amigos mais chegados trocávamos este tipo de detalhes. Mas hoje em dia, qualquer filme americano da sessão da tarde tem menção a sexo oral. Aliás, eu diria que hoje em dia o estranho seria não praticá-lo!

Como estes, há uma série de outros conceitos, ideias entre nós, sugerindo conotações há muito esquecidas no tempo, sem revisão. E todos nós estamos sujeitos a este mau uso, a esta tendência permissiva de analisar eventos com uma mente curta.

A psicologia é dinâmica porque o comportamento humano assim também o é. Evoluímos, mas nossa evolução é confusa, pois fisicamente, no mundo que nos cerca, é muito mais rápida do que racionalmente, o mundo como lemos. A mente humana precisa de tempo para se reeducar, para automatizar coisas, enfim.

Por exemplo, o micro-ondas foi inventado na década de 60, mas 20 anos depois ainda era artigo de luxo na maioria das cozinhas, como uma série de outros elétricos e eletrônicos.  Há 20 anos, as coisas andavam num passo mais lento, evoluíam de forma mais compassada, mas hoje, com a globalização, e o nível tecnológico que atingimos, ‘todos’ têm de ‘tudo’ de forma muita rápida.
E isso é também uma analogia a quantidade de objetivos que nos impusemos, reflexo da velocidade em que se vivia há 20 anos, em relação àquilo que hoje realmente queremos ou podemos fazer.  Há 20 anos tudo parecia mais estável, mas na verdade, era apenas mais lento...

E este texto nasceu da minha observação sobre o infortúnio daqueles que depositam sua confiança numa ajuda, conselho, profissional ou não, e acabam por ficar mais confusas ainda. Pois afinal, psicologia é como odontologia: está cheia de maus dentistas!

São tempos difíceis, de atropelo, que causam confusão e por isso exacerbam a necessidade subconsciente de ordem que temos e isso, pode levar pessoas a se fixarem em regras que outrora já funcionaram, que outrora já estiveram afinadas no seu tempo e espaço, mas que hoje precisam, de certo, de revisão.

Onde buscamos por nos guiar é a chave do equilíbrio. Como eu acredito.

Uma boa semana a todos.

Eduardo Divério.

terça-feira, julho 17, 2012

 

A Morte não Avisa



Clássico; estava eu no trem retornando para casa, depois de assistir a parada gay em Londres, ter conversado muito com meus amigos, ter me divertido imenso e bebido alguns cocktails, quando resolvo ver as atualizações do meu Facebook pelo blackberry e lá estava, aquele tipo de mensagem que sabemos que pode chegar a qualquer momento, mas que nunca estamos preparados para recebê-la! Um primo direto meu havia falecido e meu irmão mais novo enviou-me a notícia.

Levamos um susto, tornamos a ler a mensagem de novo, a respiração altera-se e há uma ligeira descarga de adrenalina no plexo solar. Para mais, porque não estamos nada à espera que parentes mais novos do que nós, numa faixa etária ainda anterior à segunda idade, partam assim, vítimas de doenças.

Na hora pensei na minha mãe, tia próxima do falecido, e do quanto ela poderia estar amedrontada por projeções dela em consequência àquela súbita e inesperada perda, afinal, não é suposto uma mãe enterrar um filho e vivendo ela tão longe de dois de seus filhos, como seria?

Depois lembrei-me de meu irmão caçula, que não só era mais novo do que nosso primo, como também andaram juntos na escola, brincavam juntos e seguiram amigos pela vida adulta. Estaria ele também, alegadamente, amedrontado pela projeção que algo possa lhe acontecer longe de sua família? Estaria eu?

Há alguns anos eu fiz uns acordos com a Vida e com a Morte. Ser um emigrante por mais de 20 anos e ter passado pelas situações que passei, acredito, encaminharam-me de alma leve a esta reunião com as duas ‘entidades’. Mas por mais preparados e avisados que sejamos, é possível que continuemos sendo a mesma pessoa depois de um funeral?

Perda é perda, ponto.  Mas desde antes da descoberta do fogo, muito antes do surgimento da nossa espécie, já se sabia que perdemos parentes, amigos e vizinhos, mas mesmo assim, mais de 195.000 anos depois, ainda precisamos de rituais, ainda sofremos e caímos em profundo estado depressivo perante a morte daqueles que significam algo para nós.

Como que o evento mais inequivocamente seguro que ocorrerá na sua Vida, como que depois de idades de gelo, cataclismos, pragas e pestes, Holocausto, sífilis e AIDS ainda lemos a ‘mensagem’ atônitos, incrédulos, como se alguém no céu tivesse se enganado ou sendo injusto conosco?

Ainda mais estranho para mim é pensar que maioritariamente as pessoas pelo planeta acreditam num Deus e numa crença, que via-de-regra, guia, regula e prepara as pessoas através de suas vidas de forma a se prepararem para suas ‘vidas’ a seguir à morte. Mas se passamos a vida a modular nossas ações porque não só acreditamos que existe um seguimento, como queremos garantir um passe de entrada nesta dimensão, por que raio sofremos tanto?

Saudade, ausência, hábito... sim, está bem. Mas sofrer? Estamos muito longe de sermos uma civilização equilibrada com a nossa natureza. Negação é o que melhor sabemos fazer. Contudo, para mim, negar, não pensar, não aceitar, não querer falar que a morte é parte da vida, ainda é menos grave do que aquilo que fazemos para manter este pensamento esquecido. Viramo-nos para crenças e promessas, chegamos a modular nossa própria vida por elas, pedimos perdão por pecados e tolhemos nossa própria liberdade ‘espiritual’ sem que esta crença pareça nunca ser o suficientemente forte para suportar o inevitável.

Esperamos que nossa morte venha pela velhice, mas pode vir por acidente ou doença. E pode ocorrer daqui a um, dez ou 30 anos. A qualquer hora. E estarmos cientes disso deveria ser a nossa crença mais suprema! Para que não nos submetêssemos tanto a regras estúpidas, para que soubéssemos aproveitar mais e melhor cada momento, cada companhia. Para que a morte de pessoas próximas não nos jogue na cara o quanto nossa vida está atada, o quanto nos forçamos por caminhos que no fundo não nos dizem nada, o quanto certo e errado varia de sotaque para coordenada geográfica para uma idade!

Não tem mestrado ou carreira que compense você ter perdido os primeiro passos do seu filho! Não há promessa feita que justifique levar uma vida em desânimo! Não há mal que não passe! Tem mais gente interessante por se conhecer do que viver na saudade ou lamentação de quem nos esqueceu! Viaje, ame, namore e mantenha seu Facebook sempre ativo, mas não se prive de viver ou não morra antes do tempo.

Que sejamos bravos e avisados de nossa frágil natureza. Afinal, para morrer basta estar vivo.

Uma semana cheia de vida para todos!

Eduardo Diverio.

sábado, julho 07, 2012

 

Responsabilidade



Minha mãe ensinou-me desde pequeno a cumprir horários, honrar compromissos e assumir as consequências de meus atos.  Esta noção, com maior ou menor amplitude de concordância, é bastante comum e acredito que todos têm a percepção do quão responsável são em suas tarefas, no trabalho, na escola, enfim.

Contudo, também acredito, pela minha observação, que este conceito tem andado desligado da real profundidade do papel que desempenha em coisas menos palpáveis, mais subjetivas, mas ainda completamente ligada as nossas decisões.

Decidir é um ato de conhecimento, de entendimento, de contato com o que se quer versos o que se pode, é raciocinar (relevando as emoções na equação, como é óbvio) e exige inteligência, sapiência e acima de tudo, coragem.

Mas quando decidimos por fazer um atalho, por ignorar um assunto, negar uma situação, procrastinar outra, esperar que algo se dissolva por si, que alguém se vá, que alguém chegue, e os reflexos destes eventos geram acontecimentos inesperados num futuro, conseguimos aceitar, discernir, assumir a responsabilidade como nossa de tamanha complicação?

Olho para as pessoas em sofrimento, rebeladas com o desfecho de determinadas ocorrências e vejo-as completamente alienadas da responsabilidade de terem sido elas mesmas quem as conduziram até ali, ou que elas mesmas colocaram-se em provável rota de colisão com um seguimento de sua vida. Chama-me a atenção como frequentemente as pessoas sentem-se injustiçadas pela Vida, traídas pelo destino, quando na verdade, em muitos dos casos, elas estão apenas colhendo o que plantaram.

Acidentes, cataclismos e doenças à parte, quando somos pegos de ‘calças na mão’ e o transtorno toma as rédeas de nossa vida, estaremos nós sofrendo por não sabermos decidir ou porque não temos responsabilidade em assumir as consequências de nossas decisões?

Eu gosto de pensar que um homem não deve ser avaliado pelo seu erro, mas por como ele tenta contornar, desfazer ou corrigir este mesmo erro.  É um fato que muitas vezes não temos estrutura psicológica para tomar uma decisão, que às vezes não temos conhecimento suficiente de nós mesmos ou da subjetividade da questão e ainda, muitas vezes, são nossos próprios conceitos e valores que estavam defasados ou enganados. Logo, parte do que compõe a chave da resolução dos ‘problemas’ é a responsabilidade.

Assumir que nos engamos num julgamento; assumir que preferimos deixar as coisas rolarem ao invés de se ter tomado controle delas; assumir que por descaso, vaidade, presunção, esperança, medo ou burrice nos permitimos ali chegar e isso remove aquela carga esotérica de conspiração do cosmos contra nós. Isso nos dá um chão para firmarmos os pés e entender que esta é a hora de corrigir e contornar, quiçá.

Pessoas confusas que não buscam alinhamento de ideias, esclarecimento, conhecimento, que modulam suas vidas numa rotina que as impede de viver de forma plena, que as impedem de estar em movimento, quando são confrontadas com as inevitáveis situações de transtorno, muitas vezes recorrentes, muitas vezes parecidíssimas com algo que já sofreram antes, têm a tendência em reforçar suas decisões baseadas nos mesmos velhos conceitos e valores sem se aperceberem que são eles a fonte deste ciclo vicioso. Isso é irresponsabilidade. No pior dos casos, apenas estupidez.

Não podemos nos exigir um modo de vida Kantiano (por mais que eu simpatize com ele) e devemos ‘pegar leve’ conosco, afinal, qualquer fino material rompe-se com pressão. Mas talvez não devêssemos deixar acumular tantas coisas. Talvez se fizéssemos uma ‘faxina’ mental mais seguida, estaríamos mais prumados para tomar decisões com menos leviandade e logo, diminuir os conflitos futuros e aqui, responsabilidade e decisão estariam de mãos dadas.

O que quer que funcione para você ter uma vida mais equilibrada e com menos percalços. De qualquer forma, é só um pensamento...

Que sejam responsáveis por ter uma boa semana.

Eduardo Divério.


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