domingo, setembro 24, 2006
Outono
O Outono por estas bandas não poderia ter entrado de uma forma mais clássica. Depois de uma longa vaga de tórrido calor, que cooperou para que a península Ibérica fosse mais uma vez devastada pelas queimas, o dia 21 amanheceu cinzento, chuvoso e bem fresco.
Pois foi assim, da noite para o dia, sem aviso. Esta época sempre me cala na alma. Primeiro, por saber que é o início de uma longa temporada de frio, muito, mas muito maior do que aquela que tivemos de calor e depois porque fatalmente ficamos mais introspectivos.
Conheci e desconheci pessoas, assim, também da noite para o dia. Ganhos e perdas contabilizam-se enquanto lavo minhas blusas de Inverno e coloco os cobertores para arejar. Estou triste. Talvez não triste, mas com vontade de estar quietinho, sabem como é?
Quando eu era criança eu tinha a fantasia que à medida que eu fosse envelhecendo, viver seria mais fácil. Mas não. Cada dia parece ser uma nova provação, trazer uma nova dificuldade, mas apesar de já andar há imenso tempo nisso, não quero postular isso como um fato. Ou talvez que seja um fato mas não com este fado. Talvez eu ainda não tenha entrado no rítimo, talvez eu mantenha uma expectativa que minha infantil fantasia se concretize e talvez ainda, eu precise da consciência desta dificuldade de forma que eu não mais seja pego de surpresa, assim, da noite para o dia.
Como as folhas desta época, minhas lembranças amarelam-se. Refletem-se nos meus álbuns de fotografias, nos meus livros e textos e seguimos, estação a pós estação construindo mais delas, a espera da primavera, que sempre chega, que sempre vem.
Esta semana não haverá crítica, conselho, comentário ou julgamentos. Quero desejar a todos um bom início de temporada, que estejam fortes, que sejam firmes e que tentem ao máximo criar momentos de felicidade. Para aqueles que iniciam outra época, noutra parte do mundo, que o descanso seja profundo e que alegria duradoura, recarreguem-se, pois lembrem-se que assim, da noite para do dia, tudo pode mudar.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
O Outono por estas bandas não poderia ter entrado de uma forma mais clássica. Depois de uma longa vaga de tórrido calor, que cooperou para que a península Ibérica fosse mais uma vez devastada pelas queimas, o dia 21 amanheceu cinzento, chuvoso e bem fresco.
Pois foi assim, da noite para o dia, sem aviso. Esta época sempre me cala na alma. Primeiro, por saber que é o início de uma longa temporada de frio, muito, mas muito maior do que aquela que tivemos de calor e depois porque fatalmente ficamos mais introspectivos.
Conheci e desconheci pessoas, assim, também da noite para o dia. Ganhos e perdas contabilizam-se enquanto lavo minhas blusas de Inverno e coloco os cobertores para arejar. Estou triste. Talvez não triste, mas com vontade de estar quietinho, sabem como é?
Quando eu era criança eu tinha a fantasia que à medida que eu fosse envelhecendo, viver seria mais fácil. Mas não. Cada dia parece ser uma nova provação, trazer uma nova dificuldade, mas apesar de já andar há imenso tempo nisso, não quero postular isso como um fato. Ou talvez que seja um fato mas não com este fado. Talvez eu ainda não tenha entrado no rítimo, talvez eu mantenha uma expectativa que minha infantil fantasia se concretize e talvez ainda, eu precise da consciência desta dificuldade de forma que eu não mais seja pego de surpresa, assim, da noite para o dia.
Como as folhas desta época, minhas lembranças amarelam-se. Refletem-se nos meus álbuns de fotografias, nos meus livros e textos e seguimos, estação a pós estação construindo mais delas, a espera da primavera, que sempre chega, que sempre vem.
Esta semana não haverá crítica, conselho, comentário ou julgamentos. Quero desejar a todos um bom início de temporada, que estejam fortes, que sejam firmes e que tentem ao máximo criar momentos de felicidade. Para aqueles que iniciam outra época, noutra parte do mundo, que o descanso seja profundo e que alegria duradoura, recarreguem-se, pois lembrem-se que assim, da noite para do dia, tudo pode mudar.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
sábado, setembro 16, 2006
Bodas de Açucar
Durante uns aperitivos, na casa de um amigo, seu partner perguntou a quanto tempo nós estávamos juntos e lembro-me de ter respondido algo como dois anos e meio, ao que ele disse: “…Quem completa três, chega aos cinco, mas nunca ultrapassa os seis.”
Lembro-me que ouvi aquilo com um peso profético. Cheguei mesmo a perder um pouco da postura, não só por ser um comentário pouco delicado, mas por ter passado em procura mental, muito rapidamente, quantos casais eu conheceria que estavam juntos e não me ocorria ninguém que fugisse a tal praga!
Digamos que a probabilidade desta “profecia” ser verdadeira, tem se revelado, empiricamente, bastante alta. Mas o que acontece? Que estranho limite cósmico é este? Será por isso que o sexto ano de casamento é chamado de Bodas de Açúcar? Este casal de amigos separou-se no mesmo ano.
Tenho um pouco de dificuldade em perceber os relatos de casamentos que se desfizeram ao fim de 10, 16, 18 anos e sete meses! Gente, quanto mais tempo precisariam eles para perceber que não eram felizes? Há quanto tempo estavam em luta para tentarem se manter ou, se durante tanto tempo conseguiram gerenciar as diferenças, o que os conduziu ao derradeiro desenlace? Cansaço?
De qualquer forma, as uniões em geral parecem durar menos tempo do que estávamos habituados. Bem, eu tive a oportunidade de estar na festa de Bodas de Ouro de meus avós e meus pais já comemoraram Bodas de Prata Dourada! Mas parece que estas festas são privilégio das gerações anteriores.
Mas então, por que hoje isso dura tão pouco tempo? Penso que não há muito sentido em se juntar com alguém se não for para que seja bom. Logo, se uma união cair numa rotina desenfreada e num marasmo sexual, a tendência será buscar antídoto, ou complemento, a isso. Infelizmente, é sempre mais fácil criar do que manter e uma novidade, sempre traz e acrescenta muito mais as nossas vidas. Isso, talvez explique, mas não justifica, mesmo porquê, provavelmente o casal vai se separar por consequência de tal antídoto, de tais consequências e não porque sua relação já estava falida.
Se a geração de meus avós e a de meus pais parece ir se “aguentando”, o que faculta esta intolerância nos nossos tempos?
Os casais heterossexuais foram estremecidos às bases com a revolução feminina. Quanto mais as mulheres se auto afirmavam como seres humanos capazes, profissionais competentes de peso num mercado, mais elas deixaram apenas de ser domésticas pedagogas numa rotina silenciosa, machista e quase muçulmana. Lentamente, esta estrutura vem caindo por terra e um autêntico duelo de Titãs é o que se pode ver.
Por sua vez, os casais homossexuais, “Titãs” por natureza, têm a tendência em constituírem suas relações com moldes trazidos da infância, ou seja, com muitas figurações associadas ao sexo oposto, o que dificulta a adaptação interior, o assentar psicológico como parceiro, numa possível confusão de papéis a desempenhar e/ou a espera de se ver desempenhado. Não só, a própria dita revolução feminina, veio confundir mais ainda estas figuras, onde o feminino e o masculino, aos poucos, só se diferenciam na anatomia.
Este grupo não ter arquétipos de apoio para alusões psicológicas aos estados emocionais das pessoas, frente a possibilidade de viver o amor, é preciso entendermos o que os move e quais as “personagens” em questão. Não existe uma gata borralheira gay e nem uma fábula ou mito, popular o suficiente, que possa gerar um padrão, uma norma de análise e de arranque.
Mas talvez a resposta não esteja na orientação sexual. Haverá, obviamente, atenuantes e agravantes relacionadas aos grupos. Contudo, depois da grande explosão de exercício do ego, iniciado na década de 80, eu arrisco a começar em justificar por aí.
O exercício do EU quero que seja assim; EU não quero que faças isso; EU quero ser entendido; EU preciso do meu espaço; EU tenho as minhas necessidades, pode ter revoltado a “Cinderela que existe em nós” de uma tal forma, que provavelmente ela não quis mais fazer limpezas! Mas com isso quero dizer que nas últimas décadas, temos nos afastado do costume, do hábito de se pensar em “NÓS” e até “NELES”. Ok, é verdade que era necessário. É verdade que foi libertador, mas nem tanto ao céu, nem tanto à terra!
Na minha opinião, amor, por si só, não mantém uma relação. Pensem lá em todas as pessoas que vocês ouviram, no passado, dizerem que os amavam. Onde estão agora? Mas talvez eu esteja abrindo um mau precedente aqui. Deixe-me corrigir. Eu acredito que o amor é um sentimento que se alimenta, que se exercita. Logo, se não houver uma psicologia aplicada que saiba reconhecer, trabalhar, amadurecer na relação, o alimento são chegará a tempo e o amor faltará, aí, como razão para este relacionamento não continuar. Neste âmbito, sim, o amor é a razão para se manter uma união. Mas ele, o amor, não é auto-suficiente ou sequer tem o poder de surgir e sumir assim, como o ligar ou desligar de uma lâmpada.
Então, este processo de “alimentação” é que deve ser claro e não tratado como uma questão óbvia, absoluta, na qual tem sido nada clara a confundida com “amar é tudo”. Alguém que desmembre este verbo intransitivo sem que seja em prosa ou verso, por favor!?
Amor é o sentimento, a fragrância. Amar, é cuidar, ouvir, respeitar, esperar (no sentido de retorno), ser grato e principalmente, desejar que dure, desejar que seja sempre bom para se que tenha motivação para o exercício, afinal, até mesmo a Cinderela teve direito a baile, roupas finas, criadagem e beijo na boca.
Este texto é dedicado ao sexto ano de casamento que completei.
Boa semana a todos.
Eduardo Divério.
Durante uns aperitivos, na casa de um amigo, seu partner perguntou a quanto tempo nós estávamos juntos e lembro-me de ter respondido algo como dois anos e meio, ao que ele disse: “…Quem completa três, chega aos cinco, mas nunca ultrapassa os seis.”
Lembro-me que ouvi aquilo com um peso profético. Cheguei mesmo a perder um pouco da postura, não só por ser um comentário pouco delicado, mas por ter passado em procura mental, muito rapidamente, quantos casais eu conheceria que estavam juntos e não me ocorria ninguém que fugisse a tal praga!
Digamos que a probabilidade desta “profecia” ser verdadeira, tem se revelado, empiricamente, bastante alta. Mas o que acontece? Que estranho limite cósmico é este? Será por isso que o sexto ano de casamento é chamado de Bodas de Açúcar? Este casal de amigos separou-se no mesmo ano.
Tenho um pouco de dificuldade em perceber os relatos de casamentos que se desfizeram ao fim de 10, 16, 18 anos e sete meses! Gente, quanto mais tempo precisariam eles para perceber que não eram felizes? Há quanto tempo estavam em luta para tentarem se manter ou, se durante tanto tempo conseguiram gerenciar as diferenças, o que os conduziu ao derradeiro desenlace? Cansaço?
De qualquer forma, as uniões em geral parecem durar menos tempo do que estávamos habituados. Bem, eu tive a oportunidade de estar na festa de Bodas de Ouro de meus avós e meus pais já comemoraram Bodas de Prata Dourada! Mas parece que estas festas são privilégio das gerações anteriores.
Mas então, por que hoje isso dura tão pouco tempo? Penso que não há muito sentido em se juntar com alguém se não for para que seja bom. Logo, se uma união cair numa rotina desenfreada e num marasmo sexual, a tendência será buscar antídoto, ou complemento, a isso. Infelizmente, é sempre mais fácil criar do que manter e uma novidade, sempre traz e acrescenta muito mais as nossas vidas. Isso, talvez explique, mas não justifica, mesmo porquê, provavelmente o casal vai se separar por consequência de tal antídoto, de tais consequências e não porque sua relação já estava falida.
Se a geração de meus avós e a de meus pais parece ir se “aguentando”, o que faculta esta intolerância nos nossos tempos?
Os casais heterossexuais foram estremecidos às bases com a revolução feminina. Quanto mais as mulheres se auto afirmavam como seres humanos capazes, profissionais competentes de peso num mercado, mais elas deixaram apenas de ser domésticas pedagogas numa rotina silenciosa, machista e quase muçulmana. Lentamente, esta estrutura vem caindo por terra e um autêntico duelo de Titãs é o que se pode ver.
Por sua vez, os casais homossexuais, “Titãs” por natureza, têm a tendência em constituírem suas relações com moldes trazidos da infância, ou seja, com muitas figurações associadas ao sexo oposto, o que dificulta a adaptação interior, o assentar psicológico como parceiro, numa possível confusão de papéis a desempenhar e/ou a espera de se ver desempenhado. Não só, a própria dita revolução feminina, veio confundir mais ainda estas figuras, onde o feminino e o masculino, aos poucos, só se diferenciam na anatomia.
Este grupo não ter arquétipos de apoio para alusões psicológicas aos estados emocionais das pessoas, frente a possibilidade de viver o amor, é preciso entendermos o que os move e quais as “personagens” em questão. Não existe uma gata borralheira gay e nem uma fábula ou mito, popular o suficiente, que possa gerar um padrão, uma norma de análise e de arranque.
Mas talvez a resposta não esteja na orientação sexual. Haverá, obviamente, atenuantes e agravantes relacionadas aos grupos. Contudo, depois da grande explosão de exercício do ego, iniciado na década de 80, eu arrisco a começar em justificar por aí.
O exercício do EU quero que seja assim; EU não quero que faças isso; EU quero ser entendido; EU preciso do meu espaço; EU tenho as minhas necessidades, pode ter revoltado a “Cinderela que existe em nós” de uma tal forma, que provavelmente ela não quis mais fazer limpezas! Mas com isso quero dizer que nas últimas décadas, temos nos afastado do costume, do hábito de se pensar em “NÓS” e até “NELES”. Ok, é verdade que era necessário. É verdade que foi libertador, mas nem tanto ao céu, nem tanto à terra!
Na minha opinião, amor, por si só, não mantém uma relação. Pensem lá em todas as pessoas que vocês ouviram, no passado, dizerem que os amavam. Onde estão agora? Mas talvez eu esteja abrindo um mau precedente aqui. Deixe-me corrigir. Eu acredito que o amor é um sentimento que se alimenta, que se exercita. Logo, se não houver uma psicologia aplicada que saiba reconhecer, trabalhar, amadurecer na relação, o alimento são chegará a tempo e o amor faltará, aí, como razão para este relacionamento não continuar. Neste âmbito, sim, o amor é a razão para se manter uma união. Mas ele, o amor, não é auto-suficiente ou sequer tem o poder de surgir e sumir assim, como o ligar ou desligar de uma lâmpada.
Então, este processo de “alimentação” é que deve ser claro e não tratado como uma questão óbvia, absoluta, na qual tem sido nada clara a confundida com “amar é tudo”. Alguém que desmembre este verbo intransitivo sem que seja em prosa ou verso, por favor!?
Amor é o sentimento, a fragrância. Amar, é cuidar, ouvir, respeitar, esperar (no sentido de retorno), ser grato e principalmente, desejar que dure, desejar que seja sempre bom para se que tenha motivação para o exercício, afinal, até mesmo a Cinderela teve direito a baile, roupas finas, criadagem e beijo na boca.
Este texto é dedicado ao sexto ano de casamento que completei.
Boa semana a todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, setembro 11, 2006
Incompatibilidade.
A incompatibilidade, na minha opinião, não se discute, não se argumenta. Lamenta-se e seguimos com nossas vidas. Claro que isso é de uma forma geral, pois nas relações mais próximas, a tendência natural, e equilibrada, será a de tentar achar uma melhor forma de se conviver com ela.
Às vezes, por iniciativa alheia, ela até se dissolve, como se fato fosse um comportamento, uma característica adquirida que estava crescendo sem que se tivesse consciência. A pessoa sendo confrontada, alertada desta “nova situação” acaba por ter chance de expurgá-la.
É notável como pessoas que se conhecem a imenso tempo podem atravessar uma fase de tamanha incompatibilidade que apesar de todo o carinho, fundamentado em saudáveis memórias do passado, torna o convívio cansativo. O problema é saber se esta fase não passará a ser um “estilo de vida”.
Penso que vamos adquirindo comportamentos e manias, ou em outras palavras, vamos envelhecendo. Quando era criança, eu me perguntava por que meu avô era tão ransinza. Mais tarde, perguntava-me se ele sempre teria sido assim. Se não, quando aquilo teria começado?
Eu vivo num constante processo do exercício de desafirmação de alguns comportamentos que eu adquiri quando criança. Quero que sejam diferentes, então estou sempre atento e esforço-me para evitá-los ou controlá-los, de forma que eventualmente eu ganhe esta batalha. Então ocorreu-me que este é exatamente o processo em que vamos adquirindo incompatibilidades com o mundo, só que ao inverso.
Amigos, num passado nem tão distante, que varavam madrugadas a dentro com risadas, piadas e todos os ruídos provenientes de um encontro de final de semana, hoje, depois de serem pais, pedem-nos para falar baixo.
Outros, que se acabavam numa pista de dança no meio de toda aquela gente, hoje não suportam passar mais do que uma hora num bar movimentado. E assim vamos. Nosso sono parece ficar cada vez mais leve e qualquer coisa nos acorda. O rádio do vizinho está sempre num volume no limite do desrespeito e o cachorro ladrando na rua, deveria ser levado pela “carrocinha” e virar sabão!
Quando é que estas coisas começam a nos incomodar e sem que percebamos, passamos a postulá-las, hora após hora, até que nos transformamos naquele “velho da praça” de nossas infâncias?
O mundo globalizado esmagou o tempo em que testes vocacionais ajudavam-nos a escolher nossa profissão. Hoje, seguimos o mercado. Ajustamo-nos ao jogo na tentativa de se poder manter alguns de nossos sonhos e ideais de vida. Obviamente, o preço que se paga por isso é alto, contudo, idealismos à parte, não vejo que tenhamos tantas opções assim. (Considerando o que queremos manter. Opções sempre existem, seguidas de suas consequências, aí, talvez, incompatíveis com nossos sonhos e ideias).
Vamos cansando, vamos tendo que centrar nossas forças numa autêntica engenharia de sobrevivência e acabamos por nos sentir esgotados e sem paciência para lidarmos com coisas menores. Talvez, estas coisas sempre teriam incomodado. Contudo, como imunes, tínhamos um antídoto, algo que nos protegia, tornando-as imperceptíveis.
Aos poucos, o desgaste nos expõe e nos confronta com realidades onde podemos exercitar a vontade e neste exercício, nos fechamos. Reafirmamos pequenos comportamentos, nos distanciamos, nos privamos, deixamos de ter prazer em pequenas coisas, na ilusão que temos controle, que somos adultos e que tudo está bem.
Mas estas incompatibilidades práticas, até são geríveis para todos e entre todos. Pior são aquelas em que nem saindo da sala ou evitando certas situações com as pessoas, podemos salvar o convívio. A incompatibilidade moral e ideológica é determinante na minha opinião.
Quando conhecemos alguém e percebemos, ou sentimos, que “não vai rolar”, não alimentamos a relação e nos afastamos desta pessoa. Mas as pessoas mudam, ou envelhecem, e aí já podem estar nas nossas vidas por um longo tempo.
É natural mudar. Mudamos de visão política, religiosa e emocional. Quer por amadurecimento, quer por pura reação empírica, positiva ou não, e estas são incompatibilidades que de fato, não podemos nos debater contra. Respeitamos e se não der para nos adaptarmos, que ao menos as memórias assinalem o que de bom já existiu. Portanto, não há muito o que ser dito.
Eu não sei o velho que eu quero ser, mas sei o velho que eu não quero ser! E ele já está mim, faz-se do meu agora, enquanto escrevo este texto.
Se não podemos eliminar fardos pesados, que possamos então nos deliciar e nos perder em pequenos prazeres, em boas escolhas. Que saibamos valorizar nossa juventude, que saibamos ser exemplo para os mais novos, que não alimentemos neuroses, manias e caprichos e que acima de tudo, não nos tornemos num velho ransinza.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
A incompatibilidade, na minha opinião, não se discute, não se argumenta. Lamenta-se e seguimos com nossas vidas. Claro que isso é de uma forma geral, pois nas relações mais próximas, a tendência natural, e equilibrada, será a de tentar achar uma melhor forma de se conviver com ela.
Às vezes, por iniciativa alheia, ela até se dissolve, como se fato fosse um comportamento, uma característica adquirida que estava crescendo sem que se tivesse consciência. A pessoa sendo confrontada, alertada desta “nova situação” acaba por ter chance de expurgá-la.
É notável como pessoas que se conhecem a imenso tempo podem atravessar uma fase de tamanha incompatibilidade que apesar de todo o carinho, fundamentado em saudáveis memórias do passado, torna o convívio cansativo. O problema é saber se esta fase não passará a ser um “estilo de vida”.
Penso que vamos adquirindo comportamentos e manias, ou em outras palavras, vamos envelhecendo. Quando era criança, eu me perguntava por que meu avô era tão ransinza. Mais tarde, perguntava-me se ele sempre teria sido assim. Se não, quando aquilo teria começado?
Eu vivo num constante processo do exercício de desafirmação de alguns comportamentos que eu adquiri quando criança. Quero que sejam diferentes, então estou sempre atento e esforço-me para evitá-los ou controlá-los, de forma que eventualmente eu ganhe esta batalha. Então ocorreu-me que este é exatamente o processo em que vamos adquirindo incompatibilidades com o mundo, só que ao inverso.
Amigos, num passado nem tão distante, que varavam madrugadas a dentro com risadas, piadas e todos os ruídos provenientes de um encontro de final de semana, hoje, depois de serem pais, pedem-nos para falar baixo.
Outros, que se acabavam numa pista de dança no meio de toda aquela gente, hoje não suportam passar mais do que uma hora num bar movimentado. E assim vamos. Nosso sono parece ficar cada vez mais leve e qualquer coisa nos acorda. O rádio do vizinho está sempre num volume no limite do desrespeito e o cachorro ladrando na rua, deveria ser levado pela “carrocinha” e virar sabão!
Quando é que estas coisas começam a nos incomodar e sem que percebamos, passamos a postulá-las, hora após hora, até que nos transformamos naquele “velho da praça” de nossas infâncias?
O mundo globalizado esmagou o tempo em que testes vocacionais ajudavam-nos a escolher nossa profissão. Hoje, seguimos o mercado. Ajustamo-nos ao jogo na tentativa de se poder manter alguns de nossos sonhos e ideais de vida. Obviamente, o preço que se paga por isso é alto, contudo, idealismos à parte, não vejo que tenhamos tantas opções assim. (Considerando o que queremos manter. Opções sempre existem, seguidas de suas consequências, aí, talvez, incompatíveis com nossos sonhos e ideias).
Vamos cansando, vamos tendo que centrar nossas forças numa autêntica engenharia de sobrevivência e acabamos por nos sentir esgotados e sem paciência para lidarmos com coisas menores. Talvez, estas coisas sempre teriam incomodado. Contudo, como imunes, tínhamos um antídoto, algo que nos protegia, tornando-as imperceptíveis.
Aos poucos, o desgaste nos expõe e nos confronta com realidades onde podemos exercitar a vontade e neste exercício, nos fechamos. Reafirmamos pequenos comportamentos, nos distanciamos, nos privamos, deixamos de ter prazer em pequenas coisas, na ilusão que temos controle, que somos adultos e que tudo está bem.
Mas estas incompatibilidades práticas, até são geríveis para todos e entre todos. Pior são aquelas em que nem saindo da sala ou evitando certas situações com as pessoas, podemos salvar o convívio. A incompatibilidade moral e ideológica é determinante na minha opinião.
Quando conhecemos alguém e percebemos, ou sentimos, que “não vai rolar”, não alimentamos a relação e nos afastamos desta pessoa. Mas as pessoas mudam, ou envelhecem, e aí já podem estar nas nossas vidas por um longo tempo.
É natural mudar. Mudamos de visão política, religiosa e emocional. Quer por amadurecimento, quer por pura reação empírica, positiva ou não, e estas são incompatibilidades que de fato, não podemos nos debater contra. Respeitamos e se não der para nos adaptarmos, que ao menos as memórias assinalem o que de bom já existiu. Portanto, não há muito o que ser dito.
Eu não sei o velho que eu quero ser, mas sei o velho que eu não quero ser! E ele já está mim, faz-se do meu agora, enquanto escrevo este texto.
Se não podemos eliminar fardos pesados, que possamos então nos deliciar e nos perder em pequenos prazeres, em boas escolhas. Que saibamos valorizar nossa juventude, que saibamos ser exemplo para os mais novos, que não alimentemos neuroses, manias e caprichos e que acima de tudo, não nos tornemos num velho ransinza.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
domingo, setembro 03, 2006
Enlatado Americano para iludir Brasileiro
Semana passada eu fui assistir ao filme Ask the Dust. Esta produção, que na minha opinião até prometia ser um bom filme, revelou-se numa penosa experiência onde, não só me senti cansado como aflito, pelo trabalho ter sido tão mal feito.
Mas esta pequena introdução não é para atacar a Cruise/Wagner produtora ou ainda a Paramount Classics. É que, da esperança de ainda poder existir algo no cinema americano que possa ser visto, surgiu esta grande decepção e então ocorreu-me o porquê cada vez mais, eu estou mais desgostoso com esta indústria.
O cinema não precisa ser sempre maravilhoso e “cabeça”, afinal, nada como um bom entretenimento. Algo mesmo banal que nos afaste do dia-a-dia e nos projete em fantasiosas situações. Perseguições, tiroteios, naves intergaláticas, enfim, seja o que for, fica sempre bem justificado neste universo.
Mas quando o cinema resolve querer dar um ar em que “a arte imita a vida” e esta é mesmo a proposta artística de tal película, o buraco parece-me ser mais abaixo! Esta nação ganha longe em tudo o que pode ser de mais incorreto em comportamentos!
Personagens que representam pessoas comuns ameaçam a vida a outros, com frases densas, facas, armas de fogo e ou com planos mirabolantes de vingança. A frequência com que as personagens parecem resolver seus problemas simplesmente matando alguém, ou ainda, mostrando uma mega determinação em executar um plano de vingança e sequestro, impressiona! Fazem de tudo e mais um pouco ao volante de um carro e criam diálogos de pura troca de ofensas raciais e religiosas! O exercício do mau gosto e falta de respeito para com outros.
Já notaram que os filmes que andam aí são autênticas “receitas de bolo” e que suas mensagens nada trazem ou contribuem para a vida de alguém? Um entretenimento neurótico e doentio, eu digo! Encontrar lazer e prazer em sistemáticas estórias onde o respeito pelo ser humano, e por outras nações, não existe, é lamentável e infeliz. Nunca alimentei o cliché do cinema de circuito comercial não prestar, sempre o encarei como uma via, um estilo. Contudo, sempre existe responsabilidade naquilo o que se faz.
Na pequena tela, por exemplo, Despered House Wives, uma das mais célebres e mediáticas séries do momento que agora invadem nossos lares com suas intrigas. Uma rua que serve de cenário para quatro mulheres, e suas respectivas famílias, que protagonizam o suposto quotidiano de suas vidas num subúrbio americano de classe média-alta. Com muito humor, é verdade, tenho visto e ouvido a um verdadeiro show de insultos! Cinismo, vingança e morte são as intrigas base. Mas o que há de errado conosco?
A escolha é sempre nossa. Talvez precisamos aprender a ser mais críticos com o que nos permitimos assistir, com aquilo a que permitimos que nossas ondas cerebrais vibrem. Não me parece má ideia zelar coerentemente pelas idéias as quais, pelo menos, deveríamos exercitar mais entre os seres humanos.
Agora, tão pouco tempo depois dos atentados de 11 de Setembro, já temos dois filmes sobre o assunto. O vôo 93 e a estória protagonizada por Nicolas Cage de um bombeiro que sobrevive ao acidente, ou algo por esta linha! Imagino o festival de absurdos que virão daí!
Lembro-me de quando eu era pequeno. Ansiávamos pela estreia em televisão de um filme, que havia estado no cinema tipo 6, 8 anos atrás, e que lá pelas tantas, meu pai levantava-se, desistindo da sessão a dizer:
“_ Eah! Enlatado americano para iludir brasileiro!”
Imagino que fosse uma alusão ao fato de os Estados Unidos ter estado em grande na exportação de produtos enlatados entre as décadas de 50 e 60. De qualquer forma, já lá atrás no tempo, parece que seus produtos já tinham fama…
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério.
Semana passada eu fui assistir ao filme Ask the Dust. Esta produção, que na minha opinião até prometia ser um bom filme, revelou-se numa penosa experiência onde, não só me senti cansado como aflito, pelo trabalho ter sido tão mal feito.
Mas esta pequena introdução não é para atacar a Cruise/Wagner produtora ou ainda a Paramount Classics. É que, da esperança de ainda poder existir algo no cinema americano que possa ser visto, surgiu esta grande decepção e então ocorreu-me o porquê cada vez mais, eu estou mais desgostoso com esta indústria.
O cinema não precisa ser sempre maravilhoso e “cabeça”, afinal, nada como um bom entretenimento. Algo mesmo banal que nos afaste do dia-a-dia e nos projete em fantasiosas situações. Perseguições, tiroteios, naves intergaláticas, enfim, seja o que for, fica sempre bem justificado neste universo.
Mas quando o cinema resolve querer dar um ar em que “a arte imita a vida” e esta é mesmo a proposta artística de tal película, o buraco parece-me ser mais abaixo! Esta nação ganha longe em tudo o que pode ser de mais incorreto em comportamentos!
Personagens que representam pessoas comuns ameaçam a vida a outros, com frases densas, facas, armas de fogo e ou com planos mirabolantes de vingança. A frequência com que as personagens parecem resolver seus problemas simplesmente matando alguém, ou ainda, mostrando uma mega determinação em executar um plano de vingança e sequestro, impressiona! Fazem de tudo e mais um pouco ao volante de um carro e criam diálogos de pura troca de ofensas raciais e religiosas! O exercício do mau gosto e falta de respeito para com outros.
Já notaram que os filmes que andam aí são autênticas “receitas de bolo” e que suas mensagens nada trazem ou contribuem para a vida de alguém? Um entretenimento neurótico e doentio, eu digo! Encontrar lazer e prazer em sistemáticas estórias onde o respeito pelo ser humano, e por outras nações, não existe, é lamentável e infeliz. Nunca alimentei o cliché do cinema de circuito comercial não prestar, sempre o encarei como uma via, um estilo. Contudo, sempre existe responsabilidade naquilo o que se faz.
Na pequena tela, por exemplo, Despered House Wives, uma das mais célebres e mediáticas séries do momento que agora invadem nossos lares com suas intrigas. Uma rua que serve de cenário para quatro mulheres, e suas respectivas famílias, que protagonizam o suposto quotidiano de suas vidas num subúrbio americano de classe média-alta. Com muito humor, é verdade, tenho visto e ouvido a um verdadeiro show de insultos! Cinismo, vingança e morte são as intrigas base. Mas o que há de errado conosco?
A escolha é sempre nossa. Talvez precisamos aprender a ser mais críticos com o que nos permitimos assistir, com aquilo a que permitimos que nossas ondas cerebrais vibrem. Não me parece má ideia zelar coerentemente pelas idéias as quais, pelo menos, deveríamos exercitar mais entre os seres humanos.
Agora, tão pouco tempo depois dos atentados de 11 de Setembro, já temos dois filmes sobre o assunto. O vôo 93 e a estória protagonizada por Nicolas Cage de um bombeiro que sobrevive ao acidente, ou algo por esta linha! Imagino o festival de absurdos que virão daí!
Lembro-me de quando eu era pequeno. Ansiávamos pela estreia em televisão de um filme, que havia estado no cinema tipo 6, 8 anos atrás, e que lá pelas tantas, meu pai levantava-se, desistindo da sessão a dizer:
“_ Eah! Enlatado americano para iludir brasileiro!”
Imagino que fosse uma alusão ao fato de os Estados Unidos ter estado em grande na exportação de produtos enlatados entre as décadas de 50 e 60. De qualquer forma, já lá atrás no tempo, parece que seus produtos já tinham fama…
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério.