segunda-feira, novembro 20, 2006
‘Guys and Dolls’
A beleza para o homem sempre foi, tem sido e acredito que sempre será fundamental. Quando assistimos a um filme, a uma peça, seja o que for que remonte o passado, acompanhamos o desgaste e o desespero das mocinhas em querer parecer o mais atraentes possível, de forma a não ficarem tias solteironas. De fato, de uma modo geral, o que levava um rapaz a procurar uma rapariga era a sua beleza. Podia até ser uma beleza não tão óbvia, mas de certo, não era pelas idéias dela.
Quando ando pelas ruas, noto de tudo. Homens enormes, gordos, muito magros, com piercing, carecas, com cicatrizes, feios, sujos mas, na maioria, com sua companheira ao lado, muitas vezes de uma beleza que até cria um contraste… Curioso. E mulheres? Vemos qualquer tipo de mulher com um companheiro ao lado?
Quando eu era adolescente eu aprendi uma frase popular muito confortante: ‘Sempre tem um chinelo velho para um pé cansado’ ou seja, mesmo que todos os dotes naturais nos falhem ou nos falte, poderemos sempre contar com nossa simpatia e presteza. Mas será mesmo assim? Um prêmio de consolação? A temida faixa de ‘Miss Simpatia’ num concurso de beleza?
Os homens são mesmo assim. Irritantemente ‘irresistentes’ à beleza, como se essa pudesse ser consumida, ingerida e inalada. Mas se o belo é relativo e ‘beleza não põe mesa’, teremos nós, homens, um cérebro incapaz de aceitar que existe felicidade e prazer no menos belo?
O mundo gay, masculino, é de certo o melhor campo de pesquisa nesta área. Ao circularmos por um pub, uma discoteca, uma sauna ou sex club, veremos que as beldades em seus corpos esculpidos e patilhas desenhadas, circulam com seu orgulho equilibrados na ponta de seus queixos, procurando pelas mesmas características no outro, rejeitando olhares e os toques daqueles menos favorecidos, mas nem por isso menos audaciosos ou capacitados.
Existem grupos específicos onde o modelo de beleza é mesmo outro, mas qual fatia devem eles representar neste bolo? Chama-me a atenção a enorme quantidade de pessoas que não reúnem as características do modelo trivial, o de propaganda de perfume, mas que, insistentemente, dolorosamente, mantêm-se na ronda, a espera de um ato falho, de um movimento de clemência ou ainda, da ‘hora da xepa’, quando os ‘deuses mais excitados’ descem do Olimpo e fecham seus olhos aos toques do réles mortais. É sempre um estilo de vida…
Não há o que julgar. Há quem nasça com o aparato todo, há quem nasça com meio aparato ou com dinheiro para adquiri-lo. O resto, bem, os que nem sempre recebem ‘convite para as festas’, se não entrarem num processo corrosivo de lamentação e frustração, são os que acabam por aumentar a variedade e as possibilidades de terem mais prazer, mas não que eu ache que isso seja uma consciência.
Para mim é um fato que o melhor sexo vem sempre dos menos esculpidos, menos belos. Não é um preconceito, é uma característica óbvia de desenvolvimento, de compensação. Se o rosto não é muito bonito e a barriga está longe de ser um six-pack, a performance tem que compensar.
Ninguém é indiferente à beleza e ao desejo de se envolver a ela. Existem apenas pessoas mais ou menos livres…
Acredito que o fator tempo, ou melhor, a idade, é o que acaba por determinar as coisas. Claro que estou me referindo ao que eu entendo como maioria dentro de um padrão. Óbvio, sempre tem que saia da regra e viva em outros grupos!
Ao meu ver, temos aquele grupo dos rapazes entre os 18 e 24/25 que para além de fazerem caras e bocas cinematográficas, mexem-se muito pouco, como se estivem embriagados em sua própria beleza, sentindo-se endeusados (e dentro de seu grupo, estão mesmo).
Depois vem um grupo estranho, os que estão entre 25 e os 35. Confusos, percebem-se estar perdendo – perderam! - os ‘inte’ e drásticas mudanças ocorrem. Seus metabolismos parecem atraiçoa-los, seus cabelos estão em queda, recuando na cabeça, pêlos surgem nos locais menos esperados do corpo e claro, a angústia de manter ou perder peso.
O grupo dos 35 aos 45 reduz-se a olhos vistos! A passagem pelo grupo anterior foi longa e difícil e manter-se belo a esta altura é algo que consome muito tempo. Contudo, é um grupo mais avisado, com um certo orgulho, claro, mas que sabe que os cabelos brancos estão chegando e que cedo a luta contra a gravidade ficará insuportável. São excelentes amantes, mas acho que se confundem entre sua preocupação em serem notados e um estranho senso de gratidão, por terem sido notados.
O grupo dos 45 aos 60 quase não se pode chamar de grupo! Bravos resistentes, são menos exigentes pois, são muito velhos para o primeiro e segundo grupos e muito próximos ao terceiro, que segue na tentativa de manter contato com os dois primeiros. Em geral preocupam-se mais em dar do que receber prazer.
E claro o resto. Todos os que nunca pertenceram a grupo nenhum, mais aqueles que deixaram de pertencer a algum e os acima de 60, que mesmo que mantenham algum charme, bem, estão acima de 60!
Não há saída. É a própria visão, é o próprio conceito que os pais passam aos seus filhos que alimentam este sistema. As pessoas saem a procura de sexo, mas o procuram numa alusão à mesma procura que fazem a um parceiro emocional, como se sexo com prazer não pudesse existir se não for feito com “a beleza”. Eu, diria que isso depende do tipo de “caça” a que se foi proposto: Tem-se sexo por atracão, sexo por carinho, por amor, por aceitação, por domínio, por prazer, por pecado, por consequência, enfim, resmas de razões. Mas estarão as pessoas avisadas de suas motivações ou andam elas bastante confusas no móbil da questão?
Para mim, o fato é que, é-me difícil não notar que a maioria das pessoas, comuns, circulam por aí com suas auto-estimas em baixo, sentindo-se rejeitadas e desejosas de serem amadas e tocadas. Tem que ter algo de muito errado com a raça humana. Temos que ter evoluído num processo de negação qualquer…
Meu amigo, faça o melhor que puder para se sentir bem, bonito e feliz. Não exija de ninguém o que você não exige de você mesmo, isso vai anular toneladas de angústia e fantasias. Lembre-se que amar alguém, viver com alguém requer muito, mas muito mais do que um passe para alguma academia ou clínica de estética. Se sair para se divertir, divirta-se no universo real. Os “rapazes das revistas” são ficção, nem eles mesmo sabem que existem!
Acima de tudo, seja você do grupo que for, não seja rude, cruel ou mal criado, nunca se sabe do amanhã…
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
A beleza para o homem sempre foi, tem sido e acredito que sempre será fundamental. Quando assistimos a um filme, a uma peça, seja o que for que remonte o passado, acompanhamos o desgaste e o desespero das mocinhas em querer parecer o mais atraentes possível, de forma a não ficarem tias solteironas. De fato, de uma modo geral, o que levava um rapaz a procurar uma rapariga era a sua beleza. Podia até ser uma beleza não tão óbvia, mas de certo, não era pelas idéias dela.
Quando ando pelas ruas, noto de tudo. Homens enormes, gordos, muito magros, com piercing, carecas, com cicatrizes, feios, sujos mas, na maioria, com sua companheira ao lado, muitas vezes de uma beleza que até cria um contraste… Curioso. E mulheres? Vemos qualquer tipo de mulher com um companheiro ao lado?
Quando eu era adolescente eu aprendi uma frase popular muito confortante: ‘Sempre tem um chinelo velho para um pé cansado’ ou seja, mesmo que todos os dotes naturais nos falhem ou nos falte, poderemos sempre contar com nossa simpatia e presteza. Mas será mesmo assim? Um prêmio de consolação? A temida faixa de ‘Miss Simpatia’ num concurso de beleza?
Os homens são mesmo assim. Irritantemente ‘irresistentes’ à beleza, como se essa pudesse ser consumida, ingerida e inalada. Mas se o belo é relativo e ‘beleza não põe mesa’, teremos nós, homens, um cérebro incapaz de aceitar que existe felicidade e prazer no menos belo?
O mundo gay, masculino, é de certo o melhor campo de pesquisa nesta área. Ao circularmos por um pub, uma discoteca, uma sauna ou sex club, veremos que as beldades em seus corpos esculpidos e patilhas desenhadas, circulam com seu orgulho equilibrados na ponta de seus queixos, procurando pelas mesmas características no outro, rejeitando olhares e os toques daqueles menos favorecidos, mas nem por isso menos audaciosos ou capacitados.
Existem grupos específicos onde o modelo de beleza é mesmo outro, mas qual fatia devem eles representar neste bolo? Chama-me a atenção a enorme quantidade de pessoas que não reúnem as características do modelo trivial, o de propaganda de perfume, mas que, insistentemente, dolorosamente, mantêm-se na ronda, a espera de um ato falho, de um movimento de clemência ou ainda, da ‘hora da xepa’, quando os ‘deuses mais excitados’ descem do Olimpo e fecham seus olhos aos toques do réles mortais. É sempre um estilo de vida…
Não há o que julgar. Há quem nasça com o aparato todo, há quem nasça com meio aparato ou com dinheiro para adquiri-lo. O resto, bem, os que nem sempre recebem ‘convite para as festas’, se não entrarem num processo corrosivo de lamentação e frustração, são os que acabam por aumentar a variedade e as possibilidades de terem mais prazer, mas não que eu ache que isso seja uma consciência.
Para mim é um fato que o melhor sexo vem sempre dos menos esculpidos, menos belos. Não é um preconceito, é uma característica óbvia de desenvolvimento, de compensação. Se o rosto não é muito bonito e a barriga está longe de ser um six-pack, a performance tem que compensar.
Ninguém é indiferente à beleza e ao desejo de se envolver a ela. Existem apenas pessoas mais ou menos livres…
Acredito que o fator tempo, ou melhor, a idade, é o que acaba por determinar as coisas. Claro que estou me referindo ao que eu entendo como maioria dentro de um padrão. Óbvio, sempre tem que saia da regra e viva em outros grupos!
Ao meu ver, temos aquele grupo dos rapazes entre os 18 e 24/25 que para além de fazerem caras e bocas cinematográficas, mexem-se muito pouco, como se estivem embriagados em sua própria beleza, sentindo-se endeusados (e dentro de seu grupo, estão mesmo).
Depois vem um grupo estranho, os que estão entre 25 e os 35. Confusos, percebem-se estar perdendo – perderam! - os ‘inte’ e drásticas mudanças ocorrem. Seus metabolismos parecem atraiçoa-los, seus cabelos estão em queda, recuando na cabeça, pêlos surgem nos locais menos esperados do corpo e claro, a angústia de manter ou perder peso.
O grupo dos 35 aos 45 reduz-se a olhos vistos! A passagem pelo grupo anterior foi longa e difícil e manter-se belo a esta altura é algo que consome muito tempo. Contudo, é um grupo mais avisado, com um certo orgulho, claro, mas que sabe que os cabelos brancos estão chegando e que cedo a luta contra a gravidade ficará insuportável. São excelentes amantes, mas acho que se confundem entre sua preocupação em serem notados e um estranho senso de gratidão, por terem sido notados.
O grupo dos 45 aos 60 quase não se pode chamar de grupo! Bravos resistentes, são menos exigentes pois, são muito velhos para o primeiro e segundo grupos e muito próximos ao terceiro, que segue na tentativa de manter contato com os dois primeiros. Em geral preocupam-se mais em dar do que receber prazer.
E claro o resto. Todos os que nunca pertenceram a grupo nenhum, mais aqueles que deixaram de pertencer a algum e os acima de 60, que mesmo que mantenham algum charme, bem, estão acima de 60!
Não há saída. É a própria visão, é o próprio conceito que os pais passam aos seus filhos que alimentam este sistema. As pessoas saem a procura de sexo, mas o procuram numa alusão à mesma procura que fazem a um parceiro emocional, como se sexo com prazer não pudesse existir se não for feito com “a beleza”. Eu, diria que isso depende do tipo de “caça” a que se foi proposto: Tem-se sexo por atracão, sexo por carinho, por amor, por aceitação, por domínio, por prazer, por pecado, por consequência, enfim, resmas de razões. Mas estarão as pessoas avisadas de suas motivações ou andam elas bastante confusas no móbil da questão?
Para mim, o fato é que, é-me difícil não notar que a maioria das pessoas, comuns, circulam por aí com suas auto-estimas em baixo, sentindo-se rejeitadas e desejosas de serem amadas e tocadas. Tem que ter algo de muito errado com a raça humana. Temos que ter evoluído num processo de negação qualquer…
Meu amigo, faça o melhor que puder para se sentir bem, bonito e feliz. Não exija de ninguém o que você não exige de você mesmo, isso vai anular toneladas de angústia e fantasias. Lembre-se que amar alguém, viver com alguém requer muito, mas muito mais do que um passe para alguma academia ou clínica de estética. Se sair para se divertir, divirta-se no universo real. Os “rapazes das revistas” são ficção, nem eles mesmo sabem que existem!
Acima de tudo, seja você do grupo que for, não seja rude, cruel ou mal criado, nunca se sabe do amanhã…
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, novembro 13, 2006
A formiguinha no trem
Não, isto é não uma estória infantil e nem um assunto temático para aulas elementares de algum curso de língua estrangeira. É que esta semana eu estava no trem para Cascais quando vi esta formiguinha, destas pimentinhas (ardedeira, gosto mais), na guarda no acento a minha frente. Meu primeiro pensamento foi esmigalhá-la, mas não num ato de pura maldade, na verdade senti compaixão, pois como ela se alimentaria ali?
Mas enquanto pensava em poupar-lhe de morrer de subnutrição ocorreu-me que de alguma forma ela teria ali chegado, numa estranha probabilidade. Talvez tenha caído na roupa de alguém ou talvez ainda, ela estivesse num galho dessas mudinhas que as “avós” transportam de um lugar para outro, quem sabe? Depois pensei o quão irônico era o fato daquele pequenino ser, que consegue carregar algo até cinco vezes mais pesado do o que o seu próprio peso, estar ali, tão frágil, podendo ser emigalgada a qualquer momento.
Foi difícll não ser pego por autônomas lembranças e sensações que povoaram minha cabeça. Quantas vezes nós embarcamos de forma desavisada em “viagens” para lugares que sequer sabemos onde ficam? Quão longa pode se tornar estas viagens de forma que vamos esmorecendo e perdendo nossas forças, pouco a pouco, da mesma desavisada forma que embarcamos em tal jornada?
Bem, criar metáforas de mudanças relacionas com viagens em minha vida é deveras reduntante e nada original, mas o fato é que as exigências estão aí e é necessário que saibamos, por vezes, em qual estação devemos descer e quiça, atravessar a linha e retornar a estação de origem.
Coincidentemente, enquanto estava mergulhado nos meus pensamentos, a formiga passou da cadeira para as costas do passageiro que ali se sentou e desceram na mesma estação que eu. Eu e a formiga nos perdemos de vista e provavelmente eu nunca mais a verei, e se visse acho que não a reconheceria, mas senti uma espécie de alívio, não só, eu diria que me senti mesmo revigorado, pois afinal, novamente contra pequenas probabalidades, elas tinha saído do trem.
E isso fez pensar nas várias reviravoltas que nossas vidas podem dar. Em todos os momentos em que já havia me sentido “sem saída” e que apesar de tudo, de uma forma ou outra, tinha ali chegado, àquela estação.
O texto desta semana é dedicado a todos que estejam passando por situações delicadas, difíceis, em que o futuro não pareça muito estimulante ou favorável. Estou certo que todos, de uma forma ou de outra, entendem o que quero dizer. Haverá sempre uma estação para se desembercar, talvez não seja a que tenhamos escolhido à priori, mas de certo, há sempre de ser uma opção e uma saída.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Não, isto é não uma estória infantil e nem um assunto temático para aulas elementares de algum curso de língua estrangeira. É que esta semana eu estava no trem para Cascais quando vi esta formiguinha, destas pimentinhas (ardedeira, gosto mais), na guarda no acento a minha frente. Meu primeiro pensamento foi esmigalhá-la, mas não num ato de pura maldade, na verdade senti compaixão, pois como ela se alimentaria ali?
Mas enquanto pensava em poupar-lhe de morrer de subnutrição ocorreu-me que de alguma forma ela teria ali chegado, numa estranha probabilidade. Talvez tenha caído na roupa de alguém ou talvez ainda, ela estivesse num galho dessas mudinhas que as “avós” transportam de um lugar para outro, quem sabe? Depois pensei o quão irônico era o fato daquele pequenino ser, que consegue carregar algo até cinco vezes mais pesado do o que o seu próprio peso, estar ali, tão frágil, podendo ser emigalgada a qualquer momento.
Foi difícll não ser pego por autônomas lembranças e sensações que povoaram minha cabeça. Quantas vezes nós embarcamos de forma desavisada em “viagens” para lugares que sequer sabemos onde ficam? Quão longa pode se tornar estas viagens de forma que vamos esmorecendo e perdendo nossas forças, pouco a pouco, da mesma desavisada forma que embarcamos em tal jornada?
Bem, criar metáforas de mudanças relacionas com viagens em minha vida é deveras reduntante e nada original, mas o fato é que as exigências estão aí e é necessário que saibamos, por vezes, em qual estação devemos descer e quiça, atravessar a linha e retornar a estação de origem.
Coincidentemente, enquanto estava mergulhado nos meus pensamentos, a formiga passou da cadeira para as costas do passageiro que ali se sentou e desceram na mesma estação que eu. Eu e a formiga nos perdemos de vista e provavelmente eu nunca mais a verei, e se visse acho que não a reconheceria, mas senti uma espécie de alívio, não só, eu diria que me senti mesmo revigorado, pois afinal, novamente contra pequenas probabalidades, elas tinha saído do trem.
E isso fez pensar nas várias reviravoltas que nossas vidas podem dar. Em todos os momentos em que já havia me sentido “sem saída” e que apesar de tudo, de uma forma ou outra, tinha ali chegado, àquela estação.
O texto desta semana é dedicado a todos que estejam passando por situações delicadas, difíceis, em que o futuro não pareça muito estimulante ou favorável. Estou certo que todos, de uma forma ou de outra, entendem o que quero dizer. Haverá sempre uma estação para se desembercar, talvez não seja a que tenhamos escolhido à priori, mas de certo, há sempre de ser uma opção e uma saída.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, novembro 06, 2006
Inteligência Insensível
Inteligência: Faculdade que tem o espírito de pensar, conceber, compreender;
capacidade de resolução de novos problemas e adaptação a novas situações; discernimento; juízo, raciocínio; talento; compreensão fácil, nítida, perfeita, profunda de coisas; apreensão, percepção; pessoa de grande capacidade intelectual.
Basicamente estas são as definições que podem ser encontradas em dicionários para esta palavra. Contudo, sinto que ainda falta qualquer coisa, de emocional talvez, ou ainda, de interpessoal.
Apesar deste conceito referir a faculdade de pensar e compreender, talvez por ser um discurso indirecto, fica no ar qual forma de referência é acedida, como são feitas as associações de modo a se criar um juízo. Pensar como? Conceber, compreender o quê?
Na minha percepção, encontramos com mais facilidade, pessoas adjetivadas de inteligentes mas que nem sempre são muito simpáticas, ou pelo menos agradáveis. Muitas são bastante intolerantes, como se fosse insuportável ter que interagir com pessoas de velocidade de raciocínios inferior a sua.
Mas então onde está a compreensão, o entendimento de que as pessoas são diferentes? Que tipo de inteligência é a desta pessoa?
Noto que existem por aí pessoas com uma memória muito eficiente, rápidas em dar respostas e resolver situações assertivas, mas que não conseguem formular um pensamento próprio com início, meio e fim. Acho que boa memória e inteligência são facilmente confundidas.
Mas as que mais me chamam a atenção, são as pessoas que conseguem realmente pensar, decidir, ajuizar, mas que, contudo, acabam por levar as outras pessoas de arrasto, não muito preocupadas com a forma em que elas estão lhe acompanhando.
Um dia destes eu tive que ir ter com a chefe de um outro departamento, para levantar especificações para o desenvolvimento de um novo projeto. Ela, apesar de estar sentada, parecia mais alta do que eu, que estava em pé, de tão estufado que seu peito estava. Então, muito bicuda, sisuda e com uma voz muito séria, quase ríspida, fazia-me perguntas e comentários sobre o tal trabalho a começar. Levei tantas “narigadas” que me pus a pensar:
Uma profissional, com um cargo de responsabilidade, que ao conversar com outro profissional, precisa fazer caras e boca para delimitar hierarquia, poder ou dependência, só pode ter um traço de insegurança. Ou ela se conhece, reconhece algumas deficiências e tem medo de que alguém as veja e por isso delimita espaços; ou ela é mesmo competente mas acredita que alguém a sua volta possa achar que, por ela ser mulher, é mais fraca ou ainda, que alguém a sua volta pode querer o seu lugar; ou ela no fundo acredita que por ser mulher, precisa “engrossar” para ganhar respeito. Ou é louca mesmo. Vejam bem, dois adultos, que trocam serviços por dinheiro, usando artimanhas de uma normalista da década de 70! Que inteligência é esta?
Tenho um outro colega, bastante competente no que faz, mas que entra num estado de nervosismo e irritação como se tivesse 15 anos de idade. Lembro-me de tê-lo ouvido usar a palavra “teimando”. Ora, quem teimam são as crianças, profissionais, por terem seus motivos, no mínimo, insistem!
Há uns dez anos, eu ouvi falar pela primeira vez, assim, numa conversa de barzinho, em inteligência emocional, quiçá, o tal elemento interpessoal que sinto falta no conceito acima tirado de um dicionário.
Andamos a deriva numa sociedade onde ditas pessoas inteligentes ditam regras e comportamentos sem a menor consideração dos custos e proveitos emocionais, relacionados a estes comportamentos. Afinal, quão inteligente é alguém capaz de enviar um foguete ao espaço e trazê-lo de volta mas que desrespeita, ou sente-se superior, a uma pessoa que não sabe o que gravidade é?
Vivemos numa sociedade de equívocos, de pessoas com aptidão a inteligência, mas que parecem preferir usá-la para esconder outras deficiências, neuroses e dificuldades. Vivemos no meio de pessoas ditas inteligentes que só sabem em massajear seus egos e tirar proveito de seus conhecimentos unicamente em benefício próprio.
Seria bom que a inteligência fosse explorada e levada de forma coerente a todas as vertentes dos assuntos que evolvem a esfera do comportamento humano. É como lidamos com a inteligência que definimos uma cultura, que definimos uma política e um credo.
Fica aqui um alerta para todos aqueles que se rejubilam de seus acima da média coeficientes de inteligência: Verifiquem seu lado humano, verifiquem a quantas andam seu coeficiente emocional. Estou certo que surpresas surgirão.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Inteligência: Faculdade que tem o espírito de pensar, conceber, compreender;
capacidade de resolução de novos problemas e adaptação a novas situações; discernimento; juízo, raciocínio; talento; compreensão fácil, nítida, perfeita, profunda de coisas; apreensão, percepção; pessoa de grande capacidade intelectual.
Basicamente estas são as definições que podem ser encontradas em dicionários para esta palavra. Contudo, sinto que ainda falta qualquer coisa, de emocional talvez, ou ainda, de interpessoal.
Apesar deste conceito referir a faculdade de pensar e compreender, talvez por ser um discurso indirecto, fica no ar qual forma de referência é acedida, como são feitas as associações de modo a se criar um juízo. Pensar como? Conceber, compreender o quê?
Na minha percepção, encontramos com mais facilidade, pessoas adjetivadas de inteligentes mas que nem sempre são muito simpáticas, ou pelo menos agradáveis. Muitas são bastante intolerantes, como se fosse insuportável ter que interagir com pessoas de velocidade de raciocínios inferior a sua.
Mas então onde está a compreensão, o entendimento de que as pessoas são diferentes? Que tipo de inteligência é a desta pessoa?
Noto que existem por aí pessoas com uma memória muito eficiente, rápidas em dar respostas e resolver situações assertivas, mas que não conseguem formular um pensamento próprio com início, meio e fim. Acho que boa memória e inteligência são facilmente confundidas.
Mas as que mais me chamam a atenção, são as pessoas que conseguem realmente pensar, decidir, ajuizar, mas que, contudo, acabam por levar as outras pessoas de arrasto, não muito preocupadas com a forma em que elas estão lhe acompanhando.
Um dia destes eu tive que ir ter com a chefe de um outro departamento, para levantar especificações para o desenvolvimento de um novo projeto. Ela, apesar de estar sentada, parecia mais alta do que eu, que estava em pé, de tão estufado que seu peito estava. Então, muito bicuda, sisuda e com uma voz muito séria, quase ríspida, fazia-me perguntas e comentários sobre o tal trabalho a começar. Levei tantas “narigadas” que me pus a pensar:
Uma profissional, com um cargo de responsabilidade, que ao conversar com outro profissional, precisa fazer caras e boca para delimitar hierarquia, poder ou dependência, só pode ter um traço de insegurança. Ou ela se conhece, reconhece algumas deficiências e tem medo de que alguém as veja e por isso delimita espaços; ou ela é mesmo competente mas acredita que alguém a sua volta possa achar que, por ela ser mulher, é mais fraca ou ainda, que alguém a sua volta pode querer o seu lugar; ou ela no fundo acredita que por ser mulher, precisa “engrossar” para ganhar respeito. Ou é louca mesmo. Vejam bem, dois adultos, que trocam serviços por dinheiro, usando artimanhas de uma normalista da década de 70! Que inteligência é esta?
Tenho um outro colega, bastante competente no que faz, mas que entra num estado de nervosismo e irritação como se tivesse 15 anos de idade. Lembro-me de tê-lo ouvido usar a palavra “teimando”. Ora, quem teimam são as crianças, profissionais, por terem seus motivos, no mínimo, insistem!
Há uns dez anos, eu ouvi falar pela primeira vez, assim, numa conversa de barzinho, em inteligência emocional, quiçá, o tal elemento interpessoal que sinto falta no conceito acima tirado de um dicionário.
Andamos a deriva numa sociedade onde ditas pessoas inteligentes ditam regras e comportamentos sem a menor consideração dos custos e proveitos emocionais, relacionados a estes comportamentos. Afinal, quão inteligente é alguém capaz de enviar um foguete ao espaço e trazê-lo de volta mas que desrespeita, ou sente-se superior, a uma pessoa que não sabe o que gravidade é?
Vivemos numa sociedade de equívocos, de pessoas com aptidão a inteligência, mas que parecem preferir usá-la para esconder outras deficiências, neuroses e dificuldades. Vivemos no meio de pessoas ditas inteligentes que só sabem em massajear seus egos e tirar proveito de seus conhecimentos unicamente em benefício próprio.
Seria bom que a inteligência fosse explorada e levada de forma coerente a todas as vertentes dos assuntos que evolvem a esfera do comportamento humano. É como lidamos com a inteligência que definimos uma cultura, que definimos uma política e um credo.
Fica aqui um alerta para todos aqueles que se rejubilam de seus acima da média coeficientes de inteligência: Verifiquem seu lado humano, verifiquem a quantas andam seu coeficiente emocional. Estou certo que surpresas surgirão.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.