segunda-feira, junho 28, 2010
Armadilhas de Eros
Durante um jantar entre amigos, ascendeu-se uma pequena discussão sobre amor, paixão, romantismo e razão. Os suspeitos de costume. Mas com a razão como o elemento mais marginal deste cenário, claro. Senti que lhe era atribuída a responsabilidade pelo fim do romance, como se ela contivesse emoções e sentimentos.
Inúmeros argumentos salientaram a lícita e real existência de todos eles em nossas vidas. Contudo, ligá-los de uma forma coerente, equilibrá-los no coexistir com o indivíduo, tornou-se uma tarefa árdua. Como se fossem astros que translatassem ao redor de um ser, nós, com órbitas definidas, numa trajectória onde seus campos magnéticos pouco se cruzam, mesmo fazendo parte de um mesmo sistema. Como se fossem entidades divinas distintas, mas que tratam de assuntos em comum.
Mas se Eros é tão somente a versão Grega mais safada do Cupido, como um homem contemporâneo ‘flechado’ se permite entregar-se a uma paixão, vivê-la com algum romantismo, sem perder razão?
Gente, vocês já viram uma Gorila com dor de cotovelo ou um golfinho deprimido? Uma girafa apaixonada ou alguma baleia compondo um samba-canção? Não! Pois é... uma outra linha de mamíferos, aquela sem uma razão.
Nós, mamíferos dito evoluídos (dito por nós memos), temos na nossa composição este componente, logo, parece-me meio complicado que a queiramos elimina-la da equação. Houve um ‘alemãozinho’ que acreditava que é pela razão que realizamos o entendimento das coisas.
De volta à natureza, sabemos que os seres vertebrados, por exemplo, accionam descargas feromónicas, mudam de cor, alteram suas plumagens e deixam o ‘Eros’ tomar conta, mas tudo pela procriação.
Bem, nós como mamíferos, e vertebrados, somos portadores de semelhantes ‘armas’ para a ‘guerra’ do acasalamento. Porém, eu não estou a ver uma gorila entrando com uma acção na justiça, exigindo reconhecimento de paternidade do seu parceiro negligente. Sim, porque ele sequer tomou conhecimento que teve um herdeiro. Já connosco... bem, é um bocado diferente. A Razão não nos permite ignorar aquela barriga, que por 9 meses cresceu e que trouxe ao mundo um menininho que é a cara do tio Fernando! - E agora lembrei-me de uma pessoa muito querida que detesta nomes no gerúndio...
Então, o entregar-se a uma paixão, para a nossa classe de mamíferos, é algo mais denso, com muito mais consequências. Não tem como ser apenas um acto de ‘ripa-na-chulipa’. Mais! Você já viu alguma girafa chorando porque passados dois dias depois daquele jantar super romântico, à luz de velas, com um aroma a chianti e a som de violinos, o ‘girafo’ sequer mandou uma mensagenzinha pelo facebook?
Todo este ritual, imbuído num sentimento, incentivado pela dopamina, adormece-nos de facto a razão e quando menos esperamos, podemos encontrar o nosso coelho de estimação fazendo parte do ensopado para o jantar, numas de atracção fatal.
Não podemos separar estes elementos! Temos andado é, insistentemente, a tentar vivê-los separadamente!
Um AMOR é o que pode se seguir a uma grande PAIXÃO e doses de ROMANTISMO podem estar na RAZÃO deste seguimento. Isso e mais uma dúzia e meia de outras combinações...
Mas acima de tudo, e depois que passou o efeito do chinati, devido a estrutura social que temos, é a ‘razão’ o único elemento que pode modular, medir, comedir o básico da natureza, pelo menos na nossa classe de mamíferos.
Vejam bem: Você quer ser mãe como precisa da água para viver. Conheceu um amigo da sua cunhada que a levou para passar uma semana nos Lagos Italianos e foi tudo perfeito. Detalhe, o rapaz já teve um filho e não quer, sob hipótese alguma, voltar a ser pai. Preciso continuar?
Você é gay e super resolvido. Conhece um indivíduo que é um colosso na cama, dedicado na sala, cozinha como ninguém e ainda sabe de cor o último acto de Turandot – no original – mas ele vive no armário. Tem condições?
Você tem 42 anos e conhece alguém de 26. O sexo é bom, o carinho flúi sem problema. No começo você acha engraçado que a pessoa fosse criança de mais para lembrar de algo que para você é uma memória histórica viva. Depois você apercebe-se que o seu rítimo social é mais brando, que você não precisa ver seus amigos todos os dias, que você já não quer mais provar nada à ninguém na empresa onde trabalha e acima de tudo, já não se importa mais se quem veio primeiro foi o ovo ou galinha.
Você folga aos Sábados e Domingos e adora viajar. Mas vais fazer o quê com alguém que trabalha num shopping center?
Você é alérgico a nicotina. Mas criatura! ‘Tá bem, os orgasmos são memoráveis, mas tu vais acabar por morrer de asma com uma pessoa que fuma um maço por dia!
Sei, a culpa é do Cupido, pois não escolhemos por quem sentimos o que sentimos. A-hã. Engraçado é que a flecha nunca é por um anão banguela...
Sinais. Uma paixão nos cega! Nos impede de ver tudo isso acima. E por isso a razão é fundamental, apesar de ficar tonta e parva. Você está vendo que as prioridades da pessoa são diferentes da sua, mas ela tem um sorriso tão encantador, leva-lhe à nuvens e depois é um sentimento tão bom, você sente-se tão próximo a ela, tão acarinhado... o resto dá-se um jeito, trabalha-se. E de que maneira!
Não podemos negar nossa natureza. A parte biológica mamífera continua a ter as mesmas funções de outrora. Nossas ‘ocas’ é que agora vêm aos andares! Devido a própria estrutura que desenvolvemos à partir de nossa inteligência, é que a razão é fundamental para nos dar o equilíbrio, para fazer-nos reconhecer, dentro desta estrutura única humana, o que de facto trazer-nos-á a tal da felicidade. Ou algo muito próximo a ela.
Contudo, a mesma razão que negamos na hora de reconhecer os sinais, é usada, com um expoente bem alto, para racionalizar nossa decisão de continuar com alguém... pouco compatível. A paixão acabou e deixou dois, três anos de furtivas memórias. Gostamos, até amamos a pessoa mas subitamente, a nossa vida transforma-se numa constante contabilidade. E porque gostamos, perdoamos, relevamos, esperamos, aguentamos e desejamos, de repente, somos reféns de um amor. O mesmo nobre sentimento aclamado por manter, gerar, e alimentar, pode muito bem, nos fazer prisioneiros numa relação que nos cansa, dia após dia, até que a morte nos separe.
Acho que a razão deveria exercer mais a sua função de gerir limites. Por que algo tão bom deve expirar? Até quando eu hei de esperar? Por que alimentar um amor do qual não se tem retorno? Estas são perguntas que nunca deveríamos ter medo de fazê-las.
Há diferenças e há incompatibilidades. E incompatibilidade não é um crime!
Também todo mundo entende que uma gorila com uma girafa é uma relação muito gira, muito gira, mas que não há de ir a lado nenhum, pois não?
Boa semana a todos.
Eduardo Divério.
Durante um jantar entre amigos, ascendeu-se uma pequena discussão sobre amor, paixão, romantismo e razão. Os suspeitos de costume. Mas com a razão como o elemento mais marginal deste cenário, claro. Senti que lhe era atribuída a responsabilidade pelo fim do romance, como se ela contivesse emoções e sentimentos.
Inúmeros argumentos salientaram a lícita e real existência de todos eles em nossas vidas. Contudo, ligá-los de uma forma coerente, equilibrá-los no coexistir com o indivíduo, tornou-se uma tarefa árdua. Como se fossem astros que translatassem ao redor de um ser, nós, com órbitas definidas, numa trajectória onde seus campos magnéticos pouco se cruzam, mesmo fazendo parte de um mesmo sistema. Como se fossem entidades divinas distintas, mas que tratam de assuntos em comum.
Mas se Eros é tão somente a versão Grega mais safada do Cupido, como um homem contemporâneo ‘flechado’ se permite entregar-se a uma paixão, vivê-la com algum romantismo, sem perder razão?
Gente, vocês já viram uma Gorila com dor de cotovelo ou um golfinho deprimido? Uma girafa apaixonada ou alguma baleia compondo um samba-canção? Não! Pois é... uma outra linha de mamíferos, aquela sem uma razão.
Nós, mamíferos dito evoluídos (dito por nós memos), temos na nossa composição este componente, logo, parece-me meio complicado que a queiramos elimina-la da equação. Houve um ‘alemãozinho’ que acreditava que é pela razão que realizamos o entendimento das coisas.
De volta à natureza, sabemos que os seres vertebrados, por exemplo, accionam descargas feromónicas, mudam de cor, alteram suas plumagens e deixam o ‘Eros’ tomar conta, mas tudo pela procriação.
Bem, nós como mamíferos, e vertebrados, somos portadores de semelhantes ‘armas’ para a ‘guerra’ do acasalamento. Porém, eu não estou a ver uma gorila entrando com uma acção na justiça, exigindo reconhecimento de paternidade do seu parceiro negligente. Sim, porque ele sequer tomou conhecimento que teve um herdeiro. Já connosco... bem, é um bocado diferente. A Razão não nos permite ignorar aquela barriga, que por 9 meses cresceu e que trouxe ao mundo um menininho que é a cara do tio Fernando! - E agora lembrei-me de uma pessoa muito querida que detesta nomes no gerúndio...
Então, o entregar-se a uma paixão, para a nossa classe de mamíferos, é algo mais denso, com muito mais consequências. Não tem como ser apenas um acto de ‘ripa-na-chulipa’. Mais! Você já viu alguma girafa chorando porque passados dois dias depois daquele jantar super romântico, à luz de velas, com um aroma a chianti e a som de violinos, o ‘girafo’ sequer mandou uma mensagenzinha pelo facebook?
Todo este ritual, imbuído num sentimento, incentivado pela dopamina, adormece-nos de facto a razão e quando menos esperamos, podemos encontrar o nosso coelho de estimação fazendo parte do ensopado para o jantar, numas de atracção fatal.
Não podemos separar estes elementos! Temos andado é, insistentemente, a tentar vivê-los separadamente!
Um AMOR é o que pode se seguir a uma grande PAIXÃO e doses de ROMANTISMO podem estar na RAZÃO deste seguimento. Isso e mais uma dúzia e meia de outras combinações...
Mas acima de tudo, e depois que passou o efeito do chinati, devido a estrutura social que temos, é a ‘razão’ o único elemento que pode modular, medir, comedir o básico da natureza, pelo menos na nossa classe de mamíferos.
Vejam bem: Você quer ser mãe como precisa da água para viver. Conheceu um amigo da sua cunhada que a levou para passar uma semana nos Lagos Italianos e foi tudo perfeito. Detalhe, o rapaz já teve um filho e não quer, sob hipótese alguma, voltar a ser pai. Preciso continuar?
Você é gay e super resolvido. Conhece um indivíduo que é um colosso na cama, dedicado na sala, cozinha como ninguém e ainda sabe de cor o último acto de Turandot – no original – mas ele vive no armário. Tem condições?
Você tem 42 anos e conhece alguém de 26. O sexo é bom, o carinho flúi sem problema. No começo você acha engraçado que a pessoa fosse criança de mais para lembrar de algo que para você é uma memória histórica viva. Depois você apercebe-se que o seu rítimo social é mais brando, que você não precisa ver seus amigos todos os dias, que você já não quer mais provar nada à ninguém na empresa onde trabalha e acima de tudo, já não se importa mais se quem veio primeiro foi o ovo ou galinha.
Você folga aos Sábados e Domingos e adora viajar. Mas vais fazer o quê com alguém que trabalha num shopping center?
Você é alérgico a nicotina. Mas criatura! ‘Tá bem, os orgasmos são memoráveis, mas tu vais acabar por morrer de asma com uma pessoa que fuma um maço por dia!
Sei, a culpa é do Cupido, pois não escolhemos por quem sentimos o que sentimos. A-hã. Engraçado é que a flecha nunca é por um anão banguela...
Sinais. Uma paixão nos cega! Nos impede de ver tudo isso acima. E por isso a razão é fundamental, apesar de ficar tonta e parva. Você está vendo que as prioridades da pessoa são diferentes da sua, mas ela tem um sorriso tão encantador, leva-lhe à nuvens e depois é um sentimento tão bom, você sente-se tão próximo a ela, tão acarinhado... o resto dá-se um jeito, trabalha-se. E de que maneira!
Não podemos negar nossa natureza. A parte biológica mamífera continua a ter as mesmas funções de outrora. Nossas ‘ocas’ é que agora vêm aos andares! Devido a própria estrutura que desenvolvemos à partir de nossa inteligência, é que a razão é fundamental para nos dar o equilíbrio, para fazer-nos reconhecer, dentro desta estrutura única humana, o que de facto trazer-nos-á a tal da felicidade. Ou algo muito próximo a ela.
Contudo, a mesma razão que negamos na hora de reconhecer os sinais, é usada, com um expoente bem alto, para racionalizar nossa decisão de continuar com alguém... pouco compatível. A paixão acabou e deixou dois, três anos de furtivas memórias. Gostamos, até amamos a pessoa mas subitamente, a nossa vida transforma-se numa constante contabilidade. E porque gostamos, perdoamos, relevamos, esperamos, aguentamos e desejamos, de repente, somos reféns de um amor. O mesmo nobre sentimento aclamado por manter, gerar, e alimentar, pode muito bem, nos fazer prisioneiros numa relação que nos cansa, dia após dia, até que a morte nos separe.
Acho que a razão deveria exercer mais a sua função de gerir limites. Por que algo tão bom deve expirar? Até quando eu hei de esperar? Por que alimentar um amor do qual não se tem retorno? Estas são perguntas que nunca deveríamos ter medo de fazê-las.
Há diferenças e há incompatibilidades. E incompatibilidade não é um crime!
Também todo mundo entende que uma gorila com uma girafa é uma relação muito gira, muito gira, mas que não há de ir a lado nenhum, pois não?
Boa semana a todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, junho 21, 2010
Amizade.
Há quem diga que a palavra deriva do grego. Outros acreditam que é originada no ‘amicus’ latim, como uma possível descendência de ‘amore’. Facto é que, independente da sua ‘nacionalidade’, ela parece-me durar mais que o amor, resistir a maiores embates e claro, aflorar com muito mais naturalidade e espontaneidade do que o amor. Pelo menos entre duas almas desconhecidas.
Amigos são aqueles que estavam, estiveram e estarão quando todos os namorados e namoradas vieram, passaram e se foram. - Sim, porque a fila tem que andar, não é? – São aqueles que nos vêm chorar, tremer, sorrir, dançar, coçar o dedo ‘minguinho’ do pé e sair do banho com uma toalha enrolada no cabelo.
É aquele que abre o frigorífico lá de casa sem precisar de permissão. É o que sabe qual é a gaveta da bagunça no seu apartamento. É aquele que conhece a vizinha do RC esquerdo e que ainda por cima, trata a pessoa melhor do que você o faz.
Acompanha-te no casamento daquele primo chato de nome composto e comprido. Tem sempre um panadol na bolsa. Livra-te dos produtos de data vencida da sua dispensa. Começa a cantar aquilo que estavas balbuciando e viu muitas fotografias suas na... praia, durante a... adolescência!
Amigo é aquele que fala conosco pelo olhar, que percebe-nos pelo tom, que acode-nos com um ombro e que pode nos carregar às costas. É aquele da retaguarda.
Ouve confidências e sabe de segredos. Identifica logo o que omitimos e se estamos mentindo a alguém. Conhece o tipo físico por quem nos atraímos e via de regra, apercebe-se, antes de nós, se o ‘tipo físico’ vale à pena ou não.
Traz o alto elogio e a pesada crítica. Doa-se por completo num dia e recolhe-se sumido num outro. Tanto pode nos chamar à razão como nos embalar na fantasia. Pode ser muito honesto hoje e um bocado injusto na Segunda-feira mas...
Amigo, acima de tudo, é companhia.
Podem ser de longa data ou ter apenas poucos meses. Podem precisar de anos de convívio ou tudo pode começar depois de um jantar, numa madruga, com um vinho de qualidade suspeita, destes que se vendem em lojas de convivência
O ser humano tem esta necessidade inata da parceria, este poder de se ligar, de se conectar com outra pessoa e criar um mini eco-sistema. Precisamos partilhar nossa carga, aliviar nossas almas. Mas como gerir este universo? Como se ‘comanda’ alguém que, com tanto ‘poder’ facultado, vem sem as teclas SAP, MUTE ou OFF?
Quantas vezes estamos precisando viver uma negaçãozinha básica e chega o tal amigo e nos espalha à cara aquilo que não se pode mais protelar? Quantas vezes queremos um quarto escuro, um copo de whisky e Maria Bethania na vitrola e ouvimos entrar aquela amiga que deixa o sol entrar, nos serve um café passado e muda o disco para banda Eva?
Amigos são entidades especiais. Eu diria quase que extensões nossas, ramais da nossa própria vida, memória. Um farol.
Não são perfeitos. Eventualmente magoam-nos e até faltam conosco. Podem também se cansar, surgir uma súbita mágoa de algo que há imenso tempo repetimos no nosso comportamento, sem que nunca tenhamos tido a noção que os afectava.
Por vezes precisaram de nós e nem sempre perceberemos. Por dias, não queremos ouvir sua voz, mesmo depois de se ter cantado juntos, tantas vezes, naqueles jantares, naquele bar.
A amizade até pode derivar do amor, mas a palavra que a melhor define para mim, é conforto. Para iniciá-la, para alimentá-la, para negligenciá-la, enfim. Só a sensação de se estar confortável poderia explicar tanta intimidade, tanto convívio e tanta falta de limite! Eheheheheheh
Dedico este texto a todas as pessoas e seus amigos. Que saibam sempre manter os que lhes alimenta e que saibam sempre usar pequenos incidentes como trampolins para uma relação ainda mais forte, ainda mais bonita e se possível, totalmente inapropriada!
Umas boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Há quem diga que a palavra deriva do grego. Outros acreditam que é originada no ‘amicus’ latim, como uma possível descendência de ‘amore’. Facto é que, independente da sua ‘nacionalidade’, ela parece-me durar mais que o amor, resistir a maiores embates e claro, aflorar com muito mais naturalidade e espontaneidade do que o amor. Pelo menos entre duas almas desconhecidas.
Amigos são aqueles que estavam, estiveram e estarão quando todos os namorados e namoradas vieram, passaram e se foram. - Sim, porque a fila tem que andar, não é? – São aqueles que nos vêm chorar, tremer, sorrir, dançar, coçar o dedo ‘minguinho’ do pé e sair do banho com uma toalha enrolada no cabelo.
É aquele que abre o frigorífico lá de casa sem precisar de permissão. É o que sabe qual é a gaveta da bagunça no seu apartamento. É aquele que conhece a vizinha do RC esquerdo e que ainda por cima, trata a pessoa melhor do que você o faz.
Acompanha-te no casamento daquele primo chato de nome composto e comprido. Tem sempre um panadol na bolsa. Livra-te dos produtos de data vencida da sua dispensa. Começa a cantar aquilo que estavas balbuciando e viu muitas fotografias suas na... praia, durante a... adolescência!
Amigo é aquele que fala conosco pelo olhar, que percebe-nos pelo tom, que acode-nos com um ombro e que pode nos carregar às costas. É aquele da retaguarda.
Ouve confidências e sabe de segredos. Identifica logo o que omitimos e se estamos mentindo a alguém. Conhece o tipo físico por quem nos atraímos e via de regra, apercebe-se, antes de nós, se o ‘tipo físico’ vale à pena ou não.
Traz o alto elogio e a pesada crítica. Doa-se por completo num dia e recolhe-se sumido num outro. Tanto pode nos chamar à razão como nos embalar na fantasia. Pode ser muito honesto hoje e um bocado injusto na Segunda-feira mas...
Amigo, acima de tudo, é companhia.
Podem ser de longa data ou ter apenas poucos meses. Podem precisar de anos de convívio ou tudo pode começar depois de um jantar, numa madruga, com um vinho de qualidade suspeita, destes que se vendem em lojas de convivência
O ser humano tem esta necessidade inata da parceria, este poder de se ligar, de se conectar com outra pessoa e criar um mini eco-sistema. Precisamos partilhar nossa carga, aliviar nossas almas. Mas como gerir este universo? Como se ‘comanda’ alguém que, com tanto ‘poder’ facultado, vem sem as teclas SAP, MUTE ou OFF?
Quantas vezes estamos precisando viver uma negaçãozinha básica e chega o tal amigo e nos espalha à cara aquilo que não se pode mais protelar? Quantas vezes queremos um quarto escuro, um copo de whisky e Maria Bethania na vitrola e ouvimos entrar aquela amiga que deixa o sol entrar, nos serve um café passado e muda o disco para banda Eva?
Amigos são entidades especiais. Eu diria quase que extensões nossas, ramais da nossa própria vida, memória. Um farol.
Não são perfeitos. Eventualmente magoam-nos e até faltam conosco. Podem também se cansar, surgir uma súbita mágoa de algo que há imenso tempo repetimos no nosso comportamento, sem que nunca tenhamos tido a noção que os afectava.
Por vezes precisaram de nós e nem sempre perceberemos. Por dias, não queremos ouvir sua voz, mesmo depois de se ter cantado juntos, tantas vezes, naqueles jantares, naquele bar.
A amizade até pode derivar do amor, mas a palavra que a melhor define para mim, é conforto. Para iniciá-la, para alimentá-la, para negligenciá-la, enfim. Só a sensação de se estar confortável poderia explicar tanta intimidade, tanto convívio e tanta falta de limite! Eheheheheheh
Dedico este texto a todas as pessoas e seus amigos. Que saibam sempre manter os que lhes alimenta e que saibam sempre usar pequenos incidentes como trampolins para uma relação ainda mais forte, ainda mais bonita e se possível, totalmente inapropriada!
Umas boa semana para todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, junho 14, 2010
Nos anais da heterossexualidade
Bem, parece-me ser oficial: os homens heterossexuais descobriram o prazer anal. Não só, eu diria que, aparentemente, essa situação tem se revelado com muita mais naturalidade entre eles do que tem sido vivida pela comunidade homossexual, onde o tema é (deveria ser) muito mais tranquilo, por razões óbvias.
Eles deixam-se ser acariciados e penetrados por suas parceiras, pela mais diversificada gama de objectos fálicos. Por momentos, transferem a elas o poder da dominação e assumem instantes de passividade, permitindo-se muito prazer, a eles e a elas.
São as novas gerações e metrossexualidade não é um requisito!
Perfil obscuro e impessoal à parte, a internet trouxe-nos isso. Despertou a curiosidade, instigou os sentidos, ampliou limites e horizontes e tudo no conforto de nossos lares, livre do látex, livre de doenças, livre da exposição da identidade, livre de julgamentos e repletos de liberdade de expressão.
Contudo, em paralelo ao crescimento deste grupo de homens heterossexuais que assumiram sua próstata, com um número de adeptos muito maior, ergue-se um outro grupo, porém, todos de mãos dadas com a confusão. Gays e héteros questionam-se, alarmados e incrédulos, se o movimento em questão será verdadeiro e clamam ser tudo um grande caso ‘de armário’.
Bem, se a imagem do Macho já foi lapidada pelo advento da metrossexualidade, fica fácil imaginar as reacções destas mesmas pessoas em relação a esta novidade, esta experiência, agora ambígua, pelo menos no sentido do vector.
Gente, vamos sentar e ter uma conversa séria.
Ontem eu li a frase de uma menina espanhola onde ela defendia o pioneiro grupo dizendo que o que define alguém como ‘homo’ ou ‘hétero’ é com quem esta pessoa ‘se acuesta’ e não por aquilo que ela mete ou não no... bem, você sabe onde.
Eu não concordo com ela. Sua percepção, para mim, acaba por carregar mais um outro preconceito. Contudo, achei ‘digno’ o seu comentário, acessível ao relutante grupo oponente.
Bem, em primeiro lugar para mim, o que define uma pessoa como gay ou straight é o género da parceria escolhida. Depois, penso que sexo é reacção. Toque, química, sensação, atracção, enfim, estas coisas não tem um género definido. Mais, acho natural que um homem, que não se sinta sexualmente atraído ou estimulado por outro, venha a ser surpreendido por sensações inesperadas num contexto atípico. Um clima de conversas, uma atmosfera afrodisíaca, o estímulo físico de um toque, álcool, extasy, uma companhia de confiança, enfim, pode sempre surgir um cenário propício. Este encontro de natureza homossexual jamais definiria a pessoa como tal.
Tudo está na cabeça, nas crenças, nas certezas, na cultura. As terminações nervosas e os neuro-transmissores de uma pessoa do sexo masculino são as mesmas, tenha ele a orientação sexual que tiver! Há décadas que se sabe que a zona anal masculina é altamente herógena e isso é físico e biológico, é humano.
O que me frustra imenso na batalha destes grupos é a falta de memória. Estas mesmas mulheres que não entendem como um homem heterossexual possa querer ser estimulado por via anal, há vinte anos, sequer sabiam o que é um orgasmo, aliás, deveriam casar-se virgens! Há uns dez anos, elas tinham um número máximo aceitável de parceiros sexuais com quem elas poderiam ter estado, antes de serem consideradas ‘putas’. Um homem gay então, acusar esta prática de ser um caso ‘de armário’ é ainda mais estúpido! Tange a total ignorância da evolução a qual sua comunidade vem sofrendo! É desconhecer o próprio organismo, é alimentar o próprio preconceito ao qual ele deveria lutar contra.
O sexo oral passou pela mesma dificuldade de aceitação, de entendimento, e durante anos e anos as pessoas seguiram ‘tocando gaita de boca’ e ‘cantando no microfone’ na surdina...
Gente, se vocês sentem que as vossas fantasias, ícones, modelos, exemplos ou referências estão sendo agredidas, compreende-se. Mas aprendam a posicionarem-se de forma inteligente, menos agressiva, talvez. Não tem problema nenhum que para você, no predicado de um homem hétero, não exista as palavras maquiagem, depilação ou plug anal. Legal! Você curte assim, mas é apenas uma preferência, a sua preferência. Há outras e nem por isso são erradas.
Em pleno terceiro milénio, ainda existir estas confusões relacionas ao comportamento sexual das pessoas... aliás, a confusão, por si só, eu até encaro como algo natural, mas os julgamentos implacáveis, as determinações, a rejeição que se segue... é muito medieval.
Por isso, aprendam a ficar ‘na sua’, seja ela qual for. De mais à mais, lembrem-se que ‘pimenta no cu dos outros é a que não arde’ (eheheheh).
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Bem, parece-me ser oficial: os homens heterossexuais descobriram o prazer anal. Não só, eu diria que, aparentemente, essa situação tem se revelado com muita mais naturalidade entre eles do que tem sido vivida pela comunidade homossexual, onde o tema é (deveria ser) muito mais tranquilo, por razões óbvias.
Eles deixam-se ser acariciados e penetrados por suas parceiras, pela mais diversificada gama de objectos fálicos. Por momentos, transferem a elas o poder da dominação e assumem instantes de passividade, permitindo-se muito prazer, a eles e a elas.
São as novas gerações e metrossexualidade não é um requisito!
Perfil obscuro e impessoal à parte, a internet trouxe-nos isso. Despertou a curiosidade, instigou os sentidos, ampliou limites e horizontes e tudo no conforto de nossos lares, livre do látex, livre de doenças, livre da exposição da identidade, livre de julgamentos e repletos de liberdade de expressão.
Contudo, em paralelo ao crescimento deste grupo de homens heterossexuais que assumiram sua próstata, com um número de adeptos muito maior, ergue-se um outro grupo, porém, todos de mãos dadas com a confusão. Gays e héteros questionam-se, alarmados e incrédulos, se o movimento em questão será verdadeiro e clamam ser tudo um grande caso ‘de armário’.
Bem, se a imagem do Macho já foi lapidada pelo advento da metrossexualidade, fica fácil imaginar as reacções destas mesmas pessoas em relação a esta novidade, esta experiência, agora ambígua, pelo menos no sentido do vector.
Gente, vamos sentar e ter uma conversa séria.
Ontem eu li a frase de uma menina espanhola onde ela defendia o pioneiro grupo dizendo que o que define alguém como ‘homo’ ou ‘hétero’ é com quem esta pessoa ‘se acuesta’ e não por aquilo que ela mete ou não no... bem, você sabe onde.
Eu não concordo com ela. Sua percepção, para mim, acaba por carregar mais um outro preconceito. Contudo, achei ‘digno’ o seu comentário, acessível ao relutante grupo oponente.
Bem, em primeiro lugar para mim, o que define uma pessoa como gay ou straight é o género da parceria escolhida. Depois, penso que sexo é reacção. Toque, química, sensação, atracção, enfim, estas coisas não tem um género definido. Mais, acho natural que um homem, que não se sinta sexualmente atraído ou estimulado por outro, venha a ser surpreendido por sensações inesperadas num contexto atípico. Um clima de conversas, uma atmosfera afrodisíaca, o estímulo físico de um toque, álcool, extasy, uma companhia de confiança, enfim, pode sempre surgir um cenário propício. Este encontro de natureza homossexual jamais definiria a pessoa como tal.
Tudo está na cabeça, nas crenças, nas certezas, na cultura. As terminações nervosas e os neuro-transmissores de uma pessoa do sexo masculino são as mesmas, tenha ele a orientação sexual que tiver! Há décadas que se sabe que a zona anal masculina é altamente herógena e isso é físico e biológico, é humano.
O que me frustra imenso na batalha destes grupos é a falta de memória. Estas mesmas mulheres que não entendem como um homem heterossexual possa querer ser estimulado por via anal, há vinte anos, sequer sabiam o que é um orgasmo, aliás, deveriam casar-se virgens! Há uns dez anos, elas tinham um número máximo aceitável de parceiros sexuais com quem elas poderiam ter estado, antes de serem consideradas ‘putas’. Um homem gay então, acusar esta prática de ser um caso ‘de armário’ é ainda mais estúpido! Tange a total ignorância da evolução a qual sua comunidade vem sofrendo! É desconhecer o próprio organismo, é alimentar o próprio preconceito ao qual ele deveria lutar contra.
O sexo oral passou pela mesma dificuldade de aceitação, de entendimento, e durante anos e anos as pessoas seguiram ‘tocando gaita de boca’ e ‘cantando no microfone’ na surdina...
Gente, se vocês sentem que as vossas fantasias, ícones, modelos, exemplos ou referências estão sendo agredidas, compreende-se. Mas aprendam a posicionarem-se de forma inteligente, menos agressiva, talvez. Não tem problema nenhum que para você, no predicado de um homem hétero, não exista as palavras maquiagem, depilação ou plug anal. Legal! Você curte assim, mas é apenas uma preferência, a sua preferência. Há outras e nem por isso são erradas.
Em pleno terceiro milénio, ainda existir estas confusões relacionas ao comportamento sexual das pessoas... aliás, a confusão, por si só, eu até encaro como algo natural, mas os julgamentos implacáveis, as determinações, a rejeição que se segue... é muito medieval.
Por isso, aprendam a ficar ‘na sua’, seja ela qual for. De mais à mais, lembrem-se que ‘pimenta no cu dos outros é a que não arde’ (eheheheh).
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
terça-feira, junho 08, 2010
Paternidade
Ouve-se imenso falar sobre maternidade, sobre ser mãe, sobre um suposto relógio biológico, sobre padecer no paraíso, sobre um amor incondicional e sem preferências entre os filhos, sobre intuição de mãe e claro, sobre praga de mãe. Mas e do pai? O que se fala sobre a paternidade?
Longos minutos depois de ter escrito o parágrafo anterior, tentando achar equivalentes chavões no sexo masculino, ocorreu-me apenas: pai é aquele que cria.
É possível que você tenha lembrado de mais algum. Está bem, vá lá! Mais uns dois, talvez. Mas o facto aqui é que, para escrever o primeiro parágrafo eu quase não precisei pensar e o segundo, bem, em segundo vem aquela que provê.
Numa idade onde espermatozóides já podem ser gerados em laboratório, com todo o requinte genético necessário, e num tubo de ensaio na cor que mais agrade à MÃE, a paternidade é algo do qual fala-se menos e menos. Quantos mais participativos os pais tornaram-se nas tarefas diárias de um lar, menos sabe-se deles, menos ouve-se deles, de sua verdadeira tarefa e quase que são confundidos como meros au pairs.
Na sociedade latina, pelo menos, o pai foi sempre a pilastra de uma família, o exemplo de força, de moral e, pela carga destes próprios conceitos, aquele que aprova, que ajuíza e que avalia. Claro que esta figura tem um impacto muito maior sobre um filho do que sobre uma filha, pelo efeito da identificação, pela introjeção de um comportamento que será assumido no futuro. Existe uma tácita passagem de conhecimento, de ‘coroa’, um movimento hereditário e vitalício, real – no sentido de realeza - na relação entre um pai e um filho. Um há de desempenhar as mesmas tarefas do outro num amanhã próximo.
Mas sabe-se que um Rei não se faz em um dia.
Esta pilastra, esta força, pode ser, como qualquer força, inerte ou activa, propulcionante ou esmagadora. Ela cria tanto um déspota tirano, como um nobre soberano e sendo esta força assim, tão poderosa, como pode ser possível não se falar dela?!
Eu, durante muito anos, acreditei que a paternidade era algo que se auto resolvia. Eu seria filho até o dia em que me tornasse pai e então, naturalmente, eu entenderia as questões em aberto, resolver-me-ia e esperaria tranquilamente por passar a coroa à frente.
Contudo, aos quase quarenta anos e sem um herdeiro, deparo-me com o peso da coroa de meu pai e por mais que lhe puxe o lustro, ela não brilha como brilhava em sua cabeça. Acometido então por esta curiosidade, sem um seguimento natural para resolver a paternidade na minha vida, apercebi-me que tamanho brilho sempre fora, afinal, uma questão de angulatura. Quando criança, olhando de baixo, via a luz do sol reflectir-se por cima de minha cabeça e esta foi a lembrança que guardei. Na verdade, à medida que fui crescendo, ganhando altura, de alguma forma esta luz ofuscou-me a vista e para o lado eu tive de olhar.
Somos um amontoado de automatismos, de reacções espontâneas, resultado de anos de exercícios repetitivos. Se hoje, que somos adultos, ainda temos dificuldades em seleccionar nossos modelos, imagine no que uma criança, um ser em desenvolvimento, pode se basear para faze-lo?
Estou certo que ser pai não pode ser uma tarefa fácil, mas parece-me existir gente demais dependendo do sucesso desta execução, por isso acho que deveríamos fazer deste assunto algo mais comum, menos brilhoso e muito mais acessível!
Dedico esta semana a todos aqueles que de uma forma ou de outra têm uma paternidade por resolver, seja como Rei, seja como Príncipe.
Uma boa semana à todos.
Eduardo Divério.
Ouve-se imenso falar sobre maternidade, sobre ser mãe, sobre um suposto relógio biológico, sobre padecer no paraíso, sobre um amor incondicional e sem preferências entre os filhos, sobre intuição de mãe e claro, sobre praga de mãe. Mas e do pai? O que se fala sobre a paternidade?
Longos minutos depois de ter escrito o parágrafo anterior, tentando achar equivalentes chavões no sexo masculino, ocorreu-me apenas: pai é aquele que cria.
É possível que você tenha lembrado de mais algum. Está bem, vá lá! Mais uns dois, talvez. Mas o facto aqui é que, para escrever o primeiro parágrafo eu quase não precisei pensar e o segundo, bem, em segundo vem aquela que provê.
Numa idade onde espermatozóides já podem ser gerados em laboratório, com todo o requinte genético necessário, e num tubo de ensaio na cor que mais agrade à MÃE, a paternidade é algo do qual fala-se menos e menos. Quantos mais participativos os pais tornaram-se nas tarefas diárias de um lar, menos sabe-se deles, menos ouve-se deles, de sua verdadeira tarefa e quase que são confundidos como meros au pairs.
Na sociedade latina, pelo menos, o pai foi sempre a pilastra de uma família, o exemplo de força, de moral e, pela carga destes próprios conceitos, aquele que aprova, que ajuíza e que avalia. Claro que esta figura tem um impacto muito maior sobre um filho do que sobre uma filha, pelo efeito da identificação, pela introjeção de um comportamento que será assumido no futuro. Existe uma tácita passagem de conhecimento, de ‘coroa’, um movimento hereditário e vitalício, real – no sentido de realeza - na relação entre um pai e um filho. Um há de desempenhar as mesmas tarefas do outro num amanhã próximo.
Mas sabe-se que um Rei não se faz em um dia.
Esta pilastra, esta força, pode ser, como qualquer força, inerte ou activa, propulcionante ou esmagadora. Ela cria tanto um déspota tirano, como um nobre soberano e sendo esta força assim, tão poderosa, como pode ser possível não se falar dela?!
Eu, durante muito anos, acreditei que a paternidade era algo que se auto resolvia. Eu seria filho até o dia em que me tornasse pai e então, naturalmente, eu entenderia as questões em aberto, resolver-me-ia e esperaria tranquilamente por passar a coroa à frente.
Contudo, aos quase quarenta anos e sem um herdeiro, deparo-me com o peso da coroa de meu pai e por mais que lhe puxe o lustro, ela não brilha como brilhava em sua cabeça. Acometido então por esta curiosidade, sem um seguimento natural para resolver a paternidade na minha vida, apercebi-me que tamanho brilho sempre fora, afinal, uma questão de angulatura. Quando criança, olhando de baixo, via a luz do sol reflectir-se por cima de minha cabeça e esta foi a lembrança que guardei. Na verdade, à medida que fui crescendo, ganhando altura, de alguma forma esta luz ofuscou-me a vista e para o lado eu tive de olhar.
Somos um amontoado de automatismos, de reacções espontâneas, resultado de anos de exercícios repetitivos. Se hoje, que somos adultos, ainda temos dificuldades em seleccionar nossos modelos, imagine no que uma criança, um ser em desenvolvimento, pode se basear para faze-lo?
Estou certo que ser pai não pode ser uma tarefa fácil, mas parece-me existir gente demais dependendo do sucesso desta execução, por isso acho que deveríamos fazer deste assunto algo mais comum, menos brilhoso e muito mais acessível!
Dedico esta semana a todos aqueles que de uma forma ou de outra têm uma paternidade por resolver, seja como Rei, seja como Príncipe.
Uma boa semana à todos.
Eduardo Divério.
quarta-feira, junho 02, 2010
‘Eu sou assim’
Eu gostaria de ter contado quantas pessoas e quantas vezes cada uma destas repetiu a minha frente, só nestes cinco primeiros meses do ano de 2010, a frase ‘eu sou assim’. É incrível! Apesar de vos não poder dar um número, garanto-vos ser elevado.
Eu sou assim (ponto), carrega em si, de uma forma intrínsica e inerente, a afirmação do absoluto, o argumento do imutável, a desculpa explicativa. Mas de facto, o que se pode dizer depois de ouvirmos um ‘eu sou assim’? Eu sinto-me impugnado, diria até assustado, como se tivesse aberto acidentalmente aquelas portas de saída de emergência e um estridente alarme estivesse ecoando em todas as direções. Bem, mas na verdade, segue-se um silêncio indefinido, não há muita compreenção nele, de nenhuma mente presente, e ele dura mais do que era suposto.
‘Eu sou assim’ é o postular de algo intocável, quase imposto, pois ao outro, só o que este pode fazer é ‘engolir’! Pois rejeito esta expressão! Claro que somos mais tolerantes quando estamos com conhecidos ou mesmo amigos, pois ir além, questionando e confrontando isso, seria invasivo e, quiçá, inapropriado a este tipo de relação. Mas quando isso vem dentro do seu relacionnamento!
Veja bem, todos nós queremos ser aceites pelo que somos, amados como somos. Contudo, uma vez isso ser genérico, torna-se muito utópico que venha ocorrer, linear assim. Há que se ajudar a ser amado, há que se ajudar a ser querido e há que se ajudar a ser uma boa companhia. Isso na verdade não muda o ser, muda apenas a sua expressão, comportamento.
Se tenho medo de algo, porque ‘sou assim’, será um algo que provavelmente amedontrar-me-á ao longo da vida, está no meu ‘eu’, na minha formação, nas minhas origens. Como eu vivo e relaciono este algo com o meio é que se torna a questão. O medo pode estar sempre ali, agora, eu tanto posso exercitar vive-lo de forma mais interna, mais terápica ou passá-lo para quem está a minha volta, expondo esta tensão, gerando incertezas e insegurança a quem está ao meu redor.
Gostar muito de sexo é, sem dúvida, um ‘eu sou assim’. Expressá-lo pronograficamente, eroticamente, sensualmente ou com sabor de baunílha é um comportamento, é uma escolha, é como afeta o que e quem está ao nosso redor. E isso é só um exemplo.
Acredito que as pessoas andam por aí se auto-afirmando e se auto-garantindo ao mesmo tempo que tornam o trabalho de uma relação numa autêntica gangorra. Numa relação, de dois, não existe democracia e somos apenas 50% do evento. A área de intersecção entre estas duas almas deveria ser amena, atenciosa e cuidadosa. E isso não constituí corrupção de personalidade!
Nossa individualidade deve ser semrpe garantida, verdade. Mas os nossos limites serão sempre os do vizinho. Com isso quero dizer que, não deixamos de sentir nada, não deixamos de viver nada por esolher um protocolo mais amigável dentro de uma relação.
Mas isso poderia cortar a expontaniedade e a naturalidade do indivíduo. ‘A César o que é de César’. Como nos expressamos é de de facto como nos revelamos mais rapidamente ao meio. Uma pessoa pode estar afirmando alguma coisa para você, mas algo na sua voz, na sua postura, na intensidade do como o diz, não lhe deixa acreditar. A naturalidade é vital para a sanidade mental de um indivíduo e jamais seríamos felizes se tívessemos que estar constantemente sob controle. Sequer seríamos nós! Mais... uma perosnagem.
O que somos e como nos expressamos, via-de-regra, é o que ajuda a outra pessoa a nutrir seu amor por nós, é o que lhe dá argumento para em momentos de crise, mesmo os mais leves, decidir por continuar a investir em nós. E é aqui que entra o meu bisturí.
Se há algo em como nos expressamos, comportamos, que está sendo difícil demais para a outra pessoa digerir, aquela que queremos que nos ame, não parece justo consigo dar uma ‘mãozinha’? Eu diria até inteligente.
A pessoa tem que me amar como sou! Really? Isso é chave de cadeia, porque de facto até amamos a pessoa como ela é e andamos nós a gerir comportamentos que rejeitamos e repugnamos extactamente porque conhecemos o interior da pessoa amada e sabemos que ela émais do que ‘aquilo’. Mas o conflito está lá e enquanto um exercita suas ‘maneiras’ a 100%, o outro, por amor, tem que achar forma de não ver, ouvir ou falar. Justo?
Obviamente se a forma como alguém se expressa é-lhe vital, por algum componente psicológico, também cabe aos outros 50% decidir o quanto pode relevar e o quanto quer submeter-se a isso. O detalhe seria, sempre, o raio da contabilidade, porque a coisa mais certa na vida é que ‘água mole em pedra dura, tanto bate até que fura’!
Quantas pessoas você já conheceu com quem conseguia se relacionar com muita satisfação, enquanto os momentos estavam na esfera do emocional mas que, depois no social ou do cotidiano, transformou-se tudo num verdadeiro exercício mental de yoga?
O ‘eu sou assim’ pode transformar uma excelente companhia afectiva numa exaustiva convivência de ‘cama, mesa e ‘banho’. Contudo, admito, noto que a tolerância para tal ‘expressar-se’ aumenta de forma directamente proporcional à idade do indíviduo.
Quando temos 30 anos, queremos alguém que tenha um curso universário e que se ainda não tem o mestrado, que ao menos já fale nele. Falar uma língua estrangeira é mandatório e uma segunda seria vantagem na avaliação – porém, encobre um sentimento de obrigação e aí não conta como ponto e acaba sendo considerada apenas para arredondamentos de nota. Deve saber quem foram os últimos 5 czares da Rússia, a data de aniversário de Júlio César, todas as capitais orientais, do mundo antigo, e o PIB da África do Sul. Naturalmente.
Aos 40, mais conscientes que sensibilidade e carinho - apesar de seus conceitos serem encontrados no Google - não se adquirem com pagamento de propinas, depois da marotona do eu faço, eu aconteço, eu posso e da desinteressante expieriência de ter namorado vários ‘espelhos’, só queremos alguém que tenha um bom salário, mas que não venha de corte de cabelos ou maquiagens (resquícios da década anterior). Ah, e que não trabalhe finais de semana.
Aos 50, depois da marotona, das viagens, dos bons restaurantes e das ‘boas’ conversas (que hoje em dia mais parecem aulas do que ‘bate-papo’) queremos apenas ser amados, queremos companhia, queremos não estar sozinhos.
Aos 60, queremos quem nos quer e aos 70, bem, com tanto extasy, crystal, poppers e outros ácidos, acho difícil que tenhamos a parte do cérebro que decide esta coisas operacional...
Claro que os últimos quatro parágrafos são um esboço grosseiro, superficial e leviado (precisava de um ‘inserir risonho’ aqui agora, mas um com expressão de ‘Yeah...I know....’) das idades e de um grupo. Entretanto, ilustra, encaminha-me para a conclusiva idéia que por fim, o que conta, é carinho e companhia, amor. Que o resto, é comportamento e como tal, pode ser pensado, decidido, atenuado, dedicado, perceptivo e porque não, agradável e generoso.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Eu gostaria de ter contado quantas pessoas e quantas vezes cada uma destas repetiu a minha frente, só nestes cinco primeiros meses do ano de 2010, a frase ‘eu sou assim’. É incrível! Apesar de vos não poder dar um número, garanto-vos ser elevado.
Eu sou assim (ponto), carrega em si, de uma forma intrínsica e inerente, a afirmação do absoluto, o argumento do imutável, a desculpa explicativa. Mas de facto, o que se pode dizer depois de ouvirmos um ‘eu sou assim’? Eu sinto-me impugnado, diria até assustado, como se tivesse aberto acidentalmente aquelas portas de saída de emergência e um estridente alarme estivesse ecoando em todas as direções. Bem, mas na verdade, segue-se um silêncio indefinido, não há muita compreenção nele, de nenhuma mente presente, e ele dura mais do que era suposto.
‘Eu sou assim’ é o postular de algo intocável, quase imposto, pois ao outro, só o que este pode fazer é ‘engolir’! Pois rejeito esta expressão! Claro que somos mais tolerantes quando estamos com conhecidos ou mesmo amigos, pois ir além, questionando e confrontando isso, seria invasivo e, quiçá, inapropriado a este tipo de relação. Mas quando isso vem dentro do seu relacionnamento!
Veja bem, todos nós queremos ser aceites pelo que somos, amados como somos. Contudo, uma vez isso ser genérico, torna-se muito utópico que venha ocorrer, linear assim. Há que se ajudar a ser amado, há que se ajudar a ser querido e há que se ajudar a ser uma boa companhia. Isso na verdade não muda o ser, muda apenas a sua expressão, comportamento.
Se tenho medo de algo, porque ‘sou assim’, será um algo que provavelmente amedontrar-me-á ao longo da vida, está no meu ‘eu’, na minha formação, nas minhas origens. Como eu vivo e relaciono este algo com o meio é que se torna a questão. O medo pode estar sempre ali, agora, eu tanto posso exercitar vive-lo de forma mais interna, mais terápica ou passá-lo para quem está a minha volta, expondo esta tensão, gerando incertezas e insegurança a quem está ao meu redor.
Gostar muito de sexo é, sem dúvida, um ‘eu sou assim’. Expressá-lo pronograficamente, eroticamente, sensualmente ou com sabor de baunílha é um comportamento, é uma escolha, é como afeta o que e quem está ao nosso redor. E isso é só um exemplo.
Acredito que as pessoas andam por aí se auto-afirmando e se auto-garantindo ao mesmo tempo que tornam o trabalho de uma relação numa autêntica gangorra. Numa relação, de dois, não existe democracia e somos apenas 50% do evento. A área de intersecção entre estas duas almas deveria ser amena, atenciosa e cuidadosa. E isso não constituí corrupção de personalidade!
Nossa individualidade deve ser semrpe garantida, verdade. Mas os nossos limites serão sempre os do vizinho. Com isso quero dizer que, não deixamos de sentir nada, não deixamos de viver nada por esolher um protocolo mais amigável dentro de uma relação.
Mas isso poderia cortar a expontaniedade e a naturalidade do indivíduo. ‘A César o que é de César’. Como nos expressamos é de de facto como nos revelamos mais rapidamente ao meio. Uma pessoa pode estar afirmando alguma coisa para você, mas algo na sua voz, na sua postura, na intensidade do como o diz, não lhe deixa acreditar. A naturalidade é vital para a sanidade mental de um indivíduo e jamais seríamos felizes se tívessemos que estar constantemente sob controle. Sequer seríamos nós! Mais... uma perosnagem.
O que somos e como nos expressamos, via-de-regra, é o que ajuda a outra pessoa a nutrir seu amor por nós, é o que lhe dá argumento para em momentos de crise, mesmo os mais leves, decidir por continuar a investir em nós. E é aqui que entra o meu bisturí.
Se há algo em como nos expressamos, comportamos, que está sendo difícil demais para a outra pessoa digerir, aquela que queremos que nos ame, não parece justo consigo dar uma ‘mãozinha’? Eu diria até inteligente.
A pessoa tem que me amar como sou! Really? Isso é chave de cadeia, porque de facto até amamos a pessoa como ela é e andamos nós a gerir comportamentos que rejeitamos e repugnamos extactamente porque conhecemos o interior da pessoa amada e sabemos que ela émais do que ‘aquilo’. Mas o conflito está lá e enquanto um exercita suas ‘maneiras’ a 100%, o outro, por amor, tem que achar forma de não ver, ouvir ou falar. Justo?
Obviamente se a forma como alguém se expressa é-lhe vital, por algum componente psicológico, também cabe aos outros 50% decidir o quanto pode relevar e o quanto quer submeter-se a isso. O detalhe seria, sempre, o raio da contabilidade, porque a coisa mais certa na vida é que ‘água mole em pedra dura, tanto bate até que fura’!
Quantas pessoas você já conheceu com quem conseguia se relacionar com muita satisfação, enquanto os momentos estavam na esfera do emocional mas que, depois no social ou do cotidiano, transformou-se tudo num verdadeiro exercício mental de yoga?
O ‘eu sou assim’ pode transformar uma excelente companhia afectiva numa exaustiva convivência de ‘cama, mesa e ‘banho’. Contudo, admito, noto que a tolerância para tal ‘expressar-se’ aumenta de forma directamente proporcional à idade do indíviduo.
Quando temos 30 anos, queremos alguém que tenha um curso universário e que se ainda não tem o mestrado, que ao menos já fale nele. Falar uma língua estrangeira é mandatório e uma segunda seria vantagem na avaliação – porém, encobre um sentimento de obrigação e aí não conta como ponto e acaba sendo considerada apenas para arredondamentos de nota. Deve saber quem foram os últimos 5 czares da Rússia, a data de aniversário de Júlio César, todas as capitais orientais, do mundo antigo, e o PIB da África do Sul. Naturalmente.
Aos 40, mais conscientes que sensibilidade e carinho - apesar de seus conceitos serem encontrados no Google - não se adquirem com pagamento de propinas, depois da marotona do eu faço, eu aconteço, eu posso e da desinteressante expieriência de ter namorado vários ‘espelhos’, só queremos alguém que tenha um bom salário, mas que não venha de corte de cabelos ou maquiagens (resquícios da década anterior). Ah, e que não trabalhe finais de semana.
Aos 50, depois da marotona, das viagens, dos bons restaurantes e das ‘boas’ conversas (que hoje em dia mais parecem aulas do que ‘bate-papo’) queremos apenas ser amados, queremos companhia, queremos não estar sozinhos.
Aos 60, queremos quem nos quer e aos 70, bem, com tanto extasy, crystal, poppers e outros ácidos, acho difícil que tenhamos a parte do cérebro que decide esta coisas operacional...
Claro que os últimos quatro parágrafos são um esboço grosseiro, superficial e leviado (precisava de um ‘inserir risonho’ aqui agora, mas um com expressão de ‘Yeah...I know....’) das idades e de um grupo. Entretanto, ilustra, encaminha-me para a conclusiva idéia que por fim, o que conta, é carinho e companhia, amor. Que o resto, é comportamento e como tal, pode ser pensado, decidido, atenuado, dedicado, perceptivo e porque não, agradável e generoso.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.