segunda-feira, outubro 29, 2007
A Justiça dos Injustiçados.
Navego por águas agitadas, eu sei. Falar de justiça, de injustiça, ou ainda, com justiça, talvez seja uma das tarefas mais delicadas para quem escreve, pelos menos para quem se preocupa com o que escreve. Portanto, sem querer ser injusto com ninguém, é importante entender que este blog é um reflexo de minhas percepções, de como eu, com meu historial, minhas experiências, vejo o mundo.
Estar entrando na segunda fase adulta de minha vida tem sido algo pelo qual preparei-me e sinto-me realizado com os resultados, com os fascinantes e coerentes fechos e desfechos que venho acompanhando, nas, e das, inúmeras sequências seguidas de tantas decisões e expectativas.
Mas o sentimento de injustiçado sempre acompanhou-me por toda a minha vida consciente. Num certo nível ainda acompanha. Contudo, hoje, sei não beber mais desta fonte e aos poucos tenho esquecido de seu gosto, inebriado por novos sabores, conquistados e adquiridos pelo exercício da liberdade adulta, a verdadeira liberdade do ‘Eu’.
Estou certo que todos lidam com este sentimento, mas questiono-me quantos destes continuarão presos a ele, sem a noção real do que ser livre é. Durante ‘minha caminhada’ eu estive preso a estes sentimentos por um longo, longo, tempo. Ok, eu sei, todos têm o seu processo. O quão justo é isso?
Alguns vivem com uma certa inquietude em suas vidas. Inesperados estados de ira e raiva despontam sem que se tenha a menor idéia do confronto que na verdade está em curso, entre a realidade do que lhes está afetando com o automatismo de suas memórias emocionais. Suas vidas seguem em total desequilíbrio e seus dia-a-dia são basicamente regidos por ‘dois pesos e duas medidas’.
Mas muitos sabem extamente o que lhes angustia. Aqueles que conseguem descrever com todas as palavras, a razão de sua dor, a espécie de injustiça que sofrem ou sofreram. Mas então o que os impede de seguirem em frente, de ultrapassarem este tormento?
Lembro-me da dor em juntar as peças do meu puzzle. Não conseguia me conformar, não conseguia aceitar que tanto de minha vida havia sido construído, decidido, sobre bases que em nada tinham a ver com a minha natureza, com a sensibilidade inata do meu ser. A noção do tempo passado, que não mais retornaria, a sensação de descaso, ou de tamanha ignorância, por aqueles que eram responsáveis pela minha educação, minha formação, era insuportável.
Buscava auxílio no racional. Entendia que tinham feito o melhor para mim, por mim. Entendia que eu tinha sido amado e sabia que dentro de um contexto, sócio-cultural, tinham agido de acordo com ‘um’ correto, ‘um’ esperado. Mas a dor não diminuía. A noção de que tudo poderia ter sido, ser, diferente, ao vislumbrar meu presente, era tão pesada que não conseguia aceitar o que entendia, como acontecera-me. Achar as causas de tantas dificuldades lançou-me num mar de ‘por ques’ e ‘comos’ que circulavam persistentemente na minha cabeça e até cheguei mesmo a sentir pena de mim.
Todo o efeito que tem ação sobre nós origina uma nova causa, responsável por novos efeitos. Um injustiçado, pode se transformar em alguém que busca a justiça, exercitando-a ou, em alguém que a nega e neste exercício, espera encontrar quem ‘pague’ por seus infortúnios, num processo semelhante ao da inveja, onde surge um falso alívio em se deparar com pessoas que pertençam a um mesmo grupo. Se o puzzle já estiver montado então, estas pessoas confundem-se entre vingança e justiça.
Não posso chegar naqueles que amo com a pretensão de libertá-los das cadeias das quais eles mesmo têm a chave. Mas por isso eu criei este blog. Para que aqui seja relatada a minha experiência, a minha visão, na esperança que mais partilhem desta minha, suposta, sensação de liberdade alcançada.
Você já perdeu alguém? Alguém que teve que velar a morte? Ou mesmo alguém que não tenha morrido mas que sua ausência transformou sua vida num imenso vazio sem sentido para viver? Acho que é isso. Fazemos o luto. Lamentamos que as coisas não sejam mais como queríamos ou como já foram e talvez por se saber, desde de sempre, que contra a morte não há argumento, aceitamos. O tempo passa e voltamos a olhar para frente e novos desafios começam. Está em nós perceber quando um ‘luto’ deve acabar ou porque não queremos que este acabe.
Pois é verdade que um ‘luto’ pode estar a encobrir a insegurança do ser, suas fraquezas. Enquanto este tiver a quem culpar, tiver como justificar porquê sua vida é tão difícil e tão fraca em realizações, seu ‘luto’ permanecerá. Se a pena que acabamos por sentir de nós mesmos não for ultrapassada, um sentimento de revolta pode crescer e este ‘luto’ pode se transformar numa fonte de energia, na razão que a tudo justifica, criando um ciclo vicioso que mantém o indivíduo salvo de mais decepções, e ao mesmo tempo, na vítima de alguém, disfarçando aquilo que ele mesmo percebe não conseguir, não ser, em comparação com os feitos de quem lhe rodeia.
Parafraseando meu irmão mais novo, o que nos difere dos restantes mamíferos é a razão, é o poder de pensar, de analisar e decidir. Entender o emocional é identificar se o que se sente não são apenas velhas memórias. É verificar se hoje sentiríamos da mesma forma e criar uma nova percepção do evento, com segurança, maturidade. Reler uma situação, reintrojetar para que se faça projeções sadias.
Não adianta ficar exigindo secretamente o pedido de desculpas daquele que lhe magoou, enquanto deseja que esta mesma pessoa pague pelo o que ‘lhe’ fez. Se precisa de repostas, faça então as perguntas a quem as possa dar. Provoque seu ‘luto’, liberte-se de quem o magoou, perde-o.
Ao perdoá-lo, é possível que ainda sim não chegue o alento comentado e uma nova caminhada tenha início. A mesma pena que sentimos de nós mesmos, precisa ser convertida em perdão. Sim, num perdão a nós mesmos. Perdoarmo-nos por termos confiado cegamente naquele que nos ‘falhou’. Perdoarmo-nos por termos dedicado tanto de nós a algo ou alguém que não nos dava retorno ou amor. Perdoarmo-nos por não nos termos apercebido que estávamos permitindo, deixando alguém nos magoar, da mesma forma que quem magoou-nos também pode tê-lo feito sem saber, por pura imaturidade ou ignorância.
Procure no espelho, lá está o adulto, responsável pelas suas próprias decisões. Hoje, tudo pode ser, ou começar a ser, da forma que lhe faz mais feliz. Comece seu ‘luto’. Feche seu ‘luto’ e ouça, leia, perceba os sinais do seu verdadeiro ‘Eu’ que clama por justiça. Justiça essa que só você poderá conceber.
Se você for responsável pela formação de alguém, atente-se! Não seja um ignorante e não tenha a pretensão em saber ao certo em como uma criança está lhe ‘lendo’. Mesmo ao se ensinar o correto, podemos estar a forçar a sensibilidade de alguém, causando magoas profundas que poderão durar longos anos a serem perdoadas. Precisamos de mais amor de que corretivos e sobre tudo, de jutiça.
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério.
Navego por águas agitadas, eu sei. Falar de justiça, de injustiça, ou ainda, com justiça, talvez seja uma das tarefas mais delicadas para quem escreve, pelos menos para quem se preocupa com o que escreve. Portanto, sem querer ser injusto com ninguém, é importante entender que este blog é um reflexo de minhas percepções, de como eu, com meu historial, minhas experiências, vejo o mundo.
Estar entrando na segunda fase adulta de minha vida tem sido algo pelo qual preparei-me e sinto-me realizado com os resultados, com os fascinantes e coerentes fechos e desfechos que venho acompanhando, nas, e das, inúmeras sequências seguidas de tantas decisões e expectativas.
Mas o sentimento de injustiçado sempre acompanhou-me por toda a minha vida consciente. Num certo nível ainda acompanha. Contudo, hoje, sei não beber mais desta fonte e aos poucos tenho esquecido de seu gosto, inebriado por novos sabores, conquistados e adquiridos pelo exercício da liberdade adulta, a verdadeira liberdade do ‘Eu’.
Estou certo que todos lidam com este sentimento, mas questiono-me quantos destes continuarão presos a ele, sem a noção real do que ser livre é. Durante ‘minha caminhada’ eu estive preso a estes sentimentos por um longo, longo, tempo. Ok, eu sei, todos têm o seu processo. O quão justo é isso?
Alguns vivem com uma certa inquietude em suas vidas. Inesperados estados de ira e raiva despontam sem que se tenha a menor idéia do confronto que na verdade está em curso, entre a realidade do que lhes está afetando com o automatismo de suas memórias emocionais. Suas vidas seguem em total desequilíbrio e seus dia-a-dia são basicamente regidos por ‘dois pesos e duas medidas’.
Mas muitos sabem extamente o que lhes angustia. Aqueles que conseguem descrever com todas as palavras, a razão de sua dor, a espécie de injustiça que sofrem ou sofreram. Mas então o que os impede de seguirem em frente, de ultrapassarem este tormento?
Lembro-me da dor em juntar as peças do meu puzzle. Não conseguia me conformar, não conseguia aceitar que tanto de minha vida havia sido construído, decidido, sobre bases que em nada tinham a ver com a minha natureza, com a sensibilidade inata do meu ser. A noção do tempo passado, que não mais retornaria, a sensação de descaso, ou de tamanha ignorância, por aqueles que eram responsáveis pela minha educação, minha formação, era insuportável.
Buscava auxílio no racional. Entendia que tinham feito o melhor para mim, por mim. Entendia que eu tinha sido amado e sabia que dentro de um contexto, sócio-cultural, tinham agido de acordo com ‘um’ correto, ‘um’ esperado. Mas a dor não diminuía. A noção de que tudo poderia ter sido, ser, diferente, ao vislumbrar meu presente, era tão pesada que não conseguia aceitar o que entendia, como acontecera-me. Achar as causas de tantas dificuldades lançou-me num mar de ‘por ques’ e ‘comos’ que circulavam persistentemente na minha cabeça e até cheguei mesmo a sentir pena de mim.
Todo o efeito que tem ação sobre nós origina uma nova causa, responsável por novos efeitos. Um injustiçado, pode se transformar em alguém que busca a justiça, exercitando-a ou, em alguém que a nega e neste exercício, espera encontrar quem ‘pague’ por seus infortúnios, num processo semelhante ao da inveja, onde surge um falso alívio em se deparar com pessoas que pertençam a um mesmo grupo. Se o puzzle já estiver montado então, estas pessoas confundem-se entre vingança e justiça.
Não posso chegar naqueles que amo com a pretensão de libertá-los das cadeias das quais eles mesmo têm a chave. Mas por isso eu criei este blog. Para que aqui seja relatada a minha experiência, a minha visão, na esperança que mais partilhem desta minha, suposta, sensação de liberdade alcançada.
Você já perdeu alguém? Alguém que teve que velar a morte? Ou mesmo alguém que não tenha morrido mas que sua ausência transformou sua vida num imenso vazio sem sentido para viver? Acho que é isso. Fazemos o luto. Lamentamos que as coisas não sejam mais como queríamos ou como já foram e talvez por se saber, desde de sempre, que contra a morte não há argumento, aceitamos. O tempo passa e voltamos a olhar para frente e novos desafios começam. Está em nós perceber quando um ‘luto’ deve acabar ou porque não queremos que este acabe.
Pois é verdade que um ‘luto’ pode estar a encobrir a insegurança do ser, suas fraquezas. Enquanto este tiver a quem culpar, tiver como justificar porquê sua vida é tão difícil e tão fraca em realizações, seu ‘luto’ permanecerá. Se a pena que acabamos por sentir de nós mesmos não for ultrapassada, um sentimento de revolta pode crescer e este ‘luto’ pode se transformar numa fonte de energia, na razão que a tudo justifica, criando um ciclo vicioso que mantém o indivíduo salvo de mais decepções, e ao mesmo tempo, na vítima de alguém, disfarçando aquilo que ele mesmo percebe não conseguir, não ser, em comparação com os feitos de quem lhe rodeia.
Parafraseando meu irmão mais novo, o que nos difere dos restantes mamíferos é a razão, é o poder de pensar, de analisar e decidir. Entender o emocional é identificar se o que se sente não são apenas velhas memórias. É verificar se hoje sentiríamos da mesma forma e criar uma nova percepção do evento, com segurança, maturidade. Reler uma situação, reintrojetar para que se faça projeções sadias.
Não adianta ficar exigindo secretamente o pedido de desculpas daquele que lhe magoou, enquanto deseja que esta mesma pessoa pague pelo o que ‘lhe’ fez. Se precisa de repostas, faça então as perguntas a quem as possa dar. Provoque seu ‘luto’, liberte-se de quem o magoou, perde-o.
Ao perdoá-lo, é possível que ainda sim não chegue o alento comentado e uma nova caminhada tenha início. A mesma pena que sentimos de nós mesmos, precisa ser convertida em perdão. Sim, num perdão a nós mesmos. Perdoarmo-nos por termos confiado cegamente naquele que nos ‘falhou’. Perdoarmo-nos por termos dedicado tanto de nós a algo ou alguém que não nos dava retorno ou amor. Perdoarmo-nos por não nos termos apercebido que estávamos permitindo, deixando alguém nos magoar, da mesma forma que quem magoou-nos também pode tê-lo feito sem saber, por pura imaturidade ou ignorância.
Procure no espelho, lá está o adulto, responsável pelas suas próprias decisões. Hoje, tudo pode ser, ou começar a ser, da forma que lhe faz mais feliz. Comece seu ‘luto’. Feche seu ‘luto’ e ouça, leia, perceba os sinais do seu verdadeiro ‘Eu’ que clama por justiça. Justiça essa que só você poderá conceber.
Se você for responsável pela formação de alguém, atente-se! Não seja um ignorante e não tenha a pretensão em saber ao certo em como uma criança está lhe ‘lendo’. Mesmo ao se ensinar o correto, podemos estar a forçar a sensibilidade de alguém, causando magoas profundas que poderão durar longos anos a serem perdoadas. Precisamos de mais amor de que corretivos e sobre tudo, de jutiça.
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério.
terça-feira, outubro 23, 2007
A Fábula da Morte de um Irmão.
Adão, no auge do exercício de sua natureza humana, sozinho e já aborrecido, insatisfeito com tanta beleza e harmonia a sua volta, desejava muito que algo de excitante acontecesse em sua vida. Depois de tanta lamentação e com menos uma costela, Eva surgiu-lhe à vida para adoçá-la, mudando o significado de toda a existência e dando um novo sentido ao relacionar-se.
Isso até durou um bocado, mas apenas até Eva sentir que Adão não lhe dava toda a atenção que ela achava merecer e depois porque o papo da serpente, afinal, era bem mais interessante. Adão apercebeu-se que Eva andava estranha, mais calma e satisfeita, então um dia resolveu segui-la. Bem, num flagrante inesperado, ele acabou por se envolver num menage-à-trois com Eva e a serpente.
A serpente, vividíssima, fartou-se logo daquela relação, bateu asas e voou, deixando o casal mergulhado num tédio insuportável. Pior, Adão morria de saudades da serpente enquanto que Eva… Bem, Eva já estava noutra!.
Adão tomado por uma terrível depressão, acabou por perder o seu emprego e foram despejados do condomínio Éden, onde viviam, por falta de pagamento.
Eva passou a assumir as tarefas de casa. Lavava, passava e cozinhava enquanto Adão arranjou um trabalho longe e ficava fora de casa de sol a sol, assim, não precisaria encarar Eva e lembrar o quão calma e bela era sua vida antes daquela união. Entretanto, como nem só de pão vive o homem, Eva engravidou e tiveram seu primeiro filho.
Abel já estava grandinho quando Eva voltou a engravidar e nasceu Caim.. Contudo, já envelhecida e desgastada pelo trabalho doméstico, sentia-se muito frustrada com sua vida. Não só por carregar imensa culpa em ter sido responsável em apresentar a serpente a Adão, e consequentemente isso ter mudado toda a sua vida, mas como também Adão parecia nada interessado em sua família, como se ela fosse a razão do porquê ele perdera acesso a todo aquele mundo que conhecera.
Infeliz e sentindo-se muito sozinha, Eva chantageava emocionalmente os meninos de forma que eles sempre estivessem por perto, para que ela se sentisse menos abandonada. Abel, cedendo aos caprichos de sua mãe, com medo que ela morresse, sumisse na vida ou o deixasse, tornou-se num dedicado filho que a tudo fazia para vê-la bem.
Adão, cego de frustração, não suportava saber que Eva, depois de tudo o que lhes causara, voltava achar alento na companhia do filho. Assim, acabou por se afastar por completo da família. Caim, nem tão talentoso assim, numa total falta de atenção, aos poucos, dia após dia, invejava os dotes de seu irmão, a atenção que ele recebia, a desenvoltura dele e sem que percebesse, fora se transformando num ser inseguro, amargo e cruel.
Desesperado por querer ser amado, e num jogo de poder que ele mesmo não tinha consciência, passou a culpar o irmão pelo fato de se sentir menos privilegiado e ainda menos amado por sua mãe e ter perdido seu pai. Tinha ataques de fúria e acessos de raiva e acabou por desenvolver pânico. Viajou pela mítica e mística África, toda, a procura de respostas e de alguma paz para seu espírito, mas como cidade nenhuma nunca lhe agradava, voltou para casa.
Mas Caim não permitiria que as coisas continuassem assim. Usando seu charme de caçula, reconquistou seu pai e recorrendo à frágil e assustada figura, doente, atraiu sua mãe e até voltou a aproximou-se de Abel, como um verdadeiro amigo.
Não suportando o fato de não conseguir se equiparar com seu objeto de desejo, Caim convenceu Abel que precisava de ajuda numa tarefa e quando estavam finalmente bem longe de casa, Caim atacou de forma fatal o irmão.
Caim ficou tão desorientado que jamais conseguiu achar o caminho de volta para casa. Mergulhou numa profunda solidão e saudade de seu irmão e foi só assim, então, que percebeu a ‘cagada’ que tinha feito. O arrependimento chegou-lhe tarde, o irmão já estava morto e Caim seria eternamente lembrado por sua inveja e fraqueza।
Moral da históaria: Matar um irmão nunca é uma solução.
FIM.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Adão, no auge do exercício de sua natureza humana, sozinho e já aborrecido, insatisfeito com tanta beleza e harmonia a sua volta, desejava muito que algo de excitante acontecesse em sua vida. Depois de tanta lamentação e com menos uma costela, Eva surgiu-lhe à vida para adoçá-la, mudando o significado de toda a existência e dando um novo sentido ao relacionar-se.
Isso até durou um bocado, mas apenas até Eva sentir que Adão não lhe dava toda a atenção que ela achava merecer e depois porque o papo da serpente, afinal, era bem mais interessante. Adão apercebeu-se que Eva andava estranha, mais calma e satisfeita, então um dia resolveu segui-la. Bem, num flagrante inesperado, ele acabou por se envolver num menage-à-trois com Eva e a serpente.
A serpente, vividíssima, fartou-se logo daquela relação, bateu asas e voou, deixando o casal mergulhado num tédio insuportável. Pior, Adão morria de saudades da serpente enquanto que Eva… Bem, Eva já estava noutra!.
Adão tomado por uma terrível depressão, acabou por perder o seu emprego e foram despejados do condomínio Éden, onde viviam, por falta de pagamento.
Eva passou a assumir as tarefas de casa. Lavava, passava e cozinhava enquanto Adão arranjou um trabalho longe e ficava fora de casa de sol a sol, assim, não precisaria encarar Eva e lembrar o quão calma e bela era sua vida antes daquela união. Entretanto, como nem só de pão vive o homem, Eva engravidou e tiveram seu primeiro filho.
Abel já estava grandinho quando Eva voltou a engravidar e nasceu Caim.. Contudo, já envelhecida e desgastada pelo trabalho doméstico, sentia-se muito frustrada com sua vida. Não só por carregar imensa culpa em ter sido responsável em apresentar a serpente a Adão, e consequentemente isso ter mudado toda a sua vida, mas como também Adão parecia nada interessado em sua família, como se ela fosse a razão do porquê ele perdera acesso a todo aquele mundo que conhecera.
Infeliz e sentindo-se muito sozinha, Eva chantageava emocionalmente os meninos de forma que eles sempre estivessem por perto, para que ela se sentisse menos abandonada. Abel, cedendo aos caprichos de sua mãe, com medo que ela morresse, sumisse na vida ou o deixasse, tornou-se num dedicado filho que a tudo fazia para vê-la bem.
Adão, cego de frustração, não suportava saber que Eva, depois de tudo o que lhes causara, voltava achar alento na companhia do filho. Assim, acabou por se afastar por completo da família. Caim, nem tão talentoso assim, numa total falta de atenção, aos poucos, dia após dia, invejava os dotes de seu irmão, a atenção que ele recebia, a desenvoltura dele e sem que percebesse, fora se transformando num ser inseguro, amargo e cruel.
Desesperado por querer ser amado, e num jogo de poder que ele mesmo não tinha consciência, passou a culpar o irmão pelo fato de se sentir menos privilegiado e ainda menos amado por sua mãe e ter perdido seu pai. Tinha ataques de fúria e acessos de raiva e acabou por desenvolver pânico. Viajou pela mítica e mística África, toda, a procura de respostas e de alguma paz para seu espírito, mas como cidade nenhuma nunca lhe agradava, voltou para casa.
Mas Caim não permitiria que as coisas continuassem assim. Usando seu charme de caçula, reconquistou seu pai e recorrendo à frágil e assustada figura, doente, atraiu sua mãe e até voltou a aproximou-se de Abel, como um verdadeiro amigo.
Não suportando o fato de não conseguir se equiparar com seu objeto de desejo, Caim convenceu Abel que precisava de ajuda numa tarefa e quando estavam finalmente bem longe de casa, Caim atacou de forma fatal o irmão.
Caim ficou tão desorientado que jamais conseguiu achar o caminho de volta para casa. Mergulhou numa profunda solidão e saudade de seu irmão e foi só assim, então, que percebeu a ‘cagada’ que tinha feito. O arrependimento chegou-lhe tarde, o irmão já estava morto e Caim seria eternamente lembrado por sua inveja e fraqueza।
Moral da históaria: Matar um irmão nunca é uma solução.
FIM.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
quarta-feira, outubro 17, 2007
Relação Aberta
Falar de relação aberta é quase o mesmo que falar de terapia psicológica, ou seja, só quem passou pelo processo consegue entender, saber não só o que é, mas como é. É uma ‘rotina’ nem tão incomum como se pensa, mas é um fato que também seu exercício não é muito bem sucedido. Mas afinal, o que envolve e constitui uma relação aberta?
Uma relação aberta consiste em se estar vivendo um relacionamento com uma segunda pessoa, um namoro ou um casamento, sem ter o compromisso da fidelidade. Claro que, como qualquer coisa que envolva o emocional humano, os níveis de tolerância em relação à frequência deste ‘não compromisso’ podem ser mais ou menos, ou mais, rígidos.
Eu, particularmente, acho que existe por aí uma grande confusão sobre este assunto e um mar de ‘casais’ justificando a sua infeliz e inconsciente existência, disfarçando suas dificuldades e amenizando seus fracassos enquanto ente responsável por 50% de um relacionamento.
Uma relação antes de poder ser aberta, como diz o próprio nome, deve ser uma relação, ou seja, interação entre pessoas. É obvio que o ‘aberta’ se refere a uma liberdade de carater sexual, logo, o termo Relação Aberta só pode ser aplicável a duas pessoas que se relacionem com sexo. E esta minha afirmação, estou certo, deve estar suscitando mentes a processarem um: ‘Não é bem assim…’.
Pois este é exatamente o ponto. Eu parti do conceito que um relacionamento amoroso entre duas pessoas deve ter sexo. Sabe-se que existem pessoas que estão juntas por imenso tempo, estiveram enamoradas no passado, continuam a ter uma conta bancária em conjunto, dormem juntas e programam tudo a dois sem se tocarem sexualmente. Não quero aqui ‘atacar’ o modo de vida de ninguém, ou a forma de equilíbrio que encontraram para suas vidas, mas isso para mim caracteriza uma relação de amizade, com um forte amor, mas amizade. Logo se existe sexo fora desta relação, para mim, não constitui uma relação aberta.
Isso introduz-me ao ponto onde entendo que, tudo, como qualquer processo da vida na verdade, vai sempre ser julgado a partir dos nossos conceitos. Com isso quero dizer que viver uma relação aberta, vai depender inteiramente do sucesso da boa definição entre os inúmeros conceitos que interligam o como sentimos e o como relacionamo-nos com alguém. Basta uma idéia incoerente, um pensamento que não se alinhe nesta teia e, para mim, a tal relação aberta acabou de arruinar a união de um casal.
Outra coisa: Relação aberta e bigamia (ainda que não oficial) não são ‘conceitos sinônimos’. Isto é, viver uma relação aberta não é ter um segundo relacionamento, não é se relacionar com uma terceira pessoa e sim, apenas ter a liberdade de ter sexo com esta terceira pessoa. E aí começam as confusões de conceitos.
Da forma como as pessoas olham para o sexo, este é associado a uma intimidade que só se pode ter alcance depois de se conhecer a segunda pessoa. Logo que, para conhecer alguém, querendo ou não, estamos nos relacionando com este ser, trocando impressões e aí, as emoções já correm soltas. Se temos um compromisso emocional com alguém, a quem nos dedicamos, qual é o sentido deste jogo, o falso interesse em conhecer alguém? Ter sexo?
A relação aberta só é possível sobre muito compromisso, sobre muitas certezas e discernimento. Numa relação aberta, não se procura sexo fora por compensação ou para se ter algo melhor. É meramente diversão, individualidade. A relação aberta para ser honesta, deve ter o mesmo sentido àquele quando estamos trancados em algum lugar nos masturbando, só claro, com melhores sensações… Quando nos masturbamos, via de regra, não existem sentimentos por ninguém e sim, apenas uma resposta a um estímulo, uma busca por prazer, tesão e alívio.
Viver uma relação aberta exige a confiança em sabermos que a segunda pessoa sempre voltará para casa sem números de telefones novos e sem marcação de segundos encontros, pois isso constituiria um ‘caso’, um relacionamento com uma terceira pessoa. Exige, ainda, confiança também de nosso próprio auto conhecimento, em não confundirmos uma foda altamente compatível e gostosa, com o amor de nossas vidas e aqui, de novo, acho que o povo em geral se perde… Feio.
As pessoas vivem tão desavisadas de como funcionam, do que são ou do que sentem falta ou ainda, do que procuram, que se confundem entre ‘cores e odores’. Uma relação passa por altos e baixos e é preciso um senso de justiça e equilíbrio bem exercitado para ultrapassá-los. Olho para trás e penso que se em todos os momentos em que me apeteceu ‘chutar o pau da barraca’, se o tivesse feito, jamais teria vivido tudo o que de maravilhoso veio nos anos a seguir a este momento, depois de ultrapassado a crise. E isso fortalece-nos, isso faz-nos confiar na segunda pessoa e fazer-nos não querer, não precisar procurar nada fora, senão, uma boa ‘escabelada no palhaço’, porém, acompanhada.
Mas acima de tudo, para mim, ao pensar no assunto, é importante entender que a relação aberta não é a saída, ou a receita para isso ou aquilo. Como tantas outras coisas na vida, esta rotina requer pré-disposições, inatas ou desenvolvidas, e serve apenas para um grupo. Não deve ser vista como uma ameaça à alguma instituição, ou ainda, como algo de caráter patológico.
Uma relação aberta, honesta, talvez, seja a consequência de um outro nível de valores, de uma outra forma de se ver o ser humano e de se amar, no sentido de parceria, um outro ser humano.
É não ter a pretensão de querer comandar o universo inconsciente de alguém, o ente biológico, químico e individual que é a outra pessoa. É aceitar que o compromisso da segunda pessoa para com a primeira, em construir um futuro a dois, é o bastante. É aceitar e sentir-se grato pela segunda pessoa estar a gerenciar seu espaço individual para coabitar com a primeira, fazer planos com ela, cobrir-lhe a noite, fazer-lhe uma refeição, planear uma viagem surpresa, controlar-lhe o horário para algum remédio, perguntar-lhe como foi o dia, acordar-lhe pela manhã para fazer amor, enxugar-lhe lágrimas, alegrar-lhe quando preciso ou só amar-lhe.
Tudo isso, claro, com a maravilhosa consciência que aos olhos da outra pessoa, a segunda referência, deste texto, será sempre você.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério
Falar de relação aberta é quase o mesmo que falar de terapia psicológica, ou seja, só quem passou pelo processo consegue entender, saber não só o que é, mas como é. É uma ‘rotina’ nem tão incomum como se pensa, mas é um fato que também seu exercício não é muito bem sucedido. Mas afinal, o que envolve e constitui uma relação aberta?
Uma relação aberta consiste em se estar vivendo um relacionamento com uma segunda pessoa, um namoro ou um casamento, sem ter o compromisso da fidelidade. Claro que, como qualquer coisa que envolva o emocional humano, os níveis de tolerância em relação à frequência deste ‘não compromisso’ podem ser mais ou menos, ou mais, rígidos.
Eu, particularmente, acho que existe por aí uma grande confusão sobre este assunto e um mar de ‘casais’ justificando a sua infeliz e inconsciente existência, disfarçando suas dificuldades e amenizando seus fracassos enquanto ente responsável por 50% de um relacionamento.
Uma relação antes de poder ser aberta, como diz o próprio nome, deve ser uma relação, ou seja, interação entre pessoas. É obvio que o ‘aberta’ se refere a uma liberdade de carater sexual, logo, o termo Relação Aberta só pode ser aplicável a duas pessoas que se relacionem com sexo. E esta minha afirmação, estou certo, deve estar suscitando mentes a processarem um: ‘Não é bem assim…’.
Pois este é exatamente o ponto. Eu parti do conceito que um relacionamento amoroso entre duas pessoas deve ter sexo. Sabe-se que existem pessoas que estão juntas por imenso tempo, estiveram enamoradas no passado, continuam a ter uma conta bancária em conjunto, dormem juntas e programam tudo a dois sem se tocarem sexualmente. Não quero aqui ‘atacar’ o modo de vida de ninguém, ou a forma de equilíbrio que encontraram para suas vidas, mas isso para mim caracteriza uma relação de amizade, com um forte amor, mas amizade. Logo se existe sexo fora desta relação, para mim, não constitui uma relação aberta.
Isso introduz-me ao ponto onde entendo que, tudo, como qualquer processo da vida na verdade, vai sempre ser julgado a partir dos nossos conceitos. Com isso quero dizer que viver uma relação aberta, vai depender inteiramente do sucesso da boa definição entre os inúmeros conceitos que interligam o como sentimos e o como relacionamo-nos com alguém. Basta uma idéia incoerente, um pensamento que não se alinhe nesta teia e, para mim, a tal relação aberta acabou de arruinar a união de um casal.
Outra coisa: Relação aberta e bigamia (ainda que não oficial) não são ‘conceitos sinônimos’. Isto é, viver uma relação aberta não é ter um segundo relacionamento, não é se relacionar com uma terceira pessoa e sim, apenas ter a liberdade de ter sexo com esta terceira pessoa. E aí começam as confusões de conceitos.
Da forma como as pessoas olham para o sexo, este é associado a uma intimidade que só se pode ter alcance depois de se conhecer a segunda pessoa. Logo que, para conhecer alguém, querendo ou não, estamos nos relacionando com este ser, trocando impressões e aí, as emoções já correm soltas. Se temos um compromisso emocional com alguém, a quem nos dedicamos, qual é o sentido deste jogo, o falso interesse em conhecer alguém? Ter sexo?
A relação aberta só é possível sobre muito compromisso, sobre muitas certezas e discernimento. Numa relação aberta, não se procura sexo fora por compensação ou para se ter algo melhor. É meramente diversão, individualidade. A relação aberta para ser honesta, deve ter o mesmo sentido àquele quando estamos trancados em algum lugar nos masturbando, só claro, com melhores sensações… Quando nos masturbamos, via de regra, não existem sentimentos por ninguém e sim, apenas uma resposta a um estímulo, uma busca por prazer, tesão e alívio.
Viver uma relação aberta exige a confiança em sabermos que a segunda pessoa sempre voltará para casa sem números de telefones novos e sem marcação de segundos encontros, pois isso constituiria um ‘caso’, um relacionamento com uma terceira pessoa. Exige, ainda, confiança também de nosso próprio auto conhecimento, em não confundirmos uma foda altamente compatível e gostosa, com o amor de nossas vidas e aqui, de novo, acho que o povo em geral se perde… Feio.
As pessoas vivem tão desavisadas de como funcionam, do que são ou do que sentem falta ou ainda, do que procuram, que se confundem entre ‘cores e odores’. Uma relação passa por altos e baixos e é preciso um senso de justiça e equilíbrio bem exercitado para ultrapassá-los. Olho para trás e penso que se em todos os momentos em que me apeteceu ‘chutar o pau da barraca’, se o tivesse feito, jamais teria vivido tudo o que de maravilhoso veio nos anos a seguir a este momento, depois de ultrapassado a crise. E isso fortalece-nos, isso faz-nos confiar na segunda pessoa e fazer-nos não querer, não precisar procurar nada fora, senão, uma boa ‘escabelada no palhaço’, porém, acompanhada.
Mas acima de tudo, para mim, ao pensar no assunto, é importante entender que a relação aberta não é a saída, ou a receita para isso ou aquilo. Como tantas outras coisas na vida, esta rotina requer pré-disposições, inatas ou desenvolvidas, e serve apenas para um grupo. Não deve ser vista como uma ameaça à alguma instituição, ou ainda, como algo de caráter patológico.
Uma relação aberta, honesta, talvez, seja a consequência de um outro nível de valores, de uma outra forma de se ver o ser humano e de se amar, no sentido de parceria, um outro ser humano.
É não ter a pretensão de querer comandar o universo inconsciente de alguém, o ente biológico, químico e individual que é a outra pessoa. É aceitar que o compromisso da segunda pessoa para com a primeira, em construir um futuro a dois, é o bastante. É aceitar e sentir-se grato pela segunda pessoa estar a gerenciar seu espaço individual para coabitar com a primeira, fazer planos com ela, cobrir-lhe a noite, fazer-lhe uma refeição, planear uma viagem surpresa, controlar-lhe o horário para algum remédio, perguntar-lhe como foi o dia, acordar-lhe pela manhã para fazer amor, enxugar-lhe lágrimas, alegrar-lhe quando preciso ou só amar-lhe.
Tudo isso, claro, com a maravilhosa consciência que aos olhos da outra pessoa, a segunda referência, deste texto, será sempre você.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério
quinta-feira, outubro 11, 2007
Sociedade Imperialista
É sempre muito delicado tentar abordar um assunto de forma séria quando não nascemos no local do qual estamos a falar, mesmo quando somos naturalizados. Para mais quando, ao menos por nacionalidade, pertencemos à uma comunidade de rótulos postulados.
Mas existem aqueles que venceram o tempo e provaram ter o direito a ingressarem nesta sociedade, onde vivem como cidadãos legítimos, onde votam e pagam impostos e onde também são responsáveis pela imagem pública do país e pelo crescimento do mesmo.
E talvez seja exactamente por este envolvimento que surja uma mágoa, como um filho que tenta de todas as formas agradar ao seu pai, que nunca lhe tem tempo, que nunca o reconhece, que nunca lhe dá atenção e o devido amor.
Eu estava a ler o ‘Meia Hora’, um dos periódicos gratuitos distribuídos aqui em Lisboa, quando encontrei uma nota de uma ‘investidora emérita’ de uma universidade, onde ela comenta que as famílias ricas portuguesas na verdade são pobres.
Chamou-me atenção então, o facto das repetidas vezes em que este assunto tem sido abordado, sobre o quanto as famílias portuguesas têm vivido mergulhadas em dívidas, a consumir muito mais do aquilo que aufere.
Assustadores sinais têm surgido ao redor. Sinais apenas perceptíveis, talvez, por quem já tenha passado por isso numa outra realidade económica-cultural, num outro hemisfério… Na televisão, são algumas as empresas que tentam ‘vender’ crédito fácil; ao caminharmos pelas ruas, vemos cartazes nas montras de lojas que dizem ‘Crédito rápido’ e nos espaços reservados ao café, no local onde trabalhamos, presos ao mural, surgem anúncios de pessoas a vender coisas, a prestar serviços, enfim, a tratar de um rendimento extra.
Já faz alguns anos que se sabe que o português tem um padrão de ostentação alto e isso é de conhecimento comum, herdado, estou certo, da própria história real do país. Carlota Joaquina já era conhecida por se servir de um ‘fiadinho’ e seu marido D. João VI , não era muito preocupado em pagar suas contas, ou melhor, em fazê-las.
Penso que esta fase imperialista da história, nem tão longe de nós assim, marcou demais as sociedades envolvidas, gerando uma estrutura de valores tão forte que ainda reside no nosso ‘DNA, ou ADN, social’.
Quanto mais próximo da corte, ou de alguém de lá, com mais ‘nobreza’ a pessoa sentia viver, como que diferenciada, em especial àquele ‘comum’ que poderia ser um vizinho seu. Ainda que este ‘comum’ fosse dono de uma mercearia e fizesse muito mais dinheiro do que aquele que apenas se dava com o outro de ‘patente’ superior.
Este sentimento, típico em algumas cortes europeias daquele período, parece ter sobrevivido. Passou por uma ligeira mutação, mas continua aqui, entre nós. As pessoas não falam, não comentam em voz alta, mas julgam, sentem-no. Ao nosso redor, continua-se a valorizar os sobrenomes, as zonas onde se vive e os carros que se conduz. Percebemos isso na expressão de seus rostos pelos espaços públicos, quando esbarramos contra alguém, ou no trânsito, quando queremos manobrar e precisamos de espaço. Como se tivéssemos ousado ter entrado em ‘rota de colisão’.
Torce-se o nariz à quem viva na margem sul, na alta de Lisboa ou Benfica; à quem seja ‘brasuca’, ‘munhé’ ou ‘do leste’ e mesmo ao português comum que serve mesas; àquele que se transporta de autocarro ou de barco, que conduz um carro com mais de quatro anos, que não tem um apelido brasonado ou que não tenha uma formação académica, que não fale francês com um bom sotaque e muito mais.
O cidadão português tem carregado em si o ‘poder’ de se sentir mais ‘caro’ do que aquele que está ao seu lado. Das pequenas às grandes coisas. Uma pressão inerente em ser mais ou ter mais.
Este sentimento isola-nos, dá-nos a falsa sensação de sermos melhores e torna-nos em ‘ilhas’, em ‘ego-mutantes’ alienados do melhor que o ser humano por ser, reflectindo-se em tudo:
Há vinte anos, Portugal e Irlanda receberam a mesma quantia da Comunidade Europeia para ingressarem numa nova era económica; o que houve de errado connosco? Mas alguém questiona isso? Será tudo tão tristemente simples quanto achar que poupar, adoptar medidas e estratégias económicas seria dar parte fraca e ficar mal visto ‘na corte’?
Pior ainda: Se os filhos da Revolução dos Cravos parecem viver numa realidade paralela, quase virtual, onde não existe uma união social ou um próprio reconhecimento da identidade maioritária do país, de que este é mais do que Lisboa e que nem todos vivem na Quinta da Marinha, para onde caminham os netos deste confronto?
Eu digo que não é um governo que faz um país e sim o seu povo. Temos que eliminar este traço infantil de que as coisas devem ser como nos favorecem melhor! É óbvio que as pessoas querem ser felizes e ter bem-estar. Mas se esta filosofia não for comedida, honesta em relação a um grupo, desperta no ser humano o seu lado mais vil e, ironicamente, o mais pobre.
Pense lá, você, esmagado em alguma camada da ‘tal’ pirâmide, que a saúde de sua mãe, de seu filho, está nas mãos de um médico que pode estar mais preocupado com o seu veleiro na marina do que com a real causa do problema.
Pense num processo judicial, contra alguma empresa que cobrou indevidamente seu cliente, mas que está numa sala, entre pilhas de outras pastas, e que os magistrados, juízes e funcionários públicos preocupam-se mais com as regalias ganhas do sistema do que com a justiça a ser feita.
Pense lá em qualquer profissional que viva apenas para se dar bem; no seu nível de profissionalismo e tudo de mau, progressivamente reflectido que pode afectar a sociedade a partir deste elemento. Agora pense que este profissional pode ser você ou que poderá ser um filho seu amanhã.
É preciso olhar para identidade nacional! É preciso reconhecer a quantidade de pessoas que vivem na miséria durante suas velhices, que já no terceiro milénio ainda não têm água encanada em suas casa ou electricidade, no número de pessoas semianalfabetas, no número gigantesco de portugueses que vivem no estrangeiro e que servem mesas ou limpam casas de banho e engolir este infundamentado orgulho, este falso poder soberano de olhar à volta, para os seus e o outros, como se não tivessem nada a ver com isso, ignorando a realidade do país.
Nada, nunca apagará os gloriosos feitos da história. Nada, nunca poderá tirar desta terra o orgulho, a nobreza, de tudo aquilo de lhe confere sua identidade. Mas a humildade é, e sempre será, uma característica que apenas um verdadeiro nobre sabe como aplicar.
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério.
É sempre muito delicado tentar abordar um assunto de forma séria quando não nascemos no local do qual estamos a falar, mesmo quando somos naturalizados. Para mais quando, ao menos por nacionalidade, pertencemos à uma comunidade de rótulos postulados.
Mas existem aqueles que venceram o tempo e provaram ter o direito a ingressarem nesta sociedade, onde vivem como cidadãos legítimos, onde votam e pagam impostos e onde também são responsáveis pela imagem pública do país e pelo crescimento do mesmo.
E talvez seja exactamente por este envolvimento que surja uma mágoa, como um filho que tenta de todas as formas agradar ao seu pai, que nunca lhe tem tempo, que nunca o reconhece, que nunca lhe dá atenção e o devido amor.
Eu estava a ler o ‘Meia Hora’, um dos periódicos gratuitos distribuídos aqui em Lisboa, quando encontrei uma nota de uma ‘investidora emérita’ de uma universidade, onde ela comenta que as famílias ricas portuguesas na verdade são pobres.
Chamou-me atenção então, o facto das repetidas vezes em que este assunto tem sido abordado, sobre o quanto as famílias portuguesas têm vivido mergulhadas em dívidas, a consumir muito mais do aquilo que aufere.
Assustadores sinais têm surgido ao redor. Sinais apenas perceptíveis, talvez, por quem já tenha passado por isso numa outra realidade económica-cultural, num outro hemisfério… Na televisão, são algumas as empresas que tentam ‘vender’ crédito fácil; ao caminharmos pelas ruas, vemos cartazes nas montras de lojas que dizem ‘Crédito rápido’ e nos espaços reservados ao café, no local onde trabalhamos, presos ao mural, surgem anúncios de pessoas a vender coisas, a prestar serviços, enfim, a tratar de um rendimento extra.
Já faz alguns anos que se sabe que o português tem um padrão de ostentação alto e isso é de conhecimento comum, herdado, estou certo, da própria história real do país. Carlota Joaquina já era conhecida por se servir de um ‘fiadinho’ e seu marido D. João VI , não era muito preocupado em pagar suas contas, ou melhor, em fazê-las.
Penso que esta fase imperialista da história, nem tão longe de nós assim, marcou demais as sociedades envolvidas, gerando uma estrutura de valores tão forte que ainda reside no nosso ‘DNA, ou ADN, social’.
Quanto mais próximo da corte, ou de alguém de lá, com mais ‘nobreza’ a pessoa sentia viver, como que diferenciada, em especial àquele ‘comum’ que poderia ser um vizinho seu. Ainda que este ‘comum’ fosse dono de uma mercearia e fizesse muito mais dinheiro do que aquele que apenas se dava com o outro de ‘patente’ superior.
Este sentimento, típico em algumas cortes europeias daquele período, parece ter sobrevivido. Passou por uma ligeira mutação, mas continua aqui, entre nós. As pessoas não falam, não comentam em voz alta, mas julgam, sentem-no. Ao nosso redor, continua-se a valorizar os sobrenomes, as zonas onde se vive e os carros que se conduz. Percebemos isso na expressão de seus rostos pelos espaços públicos, quando esbarramos contra alguém, ou no trânsito, quando queremos manobrar e precisamos de espaço. Como se tivéssemos ousado ter entrado em ‘rota de colisão’.
Torce-se o nariz à quem viva na margem sul, na alta de Lisboa ou Benfica; à quem seja ‘brasuca’, ‘munhé’ ou ‘do leste’ e mesmo ao português comum que serve mesas; àquele que se transporta de autocarro ou de barco, que conduz um carro com mais de quatro anos, que não tem um apelido brasonado ou que não tenha uma formação académica, que não fale francês com um bom sotaque e muito mais.
O cidadão português tem carregado em si o ‘poder’ de se sentir mais ‘caro’ do que aquele que está ao seu lado. Das pequenas às grandes coisas. Uma pressão inerente em ser mais ou ter mais.
Este sentimento isola-nos, dá-nos a falsa sensação de sermos melhores e torna-nos em ‘ilhas’, em ‘ego-mutantes’ alienados do melhor que o ser humano por ser, reflectindo-se em tudo:
Há vinte anos, Portugal e Irlanda receberam a mesma quantia da Comunidade Europeia para ingressarem numa nova era económica; o que houve de errado connosco? Mas alguém questiona isso? Será tudo tão tristemente simples quanto achar que poupar, adoptar medidas e estratégias económicas seria dar parte fraca e ficar mal visto ‘na corte’?
Pior ainda: Se os filhos da Revolução dos Cravos parecem viver numa realidade paralela, quase virtual, onde não existe uma união social ou um próprio reconhecimento da identidade maioritária do país, de que este é mais do que Lisboa e que nem todos vivem na Quinta da Marinha, para onde caminham os netos deste confronto?
Eu digo que não é um governo que faz um país e sim o seu povo. Temos que eliminar este traço infantil de que as coisas devem ser como nos favorecem melhor! É óbvio que as pessoas querem ser felizes e ter bem-estar. Mas se esta filosofia não for comedida, honesta em relação a um grupo, desperta no ser humano o seu lado mais vil e, ironicamente, o mais pobre.
Pense lá, você, esmagado em alguma camada da ‘tal’ pirâmide, que a saúde de sua mãe, de seu filho, está nas mãos de um médico que pode estar mais preocupado com o seu veleiro na marina do que com a real causa do problema.
Pense num processo judicial, contra alguma empresa que cobrou indevidamente seu cliente, mas que está numa sala, entre pilhas de outras pastas, e que os magistrados, juízes e funcionários públicos preocupam-se mais com as regalias ganhas do sistema do que com a justiça a ser feita.
Pense lá em qualquer profissional que viva apenas para se dar bem; no seu nível de profissionalismo e tudo de mau, progressivamente reflectido que pode afectar a sociedade a partir deste elemento. Agora pense que este profissional pode ser você ou que poderá ser um filho seu amanhã.
É preciso olhar para identidade nacional! É preciso reconhecer a quantidade de pessoas que vivem na miséria durante suas velhices, que já no terceiro milénio ainda não têm água encanada em suas casa ou electricidade, no número de pessoas semianalfabetas, no número gigantesco de portugueses que vivem no estrangeiro e que servem mesas ou limpam casas de banho e engolir este infundamentado orgulho, este falso poder soberano de olhar à volta, para os seus e o outros, como se não tivessem nada a ver com isso, ignorando a realidade do país.
Nada, nunca apagará os gloriosos feitos da história. Nada, nunca poderá tirar desta terra o orgulho, a nobreza, de tudo aquilo de lhe confere sua identidade. Mas a humildade é, e sempre será, uma característica que apenas um verdadeiro nobre sabe como aplicar.
Uma boa semana a todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, outubro 01, 2007
Victoria Park Plaza Hotel Amsterdam
After carefully consideration I have decided to manifest my point of view over a couple of things happened during my short stay on this hotel last week where I was accompanying my partner who is a regular executive guest of it for the past months.
For the past same time I have been listening narratives of many situations which now I might be able to endorse such as:
On the end of day one, returning to room, there were no coffee or sugar bags replaced around the coffee machine so we had to call room service for something that should be done already.
On the end of day two not only the sodas weren’t replaced in the mini bar as no menu could be found in the room. Fifteen minutes later we have asked for one over the phone my partner had to come down the reception to realise that no staff member could find an available menu to delivery to us. When we finally could make a choice, as simple as two pizzas, two desserts and one light coke, neither the coke nor spoons, to eat the dessert, could be found on the tray.
On the end of day three not just we found a chair in the middle of the room, shoes and clothes everywhere, as again no replacements were made in the mini bar.
At last, when I was leaving to airport, at the main hotel door, there were two taxis and two taxi drivers arguing to each other while each one was trying to convince us to take his cab. One kept himself saying to ask at the hotel who of them was there working for it. When we said ‘we have a problem’ to a staff member that shown up he replied ‘I don’t see a problem. Just take any one’.
They all look like small things, minor details but let’s be frontal: The relationship between a guest and a hotel is purely business and the whole base of different prices is about the kind of services and accommodations dealt.
It seems even more concerning when the most kind and nice people among the staff are exactly those who perform tasks that do not demand much education or training in opposite to those who had, supposedly, training to do customer service.
These things are not happening to a tourist who just needs a nice room for two or three days. It is happening to an executive person who spends a large amount of days living on these facilities, paying the dealt value.
In my opinion, the Victoria Park Plaza Amsterdam is been driven by a team where individuals egos are taking over. No supervision, no world-class customer service or any other kind of excellence plan seems to be an aim.
When there is a corporation behind an executive and when we have a whole city to choose where to stay, why should Victoria Park Plaza Amsterdam get the distinction? Why one, away from home, after a long journey of work, paying for services, should see himself evolved in these situations?
Sooner or later, bag by ‘none bag’ of coffee will make one realise where his money and his precious hours have been spent on. I hope sooner for my partner.
Eduardo Diverio – Room 110 between September 26th and 30th।
After carefully consideration I have decided to manifest my point of view over a couple of things happened during my short stay on this hotel last week where I was accompanying my partner who is a regular executive guest of it for the past months.
For the past same time I have been listening narratives of many situations which now I might be able to endorse such as:
On the end of day one, returning to room, there were no coffee or sugar bags replaced around the coffee machine so we had to call room service for something that should be done already.
On the end of day two not only the sodas weren’t replaced in the mini bar as no menu could be found in the room. Fifteen minutes later we have asked for one over the phone my partner had to come down the reception to realise that no staff member could find an available menu to delivery to us. When we finally could make a choice, as simple as two pizzas, two desserts and one light coke, neither the coke nor spoons, to eat the dessert, could be found on the tray.
On the end of day three not just we found a chair in the middle of the room, shoes and clothes everywhere, as again no replacements were made in the mini bar.
At last, when I was leaving to airport, at the main hotel door, there were two taxis and two taxi drivers arguing to each other while each one was trying to convince us to take his cab. One kept himself saying to ask at the hotel who of them was there working for it. When we said ‘we have a problem’ to a staff member that shown up he replied ‘I don’t see a problem. Just take any one’.
They all look like small things, minor details but let’s be frontal: The relationship between a guest and a hotel is purely business and the whole base of different prices is about the kind of services and accommodations dealt.
It seems even more concerning when the most kind and nice people among the staff are exactly those who perform tasks that do not demand much education or training in opposite to those who had, supposedly, training to do customer service.
These things are not happening to a tourist who just needs a nice room for two or three days. It is happening to an executive person who spends a large amount of days living on these facilities, paying the dealt value.
In my opinion, the Victoria Park Plaza Amsterdam is been driven by a team where individuals egos are taking over. No supervision, no world-class customer service or any other kind of excellence plan seems to be an aim.
When there is a corporation behind an executive and when we have a whole city to choose where to stay, why should Victoria Park Plaza Amsterdam get the distinction? Why one, away from home, after a long journey of work, paying for services, should see himself evolved in these situations?
Sooner or later, bag by ‘none bag’ of coffee will make one realise where his money and his precious hours have been spent on. I hope sooner for my partner.
Eduardo Diverio – Room 110 between September 26th and 30th।