terça-feira, novembro 27, 2007
Natural? Natural é comer! E olha a ‘cáca’ em que acaba!
Houve uma época em que eu realmente acreditava que fazia parte da sábia natureza, o ciclo do nascer, ser filho, crescer, casar, ter um filho, ser pai, envelhecer e finalmente ter compreendido tudo. Como do nascer e crescer eu passaria, provavelmente, para o envelhecer, ‘o finalmente compreender tudo’ não seria naturalmente atingido. Assim, também acreditei que precisava fazer algo então.
Durante algum tempo até pensei em adoptar uma criança. Sentia que queria ser pai, que queria deixar um seguimento meu, passar para alguém aquilo que haviam passado a mim ou o que eu havia aprendido ao longo de meu curso pela vida. Contudo, a espera de um momento oportuno, ou por puro impedimento inconsciente, o tempo foi passando.
Confesso que, hoje, me sinto muito aliviado, realizado por não ter sido pai. Sim, tão realizado quanto me sinto com as conquistas que definem meu perfil. Disse isso outro dia de uma forma meio pública sem perceber que isso causaria um choque colectivo. Não só, algumas pessoas passaram a olhar-me com aquele ar de: ‘Que Deus o perdoe por pensar tanta bobagem’, ‘Tão giro, mas tão perdido’. E eu? De sobrancelha esquerda erguida!
Hoje, na minha idade, depois de ter acompanhado a infância de muitos dos filhos daqueles que me rodeiam, ou rodeavam, mais a análise de minha própria infância, somado ao meu entendimento do ser humano no terceiro milénio, acho que as pessoas deveriam fazer psicotécnicos para saber se podem ou não serem pais.
É verdade que eu tenho amigos que fazem esta experiência toda parecer uma brincadeira. Contudo, olhando à volta, não acho que eles sejam a maioria: Aqueles que programaram e desejaram uma gravidez, mas acabam por transformar a criança no centro de seu universo e esquecem-se que são indivíduos, e como tal, que deveriam continuar a ter realizações próprias e mais, que estão criando um futuro individualista; outros, que engravidaram por acidente, podem sofrer de uma negligência paternal que projectará esta criança num universo sem preparo ou cuidado nenhum para coisa alguma.
Amo minha vida. Metade de minhas conquistas não teriam sido possíveis se eu fosse responsável por alguém. São bem mais de 15 anos de economia apertada, de preocupação, de teimosia, de acordos e conversas, de esperança, medo, responsabilidade aos quais eu prefiro dedicar a mim. Uns olham para isso como egoísmo, imaturidade de minha parte. Eu, apenas sinto não me caber esta tarefa.
Vejam bem, se por se ter uma vida boa e ganhar bem, todos fossem ser médicos ou advogados, quem seria funcionário público? Quem seria padeiro, carteiro, lixeiro, relojoeiro, comerciante? Por que, sendo eu um ser humano, devo ser pai para ser completo, feliz? Acho que existem aquelas pessoas que são pais e que cumprem esta tarefa muito bem e há outras que não. Ponto.
Porque eu, como filho, pergunto: Mas quem disse que eu queria, quero, ser o seguimento de alguém? Se não pedi para nascer, quem disse que o que meu pai achava ter para me ensinar, interessa a minha sensibilidade, à forma como EU afecto e sou afectado pelo meio? Mas meu ouvido é penico para ficar recebendo informação que outros acham ser importante e que a mim não diz nada?
Estou certo que se tivesse sido pai, durante aquele tempo que muito o quis, seria um pai amoroso e dedicado. Acho que acabaria por ser um bom pai, mas também é-me certo, que lá pelos meus cinquenta, sessenta anos, eu seria daqueles que diria – ou que só pensaria: ‘Eu amo meus filhos, muito. Mas se não os tivesse tido…’
Bom, eu acho que seria um bom pai no final, mas de novo, pondo-me na óptica de filho, talvez, eu fosse um ditador! Claro que dentro de um contexto, situação por situação, minutos por minutos que tenham levado cada experiência, eu poderia me ilibar de tudo. Justificar minhas responsabilidades, acções e reacções. Mas ao fim de vinte anos, para meu filho, tudo isso teria se diluído e se misturado num único mar de opressão. Estranhas e incompatíveis sensações de amor e ódio coabitariam na nossa relação. Eu, com as razões e a experiência de uma vida que me levaram a tais actos. Ele, sem garantia que um dia venha compreender esta relação.
É claro que esta pessoa sobreviveria a infância e reteria muitos dos valores passados por mim, mas quais seriam os ajustes que ele/ela precisaria fazer para se adaptar ao mundo real e actual dela? Carrego em mim a certeza que os meus valores são trazidos do berço, ao mesmo tempo que metade do que fiz na vida não era compatível com a minha psique e sim, com a idéia do que meus pais acreditavam ser o correto.
Eu sofreria muito, numa relação na qual não poderia acabar, pedir um tempo ou me divorciar. Ter um filho é amar incondicionalmente, é não se decepcionar com suas escolhas, é compreender suas fraquezas, é aceitar o que ele ama, é respeitar a formação de um indivíduo sensível que será um adulto um dia, livre, independente das vontades e concelhos de um pai ou de uma mãe.
O que eu tenho para ensinar, ou o que eu desejo passar a frente de minhas experiências estão nos meus livros, nos meus textos. Hoje sei que ser pai não teria, naturalmente, feito-me entender minha infância ou o comportamento de meus pais ou suas escolhas.
A mente de um humano comum, sendo eles a maioria no planeta, está forrada de tradicionalismos, regionalismos, religiosidade, de uma cultura que comanda sua vida, que moldam suas regras, mas que nada têm a ver com o funcionamento da psique.
Eu vivo uma sexualidade diferente daquela esperada na minha infância, vivo num continente diferente daquele que nasci, onde fui criado e onde está toda minha família, adquiri uma outra nacionalidade e expresso-me numa outra língua daquela a que fui alfabetizado. Não me parece que não ser pai, não seja natural neste contexto.
Meu contributo não será pela minha semente natural, mas por tudo aquilo que eu tenha, naturalmente, me permitido executar naturalmente. Finalmente.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Houve uma época em que eu realmente acreditava que fazia parte da sábia natureza, o ciclo do nascer, ser filho, crescer, casar, ter um filho, ser pai, envelhecer e finalmente ter compreendido tudo. Como do nascer e crescer eu passaria, provavelmente, para o envelhecer, ‘o finalmente compreender tudo’ não seria naturalmente atingido. Assim, também acreditei que precisava fazer algo então.
Durante algum tempo até pensei em adoptar uma criança. Sentia que queria ser pai, que queria deixar um seguimento meu, passar para alguém aquilo que haviam passado a mim ou o que eu havia aprendido ao longo de meu curso pela vida. Contudo, a espera de um momento oportuno, ou por puro impedimento inconsciente, o tempo foi passando.
Confesso que, hoje, me sinto muito aliviado, realizado por não ter sido pai. Sim, tão realizado quanto me sinto com as conquistas que definem meu perfil. Disse isso outro dia de uma forma meio pública sem perceber que isso causaria um choque colectivo. Não só, algumas pessoas passaram a olhar-me com aquele ar de: ‘Que Deus o perdoe por pensar tanta bobagem’, ‘Tão giro, mas tão perdido’. E eu? De sobrancelha esquerda erguida!
Hoje, na minha idade, depois de ter acompanhado a infância de muitos dos filhos daqueles que me rodeiam, ou rodeavam, mais a análise de minha própria infância, somado ao meu entendimento do ser humano no terceiro milénio, acho que as pessoas deveriam fazer psicotécnicos para saber se podem ou não serem pais.
É verdade que eu tenho amigos que fazem esta experiência toda parecer uma brincadeira. Contudo, olhando à volta, não acho que eles sejam a maioria: Aqueles que programaram e desejaram uma gravidez, mas acabam por transformar a criança no centro de seu universo e esquecem-se que são indivíduos, e como tal, que deveriam continuar a ter realizações próprias e mais, que estão criando um futuro individualista; outros, que engravidaram por acidente, podem sofrer de uma negligência paternal que projectará esta criança num universo sem preparo ou cuidado nenhum para coisa alguma.
Amo minha vida. Metade de minhas conquistas não teriam sido possíveis se eu fosse responsável por alguém. São bem mais de 15 anos de economia apertada, de preocupação, de teimosia, de acordos e conversas, de esperança, medo, responsabilidade aos quais eu prefiro dedicar a mim. Uns olham para isso como egoísmo, imaturidade de minha parte. Eu, apenas sinto não me caber esta tarefa.
Vejam bem, se por se ter uma vida boa e ganhar bem, todos fossem ser médicos ou advogados, quem seria funcionário público? Quem seria padeiro, carteiro, lixeiro, relojoeiro, comerciante? Por que, sendo eu um ser humano, devo ser pai para ser completo, feliz? Acho que existem aquelas pessoas que são pais e que cumprem esta tarefa muito bem e há outras que não. Ponto.
Porque eu, como filho, pergunto: Mas quem disse que eu queria, quero, ser o seguimento de alguém? Se não pedi para nascer, quem disse que o que meu pai achava ter para me ensinar, interessa a minha sensibilidade, à forma como EU afecto e sou afectado pelo meio? Mas meu ouvido é penico para ficar recebendo informação que outros acham ser importante e que a mim não diz nada?
Estou certo que se tivesse sido pai, durante aquele tempo que muito o quis, seria um pai amoroso e dedicado. Acho que acabaria por ser um bom pai, mas também é-me certo, que lá pelos meus cinquenta, sessenta anos, eu seria daqueles que diria – ou que só pensaria: ‘Eu amo meus filhos, muito. Mas se não os tivesse tido…’
Bom, eu acho que seria um bom pai no final, mas de novo, pondo-me na óptica de filho, talvez, eu fosse um ditador! Claro que dentro de um contexto, situação por situação, minutos por minutos que tenham levado cada experiência, eu poderia me ilibar de tudo. Justificar minhas responsabilidades, acções e reacções. Mas ao fim de vinte anos, para meu filho, tudo isso teria se diluído e se misturado num único mar de opressão. Estranhas e incompatíveis sensações de amor e ódio coabitariam na nossa relação. Eu, com as razões e a experiência de uma vida que me levaram a tais actos. Ele, sem garantia que um dia venha compreender esta relação.
É claro que esta pessoa sobreviveria a infância e reteria muitos dos valores passados por mim, mas quais seriam os ajustes que ele/ela precisaria fazer para se adaptar ao mundo real e actual dela? Carrego em mim a certeza que os meus valores são trazidos do berço, ao mesmo tempo que metade do que fiz na vida não era compatível com a minha psique e sim, com a idéia do que meus pais acreditavam ser o correto.
Eu sofreria muito, numa relação na qual não poderia acabar, pedir um tempo ou me divorciar. Ter um filho é amar incondicionalmente, é não se decepcionar com suas escolhas, é compreender suas fraquezas, é aceitar o que ele ama, é respeitar a formação de um indivíduo sensível que será um adulto um dia, livre, independente das vontades e concelhos de um pai ou de uma mãe.
O que eu tenho para ensinar, ou o que eu desejo passar a frente de minhas experiências estão nos meus livros, nos meus textos. Hoje sei que ser pai não teria, naturalmente, feito-me entender minha infância ou o comportamento de meus pais ou suas escolhas.
A mente de um humano comum, sendo eles a maioria no planeta, está forrada de tradicionalismos, regionalismos, religiosidade, de uma cultura que comanda sua vida, que moldam suas regras, mas que nada têm a ver com o funcionamento da psique.
Eu vivo uma sexualidade diferente daquela esperada na minha infância, vivo num continente diferente daquele que nasci, onde fui criado e onde está toda minha família, adquiri uma outra nacionalidade e expresso-me numa outra língua daquela a que fui alfabetizado. Não me parece que não ser pai, não seja natural neste contexto.
Meu contributo não será pela minha semente natural, mas por tudo aquilo que eu tenha, naturalmente, me permitido executar naturalmente. Finalmente.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, novembro 19, 2007
Uma Salada. Sem nicotina, por favor.
Esta semana, tomado por um desespero em consumir calorias, fui almoçar a um McDonalds. Pedi meu menu, com uma coca-cola zero, claro, agarrei em minha bandeja e dirigi-me para as mesas.
Por alguns segundos eu permaneci em meio a sala, procurando um lugar onde pudesse sentar. Não que todas as mesas estivessem ocupadas, ou que faltassem acentos, é que todo o lugar onde eu poderia sentar estava coberto por uma densa nuvem de fumaça. Fumaça de cigarro.
Não tinha escolha. Então, sentei-me próximo de uma mesa onde havia apenas uma pessoa fumando. Olhando à volta, chamou-me a atenção a percentagem relevante que segurava um cigarro entre os dedos, pior, sua faixa etária! Na maioria, não tinham mais do que 18, 19 anos. Com suas bolsas, mochilas e cadernos empilhados à volta, mais todo lixo típico causado por um lanche naquele recinto, por sobre as mesas, eles fumavam e conversavam e fumavam mais um pouco. Sem trégua, pois quando um acabava, logo outro acendia mais um.
Sendo eles estudantes, comprarão cigarros com dinheiro de suas mesadas? Roubam-lhes aos seus pais ou omitem deles e fumam o famoso ‘se me dão’? Bem, isso, apesar de constituir um outro tema para mim, parece caminhar para um breve desfecho. Não que eu esteja seguro que este seja satisfatório, mas é um facto que a partir de 1 de Janeiro próximo, será proibido fumar em locais públicos e fechados.
Mas num país onde as pessoas fumam no local de trabalho, dentro de um elevador e se reúnem no café das bombas de gasolina, enquanto fumam, qual será o impacto real desta lei?
Em Novembro de 2005, quando estive em Dublin, apesar de poucos dias, deu-se mesmo para notar o quão incômodo era a vida de alguém que ainda mantinha o seu vício pelo tabaco, pois não importando onde se esteja, se lá fora está frio, nevando ou caindo uma chuva ácida, é o único lugar onde se pode fumar.
Em Janeiro deste ano Paris seguiu os mesmos passos e um pouco mais tarde, finalmente, a Inglaterra também. Imagine, você num pub, bebendo com seus amigos, sem poder fumar. Agora imagine isso aqui, em Lisboa, onde apesar das placas pelas paredes, avisos luminosos e mesmo a gravação de uma voz humana feminina alertando ser proibido fumar em toda a rede do metro, ainda vemos um ou outro por um canto fumando, crente que está disfarçado e que ninguém se apercebeu da fumaça.
Bem, acho que não será mais tão difícil escolher um local para comer sem estar usando colírio para os olhos, ou ter as narinas bloqueadas. Contudo, estou certo que muitos problemas virão daí, principalmente com aquelas pessoas que quando são chamadaa à atenção, entram num processo defensivo de ataque e até, as vezes, violento.
Mas está chegando a hora de nos valermos de um suporte legal e por mais que ‘latam’, ‘morder’ não poderão mais! É importante que as pessoas mostrem-se incomodadas e façam valer o que é correcto, afinal, não estão classificando o tabaco como uma droga ilegal, estão apenas classificando-o, por fim, como uma droga letal e chega de passividade!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Esta semana, tomado por um desespero em consumir calorias, fui almoçar a um McDonalds. Pedi meu menu, com uma coca-cola zero, claro, agarrei em minha bandeja e dirigi-me para as mesas.
Por alguns segundos eu permaneci em meio a sala, procurando um lugar onde pudesse sentar. Não que todas as mesas estivessem ocupadas, ou que faltassem acentos, é que todo o lugar onde eu poderia sentar estava coberto por uma densa nuvem de fumaça. Fumaça de cigarro.
Não tinha escolha. Então, sentei-me próximo de uma mesa onde havia apenas uma pessoa fumando. Olhando à volta, chamou-me a atenção a percentagem relevante que segurava um cigarro entre os dedos, pior, sua faixa etária! Na maioria, não tinham mais do que 18, 19 anos. Com suas bolsas, mochilas e cadernos empilhados à volta, mais todo lixo típico causado por um lanche naquele recinto, por sobre as mesas, eles fumavam e conversavam e fumavam mais um pouco. Sem trégua, pois quando um acabava, logo outro acendia mais um.
Sendo eles estudantes, comprarão cigarros com dinheiro de suas mesadas? Roubam-lhes aos seus pais ou omitem deles e fumam o famoso ‘se me dão’? Bem, isso, apesar de constituir um outro tema para mim, parece caminhar para um breve desfecho. Não que eu esteja seguro que este seja satisfatório, mas é um facto que a partir de 1 de Janeiro próximo, será proibido fumar em locais públicos e fechados.
Mas num país onde as pessoas fumam no local de trabalho, dentro de um elevador e se reúnem no café das bombas de gasolina, enquanto fumam, qual será o impacto real desta lei?
Em Novembro de 2005, quando estive em Dublin, apesar de poucos dias, deu-se mesmo para notar o quão incômodo era a vida de alguém que ainda mantinha o seu vício pelo tabaco, pois não importando onde se esteja, se lá fora está frio, nevando ou caindo uma chuva ácida, é o único lugar onde se pode fumar.
Em Janeiro deste ano Paris seguiu os mesmos passos e um pouco mais tarde, finalmente, a Inglaterra também. Imagine, você num pub, bebendo com seus amigos, sem poder fumar. Agora imagine isso aqui, em Lisboa, onde apesar das placas pelas paredes, avisos luminosos e mesmo a gravação de uma voz humana feminina alertando ser proibido fumar em toda a rede do metro, ainda vemos um ou outro por um canto fumando, crente que está disfarçado e que ninguém se apercebeu da fumaça.
Bem, acho que não será mais tão difícil escolher um local para comer sem estar usando colírio para os olhos, ou ter as narinas bloqueadas. Contudo, estou certo que muitos problemas virão daí, principalmente com aquelas pessoas que quando são chamadaa à atenção, entram num processo defensivo de ataque e até, as vezes, violento.
Mas está chegando a hora de nos valermos de um suporte legal e por mais que ‘latam’, ‘morder’ não poderão mais! É importante que as pessoas mostrem-se incomodadas e façam valer o que é correcto, afinal, não estão classificando o tabaco como uma droga ilegal, estão apenas classificando-o, por fim, como uma droga letal e chega de passividade!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
terça-feira, novembro 13, 2007
…Sua Mãe Subiu no Telhado…
Eram aproximadamente 13:00 horas da Terça-feira da semana passada, quando eu saia da estação metropolitana Baixa-Chiado, pelo portão da Rua do Crucifixo. Já quase subindo o último lance das escadas rolantes, percebi uma grande agitação e haviam dois funcionários do Metro desviando as pessoas por uma única passagem. Lá em cima, paramédicos tentavam reanimar um senhor, deitado ao chão com muito sangue ao redor de seu nariz e sua boca.
Segui minha vida e fui àquilo ao que lá tinha ido fazer. Uma meia-hora depois, quando já retornava, estando eu a umas duas quadras dali, vi as luzes azuis da ambulância e um grande burburim à entrada da estação. Lembro-me de ter pensado: ‘Meu Deus! Vão esperar que o homem morra para ser levado dali?’
Passando pelo povo e já prestes a descer o condicionado caminho, avistei o corpo do senhor no mesmo sítio, com aqueles sacos mortuários de fecho corrido até acima. Levei um baque.
Por uns segundos, tive a impressão que toda a minha vida passou pelos meus olhos, como numa retrospectiva. Talvez esta sensação não esteja unicamente associada ao momento de nossa morte, conforme crença, e sim, ao encontro brusco com ela.
Comecei a pensar se ele estava ali sozinho, se tinha algo consigo que o identificasse, se haviam ligado para alguém de sua família para avisar o ocorrido e depois pensei na inesperada ligação que alguém devia ter recebido, com aterradora notícia.
Pensei nos meus pais, nos meus amigos, mesmo nos que estão longe e pensei no meu companheiro, no que ele poderia estar fazendo, em como estaria. Então ocorreu-me que no dia anterior, aquele homem deve ter falado com sua família, deve ter questionado, alimentado algum plano para o futuro e que havia ido à Baixa para realizar algo, como eu fora naquele mesmo horário.
A morte faz parte da vida e para uns chega mais cedo do que aquilo que esperávamos. É um fato que temos apenas que gerenciar, aceitar. Mas foi-me difícil não fazer uma rápida revisão de coisas que ando adiando, de decisões que ando protelando, do tempo com que ando ‘brincando’ como se este abundasse inquestionavelmente.
Ui! É bom estar vivo! Por isso é importante romper com entravas e batalharmos com decisão e vontade por aquilo que entendemos que nos vai fazer feliz. Domine seus medos e suas ansiedades, eles aproximam-nos da morte! Ligue para seus amigos, faça as devidas declarações de amor, resolva-se por aquela viagem e claro, faça muito sexo!
Uma boa semana para todos, ou assim espero…
Eduardo Divério.
Eram aproximadamente 13:00 horas da Terça-feira da semana passada, quando eu saia da estação metropolitana Baixa-Chiado, pelo portão da Rua do Crucifixo. Já quase subindo o último lance das escadas rolantes, percebi uma grande agitação e haviam dois funcionários do Metro desviando as pessoas por uma única passagem. Lá em cima, paramédicos tentavam reanimar um senhor, deitado ao chão com muito sangue ao redor de seu nariz e sua boca.
Segui minha vida e fui àquilo ao que lá tinha ido fazer. Uma meia-hora depois, quando já retornava, estando eu a umas duas quadras dali, vi as luzes azuis da ambulância e um grande burburim à entrada da estação. Lembro-me de ter pensado: ‘Meu Deus! Vão esperar que o homem morra para ser levado dali?’
Passando pelo povo e já prestes a descer o condicionado caminho, avistei o corpo do senhor no mesmo sítio, com aqueles sacos mortuários de fecho corrido até acima. Levei um baque.
Por uns segundos, tive a impressão que toda a minha vida passou pelos meus olhos, como numa retrospectiva. Talvez esta sensação não esteja unicamente associada ao momento de nossa morte, conforme crença, e sim, ao encontro brusco com ela.
Comecei a pensar se ele estava ali sozinho, se tinha algo consigo que o identificasse, se haviam ligado para alguém de sua família para avisar o ocorrido e depois pensei na inesperada ligação que alguém devia ter recebido, com aterradora notícia.
Pensei nos meus pais, nos meus amigos, mesmo nos que estão longe e pensei no meu companheiro, no que ele poderia estar fazendo, em como estaria. Então ocorreu-me que no dia anterior, aquele homem deve ter falado com sua família, deve ter questionado, alimentado algum plano para o futuro e que havia ido à Baixa para realizar algo, como eu fora naquele mesmo horário.
A morte faz parte da vida e para uns chega mais cedo do que aquilo que esperávamos. É um fato que temos apenas que gerenciar, aceitar. Mas foi-me difícil não fazer uma rápida revisão de coisas que ando adiando, de decisões que ando protelando, do tempo com que ando ‘brincando’ como se este abundasse inquestionavelmente.
Ui! É bom estar vivo! Por isso é importante romper com entravas e batalharmos com decisão e vontade por aquilo que entendemos que nos vai fazer feliz. Domine seus medos e suas ansiedades, eles aproximam-nos da morte! Ligue para seus amigos, faça as devidas declarações de amor, resolva-se por aquela viagem e claro, faça muito sexo!
Uma boa semana para todos, ou assim espero…
Eduardo Divério.
terça-feira, novembro 06, 2007
Telhado de Vidro
Algumas semanas atrás saiu a notícia do tão esperado acordo ortográfico entre os países de língua Portuguesa. Eu, ando pelos cabelos com as histórias das diferenças entre os países e suas culturas.
Contudo, não vejo que a língua de Camões esteja por estar em harmonia novamente, aliás, da língua dos ‘Camões’ é que eu queria alguma espécie de acordo, de balanço em relação as perturbadoras comparações e críticas que fazem às culturas alheias, como a brasileira, por exemplo.
Primeiro porque é um povo que em sua maioria nem a Espanha conhece. Veja bem, não tem muito por onde se possa correr; 300 km para cá ou 300 km para lá e ou estamos mergulhados no oceano Atlântico ou estamos no meio de nostros hermanos!
Depois, porque as pessoas que têm voz pertencem na verdade a um grupo tão pequeno, mas tão pequeno, que quase não são identificáveis. Na verdade, acho que sequer existe um corpo, uma entidade física real a qual poderia gerar um colectivo. Apenas uma idéia, uma tradição.
Num país com dez milhões de pessoas onde 40% delas são semianalfabetos, e ou com idade superior a 60 anos, sendo a concentração populacional de 1/3 deste todo na grande Lisboa, o que representa o eco do resto deste país, quase virtual?
Ontem, num autocarro, ouvi a conversa de duas senhoras que quase me levou às lágrimas e tive mesmo que me conter para não oferecer ajudar aquelas duas mulheres, mães de alguém. Uma falava da miséria de sua vida - a palavra usada por ela foi mesmo esta, miséria - do quão difícil é viver com o salário que recebe, que mal dá para os seus remédios contra o colesterol. Daí, a conversa seguiu por um desfile entre supermercados e feirinhas que oferecem promoções e descontos. A limitação, a pobreza escorria-lhe pela boca em forma de palavras.
A nem uma hora de Lisboa, ainda se pode encontrar vilas onde as pessoas têm que ir à ‘bica’ central para buscar água! Sim, para beber, lavar roupa ou louça, tomar banho e fazer o comer. Pelo país, mesmo nas zonas históricas de Lisboa, existem casas que não lembram barracos ou sequer estão amontoadas num morro acima e até têm um certo chame do antigo. Contudo, estão podres, corroídas pelos longos anos sem manutenção, prestes a cair.
Existem doze milhões de Portugueses a viverem fora de Portugal. Só em Paris, existem mais lusos do que na cidade do Porto. Como pode estes doze milhões não serem considerados filhos da mesma nação? Aliás, por que são eles constantemente usados, pelos seus próprios patrícios, como exemplos de pessoas sem cultura e mau gosto que apenas voltam à casa para exibirem dinheiro e uma nova língua?
Convém sempre lembrar, orgulhosa nação, que os portugueses que foram para o Brasil, foram muito bem recebidos, com total integração social. E que ironicamente é lá, na sua grande maioria, onde estão todos estáveis financeiramente. Sim, porque na Inglaterra, por exemplo, ao cruzarmos a M6 de Londres à Manchester, deparamo-nos com cidadãos portugueses a limparem as casas de banho e a servirem às mesas. Em Luxemburgo, são conhecidos como empregados domésticos e na Suiça e na França, como catadores de laranjas e morangos.
Sim, o Brasil publica livros técnicos com termos regionais e estrangeirismos. Mas é uma nação com mais de 160 milhões de pessoas e por isso com um mercado justificado para se poder fazê-lo. Lidera os mercados da publicidade, telenovelas e propagandas a nível mundial. Tem das melhores clínicas médicas do planeta com profissionais reconhecidos nas melhores universidades do globo e o mundo das artes e da música, do desporto e das ciências está transbordando de renomes e prestígio.
Isso, não foi para enaltecer o Brasil, mas para comparar as pessoas que o fazem assim com esta fatia cega que vive diluída entre o terço de portugueses a viverem em Lisboa. Existem 6 milhões de brasileiros vivendo na Europa. Vamos admitir que sejam mais dez milhões pelo redor do globo. Isso daria apenas 10% de emigrantes. Portugal ultrapassa os 50%!
A cultura, a nação brasileira vem sendo julgada, rotulada e desmoralizada por Portugal, pelo comportamento de apenas alegados 10% de seu todo. Mas mais triste ainda é perceber que Portugal parece negar mais de 50% da sua própria gente…
É verdade que o Brasil passa por dificuldades administrativas, que sofre com corrupção e violência, mas não se esqueça, você, que fala a mesma língua com um sotaque diferente, que, Portugal tem uma união europeia por trás há mais de vinte anos e ainda sim, seus resultados são vergonhosamente atrasados em relação aos países que largaram juntos em condições semelhantes.
Meu objectivo aqui não é desmoralizar ninguém e muito menos querer por lenha na fogueira, mas alertar para que tenham cuidado com seus próprios ‘telhados’ em relação aos dos outros a quem andam ‘a atirar pedras’.
Viva a negação, o orgulho e o subsídio europeu!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Algumas semanas atrás saiu a notícia do tão esperado acordo ortográfico entre os países de língua Portuguesa. Eu, ando pelos cabelos com as histórias das diferenças entre os países e suas culturas.
Contudo, não vejo que a língua de Camões esteja por estar em harmonia novamente, aliás, da língua dos ‘Camões’ é que eu queria alguma espécie de acordo, de balanço em relação as perturbadoras comparações e críticas que fazem às culturas alheias, como a brasileira, por exemplo.
Primeiro porque é um povo que em sua maioria nem a Espanha conhece. Veja bem, não tem muito por onde se possa correr; 300 km para cá ou 300 km para lá e ou estamos mergulhados no oceano Atlântico ou estamos no meio de nostros hermanos!
Depois, porque as pessoas que têm voz pertencem na verdade a um grupo tão pequeno, mas tão pequeno, que quase não são identificáveis. Na verdade, acho que sequer existe um corpo, uma entidade física real a qual poderia gerar um colectivo. Apenas uma idéia, uma tradição.
Num país com dez milhões de pessoas onde 40% delas são semianalfabetos, e ou com idade superior a 60 anos, sendo a concentração populacional de 1/3 deste todo na grande Lisboa, o que representa o eco do resto deste país, quase virtual?
Ontem, num autocarro, ouvi a conversa de duas senhoras que quase me levou às lágrimas e tive mesmo que me conter para não oferecer ajudar aquelas duas mulheres, mães de alguém. Uma falava da miséria de sua vida - a palavra usada por ela foi mesmo esta, miséria - do quão difícil é viver com o salário que recebe, que mal dá para os seus remédios contra o colesterol. Daí, a conversa seguiu por um desfile entre supermercados e feirinhas que oferecem promoções e descontos. A limitação, a pobreza escorria-lhe pela boca em forma de palavras.
A nem uma hora de Lisboa, ainda se pode encontrar vilas onde as pessoas têm que ir à ‘bica’ central para buscar água! Sim, para beber, lavar roupa ou louça, tomar banho e fazer o comer. Pelo país, mesmo nas zonas históricas de Lisboa, existem casas que não lembram barracos ou sequer estão amontoadas num morro acima e até têm um certo chame do antigo. Contudo, estão podres, corroídas pelos longos anos sem manutenção, prestes a cair.
Existem doze milhões de Portugueses a viverem fora de Portugal. Só em Paris, existem mais lusos do que na cidade do Porto. Como pode estes doze milhões não serem considerados filhos da mesma nação? Aliás, por que são eles constantemente usados, pelos seus próprios patrícios, como exemplos de pessoas sem cultura e mau gosto que apenas voltam à casa para exibirem dinheiro e uma nova língua?
Convém sempre lembrar, orgulhosa nação, que os portugueses que foram para o Brasil, foram muito bem recebidos, com total integração social. E que ironicamente é lá, na sua grande maioria, onde estão todos estáveis financeiramente. Sim, porque na Inglaterra, por exemplo, ao cruzarmos a M6 de Londres à Manchester, deparamo-nos com cidadãos portugueses a limparem as casas de banho e a servirem às mesas. Em Luxemburgo, são conhecidos como empregados domésticos e na Suiça e na França, como catadores de laranjas e morangos.
Sim, o Brasil publica livros técnicos com termos regionais e estrangeirismos. Mas é uma nação com mais de 160 milhões de pessoas e por isso com um mercado justificado para se poder fazê-lo. Lidera os mercados da publicidade, telenovelas e propagandas a nível mundial. Tem das melhores clínicas médicas do planeta com profissionais reconhecidos nas melhores universidades do globo e o mundo das artes e da música, do desporto e das ciências está transbordando de renomes e prestígio.
Isso, não foi para enaltecer o Brasil, mas para comparar as pessoas que o fazem assim com esta fatia cega que vive diluída entre o terço de portugueses a viverem em Lisboa. Existem 6 milhões de brasileiros vivendo na Europa. Vamos admitir que sejam mais dez milhões pelo redor do globo. Isso daria apenas 10% de emigrantes. Portugal ultrapassa os 50%!
A cultura, a nação brasileira vem sendo julgada, rotulada e desmoralizada por Portugal, pelo comportamento de apenas alegados 10% de seu todo. Mas mais triste ainda é perceber que Portugal parece negar mais de 50% da sua própria gente…
É verdade que o Brasil passa por dificuldades administrativas, que sofre com corrupção e violência, mas não se esqueça, você, que fala a mesma língua com um sotaque diferente, que, Portugal tem uma união europeia por trás há mais de vinte anos e ainda sim, seus resultados são vergonhosamente atrasados em relação aos países que largaram juntos em condições semelhantes.
Meu objectivo aqui não é desmoralizar ninguém e muito menos querer por lenha na fogueira, mas alertar para que tenham cuidado com seus próprios ‘telhados’ em relação aos dos outros a quem andam ‘a atirar pedras’.
Viva a negação, o orgulho e o subsídio europeu!
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.