segunda-feira, julho 26, 2010
Libido (do latim, significando "desejo" ou "anseio") é caracterizada como a energia proveitável para os instintos de vida. Mas mais conhecida quando relacionada à energia sexual.
No universo do pai da psicologia, esta força está presente desde o nascimento e conduz o indivíduo pelas célebres fases oral, anal, genital, latência... blá, blá, blá.
Teorias, hipóteses, teses ou postulações à parte, é um facto que tudo em nossa vida resume-se em gostei ou não gostei, foi bom ou mal, vontade, sensação e desejo, libido.
Compreender as diversas fases da actuação da libido é não só muito interessante, como inesperadamente, a mim era, identificadora, sinalizadora pelo menos, e dá-nos um noção de onde estão nossas bases, de onde vêm nossos automáticos, quase impensáveis, mecanismos de julgamento.
Quando um ‘cachorro mordido por cobra, tem medo de linguiça’ pensem lá como uma criança, uma mente em branco, vive seus anseios em desbravar o mundo? Em vivê-lo? Senti-lo?
O conceito de trauma faz parte do nosso linguajar cotidiano comum. É muito usado e empregue, mas via-de-regra, associado apenas a eventos óbvios, ás consquências psicologicas de um em relação a morte inesperada de alguém querido ou um acidente horrível, como se só assim fosse possível aceitar que nos fragilizamos por algo ocorrido a nós. Do contrário, poderia ser vergonhoso...
Eu acho que Pavlov estava certíssimo e somos o resultado do condicionamento de comportamentos, de repetições, seja do que façamos, ouvimos ou vemos.
Então, quando uma mãe domina seu filho e atribuí-lhe tarefas que jamais deveriam ser de sua competência, o quê pode acontecer quando a libido assalta este ex-infante que mais tem actuado (repetindo e condicinando comportamentos) como ‘companheiro’, ‘empregada doméstica’ e ‘ama do irmão mais novo’, do que apenas só um filho?
O jovem quando começa a namorar outra pessoa, não está experienciando amor pela primeira vez, pois tal sentimento já lhe é íntimo, pois o nutria pela sua mãe, pelo seu pai, pela sua família e este registo está lá, habita em seu ser e estará sempre em comparação, uma referência.
Se o registo que ele tem, do viver em família, conter angústia, ansiedade, incompreenção ou descaso, parece-me linear que tão logo alguém no seu futuro comece a se tornar ínitmo, amadado, como são os de sua família, que este registo, esta memoria sensorial, o assalte de forma confusa e uma ‘não sei de onde vem isso’ sensação de insatisfação comece a formar um desagradável menage à tróis.
Num cenário como este, paixões serão golfadas de ar fresco, esperança pura de libertação, de mudar o pano de fundo, o próprio roteiro se possível. Uma nova paixão traz sempre uma promessa, o receber atenção, um espectador, traz aquele que muito quer lhe conhecer, saber de si! Traz todo um conjunto de sensações que aconchega o infante e satisfaz o actual adulto.
A verdade é que, por esta altura, quando um sai à procura da parceria, todos os seus sentimentos já são conhecidos, da liberdade à pressão, do alívio à culpa, do prazer à obrigação, todo o mapa emocional já fora traçado e para cada nova situação que ocorra, uma velha sensação virá do fundo como referência. De forma condicionada.
Imagine que vocês está fazendo uma salada de frutas. Dentro de uma pote você já tem pedaços de maçã, de banana, melão e morangos. Metaforicamente, podem ser seu sentimento de liberdade, de amor, de fraternidade, de lealdade ou comapanherismo. Para completar esta salada, falta o sumo de laranja, certo? É uma recitinha comum... este sumo, estas hormonas, esta energia, a libido, espalha-se ocupando todos os espaços, contornando os pedaços, enxarcando as polpas, cobrindo topos, elevando partes à tona no pote.
Parece tudo muito injusto e fora do nossocontrole, não é? E é, como crianças, não temos estrutura mental, intelegência e estudo, para perceber que as pessoas responsáveis por nós são uns ‘nabos’, apesar de nos amarem muito, claro.
Contudo, apesar de para mim tudo ter uma receita, nem todas são iguais e caso dois ou três dos meus parágrafos favoritos acima não lhe diga nada, deixo então aqui um que garada a todos:
Um indivíduo de perfil ardiloso, preguisoço, pouco honesto e com muitos problemas por causa disso, educou dois filhos, gêmeos. Um era a sua cópia e o outro, um exemplo de retidão, presteza e boa índole. Então, perguntaram aos dois irmãos como eles explicavam a pessoa que eram e ambos deram a mesma resposta: ‘O que esperavas que eu fosse tendo um pai como o meu?’.
Injusto, mas sempre com escolhas, cedo ou tarde.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
No universo do pai da psicologia, esta força está presente desde o nascimento e conduz o indivíduo pelas célebres fases oral, anal, genital, latência... blá, blá, blá.
Teorias, hipóteses, teses ou postulações à parte, é um facto que tudo em nossa vida resume-se em gostei ou não gostei, foi bom ou mal, vontade, sensação e desejo, libido.
Compreender as diversas fases da actuação da libido é não só muito interessante, como inesperadamente, a mim era, identificadora, sinalizadora pelo menos, e dá-nos um noção de onde estão nossas bases, de onde vêm nossos automáticos, quase impensáveis, mecanismos de julgamento.
Quando um ‘cachorro mordido por cobra, tem medo de linguiça’ pensem lá como uma criança, uma mente em branco, vive seus anseios em desbravar o mundo? Em vivê-lo? Senti-lo?
O conceito de trauma faz parte do nosso linguajar cotidiano comum. É muito usado e empregue, mas via-de-regra, associado apenas a eventos óbvios, ás consquências psicologicas de um em relação a morte inesperada de alguém querido ou um acidente horrível, como se só assim fosse possível aceitar que nos fragilizamos por algo ocorrido a nós. Do contrário, poderia ser vergonhoso...
Eu acho que Pavlov estava certíssimo e somos o resultado do condicionamento de comportamentos, de repetições, seja do que façamos, ouvimos ou vemos.
Então, quando uma mãe domina seu filho e atribuí-lhe tarefas que jamais deveriam ser de sua competência, o quê pode acontecer quando a libido assalta este ex-infante que mais tem actuado (repetindo e condicinando comportamentos) como ‘companheiro’, ‘empregada doméstica’ e ‘ama do irmão mais novo’, do que apenas só um filho?
O jovem quando começa a namorar outra pessoa, não está experienciando amor pela primeira vez, pois tal sentimento já lhe é íntimo, pois o nutria pela sua mãe, pelo seu pai, pela sua família e este registo está lá, habita em seu ser e estará sempre em comparação, uma referência.
Se o registo que ele tem, do viver em família, conter angústia, ansiedade, incompreenção ou descaso, parece-me linear que tão logo alguém no seu futuro comece a se tornar ínitmo, amadado, como são os de sua família, que este registo, esta memoria sensorial, o assalte de forma confusa e uma ‘não sei de onde vem isso’ sensação de insatisfação comece a formar um desagradável menage à tróis.
Num cenário como este, paixões serão golfadas de ar fresco, esperança pura de libertação, de mudar o pano de fundo, o próprio roteiro se possível. Uma nova paixão traz sempre uma promessa, o receber atenção, um espectador, traz aquele que muito quer lhe conhecer, saber de si! Traz todo um conjunto de sensações que aconchega o infante e satisfaz o actual adulto.
A verdade é que, por esta altura, quando um sai à procura da parceria, todos os seus sentimentos já são conhecidos, da liberdade à pressão, do alívio à culpa, do prazer à obrigação, todo o mapa emocional já fora traçado e para cada nova situação que ocorra, uma velha sensação virá do fundo como referência. De forma condicionada.
Imagine que vocês está fazendo uma salada de frutas. Dentro de uma pote você já tem pedaços de maçã, de banana, melão e morangos. Metaforicamente, podem ser seu sentimento de liberdade, de amor, de fraternidade, de lealdade ou comapanherismo. Para completar esta salada, falta o sumo de laranja, certo? É uma recitinha comum... este sumo, estas hormonas, esta energia, a libido, espalha-se ocupando todos os espaços, contornando os pedaços, enxarcando as polpas, cobrindo topos, elevando partes à tona no pote.
Parece tudo muito injusto e fora do nossocontrole, não é? E é, como crianças, não temos estrutura mental, intelegência e estudo, para perceber que as pessoas responsáveis por nós são uns ‘nabos’, apesar de nos amarem muito, claro.
Contudo, apesar de para mim tudo ter uma receita, nem todas são iguais e caso dois ou três dos meus parágrafos favoritos acima não lhe diga nada, deixo então aqui um que garada a todos:
Um indivíduo de perfil ardiloso, preguisoço, pouco honesto e com muitos problemas por causa disso, educou dois filhos, gêmeos. Um era a sua cópia e o outro, um exemplo de retidão, presteza e boa índole. Então, perguntaram aos dois irmãos como eles explicavam a pessoa que eram e ambos deram a mesma resposta: ‘O que esperavas que eu fosse tendo um pai como o meu?’.
Injusto, mas sempre com escolhas, cedo ou tarde.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
segunda-feira, julho 19, 2010
O Futuro
Esta semana intervi com um comentário ao posting de uma amiga no facebook, onde ela manifestava alguma insegurança em relação ao futuro. Tentei dizer algo com algum optimismo e também lembrei-lhe que não há mal que nunca acabe.
Mas se é certo que ‘não há mal que nunca acaba’, mais certo ainda é que ‘não há bem que sempre dure’ e são exactamente estas certezas que nos fragilizam, esta habitual gangorra de sentimentos com os quais temos que conviver que, eventualmente, nos enfraquecem.
Saber que andamos por aqui a correr, a investir, a planear, para inevitalmente acabar morto, não é minimamente inspirador e daí, de novo: Vale à pena ? Enfim, a eterna dúvida do sentido da vida. Mas se esta dúvida tem sido eterna, como classificá-la, então? Má não é, pois já teria tido fim e boa tão pouco, pois assim não estaria durando! Hum... existirá um sentido?
Quando a única coisa certa no futuro é o ‘esticar das canelas’, ou se morre em paz ou... se morre (ponto). Logo não me parace que valha muito à pena ter muitas preocupações. Contudo, desconfio, sabendo-se desta ‘viagem reservada’, que de facto os que nos preocupa é a qualidade de vida que teremos até o dia do ‘embarque’. Se teremos conquistado todos os objectivos que outrora postulamos ser o que nos trariam realização e felicidade.
Mas se andamos consumidos com medo do futuro, por sabermos que antes de morrer queremos uma vida digna, não estará, afinal, no passado a resposta para tanta ansiedade?
Se o futuro não existe e começa agora, o que quer ele venha ser, segue um planeamento, pelo menos alguns desejos. Lá atrás, na nossa história, foi definido quanto tempo de nossa vida passaríamos estudando, quantos andares teria nossa casa e quantos filhos seria o ideal. Parece-me ser para estas épocas que deveríamos olhar de forma a poder atenuar estas incertezas e inseguranças que o vazio futuro nos traz.
Mas olhar para atrás, analisar os planos, reestrurar metas, livrar-se de objectivos que mais consomem vida do que nos fazem aproveitá-la, é algo que só pode ser feito no presente, no coincidente momento onde começa o tal do futuro.
A viagem antes da ‘viagem’ é longa, é cansativa. Livre-se da carga desnecessária, livre-se das âncoras que retardam o andamento desta jornada. O que está feito nunca poderá ser mudado e não importa o quão mal tenha sido, não deve nunca ganhar a atenção de referência, não pode impedi-lo de repetir o mesmo evento. Este, deve se trasnformar num desafio, numa aposta mais alta a ser ganha, ultrapassada.
O vazio é não é mau. Livre da carga extra e de pouca relevância, podemos acomodar melhor este espaço disponível, fazê-lo aprazível, arejado e confortável. Não há porque ter medo do vazio e o futuro é uma imensidão de oportunidades, de aventuras, de começos e de fins, basta ser livre, basta permitir-se.
Talvez a melhor forma de viver, até do dia da ‘viagem’, seja calmamente aproveitar um dia a seguir do outro, numa linha AA mesmo! Mas só lembrem-se de uma coisa: Não é permitido embarcar com líquidos, objectos afiados ou que façam fogo...
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Esta semana intervi com um comentário ao posting de uma amiga no facebook, onde ela manifestava alguma insegurança em relação ao futuro. Tentei dizer algo com algum optimismo e também lembrei-lhe que não há mal que nunca acabe.
Mas se é certo que ‘não há mal que nunca acaba’, mais certo ainda é que ‘não há bem que sempre dure’ e são exactamente estas certezas que nos fragilizam, esta habitual gangorra de sentimentos com os quais temos que conviver que, eventualmente, nos enfraquecem.
Saber que andamos por aqui a correr, a investir, a planear, para inevitalmente acabar morto, não é minimamente inspirador e daí, de novo: Vale à pena ? Enfim, a eterna dúvida do sentido da vida. Mas se esta dúvida tem sido eterna, como classificá-la, então? Má não é, pois já teria tido fim e boa tão pouco, pois assim não estaria durando! Hum... existirá um sentido?
Quando a única coisa certa no futuro é o ‘esticar das canelas’, ou se morre em paz ou... se morre (ponto). Logo não me parace que valha muito à pena ter muitas preocupações. Contudo, desconfio, sabendo-se desta ‘viagem reservada’, que de facto os que nos preocupa é a qualidade de vida que teremos até o dia do ‘embarque’. Se teremos conquistado todos os objectivos que outrora postulamos ser o que nos trariam realização e felicidade.
Mas se andamos consumidos com medo do futuro, por sabermos que antes de morrer queremos uma vida digna, não estará, afinal, no passado a resposta para tanta ansiedade?
Se o futuro não existe e começa agora, o que quer ele venha ser, segue um planeamento, pelo menos alguns desejos. Lá atrás, na nossa história, foi definido quanto tempo de nossa vida passaríamos estudando, quantos andares teria nossa casa e quantos filhos seria o ideal. Parece-me ser para estas épocas que deveríamos olhar de forma a poder atenuar estas incertezas e inseguranças que o vazio futuro nos traz.
Mas olhar para atrás, analisar os planos, reestrurar metas, livrar-se de objectivos que mais consomem vida do que nos fazem aproveitá-la, é algo que só pode ser feito no presente, no coincidente momento onde começa o tal do futuro.
A viagem antes da ‘viagem’ é longa, é cansativa. Livre-se da carga desnecessária, livre-se das âncoras que retardam o andamento desta jornada. O que está feito nunca poderá ser mudado e não importa o quão mal tenha sido, não deve nunca ganhar a atenção de referência, não pode impedi-lo de repetir o mesmo evento. Este, deve se trasnformar num desafio, numa aposta mais alta a ser ganha, ultrapassada.
O vazio é não é mau. Livre da carga extra e de pouca relevância, podemos acomodar melhor este espaço disponível, fazê-lo aprazível, arejado e confortável. Não há porque ter medo do vazio e o futuro é uma imensidão de oportunidades, de aventuras, de começos e de fins, basta ser livre, basta permitir-se.
Talvez a melhor forma de viver, até do dia da ‘viagem’, seja calmamente aproveitar um dia a seguir do outro, numa linha AA mesmo! Mas só lembrem-se de uma coisa: Não é permitido embarcar com líquidos, objectos afiados ou que façam fogo...
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
domingo, julho 11, 2010
Eu tenho uma amiga doente e não sabia
Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Bem, eu sabia que ela não andava bem, mas aquele misto de optimismo ‘isso já passa’, somado a uma dose de presunção ‘não deve ser nada grave’, aliado a uma pitada de egoísmo ‘também tenho os meus problemas’, não me deixaram perceber a real gravidade do cenário.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Ela é uma pessoa que sempre, sempre tem alguma coisa construtiva, positiva, com amor e com preocupação para dizer, aos outros, para os outros. Ela está sempre disponível para dar suporte e cruzar oceanos se for preciso, literalmente.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Ela já estava adoentada quando todas as noites passava horas ao telefone comigo durante o meu processo de separação. Antes disso, ela é, ou ela está, na fonte de energia e sabedoria de onde me alimentei para alongar, amenizar, continuar, inúmeras jornadas em minha vida.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque não tive a sensibilidade de perceber que uma pessoa adoentada não poder ter um comportamento ‘normal’, logo jamais eu poderia, passivamente, esperar por notícias, por iniciativa dela, uma pessoa adoentada!
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque ando demasiado precocupado com minha existência. Porque sinto-me sozinho ou mal amparado quando gozo de saúde e estabilidade fianceira, quando tenho um emprego e mais amigos que fazem-me companhia e enchem-me de alegria.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque preferi acreditar que seu silêncio era uma fase, talvez um capricho. Porque preferi acreditar que lhe estava dando espaço ao mesmo tempo que alimentava uma infantil sensação de abandono por parte dela.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque ando a dar atenção ao futuro, ao que não existe, enquanto poderia estar dando assistência, enquanto poderia estar amando de forma presente. Mil vezes disse-lhe que a amava. Mil planos fizemos para sempre achar uma forma de estarmos juntos e eu não sabia que ela está doente.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia e sequer sou homem de fé! Não oro ou acendo velas, não tenho crença religiosa e nem uma mantra sei balbuciar, mas Eli, Javé, Ra, Zeus, Júpter, Thor, Dagda, Shiva, Oxalá, seu pai Ogun e minha Mãe Iemanjá, socorrei-me! Não pela vergonha que sinto, não pelo remorsso que me devora, pela tristeza que deslisa por nossas vidas, pela falta da plenitude desta mulher que a todos toca.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia e o medo de perdê-la, faz dos problemas no meu mundo algo ínfimo, relembra que minha existência é efêmera e salienta para onde devo focar minhas energias.
Repousa e recupera-te. Amo-te e meu pensamento está aí, afaga-te o rosto e toca-te nas fontes, como se fosse minha mão. Segura-te! És guerreira, és forte e és Gaúcha! Olha pro nosso Guaíba, vejo-o agora, na minha memória, com gosto de mate amargo. Isso é um plano.
Melhora minha amiga, minha alma.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Bem, eu sabia que ela não andava bem, mas aquele misto de optimismo ‘isso já passa’, somado a uma dose de presunção ‘não deve ser nada grave’, aliado a uma pitada de egoísmo ‘também tenho os meus problemas’, não me deixaram perceber a real gravidade do cenário.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Ela é uma pessoa que sempre, sempre tem alguma coisa construtiva, positiva, com amor e com preocupação para dizer, aos outros, para os outros. Ela está sempre disponível para dar suporte e cruzar oceanos se for preciso, literalmente.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia. Ela já estava adoentada quando todas as noites passava horas ao telefone comigo durante o meu processo de separação. Antes disso, ela é, ou ela está, na fonte de energia e sabedoria de onde me alimentei para alongar, amenizar, continuar, inúmeras jornadas em minha vida.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque não tive a sensibilidade de perceber que uma pessoa adoentada não poder ter um comportamento ‘normal’, logo jamais eu poderia, passivamente, esperar por notícias, por iniciativa dela, uma pessoa adoentada!
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque ando demasiado precocupado com minha existência. Porque sinto-me sozinho ou mal amparado quando gozo de saúde e estabilidade fianceira, quando tenho um emprego e mais amigos que fazem-me companhia e enchem-me de alegria.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque preferi acreditar que seu silêncio era uma fase, talvez um capricho. Porque preferi acreditar que lhe estava dando espaço ao mesmo tempo que alimentava uma infantil sensação de abandono por parte dela.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia, porque ando a dar atenção ao futuro, ao que não existe, enquanto poderia estar dando assistência, enquanto poderia estar amando de forma presente. Mil vezes disse-lhe que a amava. Mil planos fizemos para sempre achar uma forma de estarmos juntos e eu não sabia que ela está doente.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia e sequer sou homem de fé! Não oro ou acendo velas, não tenho crença religiosa e nem uma mantra sei balbuciar, mas Eli, Javé, Ra, Zeus, Júpter, Thor, Dagda, Shiva, Oxalá, seu pai Ogun e minha Mãe Iemanjá, socorrei-me! Não pela vergonha que sinto, não pelo remorsso que me devora, pela tristeza que deslisa por nossas vidas, pela falta da plenitude desta mulher que a todos toca.
Eu tenho uma amiga doente e não sabia e o medo de perdê-la, faz dos problemas no meu mundo algo ínfimo, relembra que minha existência é efêmera e salienta para onde devo focar minhas energias.
Repousa e recupera-te. Amo-te e meu pensamento está aí, afaga-te o rosto e toca-te nas fontes, como se fosse minha mão. Segura-te! És guerreira, és forte e és Gaúcha! Olha pro nosso Guaíba, vejo-o agora, na minha memória, com gosto de mate amargo. Isso é um plano.
Melhora minha amiga, minha alma.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
domingo, julho 04, 2010
Decisões e Garantias
Proponho um exercício: pense em três decisões que mudaram sua vida. Estou certo que há uma lista longa delas, mas pense naquelas de significativo impacto. Agora, para cada uma destas lembranças, trilhe seus seguimentos, seus desfechos, siga pelos acontecimentos e inevitavelmente, estou certo, irá esbarrar, novamente, num outro momento de decisão.
Decisões só garantem um momento. Pode até ser que tenham um efeito mais prolongado, mas nada está assegurado e acaba sempre por ser o início de um novo caminho, de um novo universo que nasce a nossa frente, repleto de novas decisões a serem tomadas. Imprevisível quase sempre.
No ponto da vida em que me encontro, relembro a quantidade de vezes que tentava tomar decisões com uma exaustiva tendência em conjugar possibilidades, de forma a tentar garantir isso ou aquilo no futuro.
Mas se ‘a esperança’, ‘o sangue’ e ‘a victória’, apesar de correctas e promissoras decisões, não evitaram que uma cidade inteira passasse uma noite sem dormir, como esperar que ‘a bússula’, ‘o origame’ e ‘o piano’, de endereço desconhecido, possam garantir um sono tranquilo?
O tempo urge. Sem garantias.
É que depois dos ‘Golrilas e das Girafas’ a semana foi densa. É-me difícil acordar com mais alguns fios de cabelo branco, ao mesmo tempo que sinto uma enrome sensação de estagnação, de vida mal aproveitada, da falta disso ou daquilo. Não tanto pelos cabelos brancos, estes independem de decisões, mas mais pela falta de qualidade de e na vida, qualidade nos sentimentos e emoções que, por acaso, nos mantém mais tempo jovens.
Tanta vida se perde, tantas lembranças deixam de nascer. Tanta angústia se cria, tanta regra se aplica e garantido... só o tempo.
Casamentos se desfazem, pais se separam, filhos morrem, maridos traem, a bolsa de valores cai e até empregos se perdem.
Que as decisões sejam honestas e que nos tragam qualidade de vida, plena, pelo tempo que as dure, sem pretensões, sem pressões e sempre, por favor, com humanidade.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.
Proponho um exercício: pense em três decisões que mudaram sua vida. Estou certo que há uma lista longa delas, mas pense naquelas de significativo impacto. Agora, para cada uma destas lembranças, trilhe seus seguimentos, seus desfechos, siga pelos acontecimentos e inevitavelmente, estou certo, irá esbarrar, novamente, num outro momento de decisão.
Decisões só garantem um momento. Pode até ser que tenham um efeito mais prolongado, mas nada está assegurado e acaba sempre por ser o início de um novo caminho, de um novo universo que nasce a nossa frente, repleto de novas decisões a serem tomadas. Imprevisível quase sempre.
No ponto da vida em que me encontro, relembro a quantidade de vezes que tentava tomar decisões com uma exaustiva tendência em conjugar possibilidades, de forma a tentar garantir isso ou aquilo no futuro.
Mas se ‘a esperança’, ‘o sangue’ e ‘a victória’, apesar de correctas e promissoras decisões, não evitaram que uma cidade inteira passasse uma noite sem dormir, como esperar que ‘a bússula’, ‘o origame’ e ‘o piano’, de endereço desconhecido, possam garantir um sono tranquilo?
O tempo urge. Sem garantias.
É que depois dos ‘Golrilas e das Girafas’ a semana foi densa. É-me difícil acordar com mais alguns fios de cabelo branco, ao mesmo tempo que sinto uma enrome sensação de estagnação, de vida mal aproveitada, da falta disso ou daquilo. Não tanto pelos cabelos brancos, estes independem de decisões, mas mais pela falta de qualidade de e na vida, qualidade nos sentimentos e emoções que, por acaso, nos mantém mais tempo jovens.
Tanta vida se perde, tantas lembranças deixam de nascer. Tanta angústia se cria, tanta regra se aplica e garantido... só o tempo.
Casamentos se desfazem, pais se separam, filhos morrem, maridos traem, a bolsa de valores cai e até empregos se perdem.
Que as decisões sejam honestas e que nos tragam qualidade de vida, plena, pelo tempo que as dure, sem pretensões, sem pressões e sempre, por favor, com humanidade.
Uma boa semana para todos.
Eduardo Divério.